Emergência climática continua no Brasil: Acre é a bola da vez, mas não esta sozinho

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Com 32 mil afetados por chuvas, Acre entra em situação de emergência

Depois das cenas devastadoras que foram produzidas por chuvas intensas no litoral norte do Rio de Janeiro, agora a destruição climática está se abatendo sobre o estado do Acre, incluindo a capital do estado, Rio Branco.  Aliás, chuvas intensas também estão causando estragos de grande monta em outras partes da região Norte, incluindo o Amazonas. Segundo o que me informou o professor Irving Foster Brown, que atua na Universidade Federal do Acre, as inundações que estão causando caos neste momento se devem a uma confluência de chuvas intensas que ocorreram em Rio Branco (em torno de 180 mm em 48 horas) e das precipitações igualmente intensas que ocorreram nas cabeceiras do Rio Acre.

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A ocorrência de chuvas intensas e transbordamento de rios é uma marca do novo estado climático que é agravado no caso da Amazônia pelo intenso processo de desmatamento e degradação que está ocorrendo na Amazônia. O estado do Acre, por exemplo, que já foi um símbolo da resistência em defesa das florestas, agora se transformou em um dos polos mais dinâmicos dentro do chamado Arco de Desmatamento.

Por detrás desse processo de intensa remoção das florestas está, obivamente, o avanço das monoculturas de exportação, principalmente a soja e a cana-de-açúcar que, por sua vez, empurram as pastagens cada vez mais para regiões anteriormente intocadas da bacia Amazônica.

Essa conexão entre perda de florestas e mudanças climáticas que causam devastação em cidades que são marcadas pela profunda desigualdade social é conhecida, mas os promotores desse modelo continuam levando suas ações como se ela não existisse. Por isso mesmo, tivemos nesses primeiros meses de 2023 a continuidade das altas taxas de desmatamento na maioria dos biomas brasileiras, especialmente na Amazônia.

Como o último relatório do IPCC aponta que a janela de tempo para se impedir uma grande catástrofe climática está se encurtando cada vez mais, a manutenção desse quadro de ignorância proposital sobre a necessidade de deter a perda de florestas em prol de termos um mínimo de chances de que ela seja impedida, eu diria que não me sinto otimista neste momento. 

Aliás, o meu pessimismo aumenta ainda mais quando vejo as concessões sendo feitas pelo governo Lula para o latifúndio agro-exportador e para as empresas de petróleo que representam parte significativa das emissões de gases estufa. A verdade é que a ministra Marina Silva, com todas as suas qualidades e defeitos, está sendo deixada a ver navios em um contexto em que isso beira o suicídio climático. 

Setembro em chamas: focos de calor são 147% maior que o ano passado

Segundo dados do Inpe, o total de queimadas na Amazônia no mês é o maior dos últimos 12 anos

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Sobrevoo em Porto Velho, na região da Amacro (Amazonas, Acre e Rondônia), em uma área com cerca de 8.000 hectares de desmatamento – a maior em 2022 – Foto: Nilmar Lage / Greenpeace Brasil

São Paulo, 30 de setembro Dados recém divulgados pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) nesta sexta-feira (30)¹, a dois dias das eleições, mostram que no mês de setembro houve um aumento enorme de queimadas na Amazônia, não apenas em relação ao mesmo período no ano passado, mas sendo o maior número desde 2010. Enquanto no mês de setembro de 2021 foram registrados 16.742 focos de calor no bioma, neste ano houve 41.282. O Estado Pará é o recordista de queimadas, com 12.696 focos de calor registrados, representando 30,8% do total, seguido por Amazonas (8.659) que apesar de segundo lugar no total de focos teve o mês com o recorde de queimadas desde o início do monitoramento em 1988, Mato Grosso (6.950), Acre (6.693) e Rondônia (5.354).

Esse aumento já era esperado uma vez que a primeira semana de setembro de 2022 concentrou mais focos de calor do que setembro de 2021 inteiro: em apenas nove meses, foram 75.592 focos de incêndio contra os 75.090 registrados ao longo de 2021.

Para Rômulo Batista, porta-voz de Amazônia do Greenpeace Brasil, essa escalada que tem destruído cada vez mais o bioma e a sua rica biodiversidade precisa ter fim: “Estamos a dois dias das eleições que serão decisivas para o futuro do Brasil e todo o planeta. É necessário que a população brasileira escolha candidaturas que tenham comprometimento com a preservação do meio ambiente, com o combate ao desmatamento e às queimadas, além de proteger os povos da floresta. Não podemos mais compactuar com essa política de destruição que acontece na Amazônia, que é fruto da falta de uma política ambiental nos últimos anos e de um congresso que cria projetos de lei como a legalização da grilagem de terras, abertura das terras indígenas para atividades destrutivas e acaba com o licenciamento ambiental. É o momento de votar consciente e pensando na Amazônia”.

¹ Dados coletados às 18:30.

Amazônia em chamas tem cidades sitiadas pelo fogo

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A mídia corporativa está propositalmente ocultando a grave situação que ocorre na Amazônia brasileira em função do número recorde de queimadas, propiciado pelo avanço agressiva da franja de desmatamento em áreas ainda relativamente intocadas daas florestas ali existentes. Mas a observação da imagem abaixo pemite observar duas coisas básicas: o número recorde de focos de calor e a concentração dos mesmos em torno de várias cidades importantes nos estados da região Norte, especialmente nos estados do Amazonas, Acre e Rondônia e Mato Grosso.

A principal razão para a ocultação objetiva do que está acontecendo na Amazônia é simples: impedir que seja feito um debate mais substancial sobre a relação entre a agricultura extensiva de exportação de commodities e a destruição da biodiversidade brasileira, bem como sobre os povos indígenas.

O problema é que a grossa camada de fumaça que está sendo gerada pelo número recorde de queimadas já começou no centro sul do Brasil e poderá propiciar situações críticas na qualidade do ar em regiões metropolitanas que já convivem com a poluição gerada localmente como no caso de São Paulo (ver imagem abaixo).

sp fumaçaNo dia de ontem (09/09), a cidade de SP amanheceu coberta por fumaça cinza e moradores relatam cheiro de queimado — Foto: Reprodução/TV Globo

Talvez com a chegada das nuvens de fumaça, em vez das que traziam chuva, sirva para que o que está acontecendo na Amazônia possa ocupar um mínimo de espaço dentro da agenda da mídia corporativa e, por extensão, do debate eleitoral que agora ignora este problema.

E é como eu digo sempre, o agro não é pop, o agro é fogo.

 

Marketing acadêmico: acesso gratuito ao livro “Ciências Ambientais na Amazônia”

A interdisciplinaridade é uma emergência oriunda de grandes problemas contemporâneos, dentre os quais as questões ambientais, que requerem nova epistemologia baseada na complexidade que demanda colaboração e coprodução entre diversos campos de conhecimento. O campo das Ciências Ambientais abrange as interações entre o ser humano e o ambiente em que estão inseridos. Por meio de abordagens multi e interdisciplinares, questões ambientais complexas a partir de perspectivas múltiplas, relacionando conhecimentos nas áreas de ecologia, ciências do solo, hidrologia, climatologia, gestão de recursos naturais e saúde são abordagens destacadas neste livro.

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O livro “Ciências Ambientais na Amazônia” traz 18 capítulos com resultados em diferentes escalas sobre as questões ambientais e suas relações sobre a biodiversidade, cidades, manejo dos recursos naturais, saúde humana, educação ambiental e agricultura para o Estado do Acre, em especial para a Região do Juruá. Este é um livro formado através das pesquisas dos docentes e discentes do Programa de Pós-Graduação em Ciências Ambientais da Universidade Federal do Acre Campus Floresta trazendo ao público leitor parte dos resultados de anos de pesquisas.

Quem desejar baixar a íntegra do livro “Ciências Ambientais na Amazônia”, bast clicar [Aqui!].

Rodovia que ligará Brasil ao Peru ameaça a área de maior biodiversidade da Amazônia

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Sérgio Vale / Agência de Notícias do Acre

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O projeto de construção de uma rodovia no Parque Nacional da Serra do Divisor, no Sudoeste do Acre, representa ameaça para a biodiversidade e a qualidade de vida da população indígena. É o que indica estudo de pesquisadores do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA), da Universidade Federal do Acre (UFAC) e da University of Richmond publicado na revista “Environmental Conservation” .

Considerado o local com maior biodiversidade da Amazônia, o Parque Nacional da Serra do Divisor atravessa cinco cidades brasileiras, entre elas Cruzeiro do Sul, que faz fronteira internacional com o Peru. Para entender como a região vem sendo explorada, os pesquisadores analisaram por imagens de satélite a dinâmica da mudança do uso do solo por 30 anos, entre 1988 e 2018. Os resultados revelam que o controle do Parque como Unidade de Conservação (UC) tem sido eficaz, pois nesse período o local perdeu apenas 1% da sua cobertura florestal, em comparação aos 10% do entorno.

Porém, o projeto viário do Conselho Sul-Americano de Infraestrutura e Planejamento (COSIPLAN), da União das Nações Sul-Americanas (UNASUL), que pretende conectar comercialmente o Acre à cidade peruana de Ucayali e aos portos do país vizinho, deverá cortar os Parques Nacionais nos dois países. Além de atravessar terras indígenas e zonas de narcotraficantes no Peru, a rodovia Pucallpa-Cruzeiro do Sul pode aumentar o desmatamento em áreas mais internas da Serra e propiciar a construção de outras vias secundárias. De acordo com a pesquisadora Sonaira Silva, essa via também trará outros prejuízos ambientais.

“O benefício econômico que o Governo justifica para a construção dessa rodovia é questionável, já que existe a Rota Interoceânica Sul (IOS) no leste do Acre, que liga Rio Branco aos portos do Pacífico no Peru desde o final de 2000. A construção dessa nova via pode trazer uma especulação imobiliária a região, criar polos de caças ilegal aos animais, aumentar a vulnerabilidade social da população locais e facilitar o tráfico de drogas na Amazônia”, comenta a professora da UFAC.

Outro ponto levantado no estudo é a reclassificação da Serra do Divisor de Unidade de Conservação (UC) para Área de Proteção Ambiental (APA), o que permitiria a extração de recursos naturais. O projeto de Lei 6024/2019 pretende colaborar com o avanço do trecho da BR-364 para se chegar até o Peru, bem como explorar comercialmente a região.

“Esse projeto precisa levar em conta também a opinião das 400 famílias que vivem na região do Parque e dependem dele para sobreviver. Abrir caminho da mata fechada vai trazer sérios impactos como aumento do desmatamento, a biodiversidade endêmica e todas as demais espécies e no próprio regime climático regional e continental”, alerta Sonaira.

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Este texto foi originalmente publicado pela Agência Bori [Aqui!].

Reincidente: pecuarista que participou da morte de Dorothy Stang invade área protegida no Acre

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O ACJornal trouxe ontem (19/04) uma matéria envolvendo uma denúncia ao Ministério Público de Sena Madureira, no Acre, contra pecuaristas que estariam “comprando terras públicas”, e derrubando áreas na mata para iniciar a  criação de gado no interior da Floresta Estadual do Antimary.  Um dos elementos mais explosivos da denúncia é a de que um dos fazendeiros citados é Amair Feijoli da Cunha (também conhecido como Tato), que foi condenado a 18 anos de prisão pela morte da missionária Dorothy Stang, em 12 de fevereiro de 2005, em Anapú, no Pará.

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Segundo as investigações realizadas para apurar os responsáveis pelo assassinato de Dorothy Stang, Amair da Cunha foi quem fez a intermediação dos pecuaristas Vitalmiro Bastos e Regivaldo Galvão com os dois pistoleiros contratados por R$ 50 mil para matar a religiosa defendia a preservação da floresta amazônica.

Os posseiros que fizeram a denúncia ao MP do Acre levaram dezenas de fotografias que mostram parte da Floresta Estadual do Antimary sendo derrubada, com estradas sendo feitas na área onde deveria ser conservada e apenas seringueiros poderiam viver na reserva com 47.000 hectares.

ALTINO MACHADO: "EMPATE" NO ACRE

Os posseiros disseram no MP do Acre que a Secretaria Estadual de Meio ambiente do Acre, que deve fiscalizar e proteger a reserva, sabe de atuação de pecuaristas e não vem fazendo nada para impedir a devastação da
floresta. Mas até aí nenhuma surpresa, pois o atual governador do Acre, Gladson Cameli (PP)  já foi flagrado dizendo em público para que ninguém pagasse multas ambientais emitidas pelo Instituto do Meio Ambiente do Acre (Imac).

O mais provável é que quando os representantes do governo de Joe Biden tiverem acesso a essa notícia, as chances de Jair Bolsonaro de emplacar o arrecadar US$ 20 bilhões supostamente para proteger a Amazônia vão diminuir bastante (isto é se ainda havia alguma).

Se nada for feito, reserva extrativista Chico Mendes vai virar pasto

Imazon indica aumento de 39% nos índices relativos ao aumento de desmatamento; Pecuária está tomando conta, relata companheiro de Chico Mendes

Resex-Chico-Mendes-1Desmatamento abre pastos na reserva criada na para o sustento de famílias extrativistas, que dependem da floresta em pé

Dois dias após o presidente Jair Bolsonaro (PSL) autorizar o plantio de cana na Amazônia e Pantanal, além de outras regiões, nesta quarta-feira (6), a semana terminou com outra notícia no mínimo preocupante. O Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia (Imazon) divulgou estudo mostrando que a ameaça e pressão por desmatamento em áreas protegidas na Amazônia aumentaram 39% no período relativo a agosto de 2018 a julho deste ano, quando comparando ao período anterior. Isso corresponde a um total de 5.054 quilômetros quadrados de florestas derrubadas na Amazônia Legal.

Chama atenção no estudo, entre outros aspectos, o fato de que as mesmas áreas protegidas (APs) continuam no ranking das que mais sofrem ameaça e pressão. A Reserva Extrativista (Resex) Chico Mendes, no Acre, manteve a liderança no ranking das mais ameaçadas de desmatamento. E a Área de Proteção Ambiental (APA) Triunfo do Xingu, no Pará, também manteve-se como a mais foi pressionada.

O Imazon considera pressão a ocorrência de desmatamento no interior da área protegida, o que pode levar a perdas ambientais e até mesmo redução ou redefinição de limites da Área Protegida. E ameaça é o risco iminente de ocorrer desmatamento no interior da área protegida.

Chico Mendes

Criada em março de 1990, pouco mais de um ano após o assassinato de Chico Mendes, a Reserva Extrativista batizada com o nome do líder seringueiro é uma unidade de conservação localizada no sul do estado do Acre, próximo da divisa com a Bolívia. Mais de dez mil pessoas moram na reserva, que tem área área de 970.570 hectares.

Um dos maiores legados de uma das maiores lideranças ambientalistas de seu tempo, as reservas foram concebidas conforme o conceito de reforma agrária para as comunidades locais, que ao usufruírem dos frutos da terra, participam da preservação da floresta.

De olho também nas riquezas sob os territórios indígenas, garimpeiros, mineradoras ilegais e ruralistas avançam sobre essas terras, principalmente após a chegada de Jair Bolsonaro à presidência. Defensor dessas atividades na Amazônia e de seus atores, o capitão tem contribuído para a degradação do bioma com seu discurso e com ações, por meio de políticas de desmonte da estrutura de fiscalização e de preservação ambiental de seu ministro do Meio Ambiente Ricardo Salles.

Morador da Resex Chico Mendes e integrante do movimento comandado pela liderança seringueira assassinada em dezembro de 1988, Raimundo Mendes disse à equipe da SOS Amazônia que essas áreas de floresta vêm perdendo espaço para a pecuária.

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Este artigo foi originalmente publicado pelo site Amazônia notícia e informação [Aqui!].