A prioridade econômica do Brasil é gerar empregos, não manter a disciplina fiscal

filaPessoas desempregadas fazem fila para obter uma senha para participação em um evento de oportunidades de emprego no centro de São Paulo, Brasil, em 26 de março de 2019. Foto tirada em 26 de março de 2019. REUTERS / AMANDA PEROBELLI

Por Jamie McGeever e Leandra Camera para a Reuters

BRASÍLIA (Reuters) – O Brasil foi aplaudido por investidores por insistir que seu desafio econômico mais urgente é enfrentar um déficit recorde causado pela COVID-19, mas um número crescente de economistas afirma que a prioridade do governo é fazer com que milhões de brasileiros voltem ao trabalho.

Os números da semana passada mostraram o péssimo estado do mercado de trabalho no Brasil. As taxas de desemprego e subemprego são as mais altas já registradas; o mesmo acontece com o número de pessoas que desistiram de procurar trabalho e saíram da força de trabalho.

A folga resultante está sufocando a demanda do consumidor por bens e serviços, desencorajando as empresas de investir, e é um obstáculo de longo prazo ao crescimento econômico, dizem os economistas.

A economia brasileira de US$ 1,3 trilhão deve encolher um recorde de 5% este ano e crescerá apenas 3,5% no ano que vem, de acordo com a última previsão de uma pesquisa semanal do banco central com economistas.

Um relatório do Ministério da Economia na semana passada intitulado ‘Estratégia de Crescimento Econômico de Longo Prazo’ – publicado em resposta a uma crítica da mídia local sobre o manejo da economia – destacou onde está o foco do governo.

A palavra ‘fiscal’ apareceu seis vezes, e houve seis referências feitas à agenda de ‘reformas’ do governo. Não houve uma única menção a ‘empregos’, ‘emprego’ ou ‘trabalho’.

O Brasil não está sozinho em gastar muito para minimizar os problemas econômicos da pandemia. Mas um ponto de partida fiscal fraco significa que a dívida do governo está em vias de terminar este ano em torno de 95% do PIB, muito maior do que a média da América Latina e do Caribe de 59%, de acordo com a Fitch.

Poucos contestam que o déficit recorde deve ser revertido em algum momento. Os investidores estão cada vez mais nervosos e os mercados brasileiros cada vez mais pressionados.

Ainda assim, o Fundo Monetário Internacional (FMI) disse na segunda-feira que a prioridade da política de curto prazo do Brasil deveria ser “salvar vidas e meios de subsistência”. Uma consolidação fiscal foi necessária para reduzir a dívida no “médio prazo”, disse.

Um número crescente de economistas afirma que os desafios fiscais e de emprego estão relacionados: com a escassa demanda por bens e serviços, e que nenhum aperto de cinto do governo estimulará as empresas a investir e contratar.

“Não nego que o Brasil tenha um problema fiscal, mas o problema do Brasil não é fiscal”, disse José Francisco Gonçalves, economista-chefe do Banco Fator em São Paulo.

“Se não houver esperança nem mesmo de baixo crescimento, o mercado de trabalho continuará extremamente fraco. Quem vai investir se a capacidade econômica não estiver sendo usada?”

O “mergulho” dos investimentos

Gonçalves disse que as empresas investem se estiverem confiantes de que a demanda e os lucros vão aumentar, o que normalmente depende de um mercado de trabalho saudável.

Mas o investimento empresarial no Brasil está fraco há muito tempo. No segundo trimestre, o investimento fixo bruto ajustado sazonalmente caiu para seu nível mais baixo desde 2006.

FIXEDINVESTMENTEvolução do investimento fixo no Brasil

Mesmo antes da pandemia, a economia brasileira estava desacelerando e o desemprego aumentando.

E com as transferências de ajuda emergencial para os pobres programadas para expirar no final de dezembro e um esquema de substituição ainda a ser determinado, as perspectivas econômicas para milhões de famílias são incertas.

“Perdi meu sustento. Não tenho casa; não tenho emprego”, disse Maria Lucia Spolzino Porto, 56, divorciada do Rio de Janeiro, que foi morar com o filho depois de perder seu trabalho em uma clínica de beleza.

Algumas métricas do mercado de trabalho melhoraram recentemente. O número de empregos formais aumentou por dois meses consecutivos e os pedidos de seguro-desemprego vêm caindo há semanas.

Mas o desemprego é um indicador defasado, o que significa que é lento para responder às mudanças nas condições econômicas. A taxa de desemprego – que atingiu 13,8% em julho – pode subir por meses, mesmo com a recuperação da economia.

O retorno às taxas de desemprego anteriores à pandemia, aos níveis de emprego, ao tamanho da força de trabalho e à parcela da força de trabalho ocupada poderia levar anos, em vez de meses, sem a ajuda do governo.

Eduardo Zylberstajn, economista e consultor da Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe), olha o problema do outro lado: o governo não pode enfrentar o desemprego de maneira significativa se estiver carregado de déficit e dívidas recordes.

“Você não pode ajudar no emprego se não tiver espaço fiscal. Às vezes, a melhor ajuda que você pode oferecer é a disciplina fiscal, pois isso reduz as taxas de juros, aumenta o crédito e incentiva o investimento”, disse Zylberstajn.

12 milhões de desempregados

O problema é que as perspectivas de emprego no Brasil não eram tão boas, mesmo antes da pandemia, apesar das taxas de juros historicamente baixas, do mercado de ações em alta recorde e do otimismo entre os investidores de que a agenda de reformas amigáveis ​​ao mercado do governo estava no caminho certo.

Enquanto o número de brasileiros em idade produtiva que estão trabalhando é  de  apenas 47,1%, de acordo com o IBGE, mesmo antes do coronavírus atacar em fevereiro já era de apenas  54,5%.

Esse foi aproximadamente o mesmo nível que esteve desde 2016 e confortavelmente abaixo dos picos da série acima de 57% em 2012 e 2013.

DESEMPREGO1

Taxa de pessoas empregadas/ população em idade ativa no Brasil

O número de brasileiros trabalhando caiu  para 82 milhões, o representa um total de 12 milhões de desempregados. Mesmo o recorde de 94 milhões de pessoas trabalhando antes da pandemia mal acompanhava o crescimento geral da população desde o início da série do IBGE em 2012.

DESEMPREGO2Total de pessoas empregadas no Brasil

“Onde estão esses 12 milhões de pessoas que estavam empregadas no início do ano? A maioria delas terá que voltar para encontrar trabalho e  isso vai aumentar o desemprego”, disse João Sabóia, professor emérito do Universidade Federal do Rio de Janeiro.

“Vai ser uma recuperação muito lenta.”

(Reportagem de (Reportagem de Jamie McGeever em Brasília; reportagem adicional de Leandra Camera no Rio de Janeiro; edição de Daniel Flynn e Richard Pullin) no Rio de Janeiro; edição de Daniel Flynn e Richard Pullin)

Este artigo foi escrito originalmente em inglês e publicado pela agência Reuters [Aqui!]

Ensaio contra a cegueira: ideologia antiestado X interesses do RJ

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Quem diz que para a ‘solucionática’ ideal basta aprofundar a austeridade, tem que ter a seriedade de dizer onde vai cortar sem afetar as políticas públicas. Todo o esforço relevante de reduzir despesas é inócuo diante do quadro de recessão e queda de receitas dessa magnitude

(…) penso que não cegámos, penso que estamos cegos, cegos que veem, cegos que, vendo, não veem” (José Saramago).

Por Bruno Leonardo Barth Sobral*

O cerne do problema fluminense envolve múltiplas dimensões associadas, em particular: os efeitos da debilidade produtiva e as disputas federativas sobre a arrecadação tributária; a lógica pouco federativa com que se conduziu o endividamento público estadual, somada ao sacrifício de ativos previdenciários; e a visão ideológica sobre a máquina pública, em que a busca de eficiência sem buscar eficácia tende a gerar não uma estrutura mais leve e enxuta e sim ampliar a desestruturação de uma máquina já desestruturada. Sendo que esse reforço da desestruturação é também imposto por uma relação contratual sob a ordem federativa (vide contrapartidas do acordo federal).

Nesse sentido, julgar que haja saída fácil é desconsiderar que o problema do Rio de Janeiro tem dimensões econômicas fundamentais. E pior, fica-se a reboque de denuncismos e perplexidades que se afastam de uma análise propositiva e se sustentam apenas em um discurso antiestado e de negação da política. Para isso ser evitado, é preciso que sejam superados consensos apriorísticos e arbitrários. Trata-se da caixa de ressonância de uma crise nacional profunda. A crise no Rio de Janeiro (e não do Rio de Janeiro!) é para ser entendida e tratada como sinalização de um sistema federativo em perigo. Essa é a essência da crise, esse é o cerne de toda luta. Centrando nisso, cariocas e fluminenses reassumirão seu protagonismo, ao invés de ser estigmatizados e humilhados em uma desorientação sem fim.

A falta de reflexão séria sobre economia fluminense e carioca faz acreditar recorrentemente em efeitos manada e manipuladores de expectativas. Uma falsa euforia feita de alimentação midiática de expectativas de mercado que, ao sabor do próprio ciclo econômico, ora gera um otimismo exagerado ora gera uma pessimismo exagerado. Diante disso, hoje, alguns formadores de opinião seguem com um discurso tolo de que a economia do Rio de Janeiro desperdiçou “anos de ouro” (bonança).

Assim, confunde-se desenvolvimento com balcão de negócios. Em muitos casos, isso beneficiou esses formadores de opinião seja por consultorias, seja por contratos de publicidade, seja por parcerias empresariais em algumas políticas. Por isso, agora é uma boa oportunidade para que se diferencie com mais rigor o que é ser um Estado facilitador de negócios e o que é ser um Estado planejador.

Aqueles que fazem o discurso dos “anos de ouro” desperdiçados insistem que o cerne do problema é gestão administrativa perdulária. Diferentemente, o cerne da questão se refere à falta de um sistema de planejamento econômico que garantisse uma estrutura sustentada de receitas. A falta de adensamento produtivo, vulgo “estrutura produtiva oca” do ponto de vista regional, continua sendo ausente na retórica dominante. Além disso, em plena crise federativa explicitada por uma severa recessão, nada é falado. Dessa forma, isola-se estrategicamente mais o Rio de Janeiro, fragilizando sua capacidade de articulação política para alternativas.

Nesse ínterim, não se deve aceitar que uma inversão de valores societários se realize por trás do discurso de austeridade. Um dos pressupostos de uma boa gestão pública é não só a busca de eficiência como de eficácia. Uma questão não está subentendida na outra. Pode ser eficiente e não ser eficaz, basta querer fazer certo o que não é certo.

Afinal, eficiência se pode obter por uma ação operacional, enquanto eficácia exige uma ação gerencial que tenha atenção ao resultado total sobre a qualidade do serviço público. O objetivo do atual governo estadual é a busca da eficiência tendo como principal meta reduzir o déficit público (no limite, eliminá-lo) o mais rápido possível. Para aqueles que acham que a crise financeira está no “tamanho” do Estado e de seus gastos de uma maneira geral, isso pode ser visto como o caminho certo.

O discurso da austeridade se torna enganoso quando permite dar salvo-conduto para um “enxugamento” da máquina de forma pouco criteriosa. Cabe alertar o quanto é falacioso associar “enxugamento” automaticamente com melhoramento da qualidade do serviço público. Em especial, na máquina fluminense que está desestruturada especificamente para o atendimento de atividades-fim. Essas atividades são trabalho-intensivas, logo, possuem gasto relevante com pessoal e são assumidas como despesas obrigatórias justamente porque são essenciais. Toda a atenção deve estar voltada para lutar para que esses gastos obrigatórios não sejam ignorados nem sejam tratados como facultativos.

Cabe destacar que, em 2016, o Estado do Rio de Janeiro foi aquele com a maior retração de arrecadação própria entre as unidades da federação, e esse ano até outubro de 2017, a receita tributária registra queda real. Como consequência, avolumam-se consideráveis restos a pagar e riscos reais de não cumprimento de mínimos constitucionais em áreas essenciais. Diante disso, o governo estadual só sabe reiterar que tudo se deve ao momento difícil, que sacrifícios são necessários e que a União é uma grande parceira (mesmo sem oferecer um real de orçamento federal ou revisão da dívida como fez com as empresas através do Refis em escala nacional).

Tal equívoco estratégico tem impactos socioeconômicos que o processo democrático não poderá impedir facilmente, dado que foi posto em um contrato assinado com a União passando por cima até do ciclo político-eleitoral. Contudo, insistir que a crise do Rio de Janeiro é por excesso de gastos é ser irresponsável. Quem diz que para a “solucionática” ideal basta aprofundar a austeridade, tem que ter a seriedade de dizer onde vai cortar de maneira significativa sem afetar as políticas públicas. Todo o esforço relevante de reduzir despesas é inócuo diante desse quadro de recessão e queda de receitas dessa magnitude.

Diante isso, devem ser revistos alguns pressupostos para evitar insistir em um ajuste fiscal que vem demonstrando não levar a lugar nenhum:

Primeiro, receita corrente não está dada para a tomada de decisão do gestor público. Na falta de conseguir inventar novos mecanismos irresponsáveis de receitas extraordinárias (como empréstimos lastreados em ativos a serem privatizados, antecipação de receitas futuras etc.), o dilema não se resume a escolha entre “sacrificar” duas categorias de gasto (por exemplo, entre segurança e educação ou entre previdência e investimento em ativos fixos). A retórica de que a falta de gasto em uma função é por excesso de gasto em outra função não tem validade universal e apriorística. O quanto se gasta em cada função depende de consenso social. A opção de impor sacrifício na maioria das vezes não é técnica e sim juízo de valor sobre área que deseja enfraquecer a responsabilidade pública direta.

Segundo, despesa e receita públicas não são variáveis independentes uma da outra. Ou seja, menos despesa muitas vezes pode levar a menos receita. Tratar como variáveis independentes entre si é não reconhecer por ideologia que o Estado é um agente econômico e julgá-lo mero “sugador” de recursos úteis da economia.

Terceiro, ajuste fiscal é meio e não fim. Logo, deve-se evitar uma visão etapista.  Ajuste fiscal não é etapa inicial, pois em si mesmo é uma busca de eficiência às cegas, não tem visão estratégica nem discute eficácia da política pública. Essas duas dimensões são fundamentais de serem somadas e têm especificidades próprias a serem observadas para que o interesse público seja discutido concretamente.

O diagnóstico não pode ser irresponsável e a recomendação de solução não pode ser demagogia para manipular o desespero das massas. Qualquer solução exige visão estratégica e retirar o Rio de Janeiro desse contexto de isolamento e humilhação federativa. A falácia da neutralidade técnica se explicita. Falência das políticas públicas é mais danoso que qualquer “risco moral”. Estado não é empresa, é coordenador de decisões. Sem isso, é caos. Não se pode oferecer veneno como remédio enquanto busca eficiência às cegas. Caso contrário, é fazer laboratório de teses com o sofrimento alheio.

Tudo que seus principais inimigos querem é tratar o Rio de Janeiro como contraexemplo para o país, que não se aceite essa infantilização estereotipada. Grifo, seus principais inimigos são quem usa essa retórica. O Rio não é contraexemplo! Ou nacionaliza-se essa crise e defende-se o lugar do Rio de Janeiro na federação ou deixarão seu povo isolado do resto do país, sendo sacrificado e expropriado sem dó enquanto se engalfinham em disputas políticas internas.

Convoco a sociedade a se mobilizar não apenas pela revolta e indignação, mas de forma propositiva. A estrutura de dominação que se está instalando vai muito além do que se pode imaginar. A gestão estadual não é mentirosa quando não cumpre o que promete. O governador é humilhado pela banca financeira e passa vergonha em Brasília. Aí o cerne da luta: defender os interesses fluminenses que nosso governador e assessores se mostram incapazes de fazer.

Crédito da foto da página inicial: Tânia Rêgo/Agência Brasil

* Bruno Leonardo Barth Sobral  é economista e professor da Faculdade de Ciências Econômicas da UERJ, tendo doutorado pelo Instituto de Economia da Unicamp.

FONTE: http://brasildebate.com.br/ensaio-contra-a-cegueira-ideologia-antiestado-x-interesses-do-rj/#.WhxRd1Z0jeY.facebook

(Des) governador Pezão e suas lágrimas de crocodilo

A ciência já determinou que que o “choro” do crocodilo ao ingerir uma presa é causado por uma forte pressão sobre o céu da boca que comprime as suas glandulas lacrimais, forçando a ocorrência de lágrimas que não são de, forma alguma, de tristeza.  Por isso, “Lágrimas de crocodilo”  passou a ser uma expressão da língua portuguesa que é utilizada no sentido de “choro fingido”, ou seja, alguém que finge estar chorando.

Pois bem, há algo mais “lágrima de crocodilo” do que o pedido de desculpas emitido pelo (des) governador Pezão aos servidores públicos estaduais (Aqui!), os quais padecem de atrasos crônicos de salários, sendo que uma parcela ainda aguarda o pagamento dos salários de Abril?

Fosse este um país onde a leis são efetivamente cumpridas, o (des) governador Pezão já estaria fazendo companhia ao seu mentor político, o ex (des) governador Sérgio Cabral, e não à frente de negociações que irão tornar o Rio Janeiro um mero satélite do Ministério da Fazenda, seja quem for o presidente d e plantão. Como isso ainda foi agravado pela concessão ao judiciário e ao legislativo (que efetivamente continuarão gastando que já gastam) quando se deixou o peso maior do “ajuste” sobre o executivo.Em função disso, o que teremos de fato é a perpetução de um processo de atraso econômico que certamente agravará a profunda desigualdade social que já existe no rio de Janeiro.

Por isso, que ninguém se emocione com as lágrimas de crocodilo do (des) governador Pezão, pois ele, ao seu jeito, é o líder da vanguarda do atraso e será regiamente recompensado por cumprir este lamentável papel.