PAN divulga lista consolidada de agrotóxicos banidos internacionalmente

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A Pesticide Action Network (PAN) tem sido frequentemente solicitada para prestar informações sobre agrotóxicos que foram proibidos em diferentes partes do mundo. A Lista Consolidada de Agrotóxicos Proibidos (CL) foi desenvolvida para identificar quais produtos foram banidos por determinados países porque parece não haver outra fonte para tal informação.

A PAN informa que atualizará a planilha aproximadamente todos os anos (sendo que a última atualização ocorreu maio de 2022)

Todos os esforços foram feitos para garantir que as informações contidas neste CL estejam corretas, mas inevitavelmente haverá erros, simplesmente porque para alguns países existem listas de proibições conflitantes. 

Se os habitantes de diferentes países notarem erros relacionados a seus banimentos, por favor, informe ao PAN no endereço eletrônico info@panap.net com a linha de assunto com o texto “Lista Consolidada de Banimentos”. Além disso, a PAN gostaria de receber qualquer informação de países ainda não incluídos na lista.

Nota Explicativa da Lista Consolidada de Agrotóxicos Proibidos (Baixar)
Lista Consolidada de Agrotóxicos Proibidos (Baixar)


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Este texto originalmente escrito em inglês foi publicado pela Pesticides Action Network [Aqui!].

Pesquisadores da UFPR alertam que nova lei de agrotóxicos pode envenenar o mundo

Para pesquisadores do Observatório de Agrotóxicos da UFPR, o Congresso deveria instituir um programa nacional de redução de agrotóxicos em vez de abrir as portas do Brasil para produtos amplamente proibidos no mundo

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Por Afonso Murata, André Cavalcante, Natali Miller, Laís Carneiro, Larissa Faria e Jean Vitule para o “Ciência UFPR”

 Já aprovado na Câmara dos Deputados, tramita agora no Senado um controverso projeto de lei (PLS 526/1999) que flexibiliza a atual legislação de pesticidas. Sob o argumento de que o registro de novos produtos é um processo muito moroso, este PL propõe mudanças na avaliação e autorização de novos pesticidas, excluindo o Ibama e a Anvisa do processo de decisão final. Algo ainda mais preocupante é que as substâncias previamente banidas poderão ser reavaliadas sob estas novas regras. Ou seja, este PL segue a tendência política de enfraquecer a legislação ambiental, priorizando o setor produtivo em detrimento do meio ambiente e da saúde pública do país.

Só em 2022, foi autorizado o uso de 562 novos agrotóxicos no Brasil, muitos deles importados da Europa e da América do Norte. Vários destes pesticidas têm seu uso proibido nos países onde são produzidos, mas as empresas continuam exportando para lugares com legislação mais permissiva, como o Brasil.

O uso indiscriminado de agrotóxicos sem a devida avaliação é, sobretudo, uma questão de saúde pública. Na última década, intoxicações e mortes relacionadas ao envenenamento por agrotóxicos aumentaram em 94% em nosso país.

Em casos de exposição contínua, os agrotóxicos podem acumular nos organismos, causando inflamações crônicas e doenças autoimunes. Esses compostos também podem passar ao longo da cadeia alimentar e serem encontrados até mesmo no leite materno.

Um dos grandes problemas é que os agrotóxicos são altamente persistentes, ou seja, permanecem na água e solo por muito tempo, além de serem carregados pelo ar, o que aumenta o seu potencial de contaminação. Dados do Sistema de Informação de Vigilância da Qualidade da Água para Consumo Humano (Sisagua), órgão vinculado ao Ministério da Saúde, mostram que neste ano foi detectada, em mais de 2,3 mil cidades brasileiras, água “potável” contaminada por agrotóxicos.

São 27 substâncias persistentes ao tratamento convencional da água e quando combinadas atingem 99% do valor máximo tolerado pela legislação brasileira, que é 2.706 vezes o limite dos países europeus, segundo apresentado por pesquisadores e entidades em audiência pública da Fiocruz Brasília em 2019 sobre o tema.

Não podemos esquecer que se a água pós-tratamento está contaminada, aquela presente nos corpos hídricos o está continuamente. E isso compromete a conservação da biodiversidade, o funcionamento de ecossistemas e, consequentemente, a segurança hídrica.

A Associação Brasileira de Limnologia ao apontou isso ao portal de notícias UOL, em maio. A produção de água, de acordo com a bióloga Vivian Cionek, ultrapassa a capacidade da infraestrutura de concreto das estações de tratamento, que, por sua vez, demanda mais que as capacidades de mão de obra técnica e recursos de muitos municípios. Para ela, produzir água potável integra um ciclo biogeoquímico dependente da conservação da bacia hidrográfica com sua vegetação natural e livre de lançamentos de resíduos e efluentes.

O Brasil abriga, respectivamente, 20 % do total de espécies e 13,7 % da água doce disponível do planeta. Recursos nacionais, porém, importantíssimos para o equilíbrio do mundo.

Além disso, o uso indiscriminado dos agrotóxicos pode causar sérios problemas para a biodiversidade, afetando serviços ecossistêmicos essenciais para a vida dos seres humanos. Alguns dos ingredientes ativos dos agrotóxicos são inseticidas fatais para as abelhas. Esses insetos contribuem para a manutenção de populações de plantas nativas que sustentam a existência de diversas espécies e também para a produtividade agrícola.

No Brasil, as abelhas estão associadas a 132 (92%) cultivos diferentes, sendo polinizadores exclusivos de 74 deles.

É estimado que o valor do serviço ecossistêmico de polinização para a produção de alimentos no país gira em torno de R$ 43 bilhões anuais (cálculo realizado para 67 plantas, entre elas soja, café, laranja e maçã que representam 80% desta quantia). Por isso, a redução das populações de abelhas, além de ter um impacto negativo para a biodiversidade, também pode levar a prejuízos econômicos para o setor agrícola.

O Brasil é um dos líderes na exportação de culturas agrícolas, como a soja, que é destinada a diversos países, especialmente para a produção animal. Por isso, a possível aprovação deste PL (que agora aguarda avaliação pelo Senado Federal) deveria ser uma preocupação global, uma vez que o uso de insumos produzidos com agrotóxicos na alimentação animal afeta também a qualidade do produto final. Como já avaliado em um relatório da Organização das Nações Unidas em 2017, nós não precisamos de mais agrotóxicos para alimentar o mundo. Existem soluções que já são bem conhecidas para aumentar a produtividade e que não requerem o uso intensivo de agrotóxicos, como a agroecologia.

Inclusive um projeto de lei alternativo (PL 6670/2016) poderia colocar o Brasil em uma direção melhor, iniciando um programa nacional de redução de pesticidas. Porém, esta proposta tem recebido menos atenção e é improvável que se torne lei sob o governo atual. O fortalecimento das agências ambientais e o investimento em ciência e tecnologia, especialmente baseados em espécies e produtos nacionais, são medidas necessárias para atingirmos o desenvolvimento sustentável no agronegócio.

Autores
AFONSO MURATA é professor titular do Departamento de Fitotecnia e Fitossanitarismo e membro do Observatório de Agrotóxicos da UFPR
ANDRÉ CAVALCANTE é engenheiro ambiental e mestrando em Engenharia Ambiental (PPGEA) da UFPR
NATALI MILLER é bióloga, mestre em aquicultura e desenvolvimento sustentável e doutoranda em Ecologia e Conservação pela UFPR
LAÍS CARNEIRO é engenheira ambiental (UNIFEI) e doutoranda em Ecologia e Conservação pela UFPR
LARISSA FARIA é mestre em Ecologia e Conservação pela UFPR
JEAN VITULE é professor no Departamento de Engenharia Ambiental e coordena o Laboratório de Ecologia e Conservação da UFPR
➕ Artigo baseado no comentário “Brazilian pesticides law could poison the world“, publicado na seção de cartas da revista Science em abril.

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Este texto foi originalmente publicado pela Ciência UFPR [Aqui!].

Alemanha vai proibir exportação de agrotóxicos banidos na União Europeia. Medida irá atingir duramente agronegócio brasileiro

Em 2021, empresas alemãs produziram e exportaram 8.525 toneladas de agrotóxicos proibidos na União Europeia.  A proibição deve atingir o Brasil, um dos principais compradores de substâncias banidas no bloco.

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O ministro alemão da Agricultura, Cem Özdemir, confirmou neste domingo (11/09) os planos do governo da Alemanha para proibir no país a exportação de agrotóxicos nocivos à saúde que foram banidos na União Europeia (UE). A proibição deve entrar em vigor já no próximo ano e deve atingir produtos importados pelo Brasil.

Não é aceitável que continuemos a produzir e exportar pesticidas que proibimos no nosso próprio país para proteger a saúde da população“, afirmou o político do Partido Verde numa entrevista ao grupo de mídia alemão Funke.

Özdemir ressaltou que o direito à saúde é universal e se aplica também a agricultores de outros países. Segundo a reportagem, a proposta para a mudança na legislação alemã com a proibição de exportação de alguns agrotóxicos deve ser apresentada até o final deste ano.

A proibição de exportação de agrotóxicos que foram banidos na UE está prevista no acordo de coalizão do governo da Alemanha, formado por verdes, social-democratas e liberais. Özdemir também afirmou que o país vai apoiar a França para estender essa proibição em toda a União Europeia.

O ministro ressaltou ainda que essa mudança também terá um efeito secundário positivo para os agricultores alemães ao criar um pouco mais de equidade na concorrência com o fim do uso no exterior de produtos banidos no país.

Segundo o Ministério da Agricultura da Alemanha, mais de 53 mil toneladas de ingredientes ativos de agrotóxicos foram exportadas pelo país no ano passado. Destas, 8.525 toneladas eram de substâncias proibidas na União Europeia.

Proibição deve atingir o  Brasil

Muitos dos agrotóxicos proibidos na União Europeia continuam sendo produzidos por empresas sediadas nos países do bloco para a exportação, como as alemãs BASF e Bayer. As empresas defendem a venda destes produtos alegando que as substâncias são liberadas por autoridades de saúde nos países compradores.

A proibição na Alemanha deve atingir o Brasil. Um levantamento de 2019 realizado pela ONG suíça Public Eye revelou que o país era o segundo maior comprador de agrotóxicos fabricado em solo europeu, mas banidos no bloco. Em 2020, o Greenpeace mostrou que a BASF e Bayer detinham a produção de 12% dos pesticidas aprovados no Brasil. As empresas alemãs produzem, por exemplo, os inseticidas Imidacloprid e Chlorfenapyr, que são proibidos na Europa.

cn (dpa, AFP, ots)


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Este texto foi inicialmente publicado pela Deutsche Welle Brasil [Aqui!].

Ciclo do veneno: frutas exportadas pelo Brasil levam agrotóxicos proibidos na Europa à mesa dos alemães

Teste realizado a pedido do Greenpeace com alimentos brasileiros vendidos em quatro cidades alemãs encontrou 35 substâncias, 11 delas proibidas na Europa. Brasil minimiza e diz que produção agrícola atende a regras internacionais

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Figo, mamão, manga, melão e limão brasileiros dentre as frutas analisadas pelos laboratórios alemães.BENTE STACHOWSKE / © BENTE STACHOWSKE / GREENPEACE

Por Marina Rossi para o jornal “El País”

A Alemanha está consumindo agrotóxicos que são proibidos ali por meio de alimentos importados do Brasil. Testes realizados por laboratórios independentes alemães, a pedido do Greenpeace, com 70 frutas brasileiras, detectaram ao menos 11 substâncias cujo uso é banido em toda a União Europeia. No total, foram encontrados 35 agrotóxicos diferentes em frutas brasileiras, como manga, mamão, limão e figo, comercializadas nas cidades alemãs de Hamburgo, Colônia, Leipzig e Stuttgart. Dessas, 21 pertencem ao grupo de Pesticidas Altamente Perigosos, uma classificação criada pela agência da ONU para a alimentação e agricultura (FAO) e a Organização Mundial da Saúde (OMS).

Apesar da proibição do uso em solo europeu, muitos desses agrotóxicos são produzidos por empresas sediadas em países da Europa, como as alemãs BASF e Bayer, e depois exportados para o Brasil. Segundo o Greenpeace, no início de 2020 essas duas empresas detinham a produção de 12% dos pesticidas aprovados no Brasil. Marina Lacôrte, porta-voz da campanha de Agricultura e Alimentação do Greenpeace Brasil, defende, portanto, que não só o uso mas também a produção dessas substâncias sejam proibidas no território europeu. “Se o governo estabelece que os alemães não podem ingerir essa substância, por que não ter uma legislação proibindo a produção delas?”, questiona. “Por que uma criança europeia não pode consumir determinados agrotóxicos e as crianças brasileiras podem?.”

Os questionamentos de Lacôrte são levantados em um momento crucial tanto para o Brasil quanto para países europeus, já que a exportação agrícola é uma das peças-chave do acordo comercial entre a União Europeia e o Mercosul. O tratado ainda precisa ser ratificado por todos os países envolvidos, mas a França em especial tem se mostrado resistente, exigindo cláusulas de proteção aos seus produtos agrícolas e um compromisso do Governo brasileiro com o desmatamento, um dos pontos nevrálgicos do Governo Bolsonaro. Por outro lado, a mesma França encabeça o ranking dos países europeus exportadores de agrotóxicos para o Mercosul, seguida pela Grã-Bretanha, Alemanha, Bélgica e Espanha, segundo a ONG ambiental. Diante do impasse, os ambientalistas pedem que a União Europeia seja “consistente” e não ratifique o acordo, que pode deixar inclusive os agrotóxicos mais baratos, por meio de isenções fiscais, e “aumentar significativamente a venda e o uso de venenos agrícolas europeus.”

Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento do Brasil, responsável por fazer o controle de resíduos de agrotóxicos acima do limite e nos alimentos para exportação, afirmou por meio de nota que “assim como o Brasil permite o uso de alguns pesticidas não registrados na Europa, o oposto também é verdadeiro. Há agrotóxicos registrados na Europa que não são permitidos em território brasileiro”, diz, sem mencionar quais. Segundo o órgão, “essa diferença decorre das diferenças de cultivos, clima e pragas que infestam as plantações em cada parte do globo”, afirma a pasta. “Os pesticidas são, portanto, registrados e utilizados conforme as necessidades nacionais.”

No estudo, foi detectado que 64% das frutas brasileiras estavam com algum resíduo de pesticida. O mamão foi campeão, chegando a apresentar até nove substâncias diferentes em uma única fruta, no que a ONG classifica como um “verdadeiro coquetel de pesticidas”. Entre 2017 e 2020, o Brasil foi responsável por 77% dos mamões importados pela Alemanha. O Greenpeace afirma ter comunicado o Governo alemão sobre os resultados.

O teste foi realizado entre a segunda quinzena de abril e início de maio deste ano. Segundo o laudo, apenas 11 das 70 amostras de frutas não continham agrotóxicos. O Ministério da Agricultura afirma que o fato desses alimentos terem ingressado em território estrangeiro “demonstra que os limites encontrados estão abaixo daqueles internacionalmente considerados como seguros pelas autoridades do país importador ou pelo CODEX Alimentarius [coletânea de padrões reconhecidos internacionalmente sobre segurança alimentar] (FAO/OMS)”. Ainda por meio de nota, o Governo brasileiro diz que “os produtos produzidos e comercializados pelo Brasil são seguros para consumo humano.

Frutas sendo examinadas durante o teste pelo laboratório alemão.

Frutas sendo examinadas durante o teste pelo laboratório alemão. BENTE STACHOWSKE / © BENTE STACHOWSKE / GREENPEACE

No ano passado, o Brasil bateu recorde na aprovação de novos agrotóxicos. Somente em 2020 foram aprovadas 321 substâncias, segundo o Ministério da Agricultura, 59% a mais que em 2019, quando foram liberados 202 pesticidas de acordo com o órgão. Esses registros vêm crescendo ano após ano, mas o Governo minimiza o aumento da aprovação e diz que “97% dos produtos registrados são genéricos, ou seja, já estavam disponíveis no mercado com outros nomes comerciais.”

Para ser registrado no Brasil, um pesticida precisa passar por três instâncias: a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) avalia e classifica toxicologicamente os agrotóxicos. A avaliação da agência considera tanto o impacto da exposição dos aplicadores quanto os riscos dos resíduos que eventualmente podem ser encontrados nos alimentos tratados. Em seguida, o Ibama realiza a avaliação ambiental das substâncias, estabelecendo suas classificações quanto ao potencial de periculosidade para o meio ambiente. E, então, o Ministério da Agricultura avalia a eficiência agronômica dos agrotóxicos. É também a pasta que concede o registro do químico, após receber os pareceres favoráveis dos órgãos de saúde e do meio ambiente.

O ministério, chefiado pela ministra Tereza Cristina, ainda esclareceu à reportagem que “há tendência de queda no volume médio de defensivos agrícolas aplicados por área tratada”. De acordo com a nota, em 2020 houve redução de 0,1% na quantidade de quilos por hectare. Em 2019 e 2018, sempre na comparação com os anos anteriores, também havia registro de queda, na média, de 1,1% e 0,5%, respectivamente.

Veneno no pacote

Os resíduos de agrotóxicos perigosos para a saúde não estão somente nos alimentos naturais, como frutas, verduras e legumes. O Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (Idec) divulgou recentemente um estudo apontando para a presença dessas substâncias em alimentos ultraprocessados. Cereais, salgadinhos, biscoitos, bebidas de soja, pães e bolos de diferentes marcas apresentaram as substâncias em sua composição. Até mesmo o controverso glifosato, um dos herbicidas mais usados no Brasil ―e um dos proibidos na Europa― e classificado como “provavelmente carcinogênico” pela OMS, foi encontrado em alguns alimentos.

Ao todo, 27 produtos foram analisados pelo Idec, divididos em oito categorias. Dessas, seis apresentaram resíduos de agrotóxicos. Os alimentos onde foram identificados agrotóxicos são: a bebida de soja Naturis (Batavo); o cereal matinal Nesfit (Nestlé); os salgadinhos Baconzitos e Torcida (ambos da Pepsico); os pães bisnaguinha Pullman (Bimbo), Wickbold, Panco e Seven Boys (da Wickbold); os biscoitos de água e sal Marilan, Triunfo (Arcor), Vitarela e Zabet (ambos da M Dias Branco); as bolachas recheadas Bono e Negresco (Nestlé), Oreo e Trakinas (Mondeléz).

O Idec afirma que comunicou aos fabricantes sobre os resíduos encontrados em seus produtos. As empresas que responderam ao Instituto afirmaram que seguem boas práticas dos fornecedores de matéria-prima, ou que a quantidade de substâncias está dentro dos limites. Não há, no entanto, regulação sobre os limites máximos de agrotóxicos em alimentos ultraprocessados, já que a Anvisa monitora essas substâncias apenas nos alimentos naturais.

A Lactails, responsável pela Batavo, informou, após a publicação desta reportagem, que não foi comunicada sobre o estudo do Idec. Por meio de nota, a empresa também afirma que todos seus insumos “são controlados e monitorados através de laudos externos e atendem rigorosamente à legislação brasileira”, e que “a empresa tem uma política rígida na escolha de seus fornecedores de insumos, homologando apenas aqueles que cumprem com todas as exigências legais e de segurança alimentar”.

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Este texto foi publicado originalmente pelo jornal “El País” [Aqui!].

Observatório dos Agrotóxicos: com mais 27 liberações, governo Bolsonaro chega a 1.127 agrotóxicos liberados em 26 meses

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Enquanto o Brasil segue distraído pelas idas e vindas do presidente Jair Bolsonaro no combate à crise sanitária criada pela pandemia da COVID-19, o seu governo continua ampliando a enxurrada de liberações de agrotóxicos, muitos deles banidos pela União Europeia.

Com a promulgação do Ato 13 de 26 de Fevereiro, o governo Bolsonaro autorizo o uso de mais 27 agrotóxicos em sua forma industrial (o chamado produto técnico) que depois serão transformados em produtos formulados que poderão ser vendidos a varejo ou no atacado.

Dentre os produtos aprovados, a carga habitual de produtos que já estão proibidos pela União Europeia, incluindo os já conhecidos Atrazina, Dibrometo de Diquate, Glufosinato e Hexazinona, todos conhecidos por causarem algum tipo de dano à saúde humana e a outros seres vivos, e também nas águas e solos (ver figura abaixo).

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Status na União Europeia dos agrotóxicos liberados pelo Ato No. 13 de 26 de fevereiro de 2021

É interessante notar que nessa leva também foi feita a aprovação de mais um agrotóxico baseado no Fipronil, conhecido por causa de sua letalidade contra polinizadores. Com isso, o governo Bolsonaro já liberou um total de 23 agrotóxicos com base no Fipronil, sendo que 10 deles são produtos técnicos que poderão gerar sabe-se lá quantos produtos formulados.  O resultado disso é que temos em curso a massificação da venda de um produto conhecido por exterminar abelhas, o que, curiosamente, poderá causar perdas colossais à agricultura brasileira, especialmente naqueles segmentos que mais usam agrotóxicos que são os produtos de commodities agrícolas de exportação.

Empresas chinesas estão aumentando sua hegemonia no fornecimento de agrotóxicos no mercado brasileiro

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Outra característica marcante nos 27 agrotóxicos que foram liberados pelo Ato No. 13 é que 92% deles são fabricados por empresas chinesas, a maioria de forma exclusiva (ver figura abaixo).

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Países de origem das empresas fabricantes dos agrotóxicos liberados pelo Ato No. 13 de 26 de fevereiro de 2021

Mas além de participar intensamente do fornecimento, noto agora que empresas chinesas estão se estabelecendo em número cada vez maior no Brasil para passarem a vender diretamente seus produtos em vez de simplesmente entregá-los para empresas brasileiras fazerem o processamento de produto técnico para as diferentes formulações. Essa mudança tende a fortalecer a hegemonia das empresas chinesas no fornecimento de agrotóxicos que serão usados mais amplamente no cultivo daquelas commodities que a China mais importa do Brasil.  O problema aqui é agrotóxicos, como todo produto industrializado, sempre custará mais caro do que soja, por exemplo. E nisso fica uma troca desigual, pois enquanto os chineses compram soja e milho mais baratos dos exportadores brasileiros, o Brasil paga mais caro pelos agrotóxicos chineses, De quebra, por aqui ficam as consequências nefastas de alguns produtos que a própria China já baniu em seu território.

Governo Bolsonaro: vacina não, agrotóxico sim

Voltando ao governo Bolsonaro e sua postura de boicote à vacina Coronavac, fabricada pela  Sinovac, é sempre importante lembrar que a rejeição está longe de ocorrer com os agrotóxicos produzidos por dezenas empresas chinesas sobre as quais há pouca ou nenhuma informação, inclusive nos sites que estas possuem na rede mundial de computadores.

Mas, convenhamos, há extrema coerência nessa situação, pois o governo Bolsonaro além de ser representante direto dos interesses do latifúndio agro-exportador, é liderado por um presidente que até aqui mostrou pouquíssimo interesse em preservar a vida dos brasileiros, e os números de mortos pela COVID-19, quase 270 mil, estão aí para não me deixar falando sozinho.

Quem desejar baixar o arquivo contendo a descrição dos agrotóxicos liberados pelo Ato No. de 26 de fevereiro, vasta clicar [Aqui!]. Já para baixar a base completa contendo os 1.127 agrotóxicos liberados desde o início do governo Bolsonaro, basta clicar  [Aqui!].

Acordo Mercosul-EU teria efeitos devastadores

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Por Markus Kröger

Apesar da oposição de muitos países da União Europeia (UE), agricultores e cidadãos, a Comissão Europeia está atualmente tentando obter o Acordo de Livre Comércio UE-Mercosul por maioria qualificada, independentemente de os parlamentos de todos os países da UE ratificarem o acordo.

No entanto, esse acordo comercial com o Mercosul, formado por Brasil, Argentina, Uruguai e Paraguai, teria efeitos negativos importantes e não deveria ser aceito.

O acordo liberalizaria 82% das importações agrícolas da UE e daria ao resto do Mercosul acesso parcial com isenção de direitos. Isso significaria maiores incentivos e uma compulsão prática direta para os produtores expandirem a produção de forma insustentável. A estimativa é que as importações de carne suína e bovina, por exemplo, dobrem com o acordo.

Não é realista supor que qualquer acordo político poderia controlar como a produção realmente se espalharia na região do Mercosul. Mesmo os melhores sistemas de certificação ou monitoramento não podem garantir que, por exemplo, a carne não seja produzida na Amazônia e outras áreas florestais.

As possibilidades de fiscalização dos métodos de produção registradas no contrato são muito limitadas. A responsabilidade pelos relatórios e pela ética da produção é reservada ao exportador: mesmo que as fazendas individuais pudessem estar sujeitas à proibição de importação, na prática um acordo de livre comércio tornaria mais difícil resolver os problemas de produção.

O acordo também aumentaria dramaticamente as cotas de importação de etanol para a UE. Isso é particularmente preocupante, visto que a expansão das plantações de soja na Amazônia é atualmente impulsionada pela receita adicional do etanol de milho.

No passado, o milho era uma planta de cobertura morta cujo cultivo cobria apenas as despesas. A construção generalizada de silos de etanol na Amazônia e em outros lugares levou à necessidade de expandir os campos de soja e milho mais rapidamente.

As atuais importações de ração de soja – e carne – de estados brasileiros como Mato Grosso para a UE são as principais razões pelas quais tanta floresta está sendo queimada em todo o Brasil.

As plantações de etanol de cana-de-açúcar e eucalipto, que se beneficiam da redução das tarifas do etanol e da expansão de sua produção, são altamente destrutivas para o solo e famosas por suas violações aos direitos humanos. Isso já levou ao desmatamento e a mais conflitos de terra flagrantes com povos indígenas e agricultores familiares.

O acordo também significaria alimentos mais saudáveis ​​para a UE e uma redução nas condições para a produção local de alimentos, já que o acordo permite padrões duplos.

Os países do Mercosul, especialmente o Brasil, não precisam cumprir a lei na prática da mesma forma que os países da UE.

Em 2019, mais de 500 novos agrotóxicos foram aprovados no Brasil, muitos dos quais são proibidos na UE. O mesmo ritmo continuou este ano. O acordo aumentaria a pressão para permitir que produtos GM no mercado da UE para consumo humano e produção.

É claro que o acordo não beneficiaria o Mercosul. Eles estariam cada vez mais presos como países exportadores de matérias-primas básicas produzidas da maneira mais barata e, portanto, mais destrutiva possível, em vez de serem capazes de desenvolver suas próprias indústrias ou setores de serviços de maior valor agregado.

Os pesquisadores estimam que grande parte das demais plantas industriais do Mercosul, como fábricas de automóveis, seriam fechadas pelo acordo. A expansão da agricultura de plantation não trará mais empregos, mas os reduzirá. Isso, por sua vez, levaria à emigração descontrolada e à favelização de agricultores familiares.

Os efeitos imediatos do acordo seriam o colapso das receitas de exportação do Mercosul, já que o acordo proibiria tarifas de exportação. Por exemplo, cerca de metade das tarifas de exportação da Argentina vieram de tarifas de exportação de soja substanciais. Da mesma forma, o Paraguai recebe grandes receitas de tarifas de exportação.

Para que os estados recebam a mesma receita tributária de antes, eles inevitavelmente teriam que aumentar o volume de produção. Seria virtualmente impossível prescindir de extensos danos ambientais, violações dos direitos humanos e degradação das condições de trabalho.

O acordo promove os interesses de curto prazo da elite dos grandes proprietários de terras da América do Sul e do agronegócio global, bem como os interesses de algumas grandes empresas exportadoras da UE. Por estas razões, a oposição ao acordo aumentou tanto entre os cidadãos e agricultores da UE e do Mercosul.

Os danos ambientais decorrentes do acordo enfraqueceriam a produção agrícola e agravariam a crise climática, o que seria contrário aos interesses de longo prazo de todos.

Markus Kröger Professor Assistente de Estudos de Desenvolvimento Global e Pesquisador da Academia da Universidade de Helsinque.

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Este artigo foi escrito originalmente em finlândes e publicado pelo jornal Maaseudun Tulevaisuus [  ].

Para gigantes químicos europeus, o Brasil é um mercado aberto para pesticidas tóxicos proibidos em casa

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Por Pedro Grigori – Agência Pública / Repórter Brasil em 10 de setembro de 2020 | Traduzido para o inglês por Roberto Cataldo

O Brasil é o maior usuário mundial de agrotóxicos, incluindo mais de uma dezena de produtos considerados altamente perigosos, graças a uma legislação permissiva que permite que algumas das maiores empresas agroquímicas da Europa continuem vendendo produtos proibidos em seu mercado doméstico.

A toxicidade desses agrotóxicos levantou preocupações: 22 deles são classificados como agrotóxicos altamente perigosos, ou HHPs, pela Pesticide Action Network (PAN), uma coalizão global que defende alternativas ecológicas para agrotóxicos químicos. A classificação é baseada em critérios desenvolvidos pela Organização Mundial da Saúde (OMS) e pela Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO): em humanos, podem ser tóxicos para o sistema reprodutivo, prejudiciais ao DNA, ou carcinogênicos, além de fatais para abelhas e outros polinizadores.

Embora esses produtos tenham sido proibidos em outros países, empresas como Bayer, BASF e Syngenta faturam milhões de dólares vendendo-os no Brasil. De acordo com o IBAMA, o órgão ambiental brasileiro, mais de 63.000 toneladas de apenas 10 desses 22 agrotóxicos foram vendidas em 2018. As vendas dos outros 12 produtos não foram informadas devido ao sigilo comercial; O IBAMA só divulga dados sobre ingredientes ativos fabricados por três ou mais empresas. Também não desdobra os valores vendidos por cada empresa.

As companhias

O mercado global de pesticidas gerou US $ 34,4 bilhões em 2017, de acordo com a FAO. E o setor é cada vez mais controlado por um punhado de empresas. Com sede na Suíça, a Syngenta faz parte do grupo ChemChina, líder mundial no setor. A alemã Bayer vem em segundo lugar. Ela experimentou um grande crescimento em 2018 após adquirir a Monsanto, que produz o Roundup, um herbicida à base de glifosato, o agrotóxico mais vendido do mundo. Completando os três primeiros está a BASF da Alemanha. Juntas, as três empresas controlam 54,7% da indústria agroquímica mundial.

As líderes do mercado de agrotóxicos

O ciclo global de venda de agrotóxicos gerou US$ 34 bilhões em 2017. Um pequeno número de empresas ficou com a maior parte das vendas

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Em 2018, 36,7% e 24,9% dos ingredientes ativos vendidos mundialmente pela Bayer e BASF, respectivamente, eram altamente perigosos na definição do PAN, de acordo com um relatório que lista as vendas de empresas agroquímicas alemãs para países em desenvolvimento. O relatório foi elaborado pela Campanha Permanente Contra os Agrotóxicos, Rede INKOTA, Fundação Rosa Luxemburgo, MISEREOR e a organização sul-africana Khanyisa.

De acordo com o estudo, procedimentos de registro mais flexíveis tornam mais fácil a entrada de pesticidas altamente perigosos nos mercados do Sul global. O Brasil é um exemplo: 44% das substâncias aqui registradas foram banidas da União Européia , segundo relatório divulgado em julho pelo ex-presidente da Associação Brasileira de Reforma Agrária (ABRA), Gerson Teixeira.

Alan Tygel, porta-voz da Campanha Contra os Pesticidas e Pela Vida, explica por que o estudo começou com a Alemanha: “O país é o segundo maior exportador de agrotóxicos do mundo por causa desses dois grandes fabricantes. Exporta 233 ingredientes ativos – nove dos quais são proibidos na UE, mas produzidos na Alemanha e depois exportados.

“Dos 233 ingredientes ativos exportados pela Alemanha, 62 são considerados altamente perigosos”, acrescenta.

O relatório mostra que metade dos 24 ingredientes vendidos pela Bayer e BASF no Brasil são altamente perigosos. Um deles é o fipronil, princípio ativo utilizado em inseticidas comercializados pela BASF. O produto entrou na lista da PAN por seus efeitos fatais nas abelhas. Na década de 1990, ela foi responsabilizada pela grande mortandade de abelhas na França. Em 2017, milhões de ovos de galinha foram contaminados por Fipronil na Bélgica e na Holanda. Naquele mesmo ano, o produto foi banido de toda a UE por apresentar “alto risco agudo para as abelhas [quando usado] no tratamento de sementes de milho”, segundo a Autoridade Europeia para a Segurança dos Alimentos (EFSA).

No Brasil, os apicultores a apontam como a principal causa da morte de mais de 500 milhões de abelhas em 2018-2019. Segundo o Ibama, foram comercializadas no país 1.600 toneladas só em 2018, para serem utilizadas no cultivo de algodão, batata, soja e milho.

Outro item polêmico da lista é o fungicida Carbendazim, da Bayer, banido do mercado europeu desde 2016. Seus potenciais danos incluem defeitos genéticos, redução da fertilidade e problemas fetais, além de ser muito tóxico para corpos d’água, segundo para o relatório da Campanha Contra os Pesticidas. O produto também está na lista da PAN porque pode danificar o DNA e ser tóxico para o sistema reprodutivo.

Segundo o Ibama, as vendas do carbendazim no Brasil somaram 4,8 mil toneladas em 2018. Em dezembro do ano passado, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) começou a reavaliar o produto para decidir se deveria permanecer no mercado. O processo é lento e pode levar mais de uma década, como aconteceu recentemente com o Glifosato, cujo registro foi renovado após 11 anos em reavaliação. Enquanto isso, o Carbendazim continua sendo vendido para o cultivo de feijão preto, soja, trigo e laranja.

O relatório apela ao governo alemão para proibir as exportações de ingredientes ativos de agrotóxicos que não são permitidos na UE. “Não temos dados sobre qual empresa produz as substâncias importadas ou para quais países elas são exportadas”, diz a pesquisadora alemã Lena Luig, da Rede INKOTA, uma das colaboradoras do relatório.

verduas com venenoUm procedimento de registro de pesticidas mais flexível torna mais fácil a entrada de pesticidas altamente perigosos em determinados países, como o Brasil. Imagem Matheus Cenali / Pexels.

Syngenta ganha bilhões com a venda de agrotóxicos perigosos para países pobres, diz estudo

No ano passado, a ONG suíça Public Eye divulgou um relatório mostrando como a Syngenta ganha bilhões de dólares vendendo pesticidas altamente perigosos, especialmente para países de baixa e média renda. Esses mesmos pesticidas são proibidos na Suíça, país de origem da Syngenta.

Usando dados exclusivos fornecidos pela empresa líder em inteligência de agronegócio, Phillips McDougall, a Public Eye estima que a Syngenta ganhou cerca de US $ 3,9 bilhões com a venda de pesticidas altamente perigosos em 2017 – mais de 40% de suas vendas de pesticidas naquele ano.

Cerca de dois terços dessas vendas foram realizadas em países de baixa e média renda, sendo o Brasil o maior mercado individual.

De acordo com o relatório, “51 dos 120 ingredientes ativos de agrotóxicos no portfólio da Syngenta não estão autorizados para uso em seu país de origem, a Suíça; 16 deles foram proibidos devido ao impacto na saúde humana e no meio ambiente. Mas a Syngenta continua vendendo-os em países de baixa renda. ”

O relatório lista 10 ingredientes ativos vendidos pela empresa no Brasil que são proibidos na UE e aparecem na lista de produtos altamente perigosos do PAN. Um deles é o herbicida Atrazina, quarto agrotóxico mais usado no Brasil, com 287 mil toneladas vendidas em 2018, segundo o Ibama.

O produto é utilizado no cultivo de cana-de-açúcar, milho e sorgo. Foi banido da UE por causar distúrbios endócrinos que afetam o sistema hormonal. “A atrazina foi proibida na Suíça e na UE por muitos anos por causa de sua contaminação de longo alcance e duradoura de fontes de água potável”, disse Carla Hoinkes, pesquisadora agrícola da Public Eye e uma das autoras do relatório.

Outro sucesso de vendas da lista é o paraquat, o sexto pesticida mais usado no Brasil, com 13,1 mil toneladas vendidas. Devido à sua alta toxicidade, foi proibido na Suíça desde 1989 e na UE desde 2017. “O Paraquate é tão tóxico que a ingestão acidental de um único gole pode matar você. Agora está proibido em mais de 55 países, mas a Syngenta continua vendendo onde ainda é permitido ”, diz Hoinkes.

Em 2017, a agência reguladora de saúde brasileira ANVISA decidiu que o Paraquate deveria ser retirado do mercado do país. A proibição deve começar em 22 de setembro deste ano, mas enfrenta fortes esforços de lobby da indústria do agronegócioque formou uma “Força-Tarefa Paraquate” para tentar reverter a decisão .

Os dados de vendas de um dos principais produtos da Syngenta, o inseticida Tiametoxame, não estão disponíveis publicamente devido a segredos comerciais. Membro da família dos inseticidas neonicotinóides, é fatal para polinizadores como as abelhas. “O Tiametoxame da Syngenta, assim como o Imidaclopride da Bayer [que vendeu 10.000 toneladas no Brasil em 2018], é um inseticida neonicotinóide ‘matador de abelhas’ que foi banido dos campos europeus e suíços em 2018, após uma longa batalha legal”, diz Hoinkes. “De acordo com a FAO e a OMS, um crescente corpo de evidências sugere que os inseticidas neonicotinoides ‘estão causando efeitos prejudiciais às abelhas e outros insetos benéficos em grande escala’”.

As empresas dizem que não há riscos

Os fabricantes de agrotóxicos não têm problemas em vender no Brasil produtos proibidos na Europa.

De acordo com a BASF, existem grandes diferenças em culturas, solo, clima, pragas e práticas agrícolas em todo o mundo. “Diferentes pragas exigem soluções diferentes e todos os produtos da BASF são exaustivamente testados, avaliados e aprovados pelas autoridades competentes de cada país, seguindo procedimentos oficiais e legais estabelecidos nos respectivos países antes de serem comercializados”, disse a empresa em um comunicado.

Afirmou ainda que, por razões de mercado, optou por não renovar os registros de alguns princípios ativos na Europa. “Em muitos casos, o princípio ativo não é renovado ou registrado na Europa porque a ocorrência de pragas, doenças e ervas daninhas em clima temperado não o justifica ou porque não há cultura economicamente importante.” Dos 12 ingredientes produzidos pela BASF e citados no relatório da Campanha Contra os Pesticidas, apenas o Saflufenacil nunca teve uma licença solicitada para o mercado europeu. Os demais nunca foram autorizados ou acabaram sendo excluídos daquele mercado após reavaliações.

Bayer disse que a falta de aprovação de um determinado pesticida na UE “de forma alguma determina sua segurança” e que “não significa um duplo padrão”.

“Nossos requisitos internos de segurança garantem que nossos produtos atendam aos padrões globais mínimos em todos os lugares, independentemente de quão desenvolvido e rigoroso seja o sistema regulatório de cada país. Desde 2016, a Bayer se comprometeu a vender apenas defensivos agrícolas cujos ingredientes ativos estejam registrados em pelo menos um país da OCDE ”, disse a empresa.

A Syngenta disse que é importante considerar as diferenças nas práticas agrícolas ao redor do mundo, incluindo os tipos de safras cultivadas e as condições a que estão expostas, bem como os tipos de pragas. “Os produtos usados ​​[no Brasil], de clima tropical e sob alta pressão de pragas e doenças, podem não ser tão necessários em países onde o inverno rigoroso – muitas vezes marcado pela neve – reduz naturalmente a pressão das pragas. Ou seja, se não houver demanda por determinado agrotóxico, não há necessidade de registrar ou renovar o registro do produto naquele país ”, afirmou.

A CropLife Brasil, uma associação de fabricantes de agrotóxicos que inclui Bayer, BASF e Syngenta, disse que o relatório ignora que o uso adequado de pesticidas é fundamental para determinar sua toxicidade para usuários, suas famílias e consumidores. “As condições agrícolas relativas à flora, fauna e clima em diferentes países resultam em uma grande variedade de insetos / pragas, ervas daninhas e doenças que afetam as plantas. Isso significa que diferentes agrotóxicos estarão disponíveis para agricultores na Europa e em outras regiões. Portanto, o fato de um defensivo agrícola não ser aprovado na UE de forma alguma determina sua segurança ”, disse a CropLife em um comunicado.

Hoinkes disse que há um caso a ser feito para necessidades agronômicas específicas, mas não muito. “Na maioria dos casos está provado que a UE proibiu ou restringiu severamente o uso de um pesticida ou grupo de pesticidas devido a preocupações com o meio ambiente ou a saúde humana”, diz ela.

Ela cita os exemplos de Fipronil, Paraquate, Atrazina e Tiametoxam. “Portanto, empresas como a Syngenta ou a Bayer estão de fato usando ‘padrões duplos’ para diferentes países – devido a regulamentações mais fracas ou aplicação inadequada em certos contextos políticos – para continuar vendendo agrotóxicos altamente perigosos proibidos em seus próprios territórios por serem extremamente tóxicos para os humanos, matar abelhas, persistem na água potável ou são suspeitas de causar câncer, defeitos de nascença ou outras doenças crônicas. ”

Questionado se acredita que há riscos em permitir a comercialização interna de produtos proibidos na UE e se essas proibições são levadas em consideração na avaliação de agrotóxicos, o Ministério da Agricultura do Brasil (Mapa) disse que o país é “soberano para regular” e tem as competências técnicas expertise para analisar pesticidas. “Se são vendidos aqui, significa que foram rigorosamente analisados ​​pelo MAPA, ANVISA e IBAMA, e foram aprovados por cada um desses órgãos de acordo com suas respectivas competências”. Leia o comunicado completo do Ministério da Agricultura do Brasil .

As empresas também questionaram os critérios do PAN para classificar os pesticidas como altamente perigosos. Toxicidade aguda, dano crônico à saúde, riscos ambientais e estar listado em convenções e acordos internacionais para a regulamentação de pesticidas são avaliados. A lista do PAN atualmente inclui 310 ingredientes ativos .

A BASF afirma que os conceitos sustentados por ONGs como o PAN “impõem restrições além das estabelecidas por agências governamentais internacionalmente reconhecidas, como a FAO e a OMS”. Nem a FAO nem a OMS são agências governamentais. A empresa também disse que “as agências reguladoras em cada país são os melhores juízes das necessidades de suas regiões”.

Syngenta disse que a lista do PAN “não é reconhecida por nenhuma organização nacional ou internacional”. A empresa acrescentou que Public Eye, a ONG suíça que publicou o relatório crítico, “busca minar a agricultura de inovação, sem a qual os alimentos seriam mais escassos, mais caros e menos seguros”.

Alan Tygel, da Campanha Contra os Pesticidas, diz que a lista do PAN é baseada em critérios definidos em 2006 por duas agências da ONU: a OMS e a FAO. “Essas duas agências definiram os critérios, mas nunca listaram os agrotóxicos. A parte interessante e importante do [relatório do PAN] é precisamente que ele nomeia esses pesticidas altamente perigosos ”, diz ele.

Leia as declarações completas da BASF, Bayer, Syngenta e CropLife.

Este relatório faz parte do Por trás do alimento, um projeto conjunto da Agência Pública e da Repórter Brasil para investigar o uso de agrotóxicos no Brasil, e foi publicado pela primeira vez aqui em português em 18 de junho de 2020. Leia a cobertura completa no site do projeto.

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Este foi publicado em inglês pelo Mongabay [Aqui!].

A exportação de agrotóxicos banidos nos EUA cria um círculo letal de venenos

bomba costalBrechas pró-indústria permitem que os fabricantes exportem agrotóxicos banidos nos EUA, que acabam sendo usados para cultivar alimentos que acabam sendo importados pelo próprio país. BOONCHAI WEDMAKAWAND / GETTY

Por  para a Truthout

Um espantoso duplo padrão existe nos Estados Unidos da América. Quando o governo federal proíbe um agrotóxico, as brechas pró-indústria permitem que as empresas produtoras de agrotóxicos e fertilizantes sintéticos recuperem os lucros perdidos fabricando o mesmo agrotóxico para ser usado no exterior. Em 2013, dados da Agência de Proteção Ambiental (EPA) mostraram que agrotóxicos – proibidos, restritos ou não registrados nos EUA – foram fabricados em 23 estados para exportação para outros países.

Sem uma estrutura regulatória global abrangente para orientar as políticas de transporte, armazenamento e uso, os EUA conscientemente sujeitam trabalhadores agrícolas vulneráveis no exterior a produtos químicos conhecidos por causar danos e morte, e ampliam a dependência internacional da agricultura de agrotóxicos. Cada agrotóxico registrado tem uma “tolerância” de quanto resíduo pode permanecer em um produto alimentício antes que seja considerado inseguro para consumo humano. Os agrotóxicos considerados muito perigosos ou não registrados pela EPA não podem ser vendidos nos EUA. Portanto, o mesmo produto químico deve ser considerado muito perigoso para ser usado em alimentos cultivados no exterior que serão ingeridos pelos estadunidenses.

Em 2015, os seis maiores produtores de agrotóxicos controlaram 75% do mercado de agrotóxicos. Nas últimas três décadas, o conluio entre o governo, os reguladores e poderosos lobistas bloquearam todos os esforços para conter a maré firme do uso de agrotóxicos químicos. A EPA não tem mandato para coletar dados abrangentes sobre as exportações de agrotóxicos e não pode acessar as declarações corporativas de exportação. Os dados mais recentes são de quase duas décadas atrás. Um estudo de grande alcance descobriu que de 2001 a 2003, os EUA exportaram 14 milhões de kilos de agrotóxicos proibidos, severamente restritos ou não registrados para outros países- quase 13 toneladas por dia.

Embora os EUA devam informar os países quando um agrotóxico não está registrado nos EUA, não há garantia de que o funcionário destinatário encaminhe os dados para o usuário do produto químico. As empresas de agroquímicos podem satisfazer os requisitos de rotulagem simplesmente colocando rótulos nos contêineres de embarque e não no contêiner do produto.

O fardo das precauções regulatórias recai desproporcionalmente sobre os países em desenvolvimento – como Equador, Brasil, Indonésia e Malásia – localizada principalmente na América do Sul e no Sudeste Asiático. Um número esmagador de fatalidades, cerca de 99%, ocorre em países do Sul Global, onde as leis são mais fracas. Vulneráveis ao envenenamento agudo e crônico, os trabalhadores agrícolas são rotineiramente expostos a agrotóxicos tóxicos por meio de pulverização, deriva ou contato direto com culturas tratadas e solo e de derramamentos acidentais. A exposição crônica tem sido associada ao câncer, às doenças de Alzheimer e Parkinson, à ruptura hormonal, à esterilidade, ao suicídio e a numerosos efeitos neurológicos na saúde. Os problemas agudos de saúde variam desde os distúrbios da pele até a morte, e incluem doenças respiratórias, gastrointestinais, circulatórias e neurológicas.

Dada a realidade de como esses agrotóxicos são realmente usados (sem equipamento de proteção adequado, falta de descarte adequado, etc.), a suspensão da exportação é crítica. A Organização Mundial de Saúde estimou em 1990 que “até 25 milhões de trabalhadores nos países em desenvolvimento” sofrem de envenenamento por agrotóxicos todos os anos. Como o volume de vendas de agrotóxicos aumentou, é provável que o número de incidentes de intoxicação seja muito maior. De acordo com dados da Organização Mundial de Saúde publicados em 2008, a ingestão não intencional, inalação ou contato com produtos químicos causaram 346.000 mortes por intoxicações agudas em 2004. O impacto global de autointoxicação por ingestão de agrotóxicos evitável foi estimado em 186.000 mortes.

Um estudo de 2012 da Pesticide Action Network International estimou que o número de pessoas afetadas anualmente pela exposição a agrotóxicos a curto e a longo prazo varia entre 1 milhão e 41 milhões.

Eugenia Mejías, uma trabalhadora sazonal no Chile, assistiu sua filha Evelyn, de 14 anos, morrer de graves deficiências congênitas – hidrocefalia, pernas deformadas e paralisadas, e uma espinha torcida e parcialmente exposta. Durante a gravidez, Mejías viveu a poucos metros de um pomar de maçãs, onde os aviões regularmente pulverizavam agrotóxicos sem tomar medidas de precaução para proteger os trabalhadores e residentes próximos. Esta é apenas uma história de muitos que ilustram os perigos do ciclo de agrotóxicos.

Danos para aqueles no Sul global são apenas parte da história. Esta prática perturbadora cria um verdadeiro “círculo de veneno” onde consumimos inadvertidamente produtos químicos proibidos nos EUA em alimentos produzidos em condições perigosas para os trabalhadores agrícolas e suas famílias. Como a responsabilidade ética por substâncias químicas perigosas pode acabar em nossas fronteiras?

Os esforços da Food and Drug Administration (FDA) para proteger os consumidores dos EUA contra resíduos de pesticidas potencialmente prejudiciais em alimentos importados são totalmente inadequados. Apesar da contaminação generalizada de alimentos importados, os inspetores da FDA raramente apreendem ou recusam remessas. Apenas 2% dos produtos importados são separados para análise, enquanto o restante da remessa segue diretamente para o mercado. No momento em que os resultados do teste são conhecidos, a comida já foi consumida.

As importações aumentaram constantemente por décadas; mais da metade da fruta fresca e quase um terço dos vegetais frescos comprados nos EUA são importados de outros países. O produto é contaminado com baixos níveis de resíduos de pesticidas e os metabólitos são agora detectados em produtos, água e tecidos humanos em todo o mundo. Esses metabólitos não degradantes se acumulam e persistem no corpo, e podem ser transferidos para as crianças no útero e através do leite materno, causando vários efeitos prejudiciais à saúde, como perturbações hormonais, infertilidade ou câncer. Aumentos dramáticos no uso de produtos químicos nas últimas décadas acompanham o aumento da incidência de doenças crônicas associadas à contaminação ambiental.

Enquanto as empresas agroquímicas exageram a escassez de alimentos, se os pesticidas não são utilizados para a produção agrícola, os benefícios são de curto prazo e levam a uma maior resistência às pragas e, em seguida, maior perda de produtividade das culturas. O mau uso de pesticidas contribui para o desenvolvimento de cepas resistentes de insetos portadores de doenças. Notavelmente, a resistência em mosquitos portadores de malária tem sido um importante contribuinte para o recente ressurgimento da doença debilitante.

Não apenas a exportação de pesticidas proibidos deve ser proibida, mas também deve ser adotada uma abordagem preventiva. Com base no marco regulatório da Suécia, os EUA devem promulgar um “princípio de substituição” que proíbe o uso de produtos químicos quando um substituto menos perigoso estiver disponível. Sob este esquema, se um pesticida novo e mais seguro for registrado, o mais antigo perde automaticamente seu registro.

O desenvolvimento de uma política sensata de exportação de agrotóxicos deve reconhecer a importância de produzir um suprimento mundial de alimentos seguros e acessíveis que protejam todos os cidadãos da Terra, em casa e no exterior. A falta de regulação eficaz prejudica não apenas os indivíduos e o ambiente onde o alimento é produzido, mas também os indivíduos nos EUA – os processadores de alimentos e os consumidores. Ninguém está imune a este círculo incessante de veneno que deve ser quebrado.

*Elisabeth McLaughlin é estudante da Columbia University onde está realizando pesquisas sobre desenvolvimento sustentável. Ela é autora e apresentou legislação ambiental na Conferência de Assuntos Nacionais, e é atualmente membro  da Columbia University for Carbon Neutrality Organization.  

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Este artigo foi originalmente publicado em inglês pela organização sem fins lucrativos Truthout [Aqui!].

Sob os auspícios do governo Bolsonaro, Brasil está se tornando o último refúgio de agrotóxicos banidos no resto do mundo

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A Rede Brasil Atual publicou hoje a péssima notícia de que a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) resolveu desprezar o conhecimento científico existente sobre a relação entre o agrotóxico Glifosato e o desenvolvimento de diversos tipos de tumores cancerígenos (sendo  o temível Linfoma de Non-Hodgkin (LNH) o mais conhecido deles) e fez publicar a Nota Técnica 23/2018 onde o herbicida mais usado no mundo é exonerado de quaisquer responsabilidade pelo desenvolvimento de tumores sólidos e não sólidos. 

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Ativistas pressionam Comissão Européia para que haja o completo banimento do Glifosato. A França foi o primeiro país a banir o produto, mas outros deverão seguir o exemplo.

A primeira coisa que se deve notar é que pesquisa recente  publicada em fevereiro de 2019 pela revista Mutation Research, e que foi realizada por pesquisadores ligados à Enviromental Protection Agency (EPA) apontou no sentido totalmente oposto à Nota Técnica 23/2018, notadamente no caso do LNH.

À luz de uma pesquisa de inquestionável soludez científica, os técnicos da ANVISA certamente poderão reconhecer que se equivocaram em exonerar o Glifosato de seu potencial para desenvolver tumores cancerígenos. Mas acredito que isto não ocorrerá por um simples motivo: existem outros agrotóxicos ainda mais perigosos e banidos em outras partes do mundo que continuam sendo livre e legalmente vendidos no Brasil.

O exemplo mais expressivo da permissividade da legislação brasileiro quanto ao uso de agrotóxicos que já foram banidos em outros países é o Paraquat que foi desenvolvido pela multinacional Syngenta (hoje absorvida pela multinacional chinesa ChemChina).

A má reputação do Paraquate (que no Brasil é vendido sob o nome de fantasia Gramaxone e fabricado pela Nortox) se deve ao fato de que seu princípio ativo tem sido associado ao desenvolvimento de vários tipos de doença, incluindo depressão, danos ao sistema neurológico que podem resultar no desenvolvimento da Síndrome de Parkinson e câncer de pele.

Devido ao amplo conhecimento científico dos danos causados pelo Paraquate à saúde humana fizeram com que a China, que hoje é o maior produtor desta substância e responsável por 80% da produção mundial, decidisse suspender completamente a sua produção e venda em escala mundial em setembro de 2020, já tendo banido o consumo interno em 2016.

Enquanto isso no Brasil, a Anvisa postergou o banimento do Paraquate para setembro de 2020, justamente para o mesmo período em que a China deixará de ofertar o produto em escala mundial. E ainda assim, os representantes do latifúndio agro-exportador está pressionando pela manutenção das vendas do Paraquate no Brasil!

Mas os casos do Glifosato e do Paraquate estão longe de ser únicos, pois o governo Bolsonaro, por meio do Ministério da Agricultura comandado pela deputada federal e “musa do veneno” Tereza Cristina (DEM/MS), vem trabalhando para aprovar via um “fast track” a aprovação de várias substâncias banidas em outras partes do mundo, inclusive nos EUA. Com isso, o  Brasil vem se tornando uma espécie de zona preferencial para a venda de agrotóxicos banidos em outras partes do mundo. Os resultados desse afã por venenos que o resto do mundo já proibiu certamente terá consequências desastrosas para os agricultores e consumidores brasileiros.

Tereza Cristina (DEM/MS), atual ministra da Agricultura, foi uma das principais defensoras do “Pacote do Veneno” no Congresso Nacional.

Entretanto, como já venho dizendo, que ninguém se surpreenda se em um futuro não mito distante, boa parte da produção agrícola brasileira for colocada sob um rígido cordão sanitário por causa da ação irresponsável em face do uso intensivo e descontrolado de agrotóxicos banidos.  Em outras palavras, o chamado “Projeto de Mefistófeles” ainda sairá muito caro para o Brasil.

Brasil consome 14 agrotóxicos proibidos no mundo

naom_55409a3fd7b0cEm 2013, por exemplo, foram consumidos um bilhão de litros de agrotóxicos no país – uma cota per capita de 5 litros por habitante e movimento de cerca de R$ 8 bilhões. Foto: Divulgação

O Brasil, maior importador de agrotóxicos do planeta, consome pelo menos 14 tipos de venenos proibidos no mundo, dos quais quatro, pelos riscos à saúde humana, foram banidos no ano passado, embora pesquisadores suspeitem que ainda estejam em uso na agricultura.

Em 2013, por exemplo, foram consumidos um bilhão de litros de agrotóxicos no país – uma cota per capita de 5 litros por habitante e movimento de cerca de R$ 8 bilhões no ascendente mercado dos venenos.

Um grupo de pesquisadores da Universidade Federal do Mato Grosso constatou que dos agrotóxicos banidos, pelo menos um, o Endosulfan, prejudicial aos sistemas reprodutivo e endócrino, aparece em 44% das 62 amostras de leite materno no município de Lucas do Rio Verde, cidade que convive com a explosão do agronegócio e é campeã nacional das contaminações por agrotóxicos. São cerca de 136 litros de venenos por habitante despejados anualmente na cidade.

O estudo, coordenado pelo médico professor da UFMT Wanderlei Pignati, ainda constatou que os agrotóxicos aparecem em todas as 62 amostras do leite materno de mães que pariram entre 2007 e 2010, onde se destacam, além do Endosulfan, outros dois venenos ainda não banidos, o Deltametrina, com 37%, e o DDE, versão modificada do potente DDT, com 100% dos casos. Em Lucas do Rio Verde, aparecem ainda pelo menos outros três produtos banidos, o Paraquat, que provocou um surto de intoxicação aguda em crianças e idosos na cidade, em 2007, o Metamidofóis, e o Glifosato, este, presente em 70 das 79 amostras de sangue e urina de professores da área rural junto com outro veneno ainda não proibido, o Piretroides.

Na lista dos proibidos em outros países estão ainda em uso no Brasil estão o Tricolfon, Cihexatina, Abamectina, Acefato, Carbofuran, Forato, Fosmete, Lactofen, Parationa Metílica e Thiram.

Fonte: http://www.noticiasaominuto.com.br/brasil/192857/brasil-consome-14-agrotoxicos-proibidos-no-mundo