Brasil continua a vender Clorpirifós, agrotóxico banido nos EUA, e que foi ligado a diminuição do QI de crianças

Banido recentemente dos EUA, Europa e Argentina, inseticida clorpirifós continua na lista dos mais vendidos no Brasil. Não há data para revisão

iq children

Por Pedro Grigori – Agência Pública/Repórter Brasil 

Em agosto deste ano, os Estados Unidos baniram o uso do inseticida clorpirifós depois que estudos apontaram problemas causados por este agrotóxico à saúde humana, entre eles a queda do QI de crianças. Em menos de um ano, o mesmo produto já havia sido banido pela União Europeia e Argentina.

No Brasil, contudo, o produto segue entre os cinco mais utilizados, com mais de 10 mil toneladas vendidas em 2019, segundo dados do Ibama. O clorpirifós é um dos campeões, ainda, na detecção de quantidades irregulares nos testes feitos em supermercados e na água que abastece centenas de municípios.

Clorpirifos(Imagem: Divulgação/Villa Verde Agro)

Apesar das evidências internacionais, o brasileiro deve seguir consumindo esse inseticida por muitos anos. Até o momento, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) não iniciou os estudos de reavaliação do registro do Clorpirifós. Esse é o principal mecanismo que pode banir um agrotóxico no país. Após iniciado, o processo pode perdurar por mais de uma década. A reavaliação do Glifosato, por exemplo, começou em 2008 e só foi concluída em 2020.

Perigo para fetos, crianças e trabalhadores rurais

Poucos brasileiros já devem ter ouvido falar do inseticida clorpirifós, mas é bem possível que uma grande parcela da população já tenha consumido algum alimento que contenha este agrotóxico. O produto é usado em diversas plantações, como algodão, batata, café, cevada, citros, feijão, maçã, milho, pastagens, soja, sorgo e trigo. Faz parte da classe dos organofosforados, um grupo químico que causa envenenamento por colapso do sistema nervoso dos insetos. 

Os pontos principais para a proibição nos Estados Unidos foram estudos que identificaram que o clorpirifós está associado a potenciais efeitos neurológicos em crianças. 

Um estudo de 2012 da Universidade de Columbia, analisou um grupo de 40 crianças de até 11 anos que foram expostas ao clorpirifós durante a gravidez. Quanto maior foi o nível de exposição, menor era o tamanho do córtex cerebral delas. O estudo identificou que quando essas crianças chegaram aos três anos de idade, elas passaram a apresentar uma série de deficiências motoras e cognitivas, sendo a mais comum o transtorno de déficit de atenção e hiperatividade (TDAH). Ao chegarem aos sete anos, constatou-se a redução do QI. 

A toxicologista e pesquisadora da Fiocruz Karen Friedrich explica que os efeitos tóxicos do clorpirifós vêm sendo estudados há décadas, e os alertas sobre os riscos não são mais uma novidade. “Os organofosforados têm um efeito bastante conhecido sobre o sistema nervoso, levando tanto a efeitos agudos, sentindo logo após a utilização e que causam consequências aos trabalhadores rurais, quanto consequências que aparecem a longo prazo”, diz. “Também já temos estudos sobre os danos do clorpirifós sobre o sistema hormonal, e de problemas no desenvolvimento de crianças que são expostas a essa substância quando ainda estão no útero ou no começo da vida”, completa. 

No Brasil, existem pelo menos 26 marcas comerciais de agrotóxicos formulados a partir do Clorpirifós. De acordo com a plataforma Agrofit, do Ministério da Agricultura, empresas como a Ouro Fino, FMC, Tradecorp, Nortox, Rainbow, Adama, Dow Agrosciences e Albaugh têm registros para vender o produto no país. 

tomatesForam encontrados resíduos de clorpirifós em 10% das amostras de tomate analisadas pelo Para da Anvisa. O uso desse inseticida não é permitido para culturas de tomate (Foto: Steve Buissinne/Pixabay)

Segundo o administrador da agência ambiental americana (Environmental Protection Agency), Michael Regan,  a decisão de banir o clorpirifós segue a ciência e “colocará a saúde e a segurança em primeiro lugar”. “Hoje a EPA está dando um passo atrasado para proteger a saúde pública. Acabar com o uso de clorpirifós nos alimentos ajudará a garantir que as crianças, os trabalhadores agrícolas e todas as pessoas fiquem protegidos das consequências potencialmente perigosas deste pesticida”, afirmou em um comunicado à imprensa. 

A primeira empresa a registrar o Clorpirifós foi a Dow Chemical Company em 1965. Após uma série de fusões, a Dow chama-se hoje Corteva Agriscience. Em fevereiro de 2020, a empresa decidiu que retiraria inseticidas formulados à base de Clorpirifós do mercado estadunidense, alegando baixa comercialização das marcas. Mesmo assim, a companhia defendeu a segurança do produto. “Embora a Corteva Agriscience não produza mais o clorpirifós, a empresa defende a segurança do produto e seu valor para os produtores”, disse em nota à Agência Pública e Repórter Brasil.

Sobre a proibição definida pela agência ambiental, a empresa diz que a ação remove uma ferramenta importante para os agricultores. “Enquanto a Corteva continua a revisar o pedido, entendemos que a justificativa usada pela Agência é inconsistente com o banco de dados completo e robusto de mais de 4 mil estudos e relatórios que examinaram o produto em termos de saúde, segurança e meio ambiente”, pontuou em nota. A Corteva também afirmou que não vende mais produtos à base de clorpirifós no Brasil. 

Anvisa não vai priorizar reavaliação

Em nota, a Anvisa respondeu que as proibições em outros países são critérios considerados na construção da lista de prioridades para a reavaliação no Brasil. Mas que, “atualmente, com as evidências técnicas disponíveis não se faz pertinente uma nova priorização” do clorpirifós na lista de reavaliação. A agência afirma também que a reavaliação do produto, que ocupa a quarta posição na lista de prioridades, já está sendo iniciada, de forma que o clorpirifós deve ser submetido em breve ao processo. Mas não há data prevista. 

O pesquisador da Fiocruz e da Associação Brasileira de Saúde Coletiva (Abrasco), Luiz Cláudio Meirelles, que foi gerente-geral da Anvisa, conta que quando trabalhou na agência, em 2008, alguns organofosforados foram reavaliados. “O grupo dos organofosforados, em geral, apresentam alta toxicidade. São bastante neurotóxicos, além de terem efeitos crônicos a longo prazo, por isso, durante a primeira década dos anos 2000, se discutiu bastante o banimento dessas substâncias”, diz.

Ele recorda que, há vinte anos, o clorpirifós já estava na fila para ser reavaliado, pois naquela época já se tinha evidências semelhantes às que embasaram as decisões norte-americanas de hoje. “A agência reguladora dos Estados Unidos começou a questionar o clorpirifós em 2006, em uma decisão que se arrastou até algumas semanas atrás”, completa Luiz Cláudio. 

Os agrotóxicos organofosforados são muito utilizados no Brasil e no mundo, e por isso recebem apoio da indústria para mantê-los no mercado. “A ideia é que o Brasil fosse mais ágil nas reavaliações, mas é um debate bastante difícil com o setor regulado. Na época do metamidofós enfrentamos bastante pressão, foi um banimento muito discutido, com recomendações das empresas para que o produto fosse mantido no mercado, algo semelhante ao que ocorreu recentemente com o paraquate. O metamidofós foi banido em 2011, e a partir daí aumentou o uso do clorpirifós, que foi usado para substitui-lo”, conta Luiz. 

Sobre a demora no processo de reavaliação, Luiz Cláudio opina que o Brasil poderia adotar proibições de agências reguladoras parceiras. No começo de 2020, o Ministério da Agricultura tentou uma medida que percorria a lógica inversa: publicou uma portaria que autorizava a aprovação tácita de agrotóxicos — quando um produto não fosse aprovado em até 60 dias, ele receberia a liberação automática caso já fosse liberado por reconhecidas agências reguladoras internacionais. A portaria foi derrubada pelo Supremo Tribunal Federal. 

“Eles apoiam a ideia para liberações, mas não aprovam para banimentos, pois sabem que grande parte dos agrotóxicos mais vendidos no Brasil já são proibidos internacionalmente. E a saúde do povo do brasileiro não é superior a do europeu ou do norte-americano, ao contrário, nosso país vive uma vulnerabilidade social muito maior que esses países”, explica. 

Grande persistência no meio ambiente 

Além de causar problemas de saúde, o clorpirifós é uma substância que demora décadas para ser degradada no meio ambiente. Por isso, o produto foi adicionado à lista da Rede de Ação contra Agrotóxicos (PAN, na sigla em inglês) com a classificação de Altamente Perigoso (highly hazardous pesticides, na sigla em inglês, conhecidos como HHPs).

Exames laboratoriais feitos pelo Governo Federal comprovaram a persistência da substância. O clorpirifós foi um dos destaques negativos da última edição do Programa de Análise de Resíduos de Agrotóxicos em Alimentos (Para) feito pela Anvisa. A agência fez análises laboratoriais em 4.616 amostras de 14 alimentos de origem vegetal vendidos em supermercados e feiras do Brasil. 

Embora o clorpirifós tenha sido o 13º agrotóxico mais identificado como um todo, ele foi o segundo que mais apareceu em situação irregular. A Anvisa identificou resíduos do produto em 198 amostras de alimentos para os quais seu uso nunca foi autorizado. Entre eles, o inseticida apareceu em goiabas, laranjas, pimentões, tomates e outros. 

A pesquisadora da Fiocruz, Karen Friedrich explica que uma das principais explicações para isso é a questão econômica. “O clorpirifós é uma molécula mais antiga, que já perdeu a patente e é mais barata. Geralmente esses produtos acabam sendo utilizados em culturas que não são autorizadas por questões econômicas. Isso demanda uma estrutura de estado mais fortalecida e que possa fiscalizar e dar orientações técnicas do uso de forma geral”, diz. 

A Anvisa informou à reportagem que a partir do resultado das análises do clorpirifós na última edição do programa que testa os alimentos, a agência realizou a avaliação do risco dietético nos alimentos infectados e não observou risco crônico ou agudo para a saúde dos consumidores. “Todavia, ressalta-se que a partir dos resultados da próxima reavaliação toxicológica, o cenário atual do ingrediente em tela poderá ser alterado”, disse em nota.

E não é apenas em alimentos que o clorpirifós foi detectado, ele apareceu também no mapa da água. Trata-se de uma investigação conjunta da Repórter Brasil, Agência Pública e da organização suíça Public Eye que obteve dados do Sistema de Informação de Vigilância da Qualidade da Água para Consumo Humano (Sisagua) do Ministério da Saúde e descobriu uma mistura de diferentes agrotóxicos na água que abastece um em cada quatro cidades do Brasil entre 2014 e 2017.

O clorpirifós foi identificado em 91% das amostras analisadas — 24.904 detecções de 27.493 testes feitos em todo o país. Trata-se do oitavo agrotóxico mais identificado na água que abastece os municípios brasileiros.

pimentão Foram encontrados resíduos de clorpirifós em 18% das amostras de pimentão analisadas pelo Para da Anvisa. O uso desse inseticida não é permitido para culturas de pimentão (Foto: Steve Buissinne/Pixabay)

Karen da Fiocruz teme que as proibições no exterior façam o Brasil aumentar ainda mais o uso do clorpirifós, como acontece com diversas outras substâncias que são banidas na Europa, e acabam sendo descarregadas no Brasil por multinacionais. Além disso, assim como ocorreu com o Paraquate, os agricultores podem criar estoques do produto para continuar usando após a proibição. 

A pesquisadora critica também a falta de transparência e dados mais específicos sobre a comercialização de agrotóxicos como o clorpirifós no Brasil, trabalho que atualmente é realizado pelo Ibama. “Seria importante termos dados de comercialização dos agrotóxicos por município e por cultura. Com isso, o Ministério Público poderia fazer ações de vigilância dessas formulações. A comunidade científica poderia realizar pesquisas independentes para identificar, por exemplo, a quantidade do uso de um agrotóxico como o clorpirifós  em uma região que apresenta um alto número de casos de doenças que a literatura científica já relacionou com essa substância”, explica. 

Esta reportagem faz parte do projeto Por Trás do Alimento, uma parceria da Agência Pública e Repórter Brasil para investigar o uso de agrotóxicos. Clique para ler a cobertura completa no site do projeto.

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Este texto foi inicialmente publicado pela Repórter Brasil [Aqui!].

Clorpirifós, agrotóxico associado a danos cerebrais em crianças, deverá ser finalmente banido nos EUA

Um tribunal  dos EUA decidiu que a EPA deve banir o polêmico agrotóxico clorpirifós – ou provar sua segurança

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tractor spraying pesticides on soy bean

Este artigo foi produzido por Earth | Food | Life , um projeto do Independent Media Institute.

Um tribunal federal de apelações decidiu que, a menos que a Agência de Proteção Ambiental (EPA) possa provar que o agrotóxico clorpirifós é seguro, ele deverá ser banido nos EUA. O produto químico, que tem sido amplamente utilizado em plantações agrícolas há mais de 50 anos, tem sido associado a problemas de desenvolvimento neurológico em crianças, com evidências crescentes que implicam seu papel no autismo, TDAH, motor e perda de QI.  Na decisão 2 para 1 de 29 de abril, os juízes do Tribunal de Apelações dos EUA para o 9º Circuito deram ao governo federal 60 dias para rescindir todos os usos de clorpirifós relacionados a alimentos ou para mostrar evidências de que, em certos casos, é seguro para a saúde pública.

Na opinião da maioria no caso  Liga dos Cidadãos da América Latina Vs. Regan , que foi arquivado em 2007, o juiz Jed Rakoff, nomeado por Clinton, escreveu: “[A] EPA passou mais de uma década reunindo um registro de clorpirifós efeitos nocivos e determinou repetidamente, com base nesse registro, que não pode concluir, de acordo com o padrão exigido por lei de certeza razoável, que as tolerâncias atuais não estão causando nenhum dano ”, acrescentando que“ o atraso flagrante da EPA expôs uma geração de crianças americanas ao risco níveis de clorpirifós. ” Rakoff foi acompanhado pela juíza Jacqueline Nguyen, uma nomeada por Obama.

“No entanto, em vez de banir o agrotóxico ou reduzir as tolerâncias a níveis que a EPA pode considerar que não causam danos,  o órgão ambiental procurou fugir, por meio de uma tática de adiamento após a outra, de seus deveres estatutários simples ”, escreveu Rakoff no parecer, no qual quase não exigiu que a agência proibisse o produto químico, mas deixou pouco espaço para mantê-lo no mercado. “A EPA deve agir com base nas evidências e deve revogar ou modificar imediatamente as tolerâncias ao clorpirifós.” Mulheres grávidas e seus fetos, crianças pequenas e trabalhadores rurais estão particularmente sob risco de clorpirifós , que foi registrado pela primeira vez para uso em 1965.

“Existem vários estudos que mostram que a exposição ao clorpirifos no útero prejudica o desenvolvimento do cérebro das crianças”,  disse o  Dr. Warren Seigel, presidente da Academia Americana de Pediatria do Estado de Nova York. “A ciência é clara e este agrotóxico deveria ter sido proibido anos atrás.”

A decisão “praticamente garante ” que a EPA revogará os pedidos de clorpirifós relacionados a alimentos, de acordo com o juiz dissidente Jay Bybee, nomeado por George W. Bush, que  argumentou  que seus colegas superaram e “interpretaram mal” as obrigações da agência de revisar usos específicos de o produto químico que havia determinado anteriormente era seguro. Ele criticou a maioria, dizendo que ela “substituiu a decisão da EPA por seu próprio julgamento”.

A EPA está revisando a decisão,  dizendo  em um comunicado que a agência está “comprometida em ajudar a apoiar e proteger os trabalhadores agrícolas e suas famílias, garantindo que os pesticidas sejam usados ​​com segurança na agricultura do país.  A EPA continuará a usar ciência sólida no processo de tomada de decisão sob a Lei Federal de Inseticidas, Fungicidas e Rodenticidas ”(FIFRA).

A decisão veio quase dois anos depois que o governo Trump  rejeitou  uma proposta de proibição da era Obama do polêmico agrotóxico, mantendo-o no mercado apesar de apelos contra seu uso contínuo por grupos de saúde pública e ambientalistas. A decisão da Trump EPA, tomada em julho de 2019, foi um grande presente para a Dow Chemical, fabricante do agrotóxico, no que pareceu um ato de troca. Em 6 de dezembro de 2016, menos de um mês após a eleição de Trump, o gigante agroquímico doou US $ 1 milhão para seu comitê inauguralEntão, em 17 de janeiro de 2017, apenas três dias antes de Trump ser empossado no Salão Oval, a Dow entrou com uma petição junto à EPA para rejeitar a proposta da era Obama de banir o agrotóxico. Em 29 de março de 2017, o então administrador da EPA, Scott Pruitt, anunciou sua decisão de cancelar a proibição proposta.

“Isso é o que sabemos agora é o modus operandi de Trump e seu EPA: corrupção expressa como política”, disse Ken Cook, presidente do Grupo de Trabalho Ambiental sem fins lucrativos, após a decisão de Pruitt. “Trump e seus nomeados políticos na agência mostram quase todos os dias que não estão lá para proteger a saúde dos americanos, mas para atender aos caprichos dos poluidores. Se você está procurando por evidências de conluio corrupto com interesses sinistros, aqui está tudo à vista. ”

Que diferença faz uma nova administração. Em seu primeiro dia no cargo, o presidente Joe Biden  assinou  uma ordem executiva instruindo a EPA a revisar a decisão do governo Trump de negar a petição de 2007 para banir o clorpirifós relacionado a alimentos. É improvável que a Biden EPA se oponha à decisão do tribunal de apelação.

Grupos ambientais e de trabalhadores agrícolas aplaudiram a decisão do tribunal. “Hoje, comemoramos esta grande vitória ao lado dos homens e mulheres que colhem nossos alimentos, que esperaram muito pelo banimento deste agrotóxico”,  disse  Teresa Romero, presidente da United Farm Workers, em um comunicado. “Estamos aliviados que os trabalhadores agrícolas e suas famílias não terão mais que se preocupar com a miríade de maneiras como este pesticida pode impactar suas vidas.”

A decisão poderia chamar mais atenção para os riscos para a saúde pública e para o meio ambiente de outros agrotóxicos prejudiciais, como os neonicotinóides, que são mortais para as abelhas e outros polinizadores essenciais para a polinização das culturas. Friends of the Earth, uma organização sem fins lucrativos, lançou uma  petição pública  instando os americanos a dizerem a seus representantes no Congresso para co-patrocinar a  Lei de Proteção às Crianças da América contra agrotóxicos , introduzida em 2020 pelo Senador Tom Udall (DN.M.) e Rep. Joe Neguse (D-Colorado).

O projeto visa fortalecer a autoridade da EPA sob a FIFRA para regular a distribuição, venda e uso de agrotóxicos, e banir alguns dos produtos mais tóxicos usados ​​em todo o país, incluindo todos os neonicotinóides, organofosforados (uma classe de inseticidas à base de fósforo que inclui clorpirifós ) e o paraquat, um herbicida que tem sido associado a  danos renais, hepáticos e respiratórios e que já foi  proibido em 32 países .

Os agrotóxicos são mesmo necessários? Alguns especialistas acreditam que, embora haja compensações óbvias na pulverização de produtos químicos tóxicos nas plantações, o uso adequado de agrotóxicos pode, na verdade, proteger algumas partes do meio ambiente. Os agrotóxico “nos permitem maximizar a produção na menor área de cobertura de terra. Isso é chamado de ‘economia de terra’ ”,  disse Tim Durham, professor de agronomia e ciências agrícolas no Ferrum College em Ferrum, Virginia. “Se decidíssemos [renunciar] aos agrotóxicos, precisaríamos nos apropriar de um pedaço de terra muito maior para fazer o mesmo trabalho e ter a terra mais biodiversa e em risco”. Durham, que também faz parte da fazenda de vegetais de sua família em Long Island, Nova York, acrescenta: “Os agrotóxicos fornecem alguma medida de previsibilidade no mundo da agricultura, de outra forma imprevisível, ajudando a estabilizar os preços das commodities e mantendo os preços baixos no corredor dos supermercados.”

No entanto, alguns defensores da agricultura orgânica, que está comprometida com zero agrotóxicos, ou uso limitado de agrotóxicos de acordo com os padrões do Programa Orgânico Nacional, dizem que a agricultura industrial convencional que depende fortemente do uso de produtos químicos não é necessária para alimentar a população mundial.

“O mito de que os alimentos orgânicos não podem alimentar o mundo não é apenas errado, é totalmente contraproducente”, de  acordo com o Rodale Institute, uma organização sem fins lucrativos com sede em Kutztown, Pensilvânia, que apóia a pesquisa em agricultura orgânica. “Orgânico pode competir com os rendimentos convencionais e superar o convencional em clima adverso. Os pequenos agricultores que usam métodos orgânicos têm enorme potencial para expandir a produção global de alimentos. E apenas os métodos orgânicos regeneram ativamente os recursos e protegem o meio ambiente da poluição e dos resíduos tóxicos. Para um futuro saudável, não podemos pagar por nada menos. ”

fecho

Este artigo foi escrito originalmente em inglês e publicado pela “Nation of Change” [Aqui! ]. 

A Portaria 43 escancara as portas de entrada para agrotóxicos perigosos no Brasil

agrotóxicos 1Com a Portaria Nº 43, o governo Bolsonaro escancara as portas do mercado brasileiro para agrotóxicos altamente perigosos banidos em outras partes do mundo

O governo Bolsonaro quebrou em 2019 um recorde histórico na aprovação de agrotóxicos no Brasil, muitos deles banidos em outras partes do mundo por serem altamente perigosos para a saúde humana e para o ambiente. Não contente com essa volúpia para aprovar substâncias com alto poder de contaminação, o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA), sob o comando da ministra Tereza Cristin, a resolveu escancarar de vez as portas que precariamente limitavam a entrada de novos (nem tão novos assim, é preciso que se frise) com a promulgação da Portaria Nº 43 no dia 21 de fevereiro

Por meio da Portaria Nº 43  fica determinado que o tempo limite de análise de agrotóxicos e substâncias afins será de minguados 60 dias, sob pena de aprovação automática, independente do grau de periculosidade oferecido pelo produto aprovado. Como um dos alvos do atual governo tem sido justamente a redução de pessoal disponível para trabalhar nesse tipo de avaliação, os termos da Portaria Nº 43 equivalem a um cheque branco para que as multinacionais que produzem venenos agrícolas dirijam para o Brasil todos os produtos para os quais os mercados estão sendo fechados em outras partes do mundo.

Vejamos por exemplo o caso do Clorpirifós que está tendo o seu futuro colocado em xeque até nos EUA após uma decisão da Corteva (divisão agrícola criada após a  fusão da Dow com a DuPont) de suspender até 2021 a produção de dois defensivos agrícolas com este ingrediente ativo.  Dentre os problemas atribuídos ao Clorpirifós estão o baixo peso no nascimento, QI reduzido e distúrbios de atenção. Esse corolário de doenças que afetam principalmente crianças levou a proibição do Clorpirifós pela União Europeia e em vários estados dos EUA. Mas apesar de toda a maré existente contra o Clorpirifós apenas em 2019 o governo Bolsonaro liberou a incrível quantidade de 14 agrotóxicos contendo este princípio ativo, transformando o Brasil em uma espécie de porto seguro para uma substância que está sendo banida em quase todo o mundo.

Como já apontei anteriormente aqui neste blog, a tendência manifesta do Brasil de se transformar em uma espécie de último refúgio para agrotóxicos banidos em outras partes do mundo faz a alegria das corporações que produzem venenos agrícolas. O fato é que estas empresas poderão estender a vida útil de produtos indesejados em seus países de origem, nem que isto acarrete graves consequências para a população brasileira e o nosso meio ambiente. Mas cada centavo de lucro que essas empresas terão, o Brasil terá de gastar outros tantos com o custeio de serviços de saúde para os trabalhadores agrícolas que estão sendo contaminados pelo contato com essas substãncias.

Por isso é fundamental que a edição da Portaria Nº 43 não seja empurrada para debaixo do tapete sob a excusa de que precisamos nos concentrar na defesa da democracia brasileira que estaria sendo ultrajada pelo presidente Bolsonaro. O fato é que não há mais nada ultrajante para a nossa frágil democracia do que a transformação do Brasil em um porto seguro para agrotóxicos banidos até nos países onde são fabricados.

Estado de Nova York determina banimento de Clorpirifós. Já no Brasil, consumo deverá aumentar

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A notícia abaixo é daquelas que se pode ser considerada como auspiciosa, na medida em que o mercado e a legislação dos EUA são normalmente considerados pró-indústria dos venenos agrícolas.  Assim, a decisão de banir um produto não apenas decorre de intensas pressões, mas também de complexos acordos dentro das legislaturas estaduais.

Há que se lembrar que em relação ao Clorpirifós, o banimento foi determinado em apenas dois estados (Nova York e Havaí), mas deverá ser seguido em outras regiões, especialmente na União Europeia onde este agrotóxico vem sendo submetido a análises quanto à pertinência da continuidade de seu uso em áreas agrícolas.

Já no Brasil, 6 novos produtos técnicos contendo Clorpirifós foram autorizados para comercializados apenas na leva de 152 agrotóxicos liberados nos primeiros 100 dias do governo Bolsonaro, o que deverá aumentar substantivamente o número de agrotóxicos disponíveis no mercado nacional com este princípio ativo.

 

Nova York decide banir Clorpirifós por causa de seus efeitos negativos sobre a saúde humana

O Clorpirifós, ligado a deficiências intelectuais em crianças, será banido em 2021

agrotóxico

Albany, NY –  30 de Abril de 2019- Hoje, os legisladores aprovaram o projeto de lei Senado S5343 e o projeto de lei A2477B, que proíbe o Clorpirifós em Nova York. Esta é uma grande vitória para a saúde das crianças e coloca Nova York no caminho certo para se tornar, até 2021, o primeiro estado do país a acabar com o uso do Clorpirifós. O Havaí decretou a proibição em 2018, embora não tenha efeito até o final de 2022.

Dezenas de estudos mostram que a exposição ao Clorpirifós está associada a baixo peso ao nascer, redução do QI, distúrbios da atenção e atraso no desenvolvimento motor de bebês e crianças. A Agência de Proteção Ambiental (EPA) concluiu em 2016 que todos os usos de clorpirifos são inseguros, mas o EPA de Trump se recusa a proibir o pesticida apesar da ciência. O Clorpirifos, um organofosforado proveniente da mesma família química do gás nervoso sarin, é usado em culturas, tais como: maçã, cítricos, brócolis, milho e muito mais.

A declaração a seguir é de Tyler Smith, cientista da equipe da Earthjustice:

“Hoje, a Assembléia Legislativa de Nova York decidiu não esperar Donald Trump para proteger as crianças de um  agrotóxico que danifica o cérebro. Agradecemos à Assemblyman Englebright e ao senador Kaminsky por sua liderança essencial. ”

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Este artigo foi originalmente publicado pela “Earthjustice” [Aqui!]