Belo Monte: renovação de licença sem mudanças na sua governança é assinar catástrofe, alertam especialistas

BM Bori

O desvio de água do rio Xingu pela usina de Belo Monte (PA) deixou a região de Volta Grande com menos de 30% de sua vazão natural anual

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Optar pela renovação da licença da hidrelétrica de Belo Monte, no Pará, vencida em 2021, sem mudanças expressivas na governança e operação das barragens seria o semelhante a assinar pela continuidade de uma catástrofe ambiental e humana na região. O alerta, publicado em artigo de perspectiva na revista científica “Perspectives in Ecology and Conservation” na sexta (24), é de pesquisadores de dez instituições, entre elas, o Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa), a Universidade Federal do Pará (UFPA), a Universidade de São Paulo (USP), o Instituto Socioambiental (ISA) e o Ministério Público Federal (MPF) de Altamira, no Pará.

Além de sugerir mudanças na governança de Belo Monte, os especialistas defendem que hidrelétricas com 10 MW ou mais de capacidade instalada não devem mais ser construídas na região amazônica.

O trabalho contextualiza os impactos da usina hidrelétrica de Belo Monte, que fica próxima ao município de Altamira (PA), com dados da literatura científica e de ações do MPF. Desde a inauguração da última das 18 turbinas, em 2019, a hidrelétrica desvia água do rio Xingu através de um canal que deixou um trecho de 130 quilômetros de uma região do rio, conhecida como Volta Grande, com menos de 30% de sua vazão natural anual. Isso, segundo a análise, evita a inundação em determinada época do ano de 86% da área total originalmente coberta por igapós, um tipo de vegetação sazonalmente inundada.

Dentre as consequências desse desvio, relatadas pelos especialistas, está o declínio da reprodução dos peixes e quelônios da região, diminuindo rendimentos pesqueiros, perda de vegetação adaptada às cheias e aumento do risco de extinção de espécies endêmicas, além de mudanças nos padrões de sedimentação do rio que afetam a qualidade da água. Estima-se, também, que esse processo causou impactos sociais, com o deslocamento de cerca de 40 mil pessoas para assentamentos urbanos na periferia da cidade de Altamira, segundo dados do Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB).

O biólogo Philip Fearnside, pesquisador titular do INPA e coautor do texto, comenta que outro problema urgente é a ameaça à segurança alimentar de três grupos indígenas e diversas populações ribeirinhas que habitam a Volta Grande. “Essas comunidades dependem dos peixes e quelônios para sua alimentação, além de serem grupos evoluídos culturalmente para viver com o ritmo do rio. A água é o recurso-rei desses povos e isso está sendo perdido”, enfatiza.

Segundo explicam os especialistas, o desvio de Volta Grande é mantido para priorizar a plena capacidade de geração da casa de força principal de Belo Monte e faz parte do plano de engenharia original, elaborado pela Norte Energia, empresa que administra o complexo. A legalidade do processo de licenciamento da hidrelétrica, no entanto, é contestada em 22 ações movidas pelo Ministério Público Federal. Em uma delas, de setembro de 2022, o presidente do Supremo Tribunal Federal (STF) decidiu que a construção de Belo Monte violou a lei brasileira ao não realizar consultas com os povos indígenas e tradicionais da Volta Grande para a instalação das barragens.

A preocupação é se o governo atual seguirá com a renovação da licença de Belo Monte, e se alguma mudança na operação da barragem será exigida. “As administrações dos últimos anos têm passado por cima, forçando a continuidade da hidrelétrica, e sem que muitas das condicionantes que a empresa prometeu fazer tenham sido cumpridas. E sem nenhuma penalidade”, diz Fearnside.

Para mitigar os impactos de Belo Monte, segundos os especialistas, seria preciso mudanças na operação que garantam que uma quantidade adequada de água volte a fluir pela Volta Grande, de forma que seu trajeto se aproxime do ciclo e duração natural das cheias do rio. Além disso, uma mudança na governança da hidrelétrica também seria necessária, de modo a envolver povos indígenas e ribeirinhos locais no monitoramento das operações e no processo de licenciamento da hidrelétrica. “É evidente que a barragem não será destruída, mas se quisermos preservar os ecossistemas e povos existentes na região, as comunidades locais e a sociedade civil devem ter maior participação”, finaliza Fearnside.


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Fonte: Agência Bori

Pesquisadores confirmam nova espécie de peixe cascudo em área afetada pela barragem de Belo Monte (PA)

Nova espécie batizada de Scobinancistrus raonii foi descrita pela primeira vez pela ciência

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A construção da barragem da hidrelétrica de Belo Monte, no Pará, alterou o habitat de espécies de peixes nunca descritas pela ciência. Uma nova espécie de peixe cascudo foi descoberta na região por pesquisadores do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA), Instituto de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá e Universidade Federal do Pará (UFPA). Ela está descrita em artigo publicado na segunda (30) na revista “Neotropical Ichthyology”.

O peixe tem tons de verde-oliva escuro a preto e é coberto por manchas amarelas redondas, atingindo até 17 centímetros de comprimento. Ele foi batizado de Scobinancistrus raonii, em homenagem ao líder indígena Raoni Metuktire, cacique dos caiapós, povo que vive ao longo dos afluentes do rio Xingu, nos estados do Pará e Mato Grosso. Ele é um dos ativistas indígenas mais conhecidos no mundo por sua luta pela preservação da floresta amazônica, se colocando contra, em 2010, à construção da usina de Belo Monte.

Os resultados foram obtidos após a análise de 38 exemplares desta espécie não descrita de Scobinancistrus, coletados em expedições da equipe de pesquisa ao rio Xingu. Esses peixes são conhecidos de comunidades locais e do comércio aquarista desde a década de 1980 e ganharam o apelido de tubarão, por causa do formato roliço do seu corpo. Para que se pudesse confirmar a existência de uma nova espécie, foram analisadas as tonalidades e o formato das manchas, a forma do corpo, os dentes, a boca e outras estruturas que identificam os animais.

Segundo Lúcia Rapp Py-Daniel, uma das autoras do estudo, a descrição da espécie serve para confirmar a novidade. “A gente já conhece esse bicho há muito tempo. Ele já era vendido no comércio de pesca ornamental e era um bichinho muito diferente, mas na época não sabíamos em qual gênero ele se encaixava. Foi uma surpresa ver que não conseguimos encaixá-lo em nada que conhecíamos e que se tratava de uma nova espécie”, afirma a pesquisadora do INPA.

O estudo detalha que a nova espécie de Scobinancistrus habita principalmente a área alterada pela construção da barragem de Belo Monte, em Altamira, indo desde a Volta Grande do Xingu até a confluência com o rio Iriri. A descoberta ajuda a confirmar que existem novas espécies de animais habitando a região afetada pela hidrelétrica e que, por isso, é importante garantir a qualidade da água para protegê-las.

Para Py-Daniel, o trabalho também serve para suscitar o debate em torno do controle hidrológico da região, pois algumas espécies demandam água em abundância para a sobrevivência. “A área da Volta do Grande do Xingu é extensa e tem espécies que só ocorrem lá, então qualquer alteração do ambiente natural é gravíssima”, conclui.

Os pesquisadores seguem monitorando as espécies de peixes cascudos da região. Eles esperam que a documentação contribua para que os órgãos competentes estabeleçam estratégias de conservação, “já que os peixes são muito comercializados e exportados por causa da aparência colorida e atrativa” e agora também sofrem a ameaça de alteração no seu ambiente natural, finaliza a pesquisadora.

Belo Monte e usinas do rio Madeira: bombas-relógio do desenvolvimentismo do século passado 

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Divulgação RO

Quem defende a exploração de petróleo na Margem Equatorial e em particular na foz do Amazonas deveria olhar com atenção os maus exemplos do setor elétrico nacional, que produziu no passado “bombas” que continuam explodindo no colo de toda a sociedade brasileira.

Implantadas sob um argumento desenvolvimentista do século passado que ignorava seus altos custos socioambientais – já apontados à época de suas instalações –, as hidrelétricas de Belo Monte, no Pará, e Santo Antônio, em Rondônia, ambas na Amazônia, são o exemplo claro do que não mais se pode fazer.

Responsável pela operação de Belo Monte, a Norte Energia enviou em março um ofício ao IBAMA informando ter recebido 3.909 pedidos adicionais de reparação por parte de pescadores da região do Rio Xingu onde a usina foi implantada. Com isso, o número de indenizações já atinge o quádruplo do número inicialmente admitido pela empresa, segundo a Folha.

A quantidade de solicitações chegou a 6.015, segundo nota emitida pelo órgão ambiental. Até então, a operadora de Belo Monte havia se comprometido a pagar uma reparação de R$ 20 mil a 1.976 pescadores. Mas a Norte Energia passou a fazer análises que incluem um questionário “contendo questões e aspectos culturais da pesca local”. Se os pedidos forem validados, o número de pescadores com direito a reparação chegará a 7.991.

A reparação a milhares de trabalhadores que ficaram sem ter o que pescar no rio Xingu após a instalação da usina foi uma recomendação do IBAMA no curso do processo que analisa o pedido para renovação da licença de operação da hidrelétrica. O documento venceu em 25 de novembro de 2021 – há um ano e meio, portanto. Mas certamente tal reparação não vai apagar o estrago que Belo Monte fez na região, uma das mais violentas do país.

Outra mega-hidrelétrica no foco do IBAMA é Santo Antônio, instalada no Rio Madeira, em Rondônia, também fruto da “onda desenvolvimentista”.  O órgão ambiental investigará os impactos que a construção da usina causou em comunidades ribeirinhas no estado. A investigação foi recomendada pelo Ministério Público Federal (MPF), que identificou no processo de licenciamento ambiental da UHE que a comunidade de Vila de Paulo Leal não foi considerada diretamente impactada, relata o g1.

Segundo o MPF, a vila sofre com a falta de estradas, transporte, acesso à saúde e pragas de insetos por causa da operação da usina. E o IBAMA também se comprometeu a avaliar os prejuízos gerados nos serviços públicos de saúde e educação na Vila Nova de Teotônio e os danos nas atividades pesqueira e comercial na Vila Paulo Leal.

ClimaInfo, 19 de junho de 2023.


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Este texto foi originalmente publicado pelo ClimaInfo [Aqui!].

Cheiro de Belo Monte no ar

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Há uma grande diferença entre ambição e cobiça: a primeira pode ser uma coisa boa; a segunda, jamais. Exemplos práticos: o atual governo tem a ambição de transformar o Brasil na maior potência ambiental de fato; porém, o mesmo grupo político que hoje está no poder foi movido pela cobiça quando construiu Belo Monte. A hidrelétrica, que gera mais prejuízos que energia, está lá, desde 2016, como lição a ser aprendida – para que erro igual não seja repetido. Por isso, causa preocupação a declaração do presidente Lula de que “se explorar esse petróleo tiver problema para a Amazônia, certamente não será explorado, mas eu acho difícil, porque é a 530 km de distância da Amazônia”. Esses “mas” costumam ser prenúncio de más notícias.

O Ibama negou a autorização, porque os senões são muitos. Para começar, a região já tem cerca de 100 poços perfurados e não se encontrou nada que justificasse novas explorações – vários deles, por sinal, foram fechados por causa de acidentes. Nesse quesito particular, o Brasil tem um currículo nada invejável: foram nove desastres do tipo de 2011 a 2022, quase um por ano. Ficar a “530 km de distância da Amazônia” não é nenhuma vantagem, pois a Petrobras levaria quase dois dias para chegar ao local em caso de vazamento. Além disso, a empresa não está habituada com as correntes marítimas locais, que são bem diferentes das bacias de Campos (RJ) e Santos (SP). Mas o argumento definitivo é que se estima que a produção na região seria pelo menos três vezes menor que as das reservas marinhas do Sudeste. Não tem um cheirinho de Belo Monte no ar?

E esse odor desagradável se espalha floresta adentro. Lula se comprometeu a zerar o desmatamento no país até 2030. Mas, até lá, muito verde pode vir abaixo. Um desses projetos, asfaltar a BR-319, que liga Manaus a Porto Velho, serviria de tapete vermelho para toda sorte de malfeitor: invasores de terras protegidas, traficantes, grileiros, mineradoras e garimpeiros ilegais, milicianos, contrabandistas de madeira etc. A rodovia, que tem 885 km de extensão, pode impactar 69 terras indígenas – onde vivem 18 etnias e povos isolados –, 41 unidades de conservação e a última grande área contínua de mata virgem da Amazônia brasileira. A estrada é uma ideia de jerico da ditadura, reabilitada pelo governo anterior; isso já seria motivo de sobra para ser descartada pelo atual. 

O traçado da BR-319 já existe, mas só um pequeno trecho, em condições precárias, está aberto. O impasse recai sobre o asfaltamento do chamado “trecho do meio”, que conectaria os dois extremos da rodovia – do Amazonas a Rondônia. Ainda assim, a estrada serve de porteira aberta para criminosos em geral. Bastou Bolsonaro anunciar que ela receberia asfalto novo para que o desmatamento disparasse: o número vinha caindo desde 2001. Em 2020, foi de 216 km²; em 2021, deu um triplo-carpado para 453 km²; no ano passado, chegou a 480 km². A estrada era inviável de nascença, mais um elefante branco, como a usina no Rio Xingu: “A BR-319 não tinha nenhum raciocínio econômico. Era tudo paranoia de que a Amazônia seria tomada pela cobiça internacional”, diz o biólogo Philip M. Fearnside, do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa). 

Esse delírio pode impactar uma área de 39 mil km² (maior que Alemanha e Holanda juntas) e bagunçar mais os regimes de chuva naquelas regiões. Em 2021, 15% dos 10,3 km² devastados em toda Amazônia Legal aconteceram na área e a estrada sequer se presta ao transporte de cargas. “Se for asfaltada, a rodovia BR-319 irá beneficiar até mesmo quadrilhas de roubo de carros. Além disso, as estradas vicinais ilegais ao longo da rodovia estão abrigando vários tipos de atividades criminosas, como grilagem de terras, desmatamento ilegal e garimpo”, diz Lucas Ferrante, também biólogo do Inpa. Uma pesquisa de 2020, da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), estima que, com o asfaltamento, as emissões de gases do efeito estufa quadruplicariam na região nos próximos 30 anos, chegando a 8 bilhões de toneladas, o quádruplo do que o país emite em um ano. 

A EF-170, vulgo Ferrogrão, também fede um bocado. A ferrovia, que ligaria Sinop (MT) ao porto de Miritituba (PA), serviria somente para escoar a soja do Centro-Oeste; no fim da linha, a produção seguiria por uma hidrovia no Rio Tapajós. Para construí-la, seria necessário tirar um naco do Parque Nacional Jamanxim, que é uma Unidade de Conservação de Proteção Integral. Em 2017, o presidente Michel Temer sancionou a Lei 13.452 exclusivamente para este fim. Calcula-se que 2 mil km² de verde sumiriam de cara. 

O pior é que a lei, que está no centro do julgamento prestes a ser realizado pelo Supremo Tribunal Federal (STF), pode criar jurisprudência para outras obras. E a estrada de ferro abriria caminho para outros portos, hidrovias e rodovias. Essa infraestrutura exigiria mais energia; e aí quem garante que novas hidrelétricas também não seriam construídas? Os 993 km da Ferrogrão ainda impactariam mais duas Florestas Nacionais (Flonas) e os povos Kayapó, Munduruku e Panará – que não tiveram respeitado seu direito de consulta e consentimento livre, prévio e informado. É ou não é puro suco de Belo Monte? Depois disso tudo, com que moral o Brasil se sentaria à mesa de negociação climática? Precisamos relembrar ao governo que o caminho da cobiça não rende só mau cheiro.


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Este texto foi inicialmente publicado pelo site “Uma Gota no Oceano” [Aqui!].

Farsa ou tragédia: ainda no Japão, Lula ameaça repetir o desastre de Belo Monte na Foz do Amazonas

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A usina hidrelétrica de Belo Monte é provavelmente um dos piores cometidos sob a batuta dos governos do PT que foram comandados pelos presidentes Lula e Dilma Rousseff.  Atualmente já existe uma considerável literatura científica documentando todos os efeitos perversos causados pela decisão de construir Belo Monte ao arrepio das evidências técnicas que mostravam o erro que seria cometido com a implantação deste projeto.

Ao longo da última eleitoral, o então candidato Lula emitiu palavras de compromisso com a sustentabilidade socioambiental da Amazônia, reconhecendo (ainda que de forma subliminar) os múltiplos erros que marcaram a construção e marcam o funcionamento de Belo Monte. Em seu discurso de posse, Lula alinhavou uma série de intenções em prol de um tênue compromisso com o desenvolvimento sustentável na Amazônia, o qual teria compromisso com a manutenção dos modos de vida das populações tradicionais, a começar pelos povos originários.

Mas passados pouco menos de cinco meses de governo, o agora presidente Lula parece inclinado a rasgar a fantasia da sustentabilidade e apoiar o insustentável projeto de exploração de petróleo na foz do Rio Amazonas. Em declarações dadas no Japão durante o encontro do G-7, Lula sinalizou “que pode contrariar a ministra do Meio Ambiente e Mudança do Clima, Marina Silva, e tomar partido em favor da ala do governo que apoia a autorização da exploração de petróleo na foz do Rio Amazonas. O curioso é que o presidente Lula se pretende fazer de árbitro em uma questão em que sabidamente ele não tem conhecimento técnico, e quem tem já mostrou que o projeto apresentado pela Petrobras está mais cheio de furos que queijo suiço.

É importante destacar que, ao contrário dos primeiros dois mandatos presidenciais, Lula neste momento não possui nada que se possa chamar de um projeto de desenvolvimento econômico, muito menos de desenvolvimento econômico que não causa ainda mais destruição ambiental em uma região que já se encontra sob fortíssimo pressão após quatro anos de completa desregulamentação ambiental pelo governo de Jair Bolsonaro.

Pelo jeito, ao contrário do que muitos pesquisadores e ambientalistas esperavam, o novo governo está ficando cada vez mais parecido com o anterior no que toca à Amazônia.  Como Marina Silva já viu esse filme antes, ela provavelmente opte por pedir o boné muito antes do que eu imaginava.

Barragem de Belo Monte: apenas uma turbina em operação devido à seca e peixes morrem devido ao aumento da temperatura da água

A estação seca deste ano na Amazônia expõe implacavelmente os erros de cálculo na construção da barragem de Belo Monte 11 GW no rio Xingu, no estado amazônico do Pará

belo monteBelo Monte (vista aérea 2016). Foto: christianrussau

Por Christian Russau para a Kobra

Desde 2011, os críticos da barragem de Belo Monte 11 GW, no rio Xingu, no estado amazônico do Pará, haviam alertado enfaticamente que a construção da barragem não só levaria a enormes consequências sociais e ecológicas, mas para o governo e consórcios de construção e a operadora logo se revelaria perdida. Agora fica claro com clareza implacável que os proponentes daquela que era então a terceira maior barragem do mundo estavam errados e os críticos estavam certos. Infelizmente, isso não é motivo de alegria para ninguém.

18 turbinas devem agora girar nas massas de água da barragem de Belo Monte, localizada atrás do reservatório, que retira 80% da água do rio da Volta Grande e a desvia para o reservatório, transformando e fornecendo eletricidade para a economia em expansão do Brasil e sociedade. No momento, uma turbina está girando e só está girando com metade de sua potência. Devido à atual seca na área da bacia do Xingu, o aproveitamento atual do potencial de geração de energia de Belo Monte é de apenas 2,67% desde o início de agosto, de acordo com reportagens da mídiaIsso é exatamente o que os críticos têm enfatizado repetidamente desde a decisão de construção em 2011 que a meta de 11 GW de plena carga só poderia ser atingida por alguns meses do ano, e que o cálculo da lucratividade da usina hidrelétrica ficaria, portanto, obsoleto. E é exatamente isso o que fica evidente no momento no rio Xingu.

Desde a sua conclusão, a usina de Belo Monte produziu menos do que os especialistas calcularam para a estação seca. No momento da construção, presumia-se que a usina geraria em média 690 MW por dia durante os meses de seca. A saída atual é de 300 MW. Esperava-se uma produção média de 4.000 MW para todo o ano. No ano passado era de 3.293 MW médios e em 2019 era de 3.027 MW médios, segundo dados do Operador Nacional da Rede Elétrica (ONS). Então Belo Monte nunca correspondeu às expectativas econômicas e hoje o desempenho é menor do que nunca.

Além disso, a seca fez com que a pouca água que restava esquentasse, levando ao aumento da morte de peixes, conforme a mídia agora está relatando . “Isso é um absurdo, porque são peixes que poderiam servir de alimento para a população, e alguns são peixes ornamentais que têm valor de mercado nas grandes cidades, como a Bandeira do Acará. Aqui temos o pacu que poderia servir de alimento, mas na momento só há comida para urubus ”, disse à mídia o professor de biologia Rodolfo Salm, da Universidade Federal do Pará (UFPA) . Em uma pandemia galopante como a de Corona, isso é ainda mais sério quando as pessoas mal conseguem sobreviver financeiramente e sua segurança alimentar está ameaçada.

Acontece que Belo Monte foi e é e continua sendo um fiasco : moradores: por dentro e também pescadores: por dentro, pescadores ornamentais: por dentro e pequenos agricultores: por dentro foram roubados seus meios de subsistência, os reassentamentos foram insuficientes, as indenizações inadequadas, Volta Grande passou de 100 quilômetros A extensão do rio estava quase esgotada, os índios e ribeirinhos moravam nas proximidades: por dentro não podiam mais usar o rio como área de pesca ou transporte de barcos, as pragas de mosquitos assombram a área, os rotores do turbinas picam peixes, peixes vão para a água aquecida e agora mostram os números da produção nua e crua também todo o fiasco econômico. E tudo isso em nome do “desenvolvimento” e da energia “verde”.

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Este texto foi escrito inicialmente em alemão e publicado pela Kooperation Brasilien [Aqui!].

Barragem de Belo Monte enfrenta fiasco econômico

belo monteBarragem de Belo Monte (a Volta Grande, vindo da esquerda abaixo). Foto: Christian Russau (2016)

Por Christian Russau para a Kooperation Brasilien

O operador da barragem de Belo Monte alerta para enormes prejuízos econômicos se a redução da drenagem de água da área da barragem até a grande curva do Volta Grande, que foi decidida recentemente pelo órgão ambiental do Ibama, for implementada para proteger os interesses dos  moradores locais.  A empresa quer reverter decisão do Ibama. Mas mesmo antes do início da construção, anos atrás, os críticos alertaram para o conflito da “lucratividade da barragem contra os interesses dos moradores locais”.

Ao longo de uma década, muitos críticos da barragem monstro de Belo Monte repetidamente apontaram que ela transformaria a grande curva da Volta Grande para a operação lucrativa da barragem de 11 GW,  apontando para o fato de que a natureza e as pessoas no local serem maciçamente afetadas, porque uma redução de até 80% na quantidade de água de um rio de quase 100 km traria estagnação do corpo hídrico, com todas as consequências, tais como falta de oxigênio, mortandade de peixes, aumento da formação de mosquitos. Os críticos repetidamente apontaram que apesar da estação das chuvas sempre houve estações secas e que, portanto, o conflito entre a rentabilidade da barragem e os interesses dos moradores locais da Volta Grande era inevitável. Agora, o conflito anunciado ameaça chegar ao auge.

Depois que moradores uniram forças para realizar um protesto em novembro do ano passado e  bloquearam a Transamazônica  para exigir um aumento do volume mínimo de vazão livre para a Volta Grande, o  Ibama decidiu que no canal que se ramificava em frente à primeira barragem do Pimental, a máximo de 10.900 metros cúbicos por segundo deve ser desviado para a barragem de Belo Monte a fim de garantir uma vazão mínima de 16.000 m3 /s na Volta Grande do Xingu, de modo a permitir a reprodução da fauna e da flora durante o período Piracema.

Mas agora a operadora Belo Monte Norte Energia confronta essa decisão em uma notificação formal ao Ibama. A redução do volume de água para 10.900 metros cúbicos por segundo para a operação da barragem de Belo Monte não seria suficiente para garantir uma produção lucrativa de energia elétrica, segundo a revista IstoÉ Dinheiro. Segundo o relatório, essa objeção formal também foi encaminhada aos ministérios federais em Brasília. O relatório cita fontes segundo as quais está em risco não apenas a lucratividade da maior barragem de Belo Monte, mas também a da barragem menor de Pimental que fica a montante. Um dos outros argumentos do operador da barragem agora inverte o argumento da proteção dos peixes: Uma redução na quantidade de água a ser fornecida ao reservatório da barragem acarreta o risco de que os níveis de água impactem as áreas de lagoas fechadas em que os peixes então capturados morreriam ou ficariam impossibilitados de realizar a tão importante desova, afirma IstoÉ Dinheiro. Um aumento abrupto do fluxo de água em Pimental também acarreta o risco de uma formação repentina de inundação na Volta Grande, o que significa inundação e destruição de propriedades e posses das pessoas, bem como uma ameaça à flora e fauna. 

O conflito chegará ao ápice. Como se nada disso tivesse sido avisado com antecedência

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Este artigo foi escrito originalmente em alemão e publicado pela Kooperation Brasilien [Aqui!].

Especialista internacional em segurança de barragens reprova projeto técnico apresentado pela Belo Sun para a mineração de ouro em Belo Monte

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A pedida da Rede Xingu +, o especialista em segurança de barragens, Steven Emerman, preparou um relatório sobre os possíveis impactos do rompimento da barragem de rejeitos que a mineradora canadense Belo Sun pretende construir para conduzir a mineração de ouro em Volta Grande na região de Belo Monte (ver figura abaixo).

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O convite a Steven Emerman se justifica pelo fato dele ser um especialista com alta experiência internacional,possuindo um PhD em Geofísica pela Universidade Cornell, e 31 anos de experiência no ensino de hidrologia e geofísica, com 66 publicações revisadas por pares nessas áreas. O Dr. Emerman é atualmente o proprietário da Malach Consulting, especializada em avaliar os impactos ambientais da mineração para empresas de mineração, bem como organizações governamentais e não-governamentais.”

Em seu relatório, o Dr. Emerman aponta que a Belo Sun Mining  está propondo que o armazenamento permanente de 35,43 milhões de metros cúbicos de rejeitos de minas e água seja realizado em uma barragem de rejeitos de 44 metros de altura às margens do Rio Xingu.

Mas após avaliação criteriosa da proposta da Belo Sun,  o Dr. Emerman conclui que “a reciclagem do lixiviado de cianeto entre o reservatório de rejeitos e a planta de processamento de minério tem o potencial de enriquecer a água de rejeitos em antimônio, arsênico e mercúrio“. Além disso, Steven Emerman concluiu que a “barragem não foi desenhada com nenhum critério de segurança sísmica e sem estudo de sismicidade local ou regional. No provável cenário de falha, o fluxo inicial de rejeitos cobriria 41 km com impacto significativo na terra indígena Arara de Volta Grande do Xingu“.

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Um dos fatores considerados pelo Dr. Emerman em suas análises sobre a viabilidade técnica do projeto técnico apresentada pela Belo Sun se refere à análise da estrutura geológica na região próxima ao empreendimento, onde ficou demonstrada a presença de falhas geológicas que poderiam ter influência na ruptura da barragem de rejeitos (ver figura abaixo).

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Com base em suas análises acerca da proposta apresentada pela Belo Sun, o Dr. Emerman concluiu que:

  • 1) O uso do reservatório de rejeitos para captura do escoamento superficial é contrário à  tendência do setor de mineração de reduzir a água armazenada nos reservatórios de rejeitos, a fim de reduzir tanto a probabilidade e quanto as consequências da falha da barragem.
  • 2) A barragem de rejeitos não foi desenhada para nenhum critério de segurança sísmica, violando os regulamentos brasileiros das barragens de rejeitos.
  • 3) Não houve estudo da sismicidade local ou regional, embora falhas geológicas cruzadas tenham sido mapeadas no local da barragem de rejeitos proposta, o que também viola os regulamentos brasileiros das barragens de rejeitos.
  • 4) A reciclagem do lixiviado de cianeto pode resultar em água de rejeitos altamente enriquecida em antimônio, arsênico e mercúrio.
  • 5) No cenário mais provável da falha de barragem (liberação de 28% dos rejeitos armazenados), o fluxo inicial de rejeitos cobriria 41 quilômetros ao longo do rio Xingu, com impacto significativo na terra indígena Arara de Volta Grande do Xingu. No pior cenário (liberação de 100% dos rejeitos armazenados), o fluxo inicial cobriria 98 quilômetros ao longo do rio Xingu. Após o evento inicial, processos fluviais normais transportariam os rejeitos para o rio Amazonas e para o oceano Atlântico.
  • 6) Não há planos para o fechamento seguro da barragem de rejeitos, exceto a drenagem da água livre para um lago de contenção de água.
  • 7) A probabilidade anual de falha da barragem de rejeitos seria de pelo menos 0,5%, o que é inaceitavelmente alta.
    8) Embora a Belo Sun tenha declarado aos investidores que abandonarão o plano atual de armazenamento de rejeitos úmidos em favor de rejeitos filtrados, ainda existem desafios técnicos significativos para o armazenamento de rejeitos filtrados em áreas com alta precipitação.
  • 9) É inquietante que a  Belo Sun tenha fornecido as informações contraditórias  sobre seu plano de armazenamento de rejeitos aos investidores e às autoridades reguladoras brasileiras.

Com base em todas essas observações, o Dr. Emerman recomendou que “com base na alta probabilidade de falha da barragem de rejeitos proposta, o Projeto de Ouro Volta Grande deve ser rejeitado pelas autoridades reguladoras brasileiras sem consideração
adicional” E adicionou ainda que o simples “fornecimento de informações conflitantes aos investidores e às autoridades reguladoras brasileiras deve ser motivo suficiente para rejeição“.

Quem desejar ler a íntegra do relatório do Dr. Emerman em inglês pode clicar [Aqui!] ou em português [Aqui!].

The Guardian revela que erro de projeto poderá levar a desastre devastador em Belo Monte

Projeto de Belo Monte tem erro de design e ‘representa séria ameaça à vida’

A Norte Energia enfrenta a escolha de enfraquecer a barreira de 14 km ou potencialmente devastar um hotspot de biodiversidade

Por Jonathan Watts de Belo Monte 

O maior projeto hidrelétrico construído na Amazônia brasileira tem uma falha de design que representa uma ameaça “muito séria” à vida humana e a ecossistemas de importância global, de acordo com documentos e testemunhos de especialistas recebidos pelo jornal “The Guardian”.

Os estudos sugerem que os engenheiros não conseguiram antecipar o impacto da escassez de água na barragem de Pimental, em Belo Monte, que foi fechada e transformada em barreira. Isso está forçando os operadores a escolher entre um enfraquecimento estrutural da barreira de terra compactada de 14 km de largura e uma realocação de água no reservatório ou no Rio Xingu, que abriga comunidades indígenas, aldeias de pescadores e algumas das mais ameaçadas do mundo. espécies.

Um analista disse que havia risco de ruptura e, mesmo antes da publicação do relatório, os promotores federais estavam se preparando para pedir a suspensão do projeto. Eles também pretendem apelar ao governo brasileiro por ajuda humanitária de emergência para apoiar populações ribeirinhas que sofreram um declínio devastador da população de peixes dos quais dependem para nutrição e renda.

Após décadas de resistênciae R$ 40 bilhões  (8 bilhões de dólares) em investimentos, a quarta maior usina hidrelétrica do mundo deve ter a última de suas 18 turbinas instaladas este mês, mas os níveis de água abaixo do previsto nos reservatórios da barragem criaram um imprevisto problema estrutural, além de preocupações ambientais, sociais e econômicas de longa data.

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O “The Guardian” e o El País  tiveram acesso a um relatório recente da Norte Energia alertando que a queda nos níveis de água nas últimas semanas expôs uma seção vulnerável da parede da barragem de Pimental, separada da barreira que abriga a maioria das turbinas, a ondas que às vezes se formam durante tempestades tropicais ou ventos fortes soprando através do reservatório.

O documento de 11 de outubro – ação urgente para controlar o nível do reservatório da UHE Belo Monte Xingu – é assinado pelo CEO da Norte Energia e endereçado ao chefe da agência nacional de água. Ele afirma que o nível da água caiu no dia anterior para 95,2 metros críticos, o que representa um risco de que as ondas “atinjam áreas da barragem não protegida por rochas”. Ele pede permissão para mais água do reservatório intermediário, um movimento que colocaria mais pressão em uma hidrologia já tensa.

Após dois desastres mortais de barragens de rejeitos nos últimos anos em Brumadinho e Mariana, a situação incerta levou os especialistas a convidar as autoridades brasileiras a aumentar o monitoramento da barragem, tomar medidas corretivas e esclarecer a magnitude do risco para o público.

André Oliveira Sawakuchi, do Departamento de Geologia Sedimentar e Ambiental da Universidade de São Paulo, disse que não está claro se os danos estruturais podem ocorrer dentro de semanas, meses ou anos, mas o pedido de ação imediata do relatório sugeriu que a ameaça era muito séria.

Suas preocupações foram ecoadas por Francisco del Moral Hernandez, especialista em ciências da energia que coordenou um painel de especialistas em Belo Monte em 2009. “Sempre soubemos que esse projeto é ineficiente do ponto de vista da geração de energia. O que não imaginamos é a fraqueza da engenharia civil ”, afirmou. “Se eu estivesse morando a jusante da barragem, me mudaria para o rio … É absurdo que isso não estivesse previsto.”

belo 1Partes do rio Xingu já são praticamente inavegáveis. Foto: Fábio Erdos / The Guardian

O relatório diz que o problema surgiu como resultado de fluxos de água incomumente baixos no reservatório, com vários dias no início de outubro quando caiu para 750 metros cúbicos por segundo. Isso está substancialmente abaixo do mínimo de 1.000 metros cúbicos por segundo que os documentos de planejamento dizem ser necessário para garantir a qualidade da água nos reservatórios e descarga a jusante suficiente para garantir um ecossistema saudável, inclusive para um refúgio de tartarugas, e navegação de comunidades indígenas e ribeirinhas.

Hernandez e Sawakuchi disseram que os planejadores estavam otimistas demais, porque dados históricos mostraram que o rio Xingu estava mais baixo em pelo menos quatro ocasiões durante os 50 anos anteriores ao início da construção. Prevê-se que as mudanças climáticas cortem os fluxos de água em cerca de 30% até 2050. “É muito estranho que esses problemas não estivessem previstos”, disse Sawakuchi. “Os riscos estruturais são uma surpresa.”

O projeto de Belo Monte tem sido afetado por problemas desde o seu início, durante a era da ditadura militar brasileira. Comunidades indígenas e ribeirinhas se aliaram ao sistema de barragens, que bloqueia um dos maiores afluentes da Amazônia com 2,1 milhões de toneladas de concreto e 79,2 milhões de metros cúbicos de terra.

belo 2Um pescador local guarda peixes mortos que encontrou nas margens do rio Xingu, no estado do Pará, Brasil. 5 de novembro de 2019. Fotografia: Fábio Erdos / The Guardian

Ambientalistas e cientistas alertam que isso iria devastar um dos hotspots de biodiversidade mais exclusivos do mundo. Os economistas questionaram a viabilidade de um esquema pago com fundos de pensão e receita tributária, mas projetado para funcionar com apenas 40% de sua capacidade de 11.200 MW. Os promotores envolvidos na investigação de corrupção conhecida como “Lava Jato” descobriram que os empreiteiros de Belo Monte recebiam taxas inflacionadas em troca de propinas a partidos políticos.

 

Ativistas disseram que as autoridades ambientais emitiram uma licença para a barragem, apesar dos avisos científicos e das preocupações de sua própria equipe técnica. “À medida que os detalhes do escândalo de corrupção se desdobram, as motivações subjacentes a essas decisões imprudentes se tornaram abundantemente claras, bem como suas conseqüências trágicas”, disse Brent Millikan, da International Rivers.

belo 3Os níveis de água no rio Xingu já estão tão baixos que os habitantes locais precisam arrastar os barcos por algumas das áreas mais rasas. Foto: Fábio Erdos / The Guardian

Em uma pequena ilha no rio, mais de 50 moradores chegaram de barco na semana passada para testemunhar os problemas causados pela barragem. Além de aumentar a fome e diminuir a renda, vários disseram que sofreram depressão como resultado do súbito colapso da paisagem ribeirinha com a qual cresceram. “Tudo está piorando”, disse Sarah Rodrigues de Lima. “Eu pesco aqui há 35 anos, mas todos os peixes fugiram. O rio está secando.

Outros descreveram como costumavam capturar o Filhote, uma das espécies mais apreciadas do rio, pesando mais de 100 kg antes da barragem, mas agora raramente capturam um dos 20 kg. O próximo ano será ainda pior. Este será o início de um novo sistema de gestão da água que priorizará a barragem e o ecossistema em anos alternados. Mesmo no seu melhor cenário, a volta grande terá menos água de pico das chuvas do que durante a seca severa de 2016, que matou tantos peixes que os habitantes locais chamam de “ano do fim do mundo”.

O novo sistema “transformará o rio em cemitério”, disse Cristiane Costa, bióloga que trabalha no escritório do promotor público. “Eles estão gerando energia às custas do ecossistema e das pessoas.”

O aquecimento global aumentará a luta pela água. O governo, no entanto, quer mais exploração dos recursos da Amazônia. O presidente do Brasil, Jair Bolsonaro, que planeja participar da cerimônia de conclusão de Belo Monte, enfraqueceu as proteções ao meio ambiente e às comunidades indígenas. Os políticos locais o instarão a avançar com outro megaprojeto na volta grande, uma nova mina de ouro gigante chamada Belo Sun, que seria movida pela barragem.

A Norte Energia afirmou em comunicado que “cumpre rigorosamente” as condições de sua licença ambiental. A agência nacional de água e o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis não responderam ao pedido de comentário do  “The Guardian”.

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Este artigo foi publicado originalmente em inglês pelo jornal britânico “The Guardian” [Aqui!].

Belo Sun vai se pondo no brejo

Maior investidor do empreendimento canadense de exploração de ouro no rio Xingu abandona o projeto e vende todas as ações

No dia 20 de abril, a Agnico Eagle Miners, maior investidora da mineradora canadense Belos Sun Mining Corp, anunciou a venda da sua fatia de 19,14% de ações da empresa.

Belo Sun quer construir a maior mina de ouro a céu aberto do Brasil na Volta Grande do Xingu, o coração da Amazônia já atingido letalmente pela hidrelétrica de Belo Monte.

Operando desde 1953, a Agnico é considerada uma das empresas mais sólidas do setor de mineração de ouro no Canadá. Em 2016, investiu 15 milhões de dólares canadenses em Belo Sun, que no mesmo ano recebeu sua primeira licença ambiental.

No final de 2017, em resposta ao volume crescente de denúncias de violações de direitos das populações ameaçadas – indígenas, ribeirinh@s, pescador@s, agricultor@s – e de ações judiciais da defensoria e do ministério público, a Justiça Federal cancelou a licença de instalação do projeto e exigiu que a empresa fizesse uma consulta prévia às comunidades Juruna e Arara que serão afetados pela mina.

Uma semana antes de sua assembleia de acionistas, a Agnico também cancelou sua participação em Belo Sun.

A mina de Belo Sun na Volta Grande do Xingu é questionada pelo Ministério Público Federal, Conselho Nacional de Direitos Humanos, Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), Fundação Nacional do Índio, Defensoria pública da União, Defensoria Pública do Estado do Pará, acadêmicos e pesquisadores da Universidade Federal do Pará, movimentos sociais da Volta Grande, e mais de 750 mil signatários de todo mundo que subscreveram a petição da AVAAZ contra a mineradora e seus investidores.

Belo Sun foi acusada de aquisição irregular de terras e promoção de conflitos fundiários. Foi acusada de violar os direitos indígenas e moradores na região do Projeto de Assentamento (PA) Ressaca. Teve cobertura negativa da imprensa de todo o mundo. Está envolta em insegurança jurídica, em protestos sociais e ambientais, em litígios jurídicos e em maledicências.

“Nós não aceitamos Belo Sun na nossa região. Nem na nossa região nem no Brasil. Que essa empresa canadense deixe o que é nosso!”, afirmou a liderança indígena Bel Juruna durante ato no Rio de Janeiro em 2017.

Agnico Eagle Mines vendeu seus 19.14% de Belo Sun para a própria Belo Sun, que emprestou 10 milhões de dólares a quatro de seus diretores para comprá-las, na tentativa de evitar maior desvalorização.  Que não seja bem-sucedida!

Falta agora:
Sun Valley Gold se desfazer de seus 16.33%

Sun Valley Gold Master Fund se desfazer de seus 10.44%
RBC Global Asset Management se desfazer de seus 6.98%
1832 Asset Management se desfazer de seus 6.46%

e

O Rio Xingu e seu povo se desfazerem de 100% de Belo Sun. Que nos deixe e deixe o que é nosso!

Movimento Xingu Vivo para Sempre, Rio Xingu, abril de 2018 

Para Saber mais
Estudo: As Veias Abertas da Volta Grande do Xingu – uma análise dos impactos da mineradora Belo Sun sobre a região afetada por Belo Monte
Video: O que fazer quando o ladrão chegar

Mais informações: 93 3515-9089, Xingu Vivo para Sempre

FONTE: http://www.xinguvivo.org.br/2018/04/24/belo-sun-vai-se-pondo-no-brejo/