Ditadura militar: carcereiro da Casa da Morte deve responder por tortura e estupro, decide Justiça

Antonio Waneir Lima, o “Camarão”, vai responder pelos crimes cometidos contra Inês Etienne Romeu

carcereiro

Após recurso do Ministério Público Federal (MPF), a Justiça Federal reformou decisão que tinha absolvido o sargento reformado do Exército Antônio Waneir Pinheiro de Lima, que atuou na chamada Casa da Morte. Conhecido pelo apelido de Camarão, o sargento já havia se tornado réu por sequestro, cárcere privado e estupro da militante política Inês Etienne Romeu – única sobrevivente da Casa da Morte, localizada em Petrópolis (RJ). No entanto, após a defesa do réu, a denúncia foi rejeitada e ele absolvido sob fundamento de que os fatos apontados como crime estavam protegidos pela anistia e pela prescrição.

Na nova decisão, o Tribunal Regional Federal da 2ª Região (TRF2) reconheceu que a conduta de Antônio Waneir não estaria abarcada pela Lei da Anistia (Lei 6.683/1979) e determinou que a ação penal contra ele retome seu curso. O acórdão reforça o entendimento de que o Brasil, por ser signatário da Convenção Americana de Direitos Humanos, deve seguir a jurisprudência da Corte Interamericana de Direitos Humanos, que determinou que o país investigue e puna crimes contra a humanidade praticados pelos agentes estatais, não podendo considerar-se um obstáculo à investigação ou processo leis internas de anistia e prescrição, como é o caso dos autos.

Segundo o MPF, os crimes imputados ao militar foram comprovadamente cometidos contra Inês Etienne Romeu num contexto de ataque sistemático e generalizado contra a população civil brasileira: “As torturas, execuções sumárias e desaparecimentos forçados cometidos por agentes de Estado no âmbito da repressão política constituem graves violações a direitos humanos, para fins de incidência dos pontos resolutivos 3 e 9 da decisão, os quais excluem a validade de interpretações jurídicas que assegurem a impunidade de tais violações”, afirmou o órgão, mencionando sentença da Corte Interamericana de Direitos Humanos no caso Gomes Lund contra Brasil.

Tortura

Inês Etienne Romeu foi sequestrada por militares na cidade de São Paulo e levada, em 8 de maio de 1971, para a chamada Casa da Morte, na região serrana do Rio de Janeiro. O local funcionava como um aparelho clandestino do Centro de Informações do Exército (CIE), onde militares torturavam presos políticos.

As investigações comprovaram que Antônio Waneir manteve Inês Etienne contra sua vontade dentro do centro ilegal de detenção, ameaçando-a de morte e utilizando recursos que tornaram impossível a defesa da vítima. O réu estuprou a vítima também durante o encarceramento. Sua condição, levou-a a tentar tirar a própria vida por quatro vezes.

Após o período na Casa da Morte, Inês Etienne Romeu ainda foi presa em outros locais. Seu encarceramento somente terminou em agosto de 1979. O MPF ouviu a vítima em 2013, ocasião em que Inês Etienne Romeu reconheceu, pela primeira vez, a foto de Antonio Waneir como sendo o “Camarão” da Casa da Morte.

Em 2020, o sargento reformado e outros militares também foram denunciados pelo sequestro e tortura do advogado e militante político Paulo de Tarso Celestino da Silva, crimes igualmente cometidos na Casa da Morte.

Ação Penal – denúncia Inês Etienne Romeu – 0170716-17.2016.4.02.5106 

Ação Penal – denúncia Paulo de Tarso – 5001249-13.2020.4.02.5106 

Ação Civil Pública Paulo de Tarso – 5001770-21.2021.4.02.5106 

Diário do Centro do Mundo revela que apologia à tortura é o verdadeiro significado da tubaína de Jair Bolsonaro

O verdadeiro sentido da “tubaína” de Bolsonaro: gíria de quartéis para tortura por afogamento

BOLSONARO QUEM É DE ESQUERDA TOMA TUBAÍNA QUEM É DE DIREITA TOMA ...

Por Tchelo para o DCM

A falta de respeito de Bolsonaro com as vidas perdidas por causa do Coronavírus, justamente no dia em que, basicamente, morreu um brasileiro por minuto em 24 horas, vai além de uma piada tosca que rima palavras com final “ina”.

Se fosse só para desdenhar a gravidade da pandemia, Bolsonaro poderia ter usado outra rima: brilhantina, nitroglicerina, parafina, água de piscina…

A palavra tubaína não foi escolhida por acaso. Foi escolhida a dedo.

Tubaína é, na verdade, “entuba aí, né”.

O trocadilho é a forma mais pobre de se fazer uma piada. Um jogo de palavras com duplo sentido, bobo e infame que qualquer tiozão consegue fazer. Tipo, “ela queria dar o furo”, sacou?

Ao dizer que quem é de direita toma Cloroquina e quem é de esquerda, tubaína, o presidente faz pouco caso dos brasileiros que contraírem o vírus, insinuando que os que não tomarem o medicamento serão entubados.

Na verdade, repetiu uma piada interna, daquelas que só um círculo de amigos compreende. Talvez por isso tenha passado batido para a maioria das pessoas.

Ao final ele pergunta: entendeu? Deixa claro que existe um segundo sentido. Há quem diga que nos bastidores do Planalto ele faz essa piada baixa faz tempo.

Sabe-se também que tubaína é uma gíria usada em quartéis para a técnica de tortura por afogamento em que se coloca um funil na garganta do torturado e despeja-se água sem parar.

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A “tortura d´água” é uma prática que foi utilizada pela Inquisição durante a Idade Média e consistia em colocar um funil na garganta de um indivíduo e despejar a água sem parar. Tal técnica recebeu nos centros de tortura da Ditadura Militar o apelido de tubaína.

Seguida de sua risada forçada, amedrontadora, a piada de Bolsonaro tenta estimular seu gado a rir com ele, como faz em suas visitas matinais ao puxadinho do planalto.

Nessas ocasiões sempre existem alguns apoiadores que riem enlouquecidamente de suas investidas malcriadas. Será que tem gente contratada para rir dessas desgraças na tentativa de transformar as grosserias do presidente em piada, e assim aliviar o absurdos expelidos pelo seu Jair?

É, ontem foi publicada a mudança no protocolo que libera o uso da cloroquina para uso preventivo.

O próprio sujeito, que todos sabem não ser médico, diz que guarda uma caixinha do remédio para medicar sua mãe de 93 anos em caso de necessidade.

Será que ele realmente administraria o medicamento nela mesmo sabendo – ou fingindo não saber – dos riscos da automedicação?

Atingimos um novo patamar na República do Tio do Pavê.

Agora temos a Presidência do Entuba Aí Né.

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Esta postagem foi originalmente publicada pelo site “Diário do Centro do Mundo” [Aqui!].

A insatisfação dos comandantes militares com a Comissão da Verdade é exagerada e despropositada

A mídia corporativa anda disseminando a informação de que o alto comando das forças armadas brasileiras anda insatisfeito com os trabalhos da chamada Comissão da Verdade que está para entregar seu relatório final (Aqui!). Essa insatisfação se for efetivamente existente é, afora os elementos democráticos sobre o lugar das forças armadas no Estado brasileiro, exagerada e despropositada.

É exagerada porque a Comissão da Verdade tem um mandato tão restrito que seria até espantoso se resultasse em algum tipo de indiciamento de quaisquer figuras militares envolvidas em crimes lesa-humanidade, apesar da história estar repleta de exemplos de que os mesmos ocorreram durante o período do regime de exceção que durou de 1964 a 1985. É despropositado porque dentro da ordem democrática vigente, as forças armadas não têm mandato para se colocar no caminho do que é legalmente estabelecido pelo Estado brasileiro. Qualquer tolerância com essas manifestações é, deste modo, inconstitucional. 

Agora, se os comandantes das forças armadas brasileiras dessem uma olhada à sua volta e vissem o que aconteceu com ditadores e agentes da repressão militar em países como Argentina, Chile e Uruguai veriam que o que foi feito nos nossos vizinhos foi muito mais agudo, com generais-ditadores morrendo na prisão que, aliás, era o melhor lugar para que isto acontecesse. 

Enquanto isso no Brasil convivemos com os resquícios da ditadura de 1964 e tendemos a perpetuar práticas que apenas nos distanciam de um futuro plenamente democrático e socialmente justo. Basta ver a persistência das práticas de tortura e corrupção, duas heranças malditas do regime de 1964. Em suma, se alguém tem de ficar insatisfeito com os resultados práticos dos trabalhos da Comissão da Verdade não os comandantes militares, mas a maioria do povo brasileiro que convive com os efeitos de uma experiência histórica que não teve a devida paga em tempos de regime democrático.

Do Blog do Mário Magalhães: Preso político que desafiou o delegado Fleury lança livro sobre tortura

Mário Magalhães

blog - livro eunicio precilio cavalcante

Um dos mais corajosos militantes de esquerda que combateram a ditadura imposta em 1964, Eunício Precílio Cavalcante lança nesta terça-feira (27 de maio) no Rio um livro que busca reconstituir a violência e a barbárie que vigoraram no Brasil durante 21 anos e cuja herança ainda nos castiga.

O lançamento de “Mergulho no inferno: Relatório sobre as torturas no Brasil” começa às 18h, na Livraria Leonardo Da Vinci (av. Rio Branco, 185, subsolo).

Hoje oficial reformado da Marinha, Cavalcante tem muita história para contar: do que viu, do que ouviu, do que pesquisou e sobretudo do que padeceu na própria pele.

Ele foi preso em São Paulo na manhã de 4 de novembro de 1969. Horas mais tarde, seu companheiro Carlos Marighella seria assassinado numa rua escura da cidade, em operação comandada pelo delegado Sérgio Paranhos Fleury.

Antes da execução, passou-se um episódio na sede do Dops, a política política paulista, que eu incluí na biografia “Marighella – O guerrilheiro que incendiou o mundo” (Companhia das Letras). Narrei-o assim, com base em várias entrevistas:

“Os presos superlotavam as celas e engarrafavam os corredores. Um deles era o paraibano Eunício Precílio Cavalcante, segundo-sargento do Corpo de Fuzileiros Navais expulso da Marinha em 1964. Era um dos raríssimos companheiros que Marighella levara no Rio à casa _e terreiro_ de Antônia Sento Sé.

Fleury provocou o militante da ALN:

‘Cadê o Marighella?’

‘Você não é macho? Vá buscar!’, desafiou o revolucionário.

Rose Nogueira testemunhou os socos e pontapés que o delegado desferiu no homem indefeso, gritando:

‘Pois eu vou mesmo! Hoje é o último dia do Marighella!”’

ALN era a Ação Libertadora Nacional, maior organização armada de oposição à ditadura. Lideravam-na Marighella e o jornalista Joaquim Câmara Ferreira.

Rose Nogueira é uma _brilhante_ jornalista que havia sido presa devido ao vínculo com a ALN e o próprio Marighella.

Antônia Sento Sé é mãe-de-santo e ex-cunhada de Marighella.

Logo depois da agressão a Cavalcante, Fleury participou do assassinato de Marighella: ao menos 29 policiais armados até os dentes fuzilaram um homem cercado e desarmado _o guerrilheiro não portava nem um canivete.

Eunício Precílio Cavalcante viveu aqueles dias ferozes, desafiou o facínora, mergulhou no inferno e sobreviveu para contar.

FONTE: http://blogdomariomagalhaes.blogosfera.uol.com.br/2014/05/25/preso-politico-que-desafiou-o-delegado-fleury-lanca-livro-sobre-tortura/

Ingleses são acusados de crime de guerra na invasão do Iraque

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Um dossiê de mais de 250 páginas acaba de ser enviada à Corte Penal Internacional (CPI) detalhando uma multitude de crimes que teriam sido cometidas por militares ingleses durante a invasão do Iraque. Entre os crimes alegados estão diversas formas de tortura, ameaças de morte e discriminação cultural e religiosa (Aqui!). O documento traz a comprovação de centenas de casos em que os militares ingleses teriam cometidos tais crimes que cobrem o período de 2003 a 2008,

No relatório são citados os comandantes como responsáveis pela ação criminosa das tropas, incluindo-se nessa lista o generalPeter Wall, comandante do Exército; o ex-ministros da defesa Geoff Hoon e Adam Ingram. Em outras palavras, o conteúdo deste dossiê não se resume à apontar para a soldadesca como fizeram os relatórios internos gerados estadunidenses no caso das torturas cometidas na prisão de Abu Ghraib.

Agora resta saber como ficará nessa situação o ex-primeiro ministro Tony Blair. Afinal de contas, ele foi quem autorizou essa invasão para dar, digamos assim, uma mãozinha para o presidente George W. Bush. É que no caso da guerra dos Balcãs, a CPI não hesitou em ir atrás dos peixes graúdos como Milosevic e Mladic.