Maurício Tuffani reflete sobre a escolha do bispo da IURD para dirigir MCTI

temer pereira

Pior que Temer e seu ministro da Ciência foi não duvidarmos que a notícia fosse verdade

Por Maurício Tuffani

Peço desculpas aos leitores deste blog jornalístico de ciência por manter como destaque o mesmo assunto de ontem. Mas não há como deixar de registrar a terrível constatação a que chegou este blogueiro ao final do dia, ao fazer um balanço das reações na internet à escolha do presidente nacional do PRB, o pastor Marcos Pereira — bispo licenciado da Igreja Universal do Reino de Deus — pelo vice-presidente Michel Temer (PMDB-SP) para ser o titular do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI) se a presidente Dilma Rousseff for afastada de seu cargo.

Desta vez não fomos capazes de duvidar ou até mesmo de não levar a sério. Diferentemente das reações a inesperadas e anedóticas escolhas da presidente reeleita Dilma no final de 2014 para seu novo ministério — como a do deputado Aldo Rebelo (PCdoB-SP) para o MCTI e a do então presidente do Banco do Brasil, Aldemir Bendine, para a Petrobras —, desta vez, salvo por raríssimas exceções nas redes sociais, ninguém achou que a notícia sobre Temer e Pereira fosse intriga política ou até mesmo pegadinha. O próprio Sensacionalista demorou muito para publicar a piada da tomada dos três pinos. Pode ser um sinal de que não somos mais os mesmos debochados brasileiros de sempre.

Além de enquadrar e reduzir todos os assuntos e de pulverizar nosso caráter nacional do “homem cordial”, descrito pelo historiador Sérgio Buarque de Hollanda em “Raízes do Brasil” — OK, tudo bem, já é sabido que teóricos posteriores criticaram essa concepção —, a polarização político-ideológica que se intensificou a partir das eleições de 2014 parece já ter roubado definitivamente de nós até mesmo nossa capacidade não aprender depressa a chamar de realidade o que quer que seja.

Em meio a tudo o que está nos deprimindo, estamos ficando cada vez  mais sem graça e, pior, menos irreverentes. Sempre fomos majoritariamente conformistas, nunca tivemos um passado verdadeiramente glorioso. Mas era um conformismo temperado pela irreverência. Se estas reflexões forem corretas, nosso risco maior é partirmos para um conformismo cínico, indiferente e, pior ainda, temperado pela polarização política burra que está obstruindo nossa capacidade de refletir.

FONTE: http://www.diretodaciencia.com/2016/05/04/pior-que-temer-e-seu-ministro-da-ciencia-foi-nao-duvidarmos-que-a-noticia-fosse-verdade/

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