Município catarinense lidera ranking de cidades médias em total de associações de catadores de recicláveis

reciclagem chapecó

Chapecó tem 14 associações de catadores de recicláveis, como a Associação de Catadores de Materiais Recicláveis Nova Vida, na foto. Fonte: Fundação Auri Bondanese

bori conteudo

O município catarinense de Chapecó, localizado a cerca de 500 quilômetros da capital Florianópolis, lidera o ranking de cidades brasileiras, com população estimada entre 200 mil e 300 mil, em número de associações e de catadores de materiais recicláveis associados. São 14 associações de reciclagem e cerca de 121 associados, segundo destaca artigo científico de pesquisadores da Universidade Comunitária da Região de Chapecó (Unochapecó) publicado na sexta (29) na revista “Desenvolvimento e Meio Ambiente”.

O trabalho realizou um levantamento da quantidade de cooperativas e associações comunitárias de catadores de recicláveis de cidades, com população entre 200 e 300 mil habitantes, a partir de dados de 2020 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e do Anuário de Reciclagem. Ele faz parte da tese de doutorado de Rosane Villanova Borges apresentada à Unochapecó.

De 60 cidades, 53 têm entre zero e quatro associações. Chapecó lidera o ranking, com 14 associações, seguida de São Leopoldo (RS), com onze associações, Colombo (PR) e Passo Fundo (RS), com sete. A pesquisadora buscou entender quais condições fizeram com que Chapecó se destacasse no número de associações do tipo, a partir de entrevistas com os presidentes dessas entidades.

A análise destaca alguns fatores que podem explicar o crescimento de associações de catadores de materiais recicláveis na cidade catarinense. Em primeiro lugar, segundo o estudo, esse crescimento estaria ligado a políticas locais e remonta à história do fechamento do lixão, na década de 1990, que fez com que os catadores passassem a se dirigir ao recolhimento de materiais no centro de Chapecó. Por força de uma legislação municipal (Lei nº 4.898, de 2005), eles foram impedidos de circular com carroças de tração animal e carrinhos de tração humana, o que motivou uma mobilização da categoria para pressionar o poder público exigindo o direito de continuar trabalhando na atividade.

“Segundo relato de catadores, muitos passaram fome com essa proibição’’, diz Borges. Em acordo com a prefeitura, os catadores aceitaram se organizar em associações, em troca de receberem materiais de coleta seletiva. Em 2015, a cidade possuía seis associações de catadores cadastradas, entre elas, a Astrarosc – Associação dos Trabalhadores no Serviço de Reciclagem e Similares de Chapecó e Região Oeste de Santa Catarina, com seis núcleos, segundo dados do município. Após falência desta entidade, seus núcleos se constituíram em novas associações.

O apoio da prefeitura e da Incubadora Tecnológica de Cooperativas Populares da Unochapecó foi outro fator que contribuiu para fortalecer as associações. “O apoio da prefeitura envolveu a doação de terrenos, de equipamentos, a manutenção de despesas, de água e energia elétrica, a construção de galpões para essas associações, entre outras iniciativas”, enumera Borges. Ele veio, especialmente, após a implementação da Política Nacional de Resíduos Sólidos, em 2010, que prevê o gerenciamento integrado do lixo como responsabilidade da prefeitura — e incentiva a inclusão de catadores no processo de reciclagem.

Embora considere os avanços das associações de catadores, o artigo enfatiza os limites delas enquanto economia solidária. Apesar de garantirem renda e trabalho, essas entidades não garantem os direitos trabalhistas e condições de trabalho dignas aos associados. “Ainda temos um longo caminho a percorrer para o reconhecimento da profissão de catador, que no cenário da crise ambiental e climática, assume importância vital para nossa sobrevivência comum’’, finaliza a pesquisadora.


Fonte: Agência Bori

Um comentário sobre “Município catarinense lidera ranking de cidades médias em total de associações de catadores de recicláveis

  1. Muito bom pautar essa questão para chamar atenção dos governantes do Norte e Noroeste Fluminense, já que muitos deles ainda se colocam como se não houvesse a Política Nacional de Resíduos Sólidos, ratificando práticas socioambientais contrárias que ferem a PNRS como a de continuar aterrando resíduos recicláveis e a de fomentar a integração dos catadores e catadoras na coleta seletiva de responsabilidade dos municípios. A sociedade civil comprometida com a agenda socioambiental deveria se juntar aos catadores de recicláveis nesta luta por uma política pública de coleta seletiva que integre as cooperativas e associações de catadores de maneira justa e com remuneração pelos serviços ambientais urbanos prestados à sociedade. Já seria um bom caminho para iniciarmos um processo de reparação com homens e mulheres que há mais de 20 anos trabalharam em lixões sem nenhuma proteção e/ou reconhecimento.

    Curtir

Deixe um comentário