Orquídea paranaense recém-descoberta corre risco de extinção

Analisada por pesquisadores de laboratório de Botânica da UFPR, planta coletada na Serra do Mar faz parte de um gênero dos trópicos e subtrópicos do planeta com poucas espécies no Brasil

orquidea ufprEncontrada em área montanhosa de difícil acesso, a 𝘔𝘢𝘭𝘢𝘹𝘪𝘴 𝘦𝘯𝘨𝘦𝘭𝘴𝘪𝘪 está em situação que pode ser considerado de risco, por sua raridade e seu habitat restrito e vulnerável. Fotos: Mathias E. Engels/LSEMP/UFPR

Por Aline Fernandes França para a Ciência UFPR 

Uma pequena orquídea de flores verdes chamou a atenção do botânico Mathias Engels durante uma trilha na Serra do Mar, próximo ao Pico Paraná, cujas montanhas estão entre as mais altas do Sul do Brasil. “Pensei: não conheço esta Malaxis [gênero da família de orquídeas], que planta distinta”, conta à Ciência UFPR o pesquisador da Universidade Federal do Paraná (UFPR), que não imaginava se tratar de uma nova espécie.

Engels já coletou mais de dez mil amostras para coleções científicas em expedições botânicas em diferentes regiões do Brasil. Somente na Amazônia Mato-grossense, chegou a passar 60 dias. Uma pequena fração das amostras, depois de um minucioso estudo, vieram a ser reconhecidas como novas. Esse é o caso daquela pequena orquídea encontrada pelo botânico em Campina Grande do Sul, município de 48 mil habitantes na Região Metropolitana de Curitiba.

A planta já havia sido encontrada em 1947 pelo botânico curitibano Gerdt Hatschbach — formado em química e, depois doutor honoris causa pela UFPR —, na região do município de Piraquara, também no Paraná. Porém, na época, o material coletado era insuficiente para ser reconhecido como uma nova espécie. Em 2019 a coleta de Engels, 72 anos após a de Hatschbach, permitiu o reconhecimento e a descrição completa da planta.

Marca da orquídea são as inflorescências em formato de guarda-chuva, com flores dispostas em círculo
 
A amostra coletada por Engels e depositada no Herbário UPCB do Departamento de Botânica da UFPR — um dos mas antigos do Brasil  foi fonte de pesquisa do grupo CNPq “Sistemática e Ecologia Molecular de Plantas”, sob coordenação do professor Eric de Camargo Smidt. A espécie pertence à família de orquídeas do gênero Malaxis e, agora, homenageia também o doutorando de Botânica, Mathias Engels, sendo batizada de Malaxis engelsii.

As duas localidades em que as amostras foram encontradas são ambientes de florestas nebulosas alto-montanas, conhecidas por serem de difícil acesso, e pertencem à Serra do Mar paranaense — um conjunto de elevações formadas por processos tectônicos que se originaram durante a Era Cenozóica, iniciada há 65,5 milhões de anos.

Associado à alta umidade, a floresta abrange uma área composta por árvores de pequeno porte, fornecendo habitat em abundância para plantas epífitas. De acordo com Smidt, docente da UFPR e orientador da pesquisa, a Malaxis é um gênero de Orchidaceae (maior família botânica do grupo das Monocotiledôneas).

O gênero está distribuído pelos trópicos e subtrópicos do planeta com cerca de 170 espécies. Destas, cerca de dez ocorrem no Brasil.

A maioria das espécies da família Orchidaceae, especialmente nos trópicos, são epífitas — plantas de que vivem sobre outras usando-as como suporte.

“Em relação à Malaxis, o gênero possui tanto espécies epífitas, quanto terrestres. Aparentemente esta é a primeira espécie epífita do gênero descrita para o Brasil”, destaca.

As características mais visíveis da Malaxis engelsii envolvem a inflorescência densa, com flores bem coloridas, que variam entre laranja, branco e verde, dependendo da peça floral.

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Registrada em artigo publicado recentemente na revista científica Lankesteriana, a descoberta é assinada por Smidt e pelo doutorando da Unesp, Thiago Faria do Santos, que fez uma revisão do gênero Malaxis no Brasil.

A parceria foi possível pelo credenciamento do docente Smidt, que atualmente orienta em três programas de pós-graduação, sendo dois na UFPR (PPG Botânica e PPG Ecologia e Conservação) e um na Unesp (PPG Biologia Vegetal). Smidt coordena na UFPR o Laboratório de Sistemática e Ecologia Molecular de Plantas (LSEMP), do qual todos fazem parte.

O pesquisador Santos afirma que as Malaxis são plantas pouco conhecidas pela ciência, com registros raros na natureza. Também possuem características exóticas se comparadas a outras orquídeas, principalmente pela sua morfologia.

“Elas possuem inflorescências que lembram um guarda-chuva e têm flores bem pequenas, além de ocorrerem no chão da floresta, o que as torna ainda mais peculiares”, detalha.

O pesquisador ainda descreve o habitat da nova espécie como “um ambiente místico, quase proibido para a exploração humana. É onde as nuvens abraçam a floresta, um tipo de ambiente caracterizado pelo alto grau de endemismo [espécies restritas ao habitat], com plantas especializadas para viverem ali”.

A descoberta amplia a compreensão sobre a biodiversidade e é considerada de alta relevância pelos pesquisadores por contribuir diretamente com o progresso científico.

“Conhecer as características únicas de uma planta pode levar, por exemplo, ao desenvolvimento de novos medicamentos, materiais ou tecnologias. Assim, a descrição da natureza não é tarefa secundária; ela é o desenvolvimento tecnológico e científico”, diz Santos.

Espécie é exemplo da biodiversidade que falta ser conhecida para guiar preservação

Apesar de recém-descoberta, na avaliação dos cientistas a espécie Malaxis engelsii está apta a ser enquadrada pelo sistema da IUCN (União Internacional para Conservação da Natureza) como “em perigo”, baseado no número de registros da espécie, da qualidade e da abrangência de seu habitat.

A condição serve como guia para identificação de áreas que mais necessitam de ações de preservação voltadas para proteção da biodiversidade.

Smidt explica que, de modo geral, isso significa a necessidade de medidas de conservação para esta espécie, seja protegendo o habitat, seja produzindo conhecimento sobre suas características e ecologia, como polinizadores e fungos associados ao seu crescimento, por exemplo.

O fato de a descoberta ser registrada na Mata Atlântica também funciona como um alerta para os pesquisadores.

“O Brasil é o país mais biodiverso do planeta e uma em cada cinco plantas no mundo só ocorrem aqui. Dentro do país, o bioma mais rico e ameaçado é a Mata Atlântica. Descobrir espécies novas nesse bioma, cuja área atual é cerca de 10% de sua área original, mostra o quanto ainda precisamos estudá-lo para protegê-lo”.

Edição: Camille Bropp

➕ Leia o artigo Malaxis engelsii (Malaxidinae), a new species from the upper montane forest of the Atlantic Rainforest in southern Brazil, publicado no Lankesteriana (International Journal on Orchidology)


Fonte: Ciência UFPR

Novos tipos de bioplásticos podem sofrer decomposição total no solo em 4 meses

pexels-karolina-grabowska-4397816-scaled-2048x1152Em 135 dias, duas amostras de bioplásticos de diferentes espessuras foram 100% biodegradadas

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Pesquisadores da Universidade Federal do Paraná (UFPR) testaram novos tipos de compostos bioplásticos que se biodegradam rapidamente nas diferentes condições ambientais do solo brasileiro e, assim, agridem menos o meio ambiente. Em um relatório-síntese lançado na sexta (29), eles descrevem um filme compostável que pode ser completamente degradado em até quatro meses, gerando nutrientes para o solo.

Os resultados foram obtidos analisando os processos de biodegradação de cinco amostras de matérias-primas de plástico certificadas como seguras cedidas por empresa do ramo. As amostras tinham diferentes  espessuras e formulações e foram observadas durante seis meses. Além disso, eram formadas por materiais de fontes renováveis e biodegradáveis. Em quatro meses, duas amostras foram 100% degradadas por micro-organismos do solo, enquanto as outras três apresentaram percentual de biodegradação de 30%, 60% e 50% em seis meses. Em termos de comparação, bioplásticos feitos com poliácido lático (PLA), mais usuais no mercado, demoram de 20 a 30 anos para biodegradarem.

A degradação nas amostras acontece porque esse tipo de plástico, que contém poliéster alifático, tem uma estrutura molecular fraca o suficiente para ser quebrada em estruturas menores quando exposto à umidade e ao calor. Como resultado são produzidos dióxido de carbono (CO2), água, biomassa e minerais, que podem ser consumidos com mais facilidade por micro-organismos encontrados em ecossistemas aquáticos e terrestres, além de servirem de nutrientes para o solo.

Segundo Fábio Fajardo, idealizador dos compostos, e Michele Spier, cientista da UFPR e autora do estudo, a intenção é encontrar alternativas ao plástico convencional. “Nossas pesquisas são realizadas com base em estudos de países como Alemanha, EUA e França, que já adotam bioplásticos seguros e que garantem que eles não gerem ao meio ambiente os microplásticos e nanoplásticos”, explica Spier.

Apesar de mais caros em comparação aos plásticos convencionais, os bioplásticos podem ser utilizados em sacolas de compras, embalagens de entregas, talheres e sacos para dejetos de animais. Os materiais são úteis para descarte de resíduos orgânicos domésticos porque evitam que recicladores entrem em contato direto com substâncias em decomposição ao separar a sacola plástica dos dejetos para a reciclagem. “É importante que o consumidor possa entender quais são os tipos de plásticos que estão à sua disposição. Os convencionais podem ficar destinados a embalagens de xampu e garrafas de água, por exemplo, pois são mais simples de serem reciclados”, esclarece a pesquisadora.

A partir de agora, os pesquisadores continuam com os estudos e novos testes no laboratório na UFPR, aproveitando que a biodiversidade do Brasil pode servir de fonte de matérias-primas para produzir bioplásticos biodegradáveis e compostáveis. Utilizar esses materiais leva a uma redução do preço do produto final para o consumidor. “Sabemos que é apenas um pontapé inicial, mas já começamos a nossa corrida contra os materiais que causam mais danos ao meio ambiente. É preciso seguir buscando alternativas e apresentando ao consumidor produtos acessíveis e amigáveis ambientalmente”, comemora Spier.

Demonstração de película plástica com material utilizado nas amostras

“Quanto mais subimos na carreira científica menos mulheres cientistas encontramos” | Camila Silveira da Silva

Pesquisadora fala da violência e discriminação que as mulheres ainda enfrentam nos meios científicos e sobre as ações de projeto que busca dar maior visibilidade às mulheres cientistas e estimular meninas a seguir carreira acadêmica

Premio-Estrategia-ODS9O projeto Meninas e Mulheres nas Ciências foi finalista do prêmio Estratégia ODS que destaca projetos que contribuem para os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável das Nações Unidas. Foto: Divulgação Estratégia ODS

Por Ciência UFPR

A Ciência UFPR conversou com a professora do Departamento de Química da UFPR, Camila Silveira da Silva. A pesquisadora falou sobre os obstáculos que as mulheres ainda encontram no ambiente da produção científica e sobre o trabalho do projeto Meninas e Mulheres nas Ciências (MMC), que coordena.

A professora, que é licenciada em Química pela Universidade Estadual Paulista (Unesp) onde também cursou mestrado e doutorado em Educação para Ciência, vem estudando as trajetórias das mulheres cientistas, especialmente nas ciências exatas, buscando destacar suas contribuições e estudando as dificuldades que a discriminação de gênero impõe para mulheres nas carreiras científicas, tendo trabalhos também com a temática de museus de ciência e desenvolvimento de materiais didáticos.

Os materiais e atividades desenvolvidas no projeto de extensão já foram adotados em escolas por todo o Brasil. A iniciativa dá visibilidade às trajetórias de mulheres que marcaram a história da ciência, oferecendo formação para professores e atuando na criação de material didático com foco em pesquisadoras de destaque, além de atividades aplicadas diretamente a estudantes tanto de forma presencial quanto online.

A ideia é oferecer uma perspectiva que rompa com o viés masculino que normalmente é dado para o ambiente científico nesse tipo de material, oferecendo uma alternativa que estimule meninas a se interessar pelo campo científico, rompendo com o estereótipo machista prevalecente. A iniciativa também apoia a pesquisa em torno do tema orientando trabalhos de pesquisa na graduação e pós-graduação

Trechos

“O que mais me chamava a atenção, era o apagamento das mulheres nos materiais didáticos, a dificuldade de elaborar práticas educativas pela falta de referências pedagógicas nas Ciências Exatas, os obstáculos para localizar dados biográficos das cientistas”

“O que eu passei a notar foi a naturalização que elas tinham incorporado em suas práticas profissionais dos processos de exclusão de mulheres, da violência e discriminação de gênero ao partilharem suas trajetórias de vida e acadêmica”

“Os trabalhos liderados por mulheres, em diversas ocasiões, são menos valorizados que aqueles que contam com liderança masculina. São em menor número: as citações de mulheres em artigos, teses, dissertações; as aprovações de projetos com financiamento; as conferências principais nos congressos; a composição nas bancas de concursos; as bolsas de produtividade em pesquisa; a presidência de sociedades científicas; etc. Há, ainda, laboratórios, grupos de pesquisa, orientadoras(es) que não aceitam trabalhar com mulheres, ou se aceitam, as discriminam por seu gênero”

“Outra experiência que gosto de compartilhar é de várias alunas negras, de uma escola pública periférica do Distrito Federal, querendo tirar fotografias com os desenhos de cientistas negras que elas estavam colorindo e dizendo o quanto elas se pareciam com elas, com suas mães e irmãs”

“É fundamental que as meninas sejam motivadas com exemplos positivos de mulheres cientistas, encorajadas em seus sonhos pela escola e familiares, e tenham as condições para que possam seguir seus estudos”

“Como inspirar jovens para as Ciências se o campo científico continuar sendo sexista, racista, elitista, excludente? Como despertar o interesse de crianças e jovens se não temos boas condições de trabalho nas escolas? Essas reflexões precisam gerar ações e políticas públicas que tornem a carreira científica atrativa para as(os) jovens”

Veja a entrevista no site da revista Ciência UFPRhttps://ciencia.ufpr.br/portal/?p=23008

Ao danificar vasos sanguíneos, cloroquina pode piorar COVID-19, sugere estudo

Ensaios in vitro mostraram que substância causa disfunção nas células endoteliais, presentes nos vasos, o que prejudica circulação sanguínea e órgãos como coração e pulmões. Conclusão de pesquisador é de que efeito colateral agrava uma das principais condições de mortalidade da doença provocada pelo novo coronavírus, anulando potenciais benefícios

Pesquisa constatou que cloroquina causou stresse oxidativo e danos em células endoteliais, presentes nos vasos sanguíneos, o que pode potencializar tromboses causadas pelo novo coronavírus. Foto: Daniel Foster/Flickr, 2018.Pesquisa constatou que cloroquina causou estresse oxidativo e danos em células endoteliais, presentes nos vasos sanguíneos, o que pode potencializar tromboses causadas pelo novo coronavírus. Foto: Daniel Foster/Flickr, 2018.

Por João Cubas para o Ciência UFPR

Um estudo realizado pela Universidade Federal do Paraná (UFPR) concluiu que a cloroquina provoca danos em células endoteliais, presentes em todos os vasos sanguíneos do corpo humano. Os resultados estão no artigo “Chloroquine may induce endothelial injury through lysosomal dysfunction and oxidative stress“, publicado na revista Toxicology and Applied Pharmacology.

A pesquisa foi conduzida durante o doutorado de Paulo Cézar Gregório, do Programa de Pós-Graduação em Microbiologia, Parasitologia e Patologia da UFPR, sob a orientação da professora Andréa Emília Marques Stinghen, do Departamento de Patologia Básica e do professor Fellype de Carvalho Barreto​, do Departamento de Medicina Interna da UFPR.

Para chegar a essa comprovação, o pesquisador trabalhou com linhagens de células endoteliais humanas extraídas de vasos sanguíneos, que foram cultivadas na presença de cloroquina, em concentrações incapazes de causar sua morte celular, por até 72 horas.

Observou-se que, durante esse período, a célula induziu significativamente o acúmulo de organelas ácidas, aumentou os níveis de radicais livres e diminuiu a produção de óxido nítrico, levando ao estresse oxidativo e dano celular. Este processo, chamado de disfunção endotelial, pode resultar no funcionamento incorreto ou até na morte da célula.

“Ela para de produzir substâncias que a protegem e passa a produzir em excesso substâncias tóxicas”, resume a professora Andrea. Ainda de acordo com a hipótese do estudo, a disfunção endotelial pode afetar a circulação sanguínea, e por consequência, órgãos como coração, rins e pulmões.

Lesões celulares podem contribuir para maus resultados do uso da cloroquina contra a COVID-19

O comportamento das células cultivadas em laboratório é semelhante a de células endoteliais infectadas pelo vírus Sars-Cov-2. Por isso, os pesquisadores concluem que a lesão nas células pode contribuir com o fracasso da cloroquina como terapia para o tratamento da COVID-19. Embora haja diminuição da replicação viral in vitro, o uso da substância traz reações adversas.

“Se por um lado, a cloroquina pode diminuir a replicação viral, por outro promove uma citotoxicidade que pode potencializar a infecção viral”, enfatiza Gregório.

Efeitos de diferentes concentrações de cloroquina nas células endoteliais: nas doses maiores, substância reduz viabilidade celular. Nas menores, causa estresse oxidativo e cria condições para a formação de trombos. Ilustração: Aspec/UFPR
Efeitos de diferentes concentrações de cloroquina nas células endoteliais: nas doses maiores, substância reduz viabilidade celular. Nas menores, causa estresse oxidativo e cria condições para a formação de trombos. Ilustração: Aspec/UFPR

Outras pesquisas já comprovam que a alta mortalidade nos casos graves de covid-19 é relacionada à micro ou macrotrombose, ou seja, à lesão celular endotelial. Por isso, os resultados do estudo são importantes para endossar a comprovação clínica, conforme explica Stinghen: “Já está provado que a covid causa muitos problemas de coagulação e de circulação. Com isso, conseguimos ligar esses efeitos que observamos nas células, aos que os pacientes apresentam clinicamente”.

Prescrição tradicional da cloroquina contra doenças graves considera custo e benefício

A cloroquina já é utilizada há muitos anos para o tratamento de malária e doenças autoimunes, como o lúpus. Sobre o uso já consolidado, Gregório enfatiza que, ao utilizar qualquer medicamento, deve-se pesar os riscos e benefícios, pois não existe medicamento sem efeitos adversos. “É preferível controlar doenças graves em troca dos efeitos colaterais da cloroquina. Assim é com toda terapia comprovada para alguma doença. Os benefícios têm que superar os riscos”, avalia.

Gregório foi bolsista Capes (Doutorado Sanduíche) entre 2016 e 2020 e realizou parte se seus estudos na Universidad Autónoma de Madrid e na Fundación Jiménez Díaz, na Espanha. O projeto também contou com bolsistas de Iniciação Científica e recebeu verbas do Edital de Apoio de Atividades de Pesquisa da UFPR.

fecho

Este texto foi inicialmente publicado pelo Ciência UFPR [Aqui!  ].

Universidade brasileira confirma presença do novo coronavírus em cães pela primeira vez no Brasil

Animais tiveram sintomas leves de COVID-19 e passam bem; tutores também tiveram diagnóstico confirmado.

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Por *Assessoria de Imprensa e Jornalismo da UFPR

A Universidade Federal do Paraná (UFPR) confirmou a presença de SARS-CoV-2 em dois cães de Curitiba, cidade no Sul do Brasil, na última semana, sendo um da raça buldogue francês e um sem raça definida. Estes são os primeiros casos identificados no Brasil, junto ao estudo multicêntrico coordenado pela UFPR, que irá examinar amostras de cães e gatos em seis capitais. No último mês, a equipe já havia contribuído com a identificação da presença do vírus em uma gata de Cuiabá, no Centro-Oeste, detectada pela Universidade Federal do Mato Grosso (UFMT). 

O primeiro caso foi de um macho, adulto, raça Bulldog Francês, cujo tutor, de Curitiba, testou positivo para SARS-CoV-2 no RT-PCR na última semana, sem saber onde se infectou. Ele contou à equipe de pesquisa que percebeu uma discreta secreção nasal no cão, que dorme na mesma cama que ele. Num segundo teste, o tutor negativou, mas o cão estava positivo, já com uma quantidade pequena de vírus no organismo. No segundo teste realizado com o buldogue no dia seguinte, o animal também negativou.

O segundo caso foi de um cão macho, adulto, sem raça definida, cuja tutora também testou positivo para SARS-CoV-2. Segundo seu relato à equipe de pesquisa, seus quatro cães, que dormem na cama com ela, tiveram discretos episódios de espirros. Todos os moradores humanos da casa testaram positivo e, dentre os quatro cães, apenas um confirmou a presença do vírus.

De acordo com o professor Alexander Biondo, da UFPR e coordenador do estudo nacional, os dados serão registrados junto ao Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA). Todas as amostras estão sendo enviadas para confirmação no TECSA Laboratório Animal, para que sejam testadas em outro laboratório de referência. Apesar dos primeiros resultados positivos, não existe nenhum caso confirmado de cães e gatos transmissores do vírus ou com registro da doença COVID-19.

Segundo Biondo, os animais podem se infectar pelo vírus SARS-CoV-2, inclusive cães e gatos, mas isso não se equivale a dizer que eles têm a doença ou são transmissores. Estudos já publicados indicam que gatos podem se infectar e transmitir para outros gatos, mas não há dados para cães. O professor ainda reforça que o contato mais íntimo entre humanos e pets pode infectar os bichinhos, sendo indicado o distanciamento e o uso de máscara em caso de confirmação para tutores que testarem positivo.

Gata foi o primeiro pet confirmado no país

Uma gata foi o primeiro pet com SARS-CoV-2 identificado no Brasil, confirmado na UFPR, no Laboratório do Departamento de Genética, com coordenação institucional do professor Emanuel Maltempi. No teste de RT-qPCR , a presença do RNA viral foi verificada no animal de Cuiabá. Agora, os cientistas trabalham no sequenciamento do genoma do vírus encontrado na felina e no seu tutor. No sequenciamento, será possível determinar a ordem exata dos nucleotídios do RNA genômico do vírus. ” Vai servir para confirmar que é o SARS CoV-2, pois a RT-qPCR identifica só um pedaço do genoma, mas também qual a estirpe ou cepa. Poderemos saber de onde veio”, explica Maltempi.

De acordo com Maltempi, uma hipótese é que só uma estirpe de vírus possa infectar animais. O sequenciamento poderá contribuir com respostas às perguntas que já vêm sendo traçadas nas pesquisas de Biondo, que, com um grupo de outros cientistas, publicou recentemente uma revisão sobre o panorama acerca da contaminação animal por SARS-CoV-2 no mundo.

O projeto

O projeto em andamento coordenado pela UFPR será realizado em Curitiba (PR), Belo Horizonte (MG), Campo Grande (MS), Recife (PE), São Paulo (SP) e Cuiabá (MT). Serão dois momentos de avaliação, com amostras biológicas coletadas com intervalo médio de sete dias, entre animais cujo tutor esteja em isolamento domiciliar, com diagnóstico laboratorial confirmado por RT-qPCR ou resposta imunológica apenas por IgM.

Em Curitiba, uma equipe de pesquisadores fará a coleta em domicílio. Caso necessário, o trabalho também poderá ser feito no Hospital Veterinário. “Se possível, também coletaremos sangue para realizar a sorologia”, explica Biondo, reforçando que “o estudo pode dar resposta definitiva sobre a susceptibilidade e o papel de cães e gatos como reservatórios do vírus”.

Os resultados dos testes serão o mais brevemente possível informados aos tutores ou familiares através de contato telefônico e pela emissão de laudo eletrônico, que será enviado por e-mail ou aplicativo de comunicação. Em caso positivo, de acordo com ele, os demais animais da residência também serão testados em pool por espécie. Além disso, os familiares serão orientados a estabelecer o acompanhamento veterinário por 14 dias, intensificando medidas de higiene e proteção individual e coletiva.

A pesquisa pretende contribuir para a tomada de decisão pelo poder público quanto a medidas de prevenção e controle de COVID-19 em animais de estimação. “Espera-se estabelecer propostas de ações intersetoriais entre as instituições de pesquisa e as secretarias municipais de saúde, para que essas, por meio de ações integradas entre a Vigilância Ambiental e a Atenção Primária à Saúde, possam estabelecer fluxogramas internos de atenção à saúde animal e proteção à saúde humana”.

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*Assessoria de Imprensa e Jornalismo,  Superintendência de Comunicação e Marketing (Sucom), Universidade Federal do Paraná (UFPR), +55 41 3360-5251/5008/5007/5158. Para envio de demandas ao jornalismo da Sucom/UFPR, favor copiar o e-mail jornalismo.sucom@ufpr.br

Álcool em gel fora do padrão pode atuar como proliferador de bactérias, alerta microbiologista da UFPR

Consequências da existência de sanitizante adulterado no mercado vão além de lacunas na prevenção contra o novo coronavírus, aponta estudo. UFPR oferece testagem gratuita de álcool

O álcool gel pode ser responsável pelo desenvolvimento de outras bactérias, além de não funcionar como agente antisséptico, se produzido com insumos de má qualidade ou em desacordo com as diretrizes oficiais. Esse é o alerta da professora de Microbiologia Marcia Regina Beux, do Departamento de Patologia Básica da Universidade Federal do Paraná (UFPR). Em 2011, na época da epidemia de H1N1, ela conduziu uma pesquisa que confrontou marcas de álcool gel com espécies de bactérias comuns na microbiota das mãos e chegou a conclusões apropriadas também para a atual pandemia de Covid-19.

Ao utilizarmos um produto de má qualidade ou com o prazo de validade vencido, podemos contribuir para que bactérias que estejam na pele ou na superfície se proliferem, causando o efeito contrário daquele esperado. “Há um leque de microrganismos que podem se desenvolver em uma má formulação como bactérias Gram negativas e Gram positivas, esporuladas e até mesmo fungos”, conta a especialista que alerta sobre o risco de produtos de má procedência. “Podem causar infecções e até abscessos (bolsas de pus), caso haja algum ferimento na pele que sirva como porta de entrada para as bactérias no organismo”.

O álcool de boa qualidade, quando utilizado na pele, atua como um agente antisséptico, reduzindo a microbiota, ou seja, diminuindo a quantidade de microrganismos como bactérias, fungos, protozoários e vírus, residentes ou transitórios, naquele ambiente. Em superfícies, o álcool é um agente de desinfecção que reduz ou inativa a carga microbiana. “Sua ação é reportada pela capacidade de desnaturar as proteínas e remover a camada lipídica de algumas bactérias e vírus envelopados”, explica Marcia.

Fórmula ideal

A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) recomenda que o álcool gel seja produzido conforme as diretrizes traçadas pelo Formulário Nacional de Farmacopeia Brasileira. De acordo com a normativa, a forma farmacêutica do álcool gel é:

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Para a professora, quanto mais próxima a fórmula do produto for da recomendada, mais confiável é seu uso. “A formulação básica não contém agentes odorizantes ou hidratantes. Algumas fórmulas contêm óleos essenciais que teriam também uma função de antimicrobianos naturais”.

Outros vilões

Os sabonetes, sejam líquidos ou em barra, outros produtos de higiene pessoal e cosméticos, assim como desinfetantes, também podem se comportar como meios de cultura para microrganismos diversos. Para comprar um produto que qualidade, é importante observar no rótulo se a formulação contém agentes de conservação como ácido benzóico, ácido sórbico, clorhexidina e cloreto de benzalcônio.

Marcia não aconselha usar o álcool gel como substituto da água e do sabonete. “A utilização desse produto é viável apenas na impossibilidade de lavar adequadamente as mãos com água e sabonete”, finaliza.

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Testes gratuitos

O Laboratório de Ressonância Magnética Nuclear (LabRMN), do Departamento de Química da UFPR, oferece testes gratuitos de álcool gel desde junho. O serviço de análise começou para apoiar as polícias Civil e Federal, que apuram casos de fraudes nessa indústria, e a partir de agosto foi aberto à comunidade em geral (pessoas físicas e pequenas empresas) de forma gratuita.

Para solicitar a análise, basta entregar entrar em contato através do e-mail alcoolgel@c3sl.ufpr.br e levar uma amostra do produto à guarita do Centro Politécnico da UFPR (Av. Cel. Francisco H. dos Santos, 100, Jardim das Américas).

Quem não mora em Curitiba pode enviar amostra pelo correio — apenas um mililitro é suficiente para o teste –, informando dados pessoais e de contato. O resultado é encaminhado por e-mail.

LINKS

Matéria no Portal da UFPR: https://bit.ly/38ZKu2i

Matéria sobre os testes gratuitos oferecidos pelo LabRMN/UFPR: https://bit.ly/3fiPSii

Cientistas da UFPR descobrem novas espécies de formigas no Brasil, México e Colômbia

Uma das quatro espécies foi nomeada Prionopelta menininha em homenagem à líder afro-brasileira e à Bahia, onde habita

Holotype worker of Prionopelta menininha (Brazil, Bahia). A. Full-face... |  Download Scientific Diagram

A Mirmecologia, área da ciência dedicada às formigas, já descreveu cerca de 14 mil espécies. O professor Rodrigo Feitosa e a doutoranda Natalia Ladino, do Programa de Pós-Graduação em Entomologia da Universidade Federal do Paraná (UFPR), adicionaram mais quatro para essa conta. Após três anos estudando o histórico da classificação e amostras recém-coletadas, os pesquisadores descobriram espécies inéditas que habitam Brasil, México e Colômbia. A descrição e o estudo foram publicados na revista científica internacional Zootaxa, da Nova Zelândia. Uma delas foi nomeada em homenagem a uma representante das religiões afro-brasileiras no país, Maria Escolástica da Conceição Nazaré, a Mãe Menininha do Gantois.

As formigas descritas são naturais de solos de florestas tropicais e se alimentam de pequenos artrópodes, animais com patas articuladas e que possuem esqueleto externo (exoesqueleto) segmentado, como besouros e aranhas. “As novas espécies também contribuem para o equilíbrio dos ecossistemas que habitam”, explica o professor Rodrigo Feitosa, do Departamento de Zoologia da UFPR.

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A classificação dos seres vivos passa por domínio, reino, filo, classe, ordem, família, gênero e espécie. As novas espécies de formigas descobertas pertencem ao gênero Prionopelta. Elas foram nomeadas de Prionopelta menininha, Prionopelta dubia, Prionopelta minuta e Prionopelta tapatia. “Só podemos proteger e controlar a diversidade que conhecemos. Nesse sentido a taxonomia é fundamental na ciência e na vida humana, pois é a área responsável pela nomeação dos seres vivos do planeta e por tudo que sabemos sobre eles”, diz o professor.

Segundo o pesquisador, o conhecimento sobre a diversidade das espécies permite definir com mais precisão o papel que essas formigas têm na natureza. “Isso pode ser empregado em políticas de conservação de ambientes, já que algumas espécies são conhecidas de regiões muito restritas e ameaçadas pelo desmatamento e outras perturbações causadas pelos seres humanos”.

“O gênero Prionopelta é um desafio, pois possui espécies muito semelhantes. Nesse sentido nosso estudo impacta diretamente no seu conhecimento básico e pode fortalecer pesquisas subsequentes”, acrescenta a pesquisadora colombiana Natalia.

Em seu doutorado na UFPR, Natalia dá continuidade ao estudo. A próxima etapa irá analisar espécies que habitam todo o mundo com uso de ferramentas de alta tecnologia em biologia molecular para estudar as relações evolutivas de Prionopelta. O objetivo é traçar um mapa de onde essas formigas surgiram e como se diversificaram e espalharam pelo mundo.

O processo de descoberta

Os últimos estudos sobre a taxonomia do gênero de formigas Prionopelta haviam sido feitos há 60 anos, em 1960. A ideia de voltar a analisá-las surgiu da percepção dos pesquisadores de espécies em coleções que não se enquadravam nas descrições conhecidas na literatura e a dificuldade de identificar e separar as espécies que já estavam descritas. Contando com a ajuda da coleção da UFPR e de outras instituições da América, a dupla reuniu amostras suficientes para aprofundar o tema.

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O trabalho de comparação morfológica é feito sob estereoscópios binoculares. Foram analisadas características da morfologia externa, como forma, escultura e pilosidade do corpo das formigas. Os pesquisadores também se basearam em padrões de distribuição geográfica das formigas para obter um conjunto de dados que permitisse comparar e distinguir as espécies examinadas com aquelas previamente conhecidas pela literatura.

Homenagem afro-brasileira e à Bahia

Uma das espécies descritas foi nominada como Prionopelta menininha em homenagem a uma representante das religiões afro-brasileiras no país, Maria Escolástica da Conceição Nazaré, a Mãe Menininha do Gantois. Ela é descendente da realeza nigeriana da etnia Yourubá, que foi escravizada no Brasil, e sua vida reflete a luta das mulheres negras e de religiões afro-brasileiras em busca de respeito e igualdade.

Segundo Natalia, a ideia do nome surgiu após uma viagem para Ilhéus, na Bahia, onde visitou a coleção de formigas do Centro de Pesquisas do Cacau. “Ao me deparar com a espécie nova, que habita esse estado, foi simples pensar que a homenagem tinha que ser uma retribuição. Não sou uma pessoa religiosa, mas sou uma mulher negra que tem desenvolvido um interesse particular por conhecer e exaltar aspectos culturais dos lugares que visito, nesse caso a cultura afro-brasileira”.

Curiosidades sobre formigas

“As formigas são seres de organização extremamente complexa e boa parte das coisas que nos orgulhamos de ter alcançado como sociedade, as formigas atingiram muito tempo atrás. São insetos com uma importante função ecológica, econômica e sanitária”, diz o pesquisador Rodrigo, que estuda formigas há 17 anos.

formigueiro

Em muitas florestas tropicais, a biomassa (quantidade de matéria orgânica em uma determinada área) das formigas é maior do que a dos mamíferos. Foto: Pixabay/Divulgação

Em muitas florestas tropicais, a biomassa (quantidade de matéria orgânica em uma determinada área) das formigas é maior do que a dos mamíferos. “Isso porque elas são organizadas com sobreposição de gerações, cuidado cooperativo com a prole e divisão do trabalho reprodutivo. Os ninhos são complexos, com altos números de câmaras (compartimentos internos) e complexidade de estrutura”, explica Rodrigo.

Por Breno Antunes da Luz
Sob supervisão de Chirlei Kohls
Infografia: Juliana Barbosa
Parceria Agência Escola de Comunicação Pública UFPR, Assessoria de Comunicação do Setor de Ciências Biológicas (Aspec) e Superintendência de Comunicação e Marketing (Sucom) da UFPR

Conselho Universitário da UENF emite moção de repúdio contra abusos de autoridade cometidos contra universidades públicas

O Conselho Universitário da Universidade Estadual do Norte Fluminense (CONSUNI) emitiu uma Moção de Repúdio nesta sexta-feira, 08/12/17, contra os abusos de autoridade cometidos reiteradamente contra universidades públicas.

nota consuni

A nota menciona os casos recentes ocorridos em operações policiais realizadas na FRGS, UFPR, UFSC e UFMG e classifica como inadmissíveis o desrespeito às garantias constitucionais e aos direitos das pessoas, ainda que apoiando ações relacionados ao mal uso do dinheiro público.

A nota do CONSUNI Uenf conclui com uma exigência pelo retorno da normalidade institucional e ao respeito das regras de convivência democrática.