No Porto do Açu é assim: saem agricultores e pescadores e entra a Siemens com suas termelétricas poluentes

Usinas a gás em vez de pequenos produtores e pescadores: Siemens, Siemens Energy, KfW-Ipex e o “superporto do Porto de Açu” na região norte do Rio de Janeiro

O “superporto do Porto de Açu” brasileiro, próximo a Campos dos Goytacazes, no norte do estado do Rio de Janeiro, representa agravamento da crise climática, poluição ambiental com anúncio, desapropriação de terras e territórios sem indenização aos pequenos agricultores familiares e pesca – agricultores e pescadores, para um local em cujo terreno está sendo construído o complexo de usinas a gás Gás Natural Açu (GNA), nocivo ao clima, que também é propriedade da empresa alemã Siemens Energy, cujo financiamento também é fornecido pela Siemens Serviços Financeiros e garantia de crédito à exportação pelo governo federal KfW-Ipex-Bank.Onde está a conformidade com a responsabilidade climática e a devida diligência em direitos humanos por parte das empresas alemãs e das autoridades e ministérios alemães?

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Os pescadores também protestam contra a construção do “superporto” Porto de Açu. Foto: Marcos Pedlowski (cortesia)

Por Christian Russau para a “Kooperation Brasilien”

Quando uma multinacional se entusiasma com superlativos, todos os alarmes devem soar: “Com capacidade instalada de 3 GW, GNA I e GNA II são o maior projeto de usina a gás da América Latina, que pode abastecer até 14 milhões de residências com energia”, disse a Siemens em agosto 2020 ao anunciar a entrada de uma subsidiária da Chinese State Power Investment Corporation (SPIC) nos projetos de usinas a gás GNA I e GNA II do projeto Gás Natural Açu no “superporto Porto de Açu” brasileiro perto de Campos dos Goytacazes no norte do estado do Rio de Janeiro. É também claro que hoje em dia a referência a “projectos na área das energias renováveis” não deve faltar no mesmo parágrafo do comunicado de imprensa da empresa, afinal a terminologia “sustentabilidade”

GNA I e GNA II são as duas primeiras de um total de quatro torres de usinas a gás no local do “Super Porto Porto de Açu”, que inclui também um “terminal de GNL com capacidade total de 21 milhões de m3/dia”O gás para o complexo da usina será retirado do chamado Pré-Sal, situado vários milhares de metros abaixo da costa brasileira . “O valor total estimado dos investimentos planejados no complexo de gás e energia GNA é de cerca de US$ 5 bilhões”, gabou-se a Siemens em meados de 2020 .

Agora, no início de 2022, a estrutura de propriedade do “maior projeto de usina a gás da América Latina” mudou novamente, ainda mais para a Alemanha. Porque a Prumo Logística deixou o consórcio do complexo GNA com BP, SPIC, Siemens e Siemens Energy e vendeu sua participação em partes iguais para a BP e Siemens Energy, enquanto a Siemens transferiu toda a sua participação para a Siemens Energy, que foi desmembrada da controladora por meio de um IPO. Após a aprovação dos controladores brasileiros de concorrência do CADE em 31 de dezembro de 2021, apenas a aprovação do banco estadual de desenvolvimento social e desenvolvimento BNDES, que estava envolvido no projeto com a concessão de empréstimos de 1,7 bilhão de reais, estava pendente no início de janeiro. A BP e a Siemens Energy deterão, cada uma, 33,5% das ações do complexo de usinas a gás GNA e a SPIC 33%.

Além do IFC, que apóia o projeto com 288 milhões de dólares, a estatal KfW-Ipex, que, de acordo com um relatório da urgewald e da ajuda ambiental alemã, está cofinanciando o projeto GNA, também está envolvida por meio de de empréstimos “através de uma garantia de crédito à exportação com um volume de cobertura da categoria 5 (ou seja, superior a 200 milhões de euros)”, segundo Urgewald e Deutsche Umwelthilfe. De acordo com a imprensa, o valor exato da cobertura da garantia de exportação do KfW Ipex é exatamente os 1,76 bilhão de reais do banco estatal BNDES (ver IJGlobal, Edição 379, Verão 2020, p. 41). Urgewald e Deutsche Umwelthilfe criticaram acertadamente em setembro de 2021 que o “governo federal […] responsável pelas atividades da estatal KfW-Ipex […] por meio de garantias para a indústria de petróleo e gás [a] transição energética internacional ” — literalmente: “sabotado”. Um dos projetos “gravemente criticado pela Urgewald e pela Deutscher Umwelthilfe está no Brasil: o projeto GNL Gás Natural Açu no Complexo Industrial do Superporto do Açu”.

Trata-se de um daqueles projetos que, como suposta “tecnologia de ponte”, deve manter o suprimento de energia até então convencional, que dá continuidade à matriz energética fóssil com todas as suas consequências catastróficas para o clima e cuja retenção deve garantir os lucros borbulhantes das corporações. Agora, a transferência de ações da Siemens para a Siemens Energy não é apenas uma transação de direito de propriedade com uma mudança de capital na casa dos milhões, o que significa que, em vez da Siemens, apenas a Siemens Energy é agora o foco das críticas da sociedade civil e das críticas dos protecionistas climáticos , que chama pelo nome as causas e a responsabilidade da crise climática Porque a Siemens também precisa explicar qual é o lado potencialmente contínuo do financiamento através da Siemens Financial Services: porque ainda em 2020, foi dito que “a Siemens contribuirá com capital, tecnologia inovadora e sua experiência no gerenciamento de projetos semelhantes por meio de sua subsidiária financeira Siemens Financial Services e em estreita cooperação com a Siemens Energy”. De qualquer forma, a Siemens Financial Services ainda não anunciou que se retirará do financiamento do projeto.

E, por último, mas definitivamente não menos importante, a Siemens e a Siemens Energy têm que responder perguntas sobre sua responsabilidade conjunta em direitos humanos pela construção de toda a área do “superporto Porto de Açu” no norte do estado do Rio de Janeiro: na due diligence societária na Cadeia de Suprimentos conta também que a aquisição ou arrendamento e uso de área localizada em área portuária declarada como o “Superporto Porto de Açu” para construção de plantas industriais próprias – como é o caso da o projeto Gás Natural Açu – é cuidadosamente considerado que não há violações ambientais e não ocorreram violações de direitos humanos. No entanto, não é o que informa o professor universitário Marcos Pedlowski da Universidade Estadual do Norte Fluminense em Campos dos Goytacazes no estado do Rio de Janeiro. O “superporto do Porto de Açu” expropriou as terras de centenas de famílias para construir o porto e, segundo o professor Marcos Pedlowski, “centenas de famílias que tiveram suas terras desapropriadas para construir essa área industrial em São João continuam sem receber compensação do Governo do Rio de Janeiro. Além disso, não se fala mais em salinização das águas continentais causada pelo transbordamento de água salgada das barragens construídas no Porto do Açu, nem se fala mais em destruição da Praia do Açu e o fechamento das áreas de pesca preferencial para os moradores do bairro V de São João da Barra.” Desta forma, o professor Pedlowski fala em “grilagem legal de terras” no caso do Porto de Açu.

O professor Pedlowski é duro com a Siemens: “A participação da Siemens no parque da usina a gás do porto do Açu é um bom exemplo de um padrão que prevalece nas atividades das empresas multinacionais no Brasil. As usinas a gás da GNA não são só muito poluente e geram energia cara, mas também contribuem para o não cumprimento das metas globais de emissões de gases de efeito estufa. Além disso, o histórico de abuso social e ambiental que caracteriza a construção do Porto do Açu deveria ter impedido a participação da Siemens em um empreendimento tão questionável. Mas a preocupação com o lucro parecia superar o compromisso com a boa governança corporativa e com a proteção do meio ambiente e das comunidades locais”,explicou Pedlowski.

A Siemens Energy, a Siemens e a estatal KfW-Ipex são, portanto, co-responsáveis ​​por aderir ao processamento convencional de energia fóssil, que está promovendo ainda mais a crise climática. Além disso, o projeto defende a poluição ambiental com anúncio e significa a desapropriação de terras e territórios sem indenização para os pequenos proprietários que ali exercem a agricultura familiar por um terreno em cujo terreno está sendo construído um complexo de usinas a gás prejudiciais ao clima, também de propriedade da é uma empresa alemã como a Siemens Energy, que também foi financiada pela Siemens Financial Services e a garantia de crédito à exportação pelo KfW-Ipex-Bank, de propriedade federal. Isso deve ter um fim.

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Este texto foi escrito inicialmente em alemão e publicado pela Kooperation Brasilien [Aqui!].

Estudo mostra consequências do uso de agrotóxicos por agricultores envolvidos no cultivo de tomate em São José de Ubá (RJ)

agrotóxicos tomates

A edição de Dezembro de 2020 do periódico científico “Revista de Saúde Pública”  contém o artigo intitulado “Exposição ocupacional a agrotóxicos e sintomas de saúde entre agricultores familiares no Brasil” que apresenta os resultados de uma pesquisa realizada em São José do Ubá (SJU), município localizado na região Norte Fluminense, maior produtor de tomate do Rio de Janeiro e um dos maiores em todo o Brasil, obteve resultados preocupantes no tocante aos impactos causados pela exposição intensiva e contínua a agrotóxicos.

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O estudo que contou com a participação de 78 agricultores familiares identificou os principais sintomas presentes em agricultores e seus ajudantes  decorrentes da aplicação de agrotóxicos, principalmente na cultura do tomate. Os dados de sintomas e exposição foram coletados por meio de entrevistas e os resultados de saúde mental por um questionário auto aplicado.  Amostras de sangue de foram analisadas para avaliar os níveis de colinesterase. Os indicadores de exposição e sintomas foram comparados entre agricultores que trabalham com agrotóxicos e seus ajudantes para verificar se havia alguma diferença na condição de saúde dos dois grupos de agricultores.

Os resultados do estudo mostram que os pequenos agricultores familiares em SJU estavam ocupacionalmente e ambientalmente expostos a agrotóxicos desde jovens, pois viviam perto de plantações, e trabalhavam sem treinamento de segurança, suporte técnico ou com os Equipamentos de Proteção Individual (EPIs).

Em relação aos produtos utilizados, foram citados 49 agrotóxicos pertencentes 31 grupos químicos, principalmente os organofosforados, tais como Acefato e Clorpirifós,  carbamatos como o fungicida Mancozebe e o inseticida Metomil, inseticidas piretróides como Lambda-Cialotrina e Deltametrina. Mas também foram identificados agrotóxicos pertencentes aos grupos Nitrilos, Diamidas, Neonicotinóides, Avermectinas, e o Benzimidazol. A maioria desses produtos químicos é classificada como extremamente e altamente tóxica para o seres humanos. Além disso, cerca de 30% dos aplicadores não sabiam quais agrotóxicos estavam aplicando porque outra pessoa faz a mistura e eles só aplicam. O Glifosato e o Paraquate foram citados por 35% e 17%, respectivamente, mas são proibidos para o cultivo de tomate no Brasil. Os extremamente tóxicos, tais como Clorpirifós e 2,4-D são proibidos para a cultura do tomate no Brasil, e o altamente tóxico Endosulfan já foi proibido, mas também foi mencionado como estando em uso nas plantações em SJU.

Inicialmente, os autores da pesquisa estimavam que os agricultores estariam mais expostos a agrotóxicos e apresentariam mais sintomas do que os seus ajudantes que auxiliam nas atividades de cultivo. No entanto, a maioria dos sintomas teve maior prevalência entre ajudantes atuais e ex-ajudantes, mesmo após o ajuste para possíveis fatores de confusão, incluindo gênero. Uma explicação para este fato pode ser que os ajudantes também estão muito expostos aos agrotóxicos devido à sua maior exposição residencial, menor treinamento e  maior envolvimento em tarefas de reentrada no mesmo dia ou dia após a pulverização, quando menos EPIs. 

Com base nos resultados obtidos, os pesquisadores envolvidos concluíram que a alta exposição a agrotóxicos deve ser uma grande 
preocupação com a saúde pública, pois reduz a qualidade de vida dos agricultores, afeta a força de trabalho rural e aumenta a carga de comorbidades e mortalidade, e também os custos com serviços de saúde.  

Depois de tomar terras de agricultores, Porto do Açu agora cria conselho para estimular “desenvolvimento local responsável”

Confesso que ando ocupado com tarefas associadas à imposição de trabalho remoto e, por isso, perdi a oportunidade de comentar anteriormente a incrível criação pelos gestores do Porto do Açu de um tal “conselho de desenvolvimento local” que tem entre seus eixos temáticos, estimular “o desenvolvimento responsável de pequenos negócios, com um foco inicial no setor agrícola”.

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Que o uso de táticas de “greenwashing” e “social washing” por parte das grandes corporações econômicas não seja nenhuma novidade, o caso do Porto do Açu deveria merecer uma medalha de ouro no quesito “carapaudurice”. É que, como já está amplamente demonstrado pela mídia nacional e internacional, mas também pela comunidade científica, o Porto do Açu é um dos casos mais emblemáticos da violação de direitos dos moradores tradicionais e de danos ambientais em dado território. 

Sempre lembro que este blog foi criado em 2011 para melhor documentar as expropriações violentas que foram promovidas pela Companhia de Desenvolvimento Industrial do Rio de Janeiro (Codin) em prol do conglomerado de empresas pré-operacionais do ex-bilionário Eike Batista que, no momento que seus projeto megalômanos naufragaram, repassou gratuitamente terras que não eram suas para a EIG Global Partners, controladora da Prumo Logística Global que, por sua vez, se tornou a controladora do Porto do Açu.

Enquanto bilhões de recursos públicos foram e continuam sendo injetados no Porto do Açu, centenas de famílias continuam sofrendo o que eu já defini em publicação científica como uma forma ampliada de grilagem estatal. A maioria dessas famílias, que perdeu suas terras para a construção de um natimorto distrito industrial, continua vendo os processos judiciais se arrastando na justiça sanjoanense, enquanto a Prumo Logística aluga parte das terras expropriadas a preço de ouro.

Por isso, é que esse tal conselho de desenvolvimento local não passa de uma força mal disfarçada de “social washing”, o que torna surpreendente que instituições públicas como a UFF, a UENF e o IFF se disponham a oferecer seus selos de garantia para um empreendimento que, convenhamos, deveria apenas continuar sendo alvo de estudos que pudessem auxiliar os agricultores do V Distrito de São João da Barra a finalmente ter pagas as indenizações que lhes são devidas ou, simplesmente, terem suas terras devolvidas.

Porto do Açu e a continuada injustiça contra os agricultores do V Distrito de São João da Barra

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O jornalista Arnaldo Neto publicou hoje em seu blog hospedado no jornal Folha da Manhã um informe detalhado sobre a visita do secretário estadual de Desenvolvimento Econômico e Geração de Emprego e Renda, Lucas Tristão,  às instalações do Porto Açu [1].

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Li com atenção o que foi escrito por Arnaldo Neto e sinceramente me parece que se perdeu uma boa oportunidade de, digamos, ir além da costumeira foto em frente da maquete que o pessoal da Prumo Logística Global (bem como seus antecessores do Grupo EBX) adora fazer com autoridades que vão visitar o Porto do Açu.

É que já, convenhamos, há um espectro que continua rondando o Porto do Açu. Falo aqui da continuada injustiça que começou a ser cometida quando foram iniciadas as desapropriações que retiraram de milhares de famílias do V Distrito do Açu as terras que lhes davam as fontes de sustento.

Passados agora quase uma década daquele processo de expropriação, a maior parte das terras tomadas dos agricultores continua literalmente abandonada e sem perspectivas de uso produtivo. E, pior ainda, as famílias que tiveram suas terras tomadas continuam sem qualquer perspectiva de, finalmente, receberam as longamente devidas compensações financeiras pelas terras que lhes foram tomadas por Sérgio Cabral e entregues para o Grupo EBX que as repassou para o fundo de “private equity” EIG Global Partners que detém o controle acionário da Prumo Logística.

Caso o governador Wilson Witzel queira mesmo contribuir para que o Porto do Açu passe da maquete para a realidade, um excelente primeiro passo seria determinar aos dirigentes da Companhia de Desenvolvimento Industrial do Rio de Janeiro (Codin) abandonem as táticas de procrastinação que foram usadas nos (des) governos de Sérgio Cabral e Luiz Fernando Pezão para impedir que os agricultores desapropriados recebam as indenizações a que têm direito. Ou que se devolva as terras aos seus legítimos donos, caso não haja dinheiro para pagar as indenizações devidas.

Finalmente, é lamentável lembrar que diversos agricultores já faleceram desde que suas terras foram tomadas pela Codin, o que aumenta o sentimento de perda que muitas famílias do V Distrito hoje sentem.

Porto do Açu e a acumulação por espoliação: justiça decide pela apreensão e venda de gado dos agricultores expropriados pelo (des) governo Cabral

Após um longo e tenebroso inverno, o juiz Leonardo Cajueiro D´Azevedo resolveu dar ganho de causa à Companhia de Desenvolvimento Industrial do Rio de Janeiro (CODIN) e à Porto do Açu Operações no tocante ao conflito existente com os agricultores que tiveram suas terras expropriadas e não pagas pelo (des) governo do Rio de Janeiro.  Esse ganho de causa está mais do que evidente nos termos da sentença emitida no dia 05.04.2018 no âmbito do processo 2189-59.2015.8.19.0053 que é mostrada abaixo.

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A sentença é tão pró os interesses  da CODIN e dos atuais controladores do Porto do Açu que nela consta a seguinte designação: “acolho a proposta dos depositários e determino seja posto em prática, imediatamente o Plano de Ação, ficando, desde já, autorizada a venda em leilão dos animais que não forem retirados no prazo de 60 dias.”

Há que se notar nesse caso que centenas de processos de desapropriação continuam literalmente paralisados na justiça de São João da Barra que não tem demonstrado o mesmo tipo de firmeza para fazer valer os direitos de muitas famílias que serão afetadas por essa decisão draconiana. E, pasmemos todos, um número significativo desses processos estão nas mãos do mesmo juiz Leonardo Cajueiro. Noto ainda que muitos dos agricultores estão morrendo sem que o pagamento das terras expropriadas seja feito. Um desses casos foi o do Sr. Reinaldo Toledo que, coincidentemente, era pai de Reginaldo Toledo, um dos agricultores alcançados pela decisão da justiça de São João da Barra [1].

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Agora, os controladores do Porto do Açu não esperaram nem a publicação da decisão prolatada pela justiça de São João da Barra para começar a construir cercados para onde serão levadas as cabeças de gado dos agricultores desapropriados para serem posteriormente leiloadas (ver imagem abaixo).

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O interessante nisso tudo é que, apesar de todas as notícias positivas plantadas na mídia corporativa, não há objetivamente qualquer destinação produtiva para as terras que foram tomadas pelo (des) governo do Rio de Janeiro dos agricultores do V Distrito de São João da Barra.  Mais interessante ainda é notar que apesar da CODIN ser teoricamente a principal interessada no processo 2189-59.2015.8.19.0053, este órgão governamental não tem tido recursos sequer para pagar custas processuais, o que evidencia que são os controladores do Porto do Açu que estão custeando a construção dos cercados para onde será levado o gado dos agricultores que tiveram suas terras expropriadas. Se isso não é uma consumação do modelo de crescimento econômico a “ferro e fogo”, eu não sei mais o que seria.

Considero que cada vez mais fica aplicável ao caso do Porto do Açu o uso do conceito de “acumulação por espoliação” do geógrafo David Harvey [2]. É que nada poderia melhor o os mecanismos propostos por Harvey do que esta combinação entre a ação decisiva do estado (por meio do executivo e do judiciário) em prol dos interesses de um fundo de especulação financeira, e em completo detrimento das necessidades de produção e reprodução social dos habitantes tradicionais do território espoliado.

Finalmente, diante de uma decisão dessas é que não deve surpreender ninguém que a justiça brasileira esteja sendo tão mal avaliada pela maioria da população brasileira, tal como mostrou recentemente uma pesquisa nacional da CNT/MDA que mostro que “55,7% desaprovam sua atuação, 89,3% desconfiam da Justiça e 90,3% afirmam que ela não trata todos de maneira igual” [3].


[1] https://blogdopedlowski.com/2018/03/06/um-eulogia-para-reinaldo-toledo-de-almeida/

[2] https://blogdaboitempo.com.br/2013/12/18/david-harvey/

[3] http://www.valor.com.br/politica/5523181/cntmda-quase-90-desconfiam-da-justica-igreja-e-mais-confiavel

Conflito agrário no Porto do Açu: um dia após anúncio de contrato milionário com o Porto de Antuérpia, PM retira agricultores de propriedade reocupada

Se existe um aspecto que explicita bem as contradições que cercam o megaempreendimento portuário iniciado pelo ex-bilionário Eike Batista no município de São João da Barra, litoral norte do Rio de Janeiro, são as relações de custo e benefício que cercam o chamado Porto do Açu.

É que enquanto a mídia corporativa local dá a boa notícia para os atuais controladores do Porto do Açu de que irão receber US$ 10 milhões em troca de aluguéis de terras e uso do chamado Terminal Mlticargas [Aqui!] a partir de um contrato com o Porto Antuérpia Internacional (PAI), os agricultores que tiveram suas terras expropriadas por valores irrisórios e até hoje não foram pagos continuam sentindo a mão pesado do Estado. E a coisa vai mais ou menos assim: para o Porto do Açu vai o PAI, para os agricultores fica estado PADRASTO.

Coincidência ou não (aliás, a estas alturas do campeonato, quem ainda acredita em coincidências?) nem precisou mais de 24 horas após os belgas do PAI começarama sua viagem de volta para a Europa para que a justiça de São João da Barra, apoiada em forte contingente policial, fizesse cumprir o mandado de reintegração de posse determinado pelo juiz Paulo Maurício Simão Filho da 1a. Vara Cível de Sao João da Barra há exatos 12 dias [Aqui!] (ver imagens abaixo). Há inclusive informes que agricultores foram retirados da área algemados, repetindo cenas que têm marcado a expropriação de terras feitas no V Distrito de Sâo João da Barra.

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Interessante notar que enquanto cumpre fielmente um corolário de políticas ultraneoliberais na Prefeitura de São João da Barra, a prefeita Carla Machado ainda arruma tempo para ocupar em tempo integral o papel de sicerone oficial do Porto do Açu. A partir de uma clara escolha de que lado está, a prefeita Carla Machado continua ignorando solenemente a situação crítica em que estão muitas das famílias que tiveram suas terras entregues a Eike Batista, o seu seu ídolo empresarial anterior a quem concedeu, inclusive, a mais alta honraria do município de São João da Barra, a medalha Barão de São João da Barra (ver imagensda cerimônia de entrega logo abaixo).

Agora, uma pergunta que não quer calar: quanto será que os belgas do PAI irão pagar pelo aluguel de cada metro quadrado que deverão ocupar no interior do Porto do Açu? É que enquanto a Prumo Logística vai acumulando milhões em aluguéis, os agricultores do V Distrito continuam totalmente abandonados à própria sorte. 

Depois não me venham dizer que isto está sendo feito em nome do desenvolvimento econômico de São João da Barra.  É que ao que vemos sendo executado com a cobertura da PM tem outro nome segundo o geógrafo David Harvey: acumulação por espolição. E adivinhem quem são os acumuladores e quem são os espoliados!

Portal Esquerda Diário publica matéria sobre decisão judicial que poderá agravar conflito agrário no Porto do Açu

Acabo de retornar de uma breve viagem e ainda não tive tempo para analisar os documentos referentes à auspiciosa (vamos chamar assim por falta de melhor palavra) decisão da lavra do juiz Leonardo Cajueiro da 2a. Vara de São João da Barra em favor da Companhia de Desenvolvimento Industrial do Rio de Janeiro (Codin) e da Porto do Açu Operações S/A, e em desfavor das centenas de famílias de agricultores expropriados de suas pequenas propriedades rurais pelo hoje condenado e ex (dses) governador Sérgio Cabral (Aqui!).

Entretanto, o Portal Esquerda Diário já produziu uma matéria que analisa de forma bem didática o alcance dessa decisão, bem como o potencial para gerar um sério conflito entre a Codin, a Prumo Logística Global que detém o controle efetivo da área, e os agricultores expropriados que sejam proprietários do gado cuja sentença autoriza o confisco.

Aliás, quem diria, a Codin poderá repentinamente se tornar a maior pecuarista de São João da Barra!

RJ: Justiça decreta confisco do gado de agricultores do Porto de Açu em São João da Barra

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Por Jean Barroso

A Justiça do Rio decidiu permitir a expropriação do gado de agricultores da região do Porto de Açu. O despacho feito pela comarca de São João da Barra foi publicado hoje, e é mais uma decisão à favor das empresas e da corrupção que rola solta no estado, contra os trabalhadores, no caso agricultores que decidiram retomar as suas terras expropriadas por Sérgio Cabral e ação completamente arbitrária em 2010, junto à ex Prefeita de São João da Barra, Carla Machado.

A arbitrária decisão em favor do estado do Rio permite à Companhia de Desenvolvimento Industrial do Estado do Rio de Janeiro (CODIN) tomar à força o gado dos agricultores que ocuparam as terras em desuso, podendo inclusive marcar o gado. Mais uma arbitrariedade contra os agricultores de São João da Barra, legítimos donos daquelas terras, que sofrem com os ataques do estado, de Cabral à Pezão.

O Porto de Açu foi mais um dos empreendimentos capitalistas bancados pelo próprio estado. Em 2010, o então bilionário Eike Batista se aliava a Sérgio Cabral para expropriar agricultores do V Distrito em São João da Barra. O Porto de Açu seria um complexo industrial e logístico financiado pelo apoio do Estado (Cabral) à Eike, e em troca Eike esperava lucrar muito e talvez atingir o nível de vida de um Joesley Batista com uma grande empresa capitalista financiada com dinheiro público.

Em 2010, o Estado do Rio com ajuda da Prefeitura de São João da Barra expropriou 7.500 hectares de agricultura familiar através de decreto toda a área rural do V Distrito, agricultores foram obrigados pelos decretos a entregar suas terras por 25 centavos por metro quadrado, enquanto que o advogado de defesa alega que valor das terras era 100 vezes maior.

A Justiça do Rio prende Eike e Cabral, mas é só para seguir atacando os trabalhadores, como mostra o caso do Porto de Açu, mais uma mostra que estas prisões são funcionais à Pezão e aos capitalistas do Rio, que seguem blindados e protegidos pela mesma justiça que manda expropriar os agricultores e que permite que o governo do estado transfira esta crise para as costas dos trabalhadores com retenção de salários, privatização da CEDAE e todo o plano de ataques de Pezão.

Saiba mais sobre o Porto de Açu clicando aqui.

FOTO: Silvana Rust

FONTE: http://www.esquerdadiario.com.br/RJ-Justica-decreta-confisco-do-gado-de-agricultores-do-Porto-de-Acu-em-Sao-Joao-da-Barra

Porto do Açu: vencidas a insensibilidade da Prumo e a omissão da CODIN, o gado finalmente matou a sede!

As cenas abaixo ocorreram na manhã de hoje, e o que pode se ver é que vencida a insensibilidade da Prumo Logística Global e cumprida a decisão judicial que autorizou a limpeza dos tanques, o gado que morria de sede no V Distrito acorreu rapidamente para finalmente matar a sede que os matava. Talvez seja por isso que as cenas abaixo mostram que o gado mal esperou o trabalho terminar para se aproximar dos tanques.

Será que depois de ver as imagens, o pessoal que manda na Prumo Logística vai entender a gravidade de situação que está ocorrendo nas áreas desapropriadas?

De toda forma, a boa notícia é que a abertura de tanques deverá continuar na semana que vem, gostem disso ou não a Prumo e a CODIN, onde outros proprietários do alvará deveram ser atendidos. 

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Filha de agricultor do V Distrito denuncia Prefeitura de São João da Barra por descaso com a saúde da população

Recebi hoje um e-mail contendo uma denúncia feita pela filha de um agricultor que foi desapropriado pela Companhia de Desenvolvimento Industrial do Rio de Janeiro (CODIN), e que hoje se encontra em uma situação bastante grave causada pela deterioração da sua saúde.

Como este não é o único caso entre os agricultores desapropriados, e como a narrativa da filha deste agricultor é bastante clara, o que eu espero é que as autoridades municipais de São João da Barra apurem essa denúncia o mais rápido possível. Se demorarem muito é possível que o caso receba uma atenção maior por parte da mídia corporativa.

Denuncio São João da Barra

É com esperança de resultado que denuncio a Prefeitura de São João da Barra, em meu nome e de toda população do 5º Distrito e proximidades. Meu pai encontra-se no Centro Municipal de Emergência Dr. Pedro Otávio Enes Barreto aguardando vaga para internação desde 30 de julho 2014. Ele é idoso e já sofreu 3 Acidentes Vasculares Cerebrais (AVCs), e se encontra com pneumonia e outras complicações. O único hospital da cidade (de São João da Barra) não tem recursos para internar meu pai, e minha preocupação era de a qualquer momento ele ser transferido para o hospital de Itaperuna RJ que fica em média 3 horas de distância, o que vem acontecendo com grande parte da população que precisa de internação numa Unidade de Terapia Intensiva (UTI) É frequente encontrar familiares em prantos revoltados de ver quem ama internado em Itaperuna sem condições de estar viajando ou alugando casa para ficar próximo de seu parente.

infelizmente o que temia aconteceu ,e foi a vez minha e de toda família chorar, pois fomos informados que meu pai piorou e que seria transferido para Itaperuna. Mas a dois dias, melhor em 2 de agosto, saiu uma vaga no sistema para enfermaria clínica médica no Hospital Santa Casa de Campos, vaga essa solicitada pelo centro de emergência. Meu pai foi transferido para lá, e o médico “Dr. ESTIVI” avaliou meu pai, e ele foi recusado e mandado de volta para São João da Barra. O médico me afirmou por telefone que a médica se omitiu a passar as reais condições do paciente.

O médico ainda me disse que meu pai entrou na fila de espera errada, pois o caso do meu pai seria para UTI,  e não para enfermaria. Aliás, o médico falou mais: ele disse que já é de costume passar informação errada de pacientes com tentativa de transferir para Campos, e se livrar da responsabilidade com o paciente

Fiquei sabendo por outros que a Prefeitura de São João da Barra não paga os convênios aos hospitais de Campos, e por esse motivo, não estão aceitando pacientes vindos dali. 

Pergunto:  Cidade  em está sendo construído o Superporto do Açu, Prefeitura que gasta com shows caríssimos, e na saúde não cuida, será por quê? Fico grata por interesse na reportagem.

Meus telefones de contato são os seguintes: (21) 99734-0896  e  (21) 3340-3041.

Hoje estarei viajando para São João da Barra RJ, e aguardo contato.

REPASSE, ATÉ QUE TODOS ACORDEM E APRENDAM A REIVINDICAR SEUS DIREITOS DE CIDADÃO PAGANTES DE SEUS IMPOSTOS.   

Atenciosamente,

Edilânia Ribeiro de Almeida

Série de reportagens do “O TEMPO” publica artigos sobre o Porto do Açu

Porto do Açu ‘salgou’  a terra dos produtores 

Morador reclama que a construção do porto, destino final do minério que sairá de Conceição do Mato Dentro, na região Central de Minas, tirou dos agricultores a possibilidade de plantar

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“Eu não sou contra o porto. Eu sou contra o ‘desarrespeito’”. A frase é do agricultor José Roberto de Almeida, 51, o Pinduca, morador do distrito de Água Preta, em São João da Barra (RJ), onde fica o porto do Açu. Ele reclama que a construção do porto, destino final do minério que sairá de Conceição do Mato Dentro, na região Central de Minas, tirou dos agricultores a possibilidade de plantar. “Quando eles puxaram a água do mar, o sal veio junto, e isso arrasou a agricultura”, conta.

Ele caminha rápido para mostrar as plantações totalmente secas, e as palavras saem quase que no mesmo ritmo dos passos, dando dimensão da revolta. “Aqui era abacaxi, aqui era maxixe, aqui era quiabo. Agora, olha, tudo seco. Perdi 70% do que plantei. A água que usamos para irrigar a lavoura está podre por causa do sal. O que é isso? É crescimento?”, desabafa.

Essa revolta levou os agricultores a procurarem o Laboratório de Ciências Ambientais (LCA), da Universidade Estadual do Norte Fluminense (Uenf), que, desde de 2012, faz um estudo para medir a salinização no canal de Quitingute, na bacia do rio Doce, que banha a região. Na ocasião, foram encontradas amostras com índice de até 640 microsiemens por centímetro (µS/cm – unidade de medida de condutividade, usada para verificar a quantidade de sódio e indicar se a água é salobra). Segundo o professor Carlos Rezende, que coordenou o estudo, a água boa para irrigação deve ter, no máximo, 300 µS/cm.

Outro levantamento, feito pela empresa ERM em 2013, comprovou que a condutividade alcançou picos de 42 mil µS/cm. Para abacaxi, que tem presença marcante na região, o recomendável é 3.000 µS/cm. As referências estão em um estudo inédito, ao qual a reportagem teve acesso.

O levantamento foi encomendado pela LLX (atual Prumo e ex-empresa do grupo de Eike Batista) ao Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia Fluminense (IFF) para verificar as condições atuais das águas do canal de Quitingute. De acordo com o relatório, a água foi avaliada em 55 propriedades, e, em agosto de 2013, 11% ainda apresentavam alto nível sódico no solo.

A medição aconteceu um ano depois que um dos tanques de transferência da LLX apresentou uma falha técnica durante as perfurações e extração do sal para a construção do porto do Açu. A água salgada vazou para córregos e rios.

Estudos como os da Uenf embasaram uma ação civil pública do Ministério Público Federal de Campos dos Goytacazes para provar que as obras para a construção do porto causaram a salinização em áreas de solo, de águas doces em canais e lagoas e da água tratada para o consumo humano. Em fevereiro deste ano, o Tribunal Regional Federal da 2ª Região (TRF2) reconheceu que houve impactos no canal de Quitingute e em toda a região. A desembargadora Maria Helena Cisne reconheceu que a salinização pode ter atingido ainda a rede de água para abastecimento humano em toda região.

Grupo X

Desde 2012, o procurador da República, Eduardo Santos de Oliveira, do MPF de Campos dos Goytacazes, move uma ação civil pública contra EBX, OSX (do grupo de Eike) e LLX (agora Prumo), por conta da degradação ambiental causada pelas obras do porto do Açu. O Instituto Estadual do Meio Ambiente (Inea) e o Ibama também são réus.

Agora, com a decisão do TRF2, Oliveira espera um precedente para que os agricultores sejam ressarcidos. “Essa vitória significa que o MPF foi reconhecido como órgão competente para fiscalizar os impactos das obras do porto do Açu, o que era questionado, pois o licenciamento é fatiado e, no caso do porto, foi concedido pelo Estado do Rio de Janeiro, e não pelo Ibama. A partir daí, temos expectativas de decisões favoráveis aos prejudicados”, diz.

FONTE: http://www.otempo.com.br/cmlink/hotsites/especial-mineroduto/porto-do-a%C3%A7u-salgou-a-terra-dos-produtores-1.814800