Evento online discute a desnaturalização dos desastres, com foco no caso de Petrópolis

Webinário acontece nesta quinta, dia 10/3, com transmissão aberta via YouTube

sgb 2

Nesta quinta-feira, dia 10, às 18h30, será realizado o webinário “Desnaturalizando os Desastres: o caso de Petrópolis/RJ” . O objetivo é discutir a necessidade de desnaturalização dos desastres, com foco no caso recente ocorrido no município de Petrópolis (RJ), no último dia 15 de fevereiro, que fez mais de 230 vítimas e já está entre as maiores tragédias do País. De acordo com os organizadores, sob a perspectiva da desnaturalização de desastres, não há nada de “natural” nessas catástrofes – e isso se verifica pelo histórico desses eventos na cidade e seus nexos sócio-históricos. 

agenda petropolis

Além da abertura às 18h30, estão previstas duas rodas de debates com pesquisadores, especialistas, ativistas da área e comunidade petropolitana. Confira a programação completa  (Aqui!). A transmissão aberta acontece pelo canal da plataforma AirCentre no YouTube (Aqui!). 

Na ocasião, será lançado o 45º volume da Revista Ciência & Trópico. A revista é resultado do “II Seminário de Desnaturalização de Desastres e Mobilização Comunitária: crises ampliadas, redes e resistências”. Em sua última edição, ocorrida de 4 a 8 de outubro de 2021, o seminário abordou temas ligados à desnaturalização de desastres sob diversas perspectivas – sempre com vistas à defesa da vida humana e da preservação ambiental – desde o aspecto da mídia, das mobilizações comunitárias, das questões de gênero e dos desafios da gestão. 

O webinário e a revista são uma iniciativa conjunta de pesquisadores da Fundação Oswaldo Cruz (RJ); do Núcleo de Estudos e Pesquisas Sociais em Desastres (NEPED) do Departamento de Ciências Ambientais (DCAm) da Universidade Federal de São Carlos (UFSCAR); do Núcleo de Pesquisas e Estudos Socioambientais (NESA) da Universidade Federal Fluminense (UFF – Campos); da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp); da Pós-Graduação em Psicossociologia de Comunidades e Ecologia Social do Instituto de Psicologia – Programa EICOS, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ); e da Fundação Joaquim Nabuco (FUNDAJ); e conta também com o apoio da Fundação Carlos Chagas Filho de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro (Faperj). 

Mais informações podem ser acessadas neste documento: [Aqui!].

Delta exige intervalo mais curto entre doses de vacina, sugere estudo

delta vacinaFoto: JEFFERSON PEIXOTO / SECOM – SALVADOR

bori conteudo

Em regiões de prevalência da variante delta do novo coronavírus, o intervalo entre doses de vacina de Covid-19 precisa ser mais curto do que doze semanas para que se tenha um controle efetivo da pandemia. É o que sugere modelo matemático desenvolvido pelo Centro de Ciências Matemáticas Aplicadas à Indústria (CeMEAI) a partir de dados preliminares da eficácia da vacina para a variante delta. A ferramenta está descrita em artigo publicado na PNAS na quinta (18).

A tecnologia, criada pelo grupo ModCovid-19 com pesquisadores da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), da Fundação Getulio Vargas (FGV) e da Universidade de São Paulo (USP) projeta tempo seguro e ideal entre doses para controle da pandemia, a partir de dados de eficácia de vacinas. Ele mostra que vacinas com menos de 50% de eficácia na primeira dose precisam de um intervalo menor de aplicação do que vacinas com taxas de eficácia maiores. Alimentada com estudos prévios sobre eficácia dos imunizantes, a tecnologia indica quando é possível adiar as doses e quando se atinge o máximo possível de proteção.

“O próprio algoritmo decide quando é melhor aplicar a segunda dose, levando em conta a primeira, de maneira a controlar o mais rápido possível a pandemia”, explica Paulo José da Silva e Silva, co-autor do estudo. Por isso, a ferramenta, que está disponível on-line, pode ajudar nas tomadas de decisão durante o processo de imunização da população brasileira e de outros países.

Paulo lembra que quando o artigo foi escrito, em fevereiro desse ano, a principal pergunta era se valeria a pena adiar a segunda dose e qual a maneira mais segura de se fazer isso, em virtude da quantidade limitada de doses. Nesse sentido, o estudo teve como base a fabricante Astrazeneca e concluiu que o percentual de eficácia entre a primeira dose e segunda era muito pequeno e por isso, comprovadamente, valeria a pena esperar e vacinar mais gente com 1ª dose.

Agora, com o avanço da variante delta em algumas regiões do Brasil e do mundo, as estratégias de vacinação podem ser revistas a partir deste modelo.  “Se você está em um lugar onde ela é a variante prevalente, a eficácia da primeira dose, pelas primeiras estimativas que estão saindo agora, é muito menor do que era com a alfa, então muda a relação da eficácia entre primeira e segunda dose. Essas análises confirmam que a decisão é delicada e que tem que ser feita de maneira sistemática”, observa Paulo.

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Este texto foi originalmente publicado pela Agência Bori [Aqui!].

Leonid Schneider destrincha “escritório da integridade em pesquisa” proposto em campanha eleitoral na UNICAMP

“Criaremos na Unicamp um escritório permanente de integridade em pesquisa para proteger a sociedade e o pesquisador”, afirma Mario Saad

Mario “Fakenews” Saad está entrando em um segundo turno para se tornar reitor  da Unicamp. O homem responsável por grandes fraudes em pesquisas e 18 retratações faz o papel de vítima de uma “cultura do cancelamento”. Saad também anuncia a criação de um “Escritório de Integridade de Pesquisa”, para legalizar a má conduta e punir quem denunciar.

Por Leonid Schneider para o “For Better Science”

Mario Jose Abdalla Saad é um mentiroso controverso e tóxico, um infame falsificador de dados que poluiu a pesquisa do diabetes com dados falsos por décadas, e mesmo assim continua sendo professor da Universidade Estadual de Campinas em SP (Universidade Estadual de Campinas, UNICAMP). Ele foi desmascarado anos atrás por Paul S. Brookes e, no meio tempo, tem DEZOITO retratações. Saad e seus colegas brasileiros José CarvalheiraCláudio De Souza Lício Velloso conseguiram reciclar o mesmo western blot nada menos que 15 vezes (leia minhas reportagens anteriores aqui aqui). Saad tem quase 50 documentos sinalizados no Pubpeer, todos por manipulação ultrajante de dados.

Mas o professor Saad acredita que tudo não passa de fakenews e tenta agora se eleger reitor da UNICAMP. Ele ficou em segundo lugar no primeiro turno das eleições (porque a maioria da administração votou nele) e agora vai para o segundo turno.

Saad conseguiu republicar seus artigos retratados em outras revistas menos exigentes e foi recentemente barrado em pelo menos 12 investigações de má conduta de pesquisa por sua universidade ridiculamente corrupta. Ele agora se autorretrata como uma vítima da “Cultura de Cancelamento” e continua a tagarelar sobre “fakenews”.

A seguir está minha versão copiada (trocadilho intencional), ilustrada pelo PubPeer, de seu anúncio de 4 de janeiro de 2021 sobre criar um escritório para integridade de pesquisa na UNICAMP, uma espécie de ‘Ministério da Verdade Orwelliano’. Sua tarefa seria defender fraudadores de pesquisa como Saad, ao mesmo tempo em que reprime impiedosamente os denunciantes, como o anúncio admite abertamente.

Depois disso, cito um e-mail paranoico que Saad enviou para toda a universidade em 18 de março de 2021, em que afirma ser um futuro vencedor do Prêmio Nobel, mais uma vez defende a fraude de pesquisa e ataca seus críticos.

Image: Saad’s campaign page

“Criaremos na Unicamp um escritório permanente de integridade em pesquisa para proteger a sociedade e o pesquisador”, afirma Mario Saad

Por Mário e Zezzi 4 de janeiro de 2021

Com o objetivo de oferecer suporte e subsídio às políticas de integridade em pesquisa e de acesso aberto, aprovadas recentemente pelo Conselho Universitário da Unicamp, o pré-candidato à Reitoria da Unicamp, Mario Saad, afirma que a sua gestão poderá incrementar essas políticas, criando um escritório permanente para esse setor, com funções educativas e pedagógicas. “A criação das políticas é o primeiro passo nesse sentido, mas a iniciativa ainda é tímida”, afirma.

Same western blot reused 15 times for utterly different experiments

Saad, que anos atrás foi levianamente acusado por manipulação de imagens em alguns de seus artigos, em função da indolência institucional, demorou cerca de quatro anos para provar que todas as acusações – e ele grifa TODAS as acusações – eram infundadas, conseguindo atestar, assim, a integridade ética de seu trabalho. “Senti na pele o que hoje chamam de Cultura do Cancelamento”, comenta o pesquisador, afirmando ser fundamental o respaldo perene e ágil da Unicamp aos membros de sua comunidade científica, tanto do ponto de vista acadêmico e jurídico, como também de comunicação.

Western blot, reused after digital manipulation for different experiments

“Depois de quase quatro anos lutando para provar a integridade e o profissionalismo do meu trabalho e da minha equipe, conseguindo republicar trabalhos injustamente retratados e retomar todos os financiamentos previamente aprovados, entendi que posso contribuir para que pesquisadores que enfrentam esse mesmo tipo de situação possam fazer isso com franqueza, dignidade e cabeça erguida”

Fake western blots, digitally fabricated for reuse.

Recentemente, Mario Saad foi listado pelo Journal Plos Biology entre os 100 mil cientistas mais influentes do mundo. Todavia, nem o impacto de seu nome na produção científica mundial, o eximiu anos antes de travar uma luta com periódicos científicos, isoladamente e sem respaldo institucional, quando falsas acusações sobre possíveis manipulações de imagens em suas publicações bateram à porta dessas revistas.

Fake western blots, digitally fabricated for reuse.

No contexto atual de combate às fakenews em ciência, Mario Saad reforça a necessidade de suporte à comunidade científica da Unicamp no que se refere à condução de processos e procedimentos que visam o acolhimento, a avaliação e o encaminhamento de casos suspeitos de má-conduta científica. Condução que deve tramitar com segurança, livre de pressões midiáticas e políticas e das que o próprio pesquisador denomina como “fábricas de fakenews”.

Western blot, reused after digital manipulation for different experiments

“É preciso resguardar o pesquisador que enfrenta processos dessa magnitude até que todas as investigações sejam concluídas. Não para esquivá-lo de suas responsabilidades, mas de preservá-lo de ataques precipitados à reputação acadêmica, algo que para nós, cientistas, é crucial”, explica Saad.

Mesmo enfrentando mais de uma dezena de comissões processantes ao longo dos últimos anos, Mario Saad continuou a publicar e a atuar como revisor e membro do conselho editorial de importantes periódicos científicos internacionais, dentre os quais, o  American Journal of Physiology e o Metabolism.

Same blot, different antibodies, different samples, different papers.

“Muito cedo se aprende que na vida acadêmica é necessário ser resiliente. Passada a tormenta e restabelecida a justiça, sigo realizando com afinco o que aprendi a fazer: desenvolver ciência, cuidar dos meus pacientes, dar aulas e estudar”, comenta.

Entenda

Em meados de 2015, as revistas Diabetes, PlosOne, PlosBiology, CriticalCare e Diabetologia receberam denúncias anônimas sobre possíveis manipulações de imagens nos manuscritos do professor Mario Saad, docente da Faculdade de Ciências Médicas da Unicamp. À época, Saad contava com cerca de 250 manuscritos publicados nesses e em outros periódicos.

Frankenstein blot faked in Photoshop and recycled in two papers

“Aparentemente, todos os meus artigos foram checados pelos denunciantes. Chegaram quase a criar um dossiê de erros de editoração dos meus artigos. Falsas acusações eram então enviadas ininterruptamente às revistas, alegando manipulação de imagens e solicitando que providências fossem tomadas”, explica Saad.

Em resposta ao questionamento das revistas, Mario Saad enviou os dados originais de seus estudos, atestando que as denúncias eram falsas e que pouquíssimos casos tratavam, na verdade, de erros de editoração eletrônica. Saad reconheceu, nesses casos, que os erros haviam ocorrido inadvertidamente e que, ainda assim, não interferiam no resultado de seus achados, bem como na interpretação final destes.

Western blot, reused after digital manipulation for different experiments

De forma anônima, as denúncias contra o professor Saad continuavam a chegar às revistas, pretendendo transformar os pequenos erros de editoração em manipulação intencional de imagens. Pressionadas, as revistas solicitaram que a Unicamp investigasse os estudos denunciados.

Atendendo a solicitação das revistas, a Unicamp instaurou a primeira de uma série de sindicâncias, a partir de 2016, inclusive, com a participação de pesquisadores externos à universidade e também do exterior.

Different experiments, different samples, same blots

“A conclusão também foi a de que os poucos erros apresentados nos artigos escritos por mim eram involuntários e não afetavam o resultado dos estudos, e que poderiam ser facilmente corrigidos por meio de erratas. Atestavam ainda que as denúncias eram completamente falsas”, reitera o pesquisador.

A despeito do parecer da Unicamp, a revista Diabetes não acatou a proposta de correção dos erros de editoração em dois manuscritos e, de maneira unilateral, acabou retratando não apenas dois, mas três artigos do professor Saad, desprezando a conclusão e o parecer das sindicâncias instauradas pela Universidade Estadual de Campinas.

Cloned gel bands in a fake gel. Pereira-da-Silva et al Endocrinology 2003

A partir da decisão unilateral da Diabetes, as revistas PlosBiology, Diabetologia e Critical Care, que já haviam aceitado fazer as erratas, voltaram atrás e também decidiram retratar os artigos questionados.

“O texto dessas retratações e novas denúncias anônimas, sem provas, foram juntadas em novos processos pela Unicamp. Às vésperas da eleição para novo reitor, no início de 2017, recebi a notícia de que enfrentaria 12 novas Comissões Processantes no âmbito da universidade”, comenta Saad. .

Western blot, reused after digital manipulation for different experiments

Saad destaca que, até então, todas as denúncias já haviam sido investigadas em três sindicâncias internas, realizadas pela Faculdade de Ciências Médicas e pela própria Reitoria, em que concluíam que nunca houve má conduta em suas pesquisas e que as denúncias eram falsas.

Em 2018, todos os relatórios finais de todas as 12 CPPs concluíam que nunca houvera má fé ou má conduta científica por parte de Mario Saad em seus manuscritos. Tais pareceres foram encaminhados à Fapesp, que demorou mais um ano para analisá-los. No início de 2020, todos os financiamentos da Fundação, previamente aprovados, foram retomados. Os trabalhos retratados mais relevantes foram republicados. Além de inocentado em todas as investigações, os resultados originais de seu laboratório de pesquisa voltaram para a literatura científica.

Western blots, reused after digital manipulation for different experiments

“Creio que as conquistas de uma vida dedicada integralmente à Universidade e os resultados desse escrutínio completo em minha vida profissional – que demonstraram que minha atuação sempre foi honesta e baseada em trabalho duro, e que também comprovaram a validade e a relevância de minha produção cientifica – permitem claramente que eu retome plenitude minha vida acadêmica com plenitude, contribuindo com meu trabalho para o engrandecimento da Universidade e da ciência no Brasil”, conclui.

Western blot, reused after digital manipulation for different experiments

There was also this email sent by “Mario Saad and Marco Zezzi  <divulga@marioezezzi.com.br>” on 18 March 2021:


Falsidade Eleitoreira

Fake western blots made in Photoshop from recycled gel bands. Rocha et al Clin Cancer Res 2011

Há alguns anos, o professor Mario Saad foi levianamente acusado de más condutas científicas, todas esclarecidas e desmentidas a seu tempo. Agora, entretanto, o ataque volta à tona, desta vez, na forma vil de fake news covardes e eleitoreiras, em sites sensacionalistas, as quais, uma vez mais, repudiamos com veemência.

A única verdade sobre essas acusações é que elas permitiram diagnosticar com precisão a indolência institucional da Unicamp à época, que permitiu que essas falsidades prosperassem, a despeito de não haver quaisquer provas documentais.

Western blot, reused after digital manipulation for different experiments Girasol et al PLOS One 2009

Reiteramos que o Prof. Mário foi absolvido de todas as acusações que lhe foram feitas. A prova mais cabal disso está à mão de qualquer um que se dê ao trabalho de verificar, antes de atacar: os artigos sob suspeição foram republicados, e os seus dados repostos integralmente na literatura científica da área.

A despeito disso, talvez valha a pena esclarecer o que sejam os tais plágios ou más praticas científicas alegados: diziam respeito ao fato de que, após 15 anos da publicação original, cerca de 5% dos seus dados não podiam ser recuperados de um computador, por uma questão meramente tecnológica de acesso a eles. Nunca, em nenhuma ocasião, quaisquer resultados ou conclusões dos trabalhos foram postos em dúvida.

Western blot, reused after digital manipulation for different experiments

Talvez esse tempo de horror em que, dentro da própria Universidade, haja quem não tenha vergonha de utilizar expedientes torpes para ganhar eleição na mentira, sirva também de ocasião para que os docentes, servidores e alunos conheçam a luta solitária e vitoriosa que teve de empreender o Prof. Mario Saad em defesa da sua reputação como pesquisador brasileiro.

É nosso mais sincero desejo que isso nunca mais venha acontecer com algum docente desta Universidade.

A rigor, a Unicamp precisa se orgulhar de ter nos seus quadros um pesquisador como o Prof. Mario Saad, que apresenta 21.858 citações pelo Google Scholar. O seu reconhecimento internacional é manifesto, tanto que foi listado pela revista Plos Biology, ao lado de outros colegas da Unicamp, entre os pesquisadores mais influentes do mundo. Além disso, é um dos poucos cientistas mundiais, na área de Medicina, que são consultores selecionados pelo Comitê do Prêmio Nobel para indicação de futuros premiados. Todos que atuam na área acadêmica sabem que carreiras assim são construídas com muita dedicação, trabalho e integridade cientifica.

Apenas o fisiologismo mais baixo e eleitoreiro pode se ressentir diante de tão notáveis feitos acadêmicos.

Western blot, reused after digital manipulation for different experiments Calisto et al PLOS One 2010

Apoiadores do Prof. Mario Saad. 
Leia também
 
Um ensaio clínico sobre fake news, por Mario Saad: https://www.fcm.unicamp.br/fcm/relacoes-publicas/saladeimprensa/um-ensaio-clinico-sobre-fake-news-por-mario-saad

Fake western blots, made in Photoshop from recycled gel bands Weissmann et al Diabetes 2014

“Criaremos na Unicamp, um escritório permanente de integridade em pesquisa para proteger a sociedade e o pesquisador”, afirma Mario Saad:https://marioezezzi.com.br/criaremos-na-unicamp-um-escritorio-permanente-de-integridade-em-pesquisa-para-proteger-a-sociedade-e-o-pesquisador-afirma-mario-saad/
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Este texto foi originalmente publicado no blog “For Better Science” [Aqui!].

Unicamp gerou impacto de R$ 13,8 bi na região de Campinas em 2019

unicampFOTO: ANTONINHO PERRI / UNICAMP

A Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) gera um impacto social e econômico significativo nas regiões onde está instalada por meio de empregos qualificados e receita. Em 2019, o impacto total da universidade na região de Campinas foi de R$13,8 bilhões em termos de Produto Interno Bruto (PIB). Essa foi a conclusão de estudo realizado pela Coordenadoria Geral da Universidade (CGU), em parceria com os institutos de economia e de química da universidade. O relatório está antecipado à imprensa pela Bori e será apresentado na quarta (24).

Os dados evidenciaram que os desdobramentos socioeconômicos associados apenas às despesas da Unicamp com servidores, investimentos e compras de bens e serviços e ao consumo dos alunos geraram um impacto de R$ 6,4 bilhões – o equivalente a 9,8% de todo o PIB de Campinas em 2019.

As atividades da universidade resultaram na criação de 100 mil vagas de emprego geradas, de forma direta e indireta, pela instituição em 2019. O número leva em conta o impacto das 717 empresas-filhas da Unicamp atualmente ativas no mercado. Criadas por egressos, ex-alunos e ex-docentes da universidade, essas empresas geraram mais de 30 mil empregos diretos e R$8 bilhões em receita em 2019.

“Um dos grandes achados do estudo foi evidenciar a importância da universidade na geração de emprego e renda. É toda uma cadeia de renda/consumo e produção que se espraia pela sociedade e vai promovendo o desenvolvimento”, aponta Teresa Dib Zambon Atvars, uma das coordenadoras do estudo.

Matriz-insumo

O estudo estimou o impacto socioeconômico da atividade da Unicamp por meio da análise da chamada matriz insumo-produto, que identifica as conexões de uma atividade sobre os demais setores da economia. A partir da descrição da origem e do destino da produção de cada área, esse instrumento permite conhecer os fluxos de bens e serviços produzidos a partir de determinado setor da economia e medir, assim, os impactos das mudanças na economia.

“No caso da universidade, os professores, funcionários e suas famílias, assim como os alunos, adquirem bens e serviços: compram comida no mercado, alugam imóveis, buscam entretenimento etc. Isso leva a uma série de atividades em uma cadeia produtiva, pois outros setores econômicos são acionados – desde a produção do insumo até seu transporte e comércio. E esse complexo processo acaba gerando mais emprego e mais renda”, explica Mariano Laplane, economista da Unicamp, um dos autores do estudo.

A pesquisa também avaliou o “efeito-diploma” na região, ou seja, ao aumento das oportunidades de emprego e dos rendimentos de trabalhadores com ensino superior completo. “Os dados mostram claramente que os profissionais que possuem graduação têm uma renda maior do que aqueles que possuem apenas o ensino médio. E essa renda aumenta ainda mais com uma pós-graduação. Então o estudo também mostra que a universidade, entre muitas outras contribuições, colabora também para melhorar a renda e, consequentemente, a qualidade de vida”, diz Atvars.

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Este texto foi produzido e originalmente publicado pela Agência Bori [Aqui!].

Coletivo “Cientistas Engajados” envia carta a João Dória cobrando mudanças no PL 529

cientistas engajados

O Coletivo “Cientistas Engajados” enviou ontem uma correspondência assinada por 510 pesquisadores  ao governador de São Paulo, João Paulo Dória (PSDB), mostrando os problemas que serão causados pelo Projeto de Lei 529 (PL 529), que contém um conjunto de providências relacionadas à gestão pública do Estado que são consideradas como potenciais causadoras de mais problemas do que soluções.

O documento aponta que, especialmente no que diz respeito à infraestrutura de Assistência Social e de Ciência e Tecnologia, o PL 529 ao retirar das universidades estaduais paulistas (USP, UNESP e Unicamp) e da FAPESP recursos que servem para
garantir a estabilidade do financiamento à pesquisa,  ataca não apenas a autonomia financeira mas, também a capacidade do Estado de reagir à crise sanitária e econômica.

Em sua correspondência, os “Cientistas Engajados” apontam ainda que serão necessários investimentos ainda maiores no próximo período, pois não será possível contar com o governo federal que neste de profunda necessidade do conhecimento científico é presidido por um indivíduo que rejeita a ciência e os cientistas.

Quem desejar ler a íntegra do documento enviado a João Paulo Dória pelos “Cientistas Engajados”, basta clicar [Aqui!]

Para assinar esta carta preencha o formulário: https://forms.gle/v2XjDYvriPcrGbGCA

Siga os Cientistas Engajados nas redes sociais:  Facebook: @CientistasE Twitter: @CientisasE Instagram: @cientistasengajados

 

Comitê de Ética da Unicamp suspende pesquisa que seria usada por lobby Pró-Paraquate

Unicamp suspende pesquisa que poderia liberar agrotóxico letal

Unicamp suspende pesquisa que poderia liberar agrotóxico letal

Após denúncia da Repórter Brasil e Agência Pública, Comitê de Ética da universidade suspendeu pesquisa financiada por produtores de soja que visava reverter a proibição do paraquate

Por Ana Aranha – Repórter Brasil/Agência Pública 

Após revelações em matéria da Repórter Brasil e da Agência Pública, o comitê de Ética da Unicamp suspendeu pesquisa conduzida em laboratório da Faculdade de Ciências Farmacêuticas que estava sendo usada para liberar o uso de agrotóxico letal. A reportagem denunciou que, antes mesmo de ser concluída, a pesquisa era peça central do lobby para reverter a proibição do paraquate, classificado como “extremamente tóxico” e um dos agrotóxicos mais usados no Brasil. O produto está com data marcada para ser banido em setembro deste ano, segundo decisão tomada pela Anvisa em 2017 com base em evidências de que ele pode gerar mutações genéticas e a doença de Parkinson nos trabalhadores rurais. 

A poucos meses da proibição, porém, o lobby pressionava a Anvisa pela reversão do veto usando como argumento um controverso estudo financiado pela Associação Brasileira de Produtores de Soja (Aprosoja) – que representa o setor que mais usa o paraquate. A pesquisa determinaria se o produto pode ser encontrado na urina dos trabalhadores que o aplicam dentro de tratores de cabine fechada no Mato Grosso. Entre as muitas falhas apontadas na metodologia, ela não incluiu outras pessoas que também são expostas ao produto, como os trabalhadores que fazem o transporte e o tratamento dos grãos, as comunidades do entorno e os trabalhadores de fazendas onde não há tratores com cabine fechada.

Revelando seu entusiasmo pela segurança do uso do agrotóxico, as declarações dadas pelo médico e professor aposentado da Unicamp Ângelo Trapé para a reportagem geraram questionamentos entre pesquisadores da instituição. “O contato do trabalhador que faz a pulverização é nulo. É tudo mecanizado, trator fechado, vedado”, afirmou Trapé, que questionou a proibição do produto antes mesmo de concluir a sua pesquisa.

Dois dias após a publicação da reportagem, o departamento de Saúde Coletiva da Faculdade de Ciências Médicas da Unicamp, onde Trapé foi professor, publicou uma nota de repúdio afirmando que já foi “bem estabelecida a associação do agrotóxico com diversas doenças relacionadas ao trabalho como fibrose pulmonar, insuficiência renal, Doença de Parkinson e danos genéticos”. A nota manifesta ainda “indignação” pelo uso da pesquisa para reverter a proibição do paraquate e afirma que a citação de Trapé como professor aposentado da universidade caracteriza “abuso do uso de imagem da Unicamp, em busca de algum grau de legitimidade para estudos que claramente colidem com os interesses da saúde coletiva”.

A nota foi posteriormente endossada pela Faculdade de Ciências Farmacêuticas, onde fica o laboratório em que a pesquisa estava sendo conduzida. O texto reforça a preocupação da instituição com o fato de que o “paraquate, comprovadamente, causa graves intoxicações ocupacionais e acidentais aos trabalhadores rurais”.

Por fim, o Comitê de Ética da universidade colocou o assunto em pauta e decidiu, nesta quarta dia 29, pela “suspensão da autorização da pesquisa em questão “por haver indícios de omissão de informações por parte dos envolvidos”. O órgão não detalhou quais são essas informações (leia nota completa).  

De acordo com resolução da Anvisa, publicada em 2017, o paraquate será banido em setembro deste ano no Brasil (Foto: Alam Ramírez Zelaya)

A reportagem apurou que uma pesquisa parecida com a de Trapé fora reprovada pela Comissão Nacional de Ética em Pesquisa  (Conep) no fim de 2019, meses antes da submissão da pesquisa à Unicamp. A versão rejeitada pela Conep continha informações que foram cortadas da versão apresentada à universidade paulista.

A rejeição da pesquisa pela Conep foi pauta de reunião que ocorreu na Anvisa em 23 de outubro, quando o coordenador geral da comissão Jorge Venâncio foi chamado pelo diretor Renato Porto para esclarecer o motivo da reprovação. A intenção do encontro era entender quais as falhas da pesquisa para que um outro projeto pudesse ser apresentado.

No dia 5 de novembro, o mesmo diretor da agência reguladora recebeu outro membro do Conep para discutir a pesquisa. Desta vez, também participaram do encontro representantes da Frente Parlamentar Agropecuária, a bancada ruralista.

Pouco mais de um mês depois, em 11 de dezembro, a pesquisa de Angelo Trapé era aprovada pelo Comitê de Ética da Unicamp. “Imagino que eles não conseguiram resolver os problemas apontados,  então fizeram um projeto mais simples da mesma pesquisa para passar na Unicamp”, afirma uma fonte que teve acesso às informações sobre todo o processo de reprovação na Conep.

Trapé confirmou que sua pesquisa é uma versão de um projeto anteriormente rejeitado pela Conep. Ainda durante a apuração da matéria sobre o lobby, ele explicou à reportagem que a Aprosoja lhe procurou no fim do ano passado, depois que a pesquisa fora rejeitada pela Conep. A intenção era de que ele tentasse aprovar o projeto pela Unicamp, o que de fato ele conseguiu.

Após a publicação da matéria, o Comitê de Ética da Unicamp entrou em contato com a Conep e obteve os motivos pelos quais a pesquisa fora reprovada. Essas informações não foram reveladas nem pela Conep ou pela Unicamp. Pesquisadores que tiveram acesso à pesquisa e que não podem se identificar afirmam que são muitas as falhas, elas vão desde a metodologia até os procedimentos de segurança com as amostras colhidas.

Procurados pela reportagem, Ângelo Trapé não respondeu ao novo contato. A Aprosoja manteve a mesma posição manifestada anteriormente e afirmou que não vai se pronunciar sobre a suspensão da pesquisa que financiou.

Anvisa segue tentando votar o adiamento da proibição

As reuniões na Anvisa para tratar sobre a pesquisa são um breve episódio de uma longa sequência de encontros promovidos pelo lobby pró paraquate desde que sua proibição foi publicada. Desde 2017, foram mais de vinte reuniões na agência reguladora com as maiores multinacionais do setor, como a Syngenta, e representantes dos maiores exportadores do Brasil, como a Aprosoja. A agenda foi compilada pela Repórter Brasil e Agência Pública.

paraquate 1

Veja a íntegra do levantamento sobre a agenda da Anvisa.

Um dos períodos de maior intensidade nas reuniões foi justamente durante os meses em que a pesquisa foi submetida e reprovada pelo Conep. Foram seis reuniões na agenda oficial dos diretores da agência com o tema do paraquate em outubro e novembro de 2019.

Os encontros sobre o produto voltaram a acontecer neste ano, com a Syngenta e a bancada ruralista em fevereiro e março. Em 31 de março, uma possível revisão do prazo de proibição devido à pesquisa entrou oficialmente na pauta da agência, soando o alerta do Ministério Público Federal.

O procurador federal Marco Antônio Delfino de Almeida, que atua no Mato Grosso do Sul, teve acesso às informações preliminares sobre a pesquisa e conseguiu uma liminar na justiça proibindo a Anvisa de fazer mudanças na data de proibição antes que os resultados da pesquisa fossem entregues.

Mas a Anvisa continua recorrendo da decisão e conseguiu, no dia 17 de julho, derrubar a liminar do MPF. Ou seja, a agência reguladora disputa na justiça o direito de adiar a proibição do paraquate mesmo antes que novas conclusões sejam apresentadas.

Além da pesquisa de Angelo Trapé, o lobby financia outro estudo sobre o Paraquate na Inglaterra. As produtoras de agrotóxicos se juntaram no que chamam oficialmente de Força-Tarefa Paraquate, grupo que reúne 12 fabricantes do produto. A Força-Tarefa financia pesquisa que vai testar a capacidade do produto provocar mutação nos genes de ratos. O estudo está sendo conduzido em um laboratório privado inglês, o Covance Laboratory.

Assim como a pesquisa de Trapé, os resultados só devem ficar prontos depois de setembro, data da proibição no Brasil. O atraso é o argumento central do lobby para adiar a proibição e a Anvisa está, atualmente, desimpedida pela justiça de tomar essa decisão.

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Este texto foi originalmente publicado pela Repórter Brasil [Aqui!].

Brasileiros não sabem quais agrotóxicos estão na água que consomem

água

Estudos científicos apontam para crescente contaminação da água usada para consumo humano por resíduos de agrotóxicos.

Por Nadine Nascimento para o jornal Brasil de Fato

A produção agrícola responde por nada menos do que 70% do consumo mundial de água. Mas, ao mesmo tempo que depende desse recurso vital, a atividade também contribui para sua degradação. A poluição hídrica causada por práticas agrícolas insustentáveis, marcadas pelo abuso de​ agrotóxicos que escoam para rios, lagos e reservas subterrâneas, é um problema crescente em todo o mundo.

O Brasil, uma potência em agricultura industrial, é um dos maiores consumidores de agrotóxicos no mundo. Só em 2017, cerca de 540 mil toneladas de ingredientes ativos desses produtos foram consumidas.

Hoje (22) é Dia Mundial da Água. Água potável segura é um direito humano, o que inclui o direito de as pessoas saberem o que tem na água que estão bebendo. A legislação brasileira define que os fornecedores de água – sejam eles empresas estatais, privadas ou governos municipais – são responsáveis por testar 27 agrotóxicos específicos, a cada seis meses, nos sistemas que gerenciam e devem relatar esses resultados ao governo federal.

Para a professora da Faculdade de Tecnologia da Unicamp, Gisela de Aragão Umbuzeiro, “a quantidade de agrotóxicos que hoje consta nesta portaria é pequena e não é representativa dos agrotóxicos que estão sendo usados no Brasil e poderiam causar algum efeito adverso”, levando em conta que o número de ingredientes ativos registrados no Brasil, 306, é 11 vezes maior do que os 27 analisados na água para consumo.

Outro ponto importante é a periodicidade dessas análises que ocorrem semestralmente, “elas são feitas muitas vezes fora ou distante da época do uso do agrotóxico na cultura, isso pode contribuir para que os resultados encontrados não correspondam à real situação da presença de agrotóxico na água”, acredita a médica sanitarista Telma Nery.

atrazina está banida da União Europeia desde 2004, mas aqui é o sexto pesticida mais comercializado com quase 29 mil toneladas, apenas em 2017. Ela também é o contaminador mais comumente encontrado na água. “A atrazina tem um importante efeito no sistema hormonal do ser humano, como também nos sistemas endócrino, reprodutor e neurológico. Quando em uma exposição crônica, ela pode trazer efeitos [negativos] nesses sistemas”, diz Nery.

Resistência

Um desafio complexo como a poluição hídrica pela agricultura requer múltiplas respostas. Segundo a FAO, organização ligada a Nações Unidas, em sua publicação “Mais pessoas, mais alimentos, água pior?”, a maneira mais eficaz de reduzir a pressão sobre ecossistemas aquáticos é atenuar a poluição na fonte.

São apontadas políticas de instrumentos regulatórios tradicionais, como padrões de qualidade da água, licenças de descarga de poluição, avaliações de impacto ambiental para certas atividades agrícolas e limites à comercialização e venda de produtos perigosos, entre outras intervenções.

“As grandes corporações são as que mais consomem água. Todo mundo sabe que quase 70% de toda a água disponível é usada para o agronegócio, e a contrapartida do ponto de vista de geração de emprego, de garantia de alimentos saudáveis é inversamente proporcional”, comenta Edson Aparecido da Silva, secretário executivo do Observatório Nacional dos Direitos a Água e ao Saneamento (ONDAS) e assessor de Saneamento da Fundação Nacional dos Urbanitários (FNU).

avião

Uso intensivo e indiscriminado de agrotóxicos potencializa contaminação de corpos aquáticos e do lençol freatico.

Silva esteve presente no Fórum Alternativo Mundial da Água (FAMA), criado em 2018, que reuniu organizações e movimentos sociais que lutam mundialmente em defesa da água como direito elementar à vida. Este Fórum se contrapõe ao autodenominado Fórum Mundial da Água (FMA), um encontro promovido pelos grandes grupos econômicos que defendem a privatização das fontes naturais e dos serviços públicos de água. Entre as corporações interessadas na apropriação desse recurso e que patrocinaram o evento, estavam Ambev, Nestlé e Coca-Cola.

“Esse modelo de desenvolvimento da lógica do capital se sobrepõe a lógica da garantia dos direitos humanos e da preservação dos bens comuns. As articulações dos movimentos populares dos atingidos por grandes empreendimentos, como o caso do Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB), ou da luta do Movimentos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), que garantem uma produção sustentável sem agrotóxico e que dá condições dignas de vida para a população do campo, têm que ser cada vez mais fortalecidos”, afirmou Aparecido da Silva.


Este artigo foi originalmente publicado pelo jornal “Brasil de Fato” [Aqui!]

Pesquisa aponta alto risco de desertificação na Bahia

Identificação de áreas vulneráveis em polos de produção agrícola serve de alerta para agricultores e representantes do poder público

Camila da Silva Dourado, autora da pesquisa: polos agrícolas como áreas de alto risco | Foto: Antoninho Perri

Pesquisa desenvolvida na Unicamp revela que o Estado da Bahia vem apresentando aumento no índice de aridez e diminuição de chuvas. Os estudos indicam que a tendência é que a situação se agrave nos próximos 30 anos, provocando um aumento das áreas com risco de desertificação na região. As conclusões são da tese de doutorado “Áreas de risco de desertificação: cenários atuais e futuros, frente às mudanças climáticas”, defendida por Camila da Silva Dourado na Faculdade de Engenharia Agrícola (Feagri) da Unicamp.

A desertificação é a degradação de terras nas zonas áridas, semiáridas e subúmidas a secas, como resultado das variações climáticas e ações antrópicas, ou seja, as alterações causadas pelo ser humano no ambiente. Este fenômeno transforma terras férteis e agricultáveis em terras improdutivas, causa impactos ambientais como a destruição da biodiversidade, diminuição da disponibilidade de recursos hídricos e provoca a perda física e química dos solos. Neste caso, a pesquisa aponta que as mesorregiões que mais expandiram as áreas com risco de aridez são os maiores polos agrícolas baianos. “Ainda é necessária uma análise mais aprofundada sobre a desertificação nessas áreas, mas os dados mostram que esses polos agrícolas observados passaram a ser considerados como áreas de alto risco”, explica Camila.

O trabalho foi realizado sob orientação de Stanley Robson de Medeiros Oliveira, pesquisador da Embrapa Informática Agropecuária e coorientação de Ana Maria Heuminski de Avila, pesquisadora do Cepagri (Centro de Pesquisas Meteorológicas e Climáticas Aplicadas à Agricultura). Os autores alertam para a necessidade de se adotar medidas preventivas agora para que as previsões não se consolidem.

Foto: Perri
Camila da Silva Dourado, autora da pesquisa: “Os cenários de aumento de áreas de risco para agricultura por causa da desertificação ameaçam diversos setores econômicos e sociais da região, principalmente o agropecuário”

No cenário da produção agrícola nacional, a Bahia ocupa destaque no Nordeste brasileiro como grande produtora de grãos, além de ser responsável por 12,2% do valor da produção de frutas, ocupando o segundo lugar no ranking nacional. A cultura do algodão no estado representa 25,4% da produção nacional, ficando atrás apenas de Mato Grosso com 64,1% da produção, de acordo com dados da safra de 2016 divulgados pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). Os dois principais polos agrícolas baianos estão no oeste, em cidades como Luís Eduardo Magalhães e Barreiras, por exemplo, onde é forte a produção de algodão e grãos, principalmente a soja. Outro polo está no norte do Estado, maior produtor de frutas da Bahia, sendo destaques as cidades entre Juazeiro (BA) e Petrolina, em Pernambuco.

“Os cenários de aumento de áreas de risco para agricultura por causa da desertificação ameaçam diversos setores econômicos e sociais da região, principalmente o agropecuário”, explica Camila. Por isso, uma das alternativas recomendáveis é o desenvolvimento de ferramentas e sistemas inteligentes capazes de capturar, organizar e quantificar dados e informações, que auxiliem o planejamento da produção agrícola e o processo de tomada de decisão, com o objetivo de diminuir os impactos ambientais.

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De acordo com os resultados obtidos por meio da análise de dados climáticos (chuva, temperatura e evapotranspiração), dados edáficos, declividade do terreno, fragilidade do solo à erosão e de vegetação (extraídos de imagens de satélite), entre os anos de 2000 e 2014, o território baiano já apresentou uma queda do nível de precipitações (chuvas), diminuição de áreas de cobertura vegetal nativa, e um aumento no índice de aridez e das áreas com risco de desertificação.

Para o futuro, ou seja, entre os anos de 2021 a 2050, a previsão é que o Estado enfrente um aumento de temperatura de aproximadamente 1 °C e diminuição das precipitações, em relação ao clima atual. As previsões também apontam um aumento nas áreas consideradas áridas e uma expansão de terras com risco “alto” e “muito alto” de desertificação. “Essa pesquisa exibe o cenário futuro; então, se quisermos minimizar esses riscos, temos que tomar decisões e atitudes agora ou será muito tarde para fazer as correções. Não podemos esperar até 2050”, alerta Stanley Oliveira.

Segundo o orientador da pesquisa, as técnicas de mineração de dados associadas às técnicas de sensoriamento remoto em imagens orbitais, tratam do desafio de captar padrões e processos, e proporcionam um diagnóstico espaçotemporal da mudança na paisagem, permitindo também monitorar e diagnosticar o grau de degradação de terras. Essas técnicas facilitam a análise e a manipulação de dados em grandes áreas, com menos custo que os métodos convencionais, permitindo uma avaliação das alterações ocorridas no meio ambiente, no passado, presente e com simulações do futuro.

“A depender da prática agrícola que é adotada hoje, terras produtivas serão transformadas em improdutivas. Não adianta utilizar práticas inadequadas que não visem à sustentabilidade daquele solo e dos recursos naturais. É preciso alertar o grande e pequeno produtor sobre formas de produção que amenizem essa situação; é uma questão de sensibilização. São necessárias políticas públicas também para que haja incentivo às novas formas de produção e de utilização da terra e dos recursos naturais”, ressalta Camila.

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O desafio de alimentar uma população em crescimento

Os resultados que a pesquisa aponta são importantes para a busca de soluções ao principal desafio da agricultura mundial: cumprir a meta de alimentar nove bilhões de pessoas até 2050, de acordo com previsão da FAO, a Organização das Nações Unidas (ONU) para a Alimentação e a Agricultura. Estudos da agência indicam que, para alimentar uma população extra projetada em mais 2,3 bilhões de pessoas, o mundo precisará produzir 70% a mais de alimentos. Entretanto, a expansão das terras agricultáveis terá de se dar em cerca de 120 milhões de hectares nos próximos 40 anos em países em desenvolvimento, principalmente na América Latina e na África Subsaariana.

Regiões áridas e terras desertificadas dificultam e impedem a produtividade de alimentos. Terras antes agricultáveis se tornam improdutivas em razão dos processos de semiaridez, aridez e desertificação. Estima-se que boa parte das terras inseridas em áreas de clima propícios à desertificação tenha seu processo de improdutibilidade acelerado. Por isso, os resultados são importantes para orientar o trabalho de gestores e apoiar a formulação de políticas públicas focadas na região.

Foto: Perri
O pesquisador Stanley Robson de Medeiros Oliveira, orientador da tese: “Se quisermos minimizar esses riscos, temos que tomar decisões e atitudes agora ou será muito tarde para fazer as correções”

Historicamente a região norte do território baiano integra o polígono da seca, uma área de mais de 1 milhão de km² entre os Estados de Alagoas, Bahia, Ceará, Minas Gerais, Paraíba, Pernambuco, Piauí, Rio Grande do Norte e Sergipe, que enfrenta crises repetidas de estiagem. Dessa forma, a manutenção da fruticultura no norte é feita através de sistemas de irrigação. Porém, outro problema apontado pela pesquisa é que regiões antes consideradas com risco baixo de desertificação passam ao moderado e alto, como é o caso da região oeste. Essa situação mudaria todo o cenário de produção agrícola do estado.

Nos últimos anos os pesquisadores também vêm se preocupando com a influência das mudanças climáticas no avanço do processo de desertificação. “Com o aumento de temperatura estimado em 1 ºC e a diminuição na precipitação, há a ocorrência de um outro indicador que utilizamos, a evapotranspiração, que é subsídio para um outro indicador, o índice de aridez. Juntando essas variáveis, e com as novas projeções do modelo de mudanças climáticas, confirma-se que há uma expansão muito grande das áreas de desertificação”, esclarece Camila.

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“Se considerarmos os resultados, esse é um cenário muito drástico e assustador, mas o objetivo dessa pesquisa não é assustar e sim informar. É hora de criar políticas públicas para que as pessoas que vivem da terra consigam ter melhor qualidade de vida, possam permanecer e alimentar suas famílias, porque o grande risco é que elas migrem para outras regiões e se tornem marginalizadas. As pessoas precisam continuar produzindo alimento para subsistência e comércio”, afirma a coorientadora da pesquisa, Ana Avila.

Metodologia

Para avaliar as áreas com potencial de risco de desertificação no estado da Bahia, foram utilizados sete indicadores biofísicos de desertificação: índice de vegetação de diferença normalizada e índice de vegetação realçado (NDVI e EVI, respectivamente, na sigla em inglês) ambos gerados pelo sensor Modis; índice de aridez; dados de solo; precipitação; temperatura e evapotranspiração. No caso dos mapas climáticos foi aplicado o método geoestatístico Krigagem Bayesiana Empírica. Também foram elaborados mapas de modelo de elevação digitação, declividade e classificação do solo, com o intuito de gerar um mapa de fragilidade do solo, usado como indicador, com as características edáficas da região.

Foto: Perri
A pesquisadora Ana Maria Heuminski de Avila: “É hora de criar políticas públicas para que as pessoas que vivem da terra consigam ter melhor qualidade de vida, possam permanecer e alimentar suas famílias”

A partir do empilhamento das imagens dos sete indicadores de desertificação foi aplicada a tarefa classificação, por meio do algoritmo Máquinas de Vetores Suporte (SVM, sigla em inglês) na imagem produto, definindo quatro níveis de risco de desertificação: muito alto, alto, moderado e baixo. A pesquisa usou imagens de alta resolução espacial do satélite RapidEye para validação da classificação fornecidas pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe). As simulações dos impactos das mudanças climáticas para o cenário futuro, 2021 até 2050, utilizaram modelos climáticos Eta-MIROC5, que preveem diminuição da precipitação, aumento de temperatura e deslocamento das áreas com maiores taxas de evapotranspiração potencial.

Foram estudados dois cenários de períodos temporais distintos: o de clima presente, abrangendo os anos de 2000 a 2014, e o cenário de clima futuro, para o período de 2021 a 2050. Os resultados mostraram que em 2014 houve uma diminuição na precipitação e nas áreas de cobertura vegetal em relação ao ano 2000, além de um aumento no índice de aridez e nas áreas de risco de desertificação. No cenário futuro, houve um aumento de temperatura de aproximadamente 1 °C e diminuição da precipitação em relação ao clima presente. O índice de aridez aponta um aumento nas áreas áridas para o clima futuro, e uma expansão nas áreas de risco de desertificação, principalmente nas áreas de risco muito alto e alto.

“Essa metodologia é inédita e rica por usar técnicas de sensoriamento remoto e de mineração de dados, incluindo um algoritmo inteligente (SVM – Support Vector Machine), que aprende interativamente com uma massa de dados, descobre e apresenta os padrões encontrados. Isso pode ser aplicado em outras regiões do Brasil, principalmente aquelas mais carentes; a contribuição não se restringe só ao estado da Bahia”, enfatiza Oliveira.

FONTE: http://www.unicamp.br/unicamp/ju/noticias/2018/02/19/pesquisa-aponta-alto-risco-de-desertificacao-na-bahia

 

Fim do ensino superior público pago no Chile, por que o silêncio?

Governo chileno aprova reforma do ensino superior que põe fim às universidades privadas e adota um modelo de ensino superior gratuito e universal Foto: Alex Ibañez/ Presidencia do Chile

Governo chileno aprova reforma do ensino superior que põe fim às universidades privadas e adota um modelo de ensino superior gratuito e universal
Foto: Alex Ibañez/ Presidencia do Chile

*Por Peter Schulz

Há pouco mais de dois meses um fato banal em si transformou-se em grande notícia. O fato era a entrega de um relatório encomendado pelo governo federal, um ”ajuste justo” proposto pelo Banco Mundial. Entre outros, um ajuste bastante divulgado pelos grandes meios de comunicação era o fim da gratuidade no ensino superior público no Brasil[I]. A repercussão foi enorme, lançando-se mão de exemplos bem sucedidos nesse sentido, como o da Inglaterra. A ampla divulgação não trazia junto o “outro lado”, o contraditório. As críticas a essa proposta apareceram em veículos de menor penetração e, em parte, por meio das redes sociais. Uma vez formados esses polos, não ocorreu propriamente um debate público, não apareceram tréplicas para provocar reposicionamentos ou aprofundar as argumentações. Polarizações sem o necessário embate qualificado são comuns e um caso específico foi analisado de forma bastante clara e será útil para entender a pergunta do título: a (des)informação sobre um ataque com mísseis à Faixa de Gaza em 2014. A análise, tanto da cobertura de imprensa de um lado e a omissão de outro, quanto da repercussão nas redes sociais, é de Gilat Lotan da New York University[II]. Vale a pena olhar a imagem da rede de respostas pelo Twitter sobre esse fato a partir de um Twit do Haaretz.com. É possível ver que as comunidades de Twitters “pró-Israel” e as “pró-Palestina” praticamente não se conectam: polarizam-se, mas cada um não se interessa pelo outro lado da história. Um dos “olhos” – como são chamadas as frases em destaque de um artigo – no texto de Lotan é digno candidato a epígrafe: “nós não estamos vendo pontos de vista diferentes e sim mais do mesmo”. Um subtítulo também é sugestivo: “a Mídia constrói a realidade”.

Quanto aos grandes meios de comunicação, Lotan notou que portais de um dos polos anunciaram claramente o incidente, enquanto que os do outro polo pouca menção faziam a isso. Isso lembra bem o caso de poucos dias atrás. Nos desdobramentos do debate (que acabou não existindo) a partir do relatório do Banco Mundial, seria importante uma análise mais aprofundada da realidade nos países onde o ensino superior público é pago, como Estados Unidos ou Inglaterra[III] e, mais perto daqui, o Chile. Nesse contexto, foi quase só por acaso que ficamos sabendo que “O congresso do Chile aprovou lei de gratuidade da educação superior” no dia 24 de janeiro (manchete do eldiario.es[IV]). Para chegar pelo Google a essa matéria, passei primeiro por uma pequena nota Jornal da Ciência da SBPC e pelo blog do Freitas[V], que exibe o link para matéria na Carta Educação, o único veículo de comunicação que parece ter divulgado a noticia por aqui. Assim temos um relatório que propõe uma coisa (ensino superior público pago) amplamente divulgada e um fato importante, mas no sentido contrário (fim do ensino público pago em um país vizinho), que foi obliterado. Lembrando o texto de Lotan: a mídia constrói a realidade?

Voltando ao fato principal, qual é a notícia? A Câmara dos Deputados aprovou com 102 votos e duas abstenções a lei de ensino superior, que universaliza sua gratuidade e introduz outras reformas em um sistema vigente desde a ditadura de Pinochet. O plano já vem de certo tempo e começou a ser posto em marcha em 2016[VI] debaixo de críticas vindo de diferentes pontos do espectro político. O que é comum em várias das narrativas é o alto custo do sistema que agora tem finalmente o marco legal para sua mudança: as mensalidades das universidades chilenas estão entre as mais caras do mundo em termos de paridade de poder aquisitivo[VII]. Esse modelo, que agora é reformado, se correlacionou como uma enorme expansão do ensino superior, mas desonerando o Estado à custa de onerar as famílias e os estudantes. De forma não sustentável. São conhecidos os protestos estudantis no Chile em 2006 e 2011, esses últimos tendo motivado a reforma em questão.

Entender um sistema de ensino em outro país não é tarefa rápida e simples, mas é imprescindível para uma discussão qualificada. Tomar apenas um ou outro aspecto de forma isolada é simplesmente um exemplo do que já foi batizado como sincericídio[VIII]. O que deve ser oferecido, portanto, é acesso a diferentes narrativas. Aqui eu apresentei algumas e acrescento ainda a de J. Salvador Peralta, publicada no portal Times Higher Education[IX] (clique abaixo) em julho do ano passado, ou seja, em pleno debate da lei que foi aprovada praticamente por unanimidade meses depois.

Ao considerarmos exemplos de qualquer lugar que seja, precisamos nos debruçar sobre essas experiências ao longo do tempo como um todo, pois só assim podemos perceber que o que é apresentado por alguns como uma solução ‘mágica’ (e trágica) acabou em farsa e precisou ser substituída. Convido a todos a acompanhar o desenvolvimento do ensino público e gratuito no Chile. Torço por ele, pois Peralta adverte que a reforma estaria condenada por ser boa demais. Espero também que tenhamos mais acesso às informações sobre isso, sem as manipulações de dados, como as confessadas recentemente pelo Banco Mundial[X].

 [I] https://www.unicamp.br/unicamp/ju/noticias/2017/11/27/o-banco-mundial-contra-ataca

[II] https://medium.com/i-data/israel-gaza-war-data-a54969aeb23e

[III] https://www.unicamp.br/unicamp/ju/artigos/peter-schulz/universidades-publicas-ameacadas-em-outros-lugares

[IV] http://www.eldiario.es/sociedad/Congreso-Chile-gratuidad-educacion-superior_0_733176683.html

[V] https://avaliacaoeducacional.com/2018/01/28/chile-aprova-gratuidade-no-ensino-superior/

[VI] http://www1.folha.uol.com.br/mundo/2016/01/1728059-chile-passa-a-ofertar-ensino-superior-gratis.shtml

[VII] https://www.revistaensinosuperior.gr.unicamp.br/reportagens/reforma-do-ensino-superior-chileno-entra-em-pauta

[VIII] https://www.unicamp.br/unicamp/ju/artigos/roberto-romano/sobre-o-sincericidio

[IX] https://www.timeshighereducation.com/world-university-rankings/latin-america-university-rankings-2017-unwelcomed-advance-chile

[X] https://brasil.elpais.com/brasil/2018/01/14/economia/1515899491_574904.html

*Peter Schulz foi  foi professor do Instituto de Física “Gleb Wataghin” (IFGW) da Unicamp durante 20 anos. Atualmente é professor titular da Faculdade de Ciências Aplicadas (FCA) da Unicamp, em Limeira. Além de artigos em periódicos especializados em Física e Cienciometria, dedica-se à divulgação científica e ao estudo de aspectos da interdisciplinaridade. Publicou o livro “A encruzilhada da nanotecnologia – inovação, tecnologia e riscos” (Vieira & Lent, 2009) e foi curador da exposição “Tão longe, tão perto – as telecomunicações e a sociedade”, no Museu de Arte Brasileira – FAAP, São Paulo (2010).

FONTE: https://www.unicamp.br/unicamp/ju/artigos/peter-schulz/fim-do-ensino-superior-publico-pago-no-chile-por-que-o-silencio

Universidades estaduais sob ataque e os riscos disso para o futuro

Uma rápida análise do que anda acontecendo em diferentes estados brasileiros mostrará que algo comum está ocorrendo, e não é belo. Falo aqui do ataque em regra às universidades estaduais, e que é mais visível em estados como o Rio de Janeiro e Paraná, mas também está se manifestando em Minas Gerais, Paraíba, Rio Grande do Norte e Bahia.  A escusa dos diferentes governadores para negar os recursos necessários para fazer funcionar as universidades é a crise financeira dos estados.  Este argumento, falso, quero logo dizer, está sendo utilizado em estados como a Bahia onde a crise financeira sequer existe.  Além disso, esse ataque às universidades estaduais transpõe os limites partidários, pois enquanto no Rio de Janeiro e Paraná os governadores são do PMDB e do PSDB, em Minas Gerais e Bahia, ambos os governadores são do PT.   Este raro e infeliz momento de unidade partidária é explicado pelo fato de que todos esses partidos estão aplicando políticas neoliberais quando miram nas universidades estaduais em nome da manutenção do fluxo do dinheiro público para o sistema rentista.

Mas afora os aspectos intrínsecos que caracterizam as universidades públicas no tocante à produção de conhecimento científico e formação de recursos humanos estratégicos, estas instituições trazem consigo um elemento bastante singular que é o de serem instrumentos bastante eficientes de descentralização espacial do ensino público superior. É que até recentemente as universidades federais tinham sua restringida às capitais ou cidades médias, deixando o oferecimento de ensino superior interiorizado para as universidades estaduais ou, ainda, para instituições privadas de ensino.  O melhor exemplo que eu conheço do papel dinamizador das universidades estaduais na expansão de oportunidades de ensino qualificado é o da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) que foi criada em 1962 para servir como elemento de dinamização econômica da região em torno da cidade de Campinas, e hoje é simplesmente uma das melhores universidades da América Latina. O fato é que junto com a evolução da Unicamp houve uma vigorosa transformação das bases produtivas existentes em Campinas, mas houve um efeito multiplicador que provocou um processo de desenvolvimento da economia regional.

Se olharmos o papel que a Universidade Estadual do Norte Fluminense (Uenf) cumpriu nas regiões Norte e Noroeste Fluminense, eu diria que a instalação da instituição ultrapassou o que foi alcançado pela Unicamp, simplesmente porque a realidade social e econômica existente era muito mais precária do que a existente na região de Campinas.  Como estou na Uenf há quase duas décadas pude presenciar e participar das mudanças que a universidade gerou desde 1993.  Um exemplo bem básico é o fato de que hoje muitas prefeituras possuem pessoal técnico formado pela Uenf, e que estes profissionais são naturais desta região, sendo que uma parte não desprezível só pode obter um diploma de ensino superior por causa dela.

Outro aspecto bastante significativo, e que é muito pouco mencionado, é que as universidades estaduais são grandes consumidoras do comércio local, além de oferecerem oportunidades de emprego, seja diretamente dentro da universidade ou fora dela a partir da capacidade de seus profissionais de empregarem.  A Uenf é um excelente exemplo disso, pois sendo a maior instituição estadual fora da região metropolitana do Rio de Janeiro, a sua execução orçamentária serviu como um dínamo para a economia não apenas de Campos dos Goytacazes, mas também de todos os municípios onde haja algum nível de atuação de seus laboratórios de pesquisa e unidades de ensino à distância.

Assim, ao atacar as universidades estaduais, o que os governos de plantão estão fazendo é praticar vários atentados contra o presente e o futuro das regiões do interior. É que a inviabilização das universidades estaduais não apenas fecha espaços de desenvolvimento científico e tecnológico e de formação de recursos humanos, mas também contribuem para a precarização do serviço público e, de quebra, contribuem para a quebra da economia regional. Em outras palavras, o ataque às universidades estaduais traz sérias consequências para aquelas regiões mais distantes das capitais, onde normalmente o ambiente econômico é deprimido historicamente, como é o caso lapidar do Norte Fluminense.

No caso da Uenf, dadas todas as evidentes demonstrações do seu potencial dinamizador para o Norte/Noroeste Fluminense, a lógica ditaria que, neste momento, já houvesse um poderoso movimento político em sua defesa. Esse movimento deveria incluir não apenas as prefeituras e câmaras de vereadores, mas também entidades corporativas e empresariais. Afinal, sem a Uenf, o mais provável é que toda a região sob sua influência vá cair numa estagnação ainda maior do que a já existente. 

Mas não, até agora o que se vê praticado é um misto de indiferença e cumplicidade com a política de destruição sendo executada pelo (des) governo Pezão. E, de vez em quando, ainda aparece algum expert dizendo que a culpa é da Uenf que não faz isso ou aquilo para se aproximar da população.   O pior ainda é ter de ouvir a ladainha de que a Uenf tem que se abrir para o investimento privado, como se houvesse algum interesse real em investir em ciência e tecnologia dentro do capitalismo regional. Toda essa conversa só serve para que Pezão e seus (des) secretários continuem entregando bilhões em sua famigerada farra fiscal, e expressa o evidente descompromisso com qualquer processo de desenvolvimento regional que esteja ancorado numa indústria que está em um processo evidente de decadência (falo aqui da petrolífera, já que a do açúcar e do álcool tornou-se irrelevante faz tempo).

Assim, a sobrevivência das universidades estaduais, a Uenf inclusa, só será possível se as instituições e suas comunidades forem capazes de dialogar com quem efetivamente entende a sua importância. Falo aqui daquela parcela da população que veem nas universidades estaduais a única oportunidade real de um futuro melhor não apenas para si, mas para todos. Eu digo isso porque ao sair nas ruas e conversar com as pessoas, ouço sempre manifestações indignadas com o que está sendo feito contra a Uenf.   Procurar o diálogo com amplas camadas da população deverá ser uma tarefa central para garantir que as universidades estaduais não sejam destruídas. Como o ataque é intenso e incessante, qualquer minuto perdido neste diálogo poderá tornar o eclipse da Uenf um processo inevitável.