A última “novidade” envolvendo o centro histórico de Campos dos Goytacazes envolveu uma curiosa e misteriosa diferenciação entre “velho” e “histórico”, e sem surpresa nenhuma a sugestão de que se mude o gabarito do bairro para permitir a construção de prédios mais altos e modernos. Em outras palavras, o que se quer é “pelincaizar” (um neologismo meu para criar uma Nova Pelinca”) o centro histórico, de preferência com muita injeção de dinheiro público.
O objetivo óbvio desse tipo de pressão nada mais é do que impor um modelo de gentrificação a um bairro que contém valioso patrimônio arquitetônico que está sendo lentamente destruído por seus proprietários que têm reservado os espaços abertos com sua transformação temporária em estacionamentos.
A questão que se põe é a seguinte: por que deveria a Prefeitura Municipal de Campos dos Goytacazes investir dinheiro em uma área que nem seus donos estão a preservar? A verdade é que caminha pelo centro histórico e por seus arredores mais próximos verá belíssimos edifícios literalmente abandonados e deixados ao relento para apodrecer, sem que haja por parte dos proprietários o mínimo de visão sobre o retorno econômico que sua proteção e recuperação trariam para si mesmos e para cidade como um todo.
Neste momento, existem demandas muito mais urgentes para serem resolvidas, em vez de colocar dinheiro para alimentar um processo de gentrificação que apenas deixará os burgueses desta cidade rica com população pobre ainda mais ricos. As prioriedades neste momento são claramente outras, a começar pela retomada da construção de conjuntos habitacionais para os pobres, bem como pela recuperação e ampliação dos serviços públicos de saúde, educação e transporte.
Ah sim, do prefeito Wladimir Garotinho, ainda espero ações rápidas para impedir a completa deterioração do casarão histórico que abriga o Museu Olavo Cardoso, um próprio municipal que hoje enfrenta uma condição terrível por causa do abandono a que está submetido pelo governo municipal.
Só uma ressalva Marcos Pedlowski: conjuntos habitacionais são campos de concentração, um modelo falido de expatriação e concentração da pobreza para as periferias das cidades, com unidades habitacionais horríveis… A solução é reforma tributária JÁ, que sobrecarregue a acumulação fundiária urbana, e dê destino social à propriedade, se quer revitalizar o centro, que a prefeitura utilize os imóveis desocupados para quem precisa deles, estabelecendo regras rígidas para sua utilização…ao mesmo tempo, se o prefeito quiser passar à História, poderá desenvolver um programa amplo de financiamento às mulheres da reforma de seus imóveis (desde que não haja restrições no âmbito de defesa civil) nos locais onde estão, ao mesmo tempo que a cidade dá a engenharia, arquitetura e estrutura aos espaços públicos…Este programa utilizará os mutirões e com uso do dinheiro nas lojas de materiais locais…
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Douglas, eu diria que se feitos de acordo com o interesse dos futuros moradores, conjuntos habitacionais podem ser distintos de um campo de concentração. Mas usei o exemplo apenas para explicitar a contradição, e tenho concordância com a sua proposta.
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