Porto do Açu: na mistura de placas velhas e novas emerge a mistura de interesses públicos e privados

Estive hoje no V Distrito de São João da Barra para visitar famílias e desejar um bom final de 2015 e apontar para reencontros em 2016. Encontrar com as famílias que tiveram suas vidas reviradas pelas escabrosas desapropriações promovidas pela Companhia de Desenvolvimento Industrial do Rio de Janeiro (Codin) para a construção do distrito industrial (municipal) de São João da Barra sempre me remete às contradições explícitas que envolvem esse processo de tomada de terras da agricultura familiar pelo Estado em benefício de corporações privadas.

Pois bem, após algumas semanas sem ir no V Distrito por força de obrigações profissionais, a novidade que encontrei na área foi a visão de placas estalando de novas e que, querendo ou não quem as fincou naquelas terras, se mostra particularmente reveladora da confusão de interesses públicos e privados que existe na construção do chamado Porto do Açu.

Para ilustrar o que disse acima, mostro então uma sequência de fotografias tiradas neste sábado (19/12).

Placa 1

Placa antiga mostrando o Porto do Açu ainda como propriedade da LL(X) de Eike Batista

No caso das duas placas acima, uma primeira contradição (ao menos para mim) emerge: de um lado de RJ 240 aparece uma placa identificadora do território que comporá o Distrito Industrial de São João da Barra (DISJB), sob responsabilidade da Codin e da Secretaria de Estado de Desenvolvimento Econômico. O problema é que do outro lado da estrada, há uma placa da Porto do Açu S/A, parte do conglomerado da Prumo Logística, como sendo dona das terras da antiga Fazenda Papagaio.

E qual é afinal a contradição? Ora, o DISJB é um empreendimento público, e a Fazenda Papagaio uma propriedade privada, e da gestora do Porto do Açu.

Mas não bastasse essa mistura de placas em lados diferentes da RJ 240, vejamos então a placa abaixo que mostra a mistura contraditória entre público e privado com placas de um mesmo lado da RJ 240.

placa 6

De um lado, a desbotada placa da LL(X) indicando a área, também dentro da Fazenda Papagaio, como propriedade privada. E pouco mais de um metro ao lado, a placa da Codin indicando que aquela área faz parte do DISJB

A coisa parece ser simples, mas não é. Afinal, essas terras estão sob controle de quem? Pelo que está mostrado nas placas, ainda que o (des) governo do Rio de Janeiro indique que o DISJB é dele e ninguém tasca, a coisa não é bem assim já que as terras seriam atualmente propriedade da Prumo Logística que as assumiu após adquirir a LL(X) de Eike Batista.

Mais um pouco adiante, já na localidade de Campo da Praia, mais uma placa indicando que a área faz parte do DISJB.

placa 8

E aqui qual é o problema? É que estive naquele ponto exato conversando com os antigos proprietários da terra que estavam sendo pressionados a sair, antes mesmo de uma decisão da justiça. Pressionados, eles assinaram os documentos apresentados por pessoas ligadas à Codin e partiram, restando agora apenas os escombros das residências que ali existiam. Agora, implantação de indústria que seria bom, nada! Então por que tanta pressão em expulsar os agricultores que ali viviam?

Ah, sim, e como fica a Prefeitura Municipal de São João da Barra nessa história toda, já que o DISJB é um empreendimento, pasmem todos os leitores deste blog, municipal!  A única referência que encontrei  na área foram placas como a mostrada abaixo alertando para o perigo de animais na pista!

prumo pmsjb

Agora, será que eu fui único que notou uma semelhança forte entre o logotipo da gestão do Prefeito Neco com o da Porto do Açu/ Prumo?

Finalmente, voltando a falar dos agricultores que fui visitar, um dos que tive o prazer de rever e desejar um 2016 com mais justiça e respeito foi o Sr. Durval Alvarenga que na imagem abaixo aparece com seu neto Yuri.

placa 2

Para quem ainda não sobre a saga do Sr. Durval neste blog, ele é um dos agricultores que tiveram suas propriedades salgadas pela água que extravasou do aterro hidráulico construído pela LL(X). Passados mais de 3 anos do incidente ambiental que arruinou uma grande parte de sua propriedade, o Sr. Durval continua sem nenhuma perspectiva de ser reparado pelo imenso prejuízo que lhe foi imposto pelo Porto do Açu. No caso dele,  não há placa nova ou antiga que resolva tamanho desrespeito.

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