
Por Douglas Barreto da Mata
O assunto me é estranho, por todos os lados da minha reduzida inteligência. Não sei quase nada sobre os problemas da classificação científica, ou classificação acadêmica, além do que aprendi com meu amigo Marcos Pedlowski, aqui em seu blog. Assim, a comparação que proponho nem pode ser levada muito a sério, mas, lá vai: O que aconteceu com as universidades? Eu diria que tudo, e nada, como disse o Saladin, no filme Cruzada, para seu antagonista, o Barão de Ibelin, quando este último lhe questionou quanto valia Jerusalém.
A universidade antecede o sistema capitalista, mas foi na hegemonia desse modo de produção que as universidades foram alçadas ao centro das atenções, já que o conhecimento produzido agrega poder e valor (no sentido figurado, e não marxiano da palavra) à produção de mercadorias, bens e serviços, seja através do desenvolvimento de novas ferramentas, seja na elevação da produtividade da mão de obra.
Apesar das universidades torcerem os narizes para essa função precípua (e meramente instrumental), é isso que elas são, estuários do capitalismo, onde o sistema se realimenta de métodos e saberes para produzir mais, e coisificar mais as pessoas e o ambiente.
Sim, há a tradição das ciências sociais ou humanas, como gostam os acadêmicos, mas, ainda assim, mesmo nesse campo onde poderíamos ter uma produção de conhecimento que desafiasse a ordem estabelecida, o que vemos é, na maioria dos casos, a reprodução de lógicas que só acomodam estes estamentos vigentes, partindo de uma premissa que compromete qualquer postulado científico: Existe chance de capitalismo e democracia conviverem. Erro grave, que contamina toda a estrutura do pensamento ocidental desde a Revolução Francesa.
Raríssimas universidades ousaram ir além dos limites dos muros da totalidade “democrática” capitalista, isto é, no capitalismo, você tem o direito de escolher não ter escolha, ou escolher o que já decidiram serem as suas opções. As universidades que o fizeram foram duramente atacadas. Pois bem, dito isso, o que é que o sistema de classificação científica de produções acadêmicas tem a ver com temas econômicos ou de política econômica? Novamente, tudo e nada. O texto que me chamou a atenção está [Aqui!].
Ora, o que aconteceu com a Universidade de Salamanca e seu ávido reitor, é mais ou menos como acontece no mercado financeiro e o modelo de agiotagem/extorsão mundial, que se materializa em juros. O sistema financeiro se apoia em assimetrias mundiais para movimentar fluxos de capitais, enquanto determina as condições para quem os recebe, mas antes, eles destroçam os países e seus ambientes econômicos com toda sorte de ataques institucionais e econômicos, e depois promovem as chantagens “classificatórias”, promovidas pela mídia “especializada” e por agências de “rating”. Criam o problema, e depois, dizem que vão te vender a solução, como as milícias, as máfias, e sim, como as agências de classificação acadêmicas.
Essa simbiose não é acidental, ou desprovida de conexão teleológica, ao contrário. No sistema capitalista, e agora, no pós-capitalista, tudo se conecta. Não seria errado chamar essas agências de classificação acadêmicas de “agências de rating”, como ocorre nos mercados financeiros, e ambas funcionam como fatores de coação, empurrando os ambientes onde operam para as soluções fáceis.
Em todo mundo, o sistema capitalista move suas baterias contra as instituições acadêmicas consideradas mais perigosas (leia-se, autônomas), e no caso brasileiro, isso se dá com o estrangulamento das verbas públicas de custeio e investimentos.
No caso dos países e as pessoas, o dinheiro dos juros extorsivos, no caso das universidades, as fraudes em citações, que se transformam em recursos, que como os juros, viciam as instituições, que depois de apanhadas nessas redes, raramente conseguem se livrar, porque acabam sendo uma (ou a única) fonte de financiamento.
Quando pegas na fraude, são as universidades e seus pesquisadores que levam a (má) fama, e o buraco aumenta, logo voltamos ao círculo vicioso. Nada mais adequado para o pós-capitalismo que um dinheiro fictício, proteção por quem nos ameaça, e pós-verdade e pseudo-ciência. Como se vê, piratas, mercados e universidades não são tão diferentes como se imaginam, ou ao menos, como as universidades gostam de dizer que são.