Por Douglas Barreto da Mata
Ao longo de minha carreira policial, em sua maior parte dedicada à investigação, aprendi alguns truques, que somaram um pouco na tarefa de observar pessoas e fatos. Alguns cientistas políticos, sociais e especialistas em marketing conhecem a esperteza, que também é recorrente em alguns depoimentos de investigados. A pessoa conta uma versão do fato, adiciona detalhes e circunstâncias reais, para omitir a verdade no principal. O objetivo, por óbvio, é confundir a percepção do interlocutor, e fazer prevalecer a fraude.
Na mais nova disputa política entre as forças antagônicas do cenário, os Bacellar e os Garotinho, tudo parece o de sempre. Uma briga mesquinha e inútil. Bem, você pode concordar ou não com essa tese. Eu não concordo.
Primeiro, é preciso acabar com essa história de desqualificar a disputa política, por mais chata e repetitiva que ela pareça. A alternativa para a solução de conflitos, quando não é política, é a violência. Ninguém deseja um faroeste cabrunco por votos. Agora, se vamos discutir os objetivos de cada grupo, seus feitos e desfeitos, erros e acertos, isso é outra coisa, e os militantes dos dois grupos DEVEM se dedicar a essa tarefa, e no fim, o eleitor deve decidir. A desqualificação da disputa política serve para jogar todos em uma vala comum, e para igualar atos e consequências dos dois lados, como se todos agissem da mesma maneira. Não. Não agem.
Mais uma vez, goste o leitor ou não de Wladimir Garotinho, colocar o gesto dele, de gravar um vídeo onde expressa que não apoiará o conterrâneo na corrida estadual ao governo do Estado, nunca pode ser comparado com as deliberadas retenções de verbas da saúde, a paralisação de obras em estradas, sobrecarregando a cidade de carretas de 50, 60 toneladas, ou enfim, a interrupção de obras em bairros, deixados como se tivessem sido atingidos por um bombardeio.
Desconsiderar que só restou ao prefeito local a manifestação de sua rejeição ao deputado candidato, e que essa atitude não poderá nunca ser igualada a sonegação de recursos, que servem para atendimentos médicos, cuja ausência pode matar pessoas, é ou má fé ou burrice. Seja lá o que for, o resultado é o mesmo.
De mais de 200 milhões para zero, ou a depender de quem conta, para 14 milhões é um acinte. Tanto que a Justiça decidiu bloquear e transferir 9 milhões para o município desde a conta do Estado. Ou seja, se não houvesse sentido ou verdade na reclamação do prefeito, a Justiça negaria seu pleito. Principalmente, porque a lógica ensina que nenhum prefeito do mundo reclamaria ou abriria confronto com alguém que lhe concedesse recursos.
Quem acompanha a cena recente já ouviu vários agradecimentos do prefeito local ao governador. Sim, mas gratidão não é rendição incondicional, ou submissão. Ensinam os protocolos da boa política que apoio não se consegue por chantagem. Enfim, o que temos é, um candidato a governador, que deve suceder o atual, pós renúncia, pretendente a reeleição que detém e retém recursos que não são favores a cidade de Campos dos Goytacazes, e que são devidos por serviços de saúde prestados em auxílio a diversos municípios vizinhos.
No outro canto, um prefeito e seu discurso, que não bloqueia estrada, não esburaca o bairro, nem deixa paciente sem atendimento. É de bom tom separar e dar a cada um a responsabilidade que cada um tem, caso contrário, estaremos contando meias verdades.













