Minerodutos: um cheque em branco para o desenvolvimento do país

“Minerodutos têm um único objetivo: acelerar o processo de expropriação e exportação do patrimônio mineral brasileiro”, diz o representante do Fórum Nacional da Sociedade Civil nos Comitês de Bacias Hidrográficas (Fonasc-CBH) de Minas Gerais.

Por Patricia Fachin,  Do IHU Online

Foto: Angro American/Visual Media

A tragédia com a barragem de rejeito da Samarco, em Mariana, traz à tona a discussão sobre os impactos ambientais do uso de minerodutos para o transporte de minérios no país. Atualmente, dois complexos minerários com uso de minerodutos estão em funcionamento no Brasil: um é o “projeto consorciado das multinacionais Vale e BHP Billiton, por meio da Samarco, que explora as jazidas de Germano e Alegria nas cidades de Ouro Preto e Mariana”, e o segundo é “o projeto Minas-Rio – da corporação Anglo American –, propagandeado como responsável pela criação do ‘maior mineroduto do mundo’, que pretende explorar 12 km a céu aberto ao longo da Serra da Ferrugem – nos municípios de Conceição do Mato Dentro e Alvorada de Minas, no Médio-Espinhaço mineiro e no trecho alto da bacia do rio Santo Antônio (a sub-bacia de número 3 do rio Doce em Minas Gerais)”, diz Gabriel Ribeiro na entrevista a seguir.

Para analisar os impactos ambientais e sociais dos minerodutos, a IHU On-Line entrevistou, por e-mail, Gustavo Gazzinelli, representante do Fórum Nacional da Sociedade Civil nos Comitês de Bacias Hidrográficas – Fonasc-CBH de Minas Gerais, Gabriel Ribeiro, membro do Grupo de Estudos em Temáticas Ambientais da Universidade Federal de Minas Gerais, e Patrícia Generoso, da Rede de Articulação e Justiça dos Atingidos do Projeto Minas-Rio – REAJA.

Crítico aos minerodutos como alternativa para o transporte de minérios no país, Gazzinelli frisa que eles “retiram um grande volume de água das regiões e cabeceiras de rios que precisam dessa água” e informa que a concessão de lavra do projeto Minas-Rio, “de acordo com o Termo de Compromisso/Anexo da Portaria 499/2014, publicada no Diário Oficial da União, estabeleceu uma produção anual de 54,4 milhões de toneladas entre o 15º e o 20º ano de operação da mina”. Contudo, “o mineroduto licenciado pelo Ibama tem capacidade para transportar cerca de 27 milhões de toneladas/ano, metade dessa produção prevista na concessão. Como a outra metade será transportada?”, questiona.

Gabriel Ribeiro pontua ainda que “as captações necessárias às diferentes estruturas de um mesmo projeto minerador, mesmo incidindo sobre afloramentos de água ou aquíferos adjacentes, são tratadas como intervenções isoladas e distintas, prejudicando o exame dos impactos derivados da totalidade das captações e usos”. Como consequência direta, explica, “as outorgas expedidas pelo Estado têm funcionado como um ‘cheque em branco’, um seguro, uma garantia para as mineradoras, que usufruem desse privilégio em regiões com forte carência de água, tanto pela escassez natural dela como pela proximidade de regiões densamente povoadas”.

Segundo Patrícia Generoso, que acompanha a situação dos moradores de Conceição do Mato Dentro, “os impactos ambientais causados pelo mineroduto são facilmente percebidos e vão desde o assoreamento de nascentes e de cursos de água, desmatamento em área de preservação permanente, perdas de conectividade em áreas de relevância ambiental, grandes cortes no solo que funcionam como drenos e estão causando erosões e a supressão das nascentes e cursos d’agua próximos aos locais abertos para a instalação dos tubos. Já os impactos sociais são a fragmentação e divisão de pequenas propriedades, reduzindo sua capacidade produtiva e, até, inviabilizando completamente a produção”.

Gustavo Gazzinelli é representante do Fórum Nacional da Sociedade Civil nos Comitês de Bacias Hidrográficas – Fonasc-CBH de Minas Gerais, Gabriel Ribeiro é graduado em Ciências Socioambientais pela Universidade Federal de Minas Gerais – UFMG e membro do Grupo de Estudos em Temáticas Ambientais da Universidade Federal de Minas Gerais, e Patrícia Generoso é integrante da Rede de Articulação e Justiça dos Atingidos do Projeto Minas-Rio – REAJA.

Para ler a entrevista completa, basta clicar Aqui!

Minas-Rio, nas duas pontas do mineroduto quem sofre e perde são os pobres

A matéria abaixo é do jornal O TEMPO  e é assinada pela jornalista Juliana Baeta e trata de de algo que foi praticado ao cansaço no V Distrito de São João da Barra: a remoção de pessoas pobres de terras que ocupavam por sua vida inteira para entregá-las, neste caso, à Anglo American. O exame do conteúdo da matéria mostra ainda a existência de negócios mal explicados e à ação da justiça para beneficiar a empresa bilionária  e não a camponesa idosa.

Agora uma coisa que a matéria aponta e que deverá acender mais luzes vermelhas entre os donos do Porto do Açu, qual seja a notícia de a Anglo American agora reconhece publicamente que o sistema Minas-Rio não é sua prioridade.  Em outras palavras, que a Anglo American pode se livrar do abacaxi representado pelas minas de Conceição de Mato Dentro a qualquer momento.

A pergunta que fica para as duas pontas do mineroduto da Anglo American é a seguinte: por que então expulsar camponeses pobres de suas terras e colocá-los ao final da sua vida em condição de completa humilhação e desrespeito? A resposta pode ser muito simples… “AS TERRAS”!

 

Anglo American despeja idosa para não ‘atrapalhar’ expansão de mina

Ação envolveu 20 PMs para retirar a mulher de 85 anos de casa e aconteceu um dia depois de a mineradora afirmar que o Minas-Rio não é sua prioridade

expropriação

Natalina Pelo menos 20 policiais militares realizaram a ação de reintegração de posse na propriedade de Natalina nesta quarta-feira Natalina Natalina, de 85 anos, que nasceu e morou em Conceição do Mato Dentro durante toda a sua vida, foi retirada de sua casa pela PM nesta quarta-feira Natalina Antes do despejo, Natalina recebe apoio de outros moradores da região e dos advogados populares

JULIANA BAETA

Cerca de 20 policiais militares estiveram em Conceição do Mato Dentro, na região Central de Minas, nesta quarta-feira (9) para despejar uma idosa de 85 anos de sua casa em uma ação ajuizada pela mineradora britânica Anglo American. A propriedade dela fica na área onde será feita a expansão da mina do projeto Minas-Rio e está no meio de uma negociação confusa entre a mineradora e familiares da idosa.

Natalina Ferreira da Silva, que nasceu e viveu na cidade até então, foi retirada de sua propriedade junto a seus dois filhos que têm deficiência mental. Um deles precisou ser medicado às pressas durante a ação. Por ter mal de Parkinson, ele teve uma crise de tremedeira após ficar nervoso com a situação.

A idosa, que também sofre de problemas cardíacos e outros males causados pela idade avançada, está se sentindo muito mal e é acompanhado de perto por advogados que se uniram para tratar da questão. Como a mineradora também não liberou o dinheiro depositado para que ela possa adquirir uma nova moradia, Natalina terá que ir para a casa de um familiar em Vespasiano, na Região Metropolitana de Belo Horizonte, junto aos filhos. Se não fosse isso, ela ficaria na rua.

Negociação

O advogado Élcio Pacheco, que acompanha o caso, explica que em 2011, um sobrinho distante de Natalina firmou um contrato que ele classifica como arbitrário com funcionários da Anglo para vender a propriedade. “Quando estourou a onda de mineração na região e muitas pessoas ouviram dizer que estavam sendo pagas boas quantias de indenização, muitos picaretas vieram atrás de dinheiro. Um deles é este parente de dona Natalina, que nunca havia sequer vindo à região antes disso”, conta.

Conforme Pacheco, o sobrinho assinou um contrato representando a família junto a funcionários da Anglo que estavam na região. Desde então, ele está desaparecido. A ação foi suspensa pelos advogados em 2012. “Mas agora, três anos depois, o Tribunal de Justiça de Minas Gerais decidiu reverter essa decisão e confirmou o despejo”, explica.

Com a “venda” das terras por um familiar não registrado, a família de Natalina amarga um prejuízo de mais de R$ 5 milhões. Um inquérito policial será aberto para que o parente desaparecido seja investigado. “O que aconteceu foi um festival de nulidade. Esse parente se juntou a funcionários da Anglo para dar um golpe na família. A empresa deveria, no mínimo, ser obrigada a reassentar a família, mas nem isso eles estão fazendo”, diz ainda o advogado. Como a liminar referente a reintegração de posse é provisória, os advogados entrarão com recursos para tentar reverter a decisão.

Esta não é a primeira vez que a empresa tenta despejar Natalina de sua propriedade. Os advogados populares do Coletivo Margarida Alves, que também acompanham os conflitos relacionados a ações de despejo na região, lembram que há anos Natalina e a família sofrem pressão por parte da Anglo American para deixar o imóvel.
Segundo o coletivo de advogados, a mineradora chegou a afirmar que liberaria o dinheiro depositado judicialmente se a família desistisse de todas as ações ajuizadas contra a empresa.

Resposta

A Anglo American informou que “a reintegração na posse do imóvel da Anglo American Minério de Ferro Brasil, até então ocupado pelo núcleo familiar” de Natalina foi feita por dois oficiais de Justiça acompanhados pela Polícia Militar “e se deu de forma pacífica e respeitosa”.

A empresa ainda afirma que o contrato de venda e compra do imóvel foi assinado em 2011 e que desde então a mineradora “tentou, por diversas vezes, negociar com a Sra. Natalina, filhos, filhas, genros, noras e procurador para que a propriedade fosse desocupada de forma voluntária”.

Segundo a Anglo American, houve o pagamento de “um valor considerável” no ato da assinatura do contrato, mas a assessoria não soube informar para quem este valor teria sido pago. Além disso, a empresa informa que o restante do valor “deverá ser depositado em juízo devidamente corrigido e disponível ao núcleo familiar assim que eles cumprirem com o contratado com a Anglo American”.

Projeto

O Minas-Rio é um complexo minerário composto por mina, em Conceição do Mato Dentro, minerotudo e porto, em São João da Barra (RJ). O mineroduto é o maior do mundo, com 537 quilômetros de extensão ligando as duas pontas do projeto. A ação de despejo da idosa aconteceu um dia depois que o executivo-chefe da mineradora, Mark Cutifani afirmou que “o custoso projeto Minas-Rio”, de US$ 8,8 bilhões, não é a prioridade número um para a companhia. No ano passado, o especial “Um mineroduto que passou em minha vida” publicado por O TEMPO e O Tempo Online, mostrou o rastro de destruição deixado pelo Projeto Minas-Rio nas 32 cidades por onde passa.

FONTE: http://www.otempo.com.br/cidades/anglo-american-despeja-idosa-para-n%C3%A3o-atrapalhar-expans%C3%A3o-de-mina-1.1187463

Depois de Mariana o medo se espalha. Barragem da Anglo American em Conceição do Mato Dentro causa alarme

Comunidade rural não dorme com medo de barragem ceder 

Suspeitas de trincas em estrutura e questionamento do MPMG reforçam temor

CONCEIÇÃO DO MATO DENTRO/ Por JOÃO RENATO FARIA,  ENVIADO ESPECIAL

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Quando a dona de casa Marlene Carvalho, 59, passa as mãos calejadas pelo rosto, fica evidente que ela está cansada. Desde o rompimento da barragem de Fundão, em Mariana, na região Central de Minas, no último dia 5, ela não consegue dormir direito. O medo é que a tragédia que devastou o distrito de Bento Rodrigues se repita na sua casa, que fica na comunidade de Água Quente, em Conceição do Mato Dentro. Apesar de estar oficialmente na região do Alto Jequitinhonha, a cidade fica a 167 km da capital. O imóvel simples será um dos primeiros a serem atingidos pela onda de rejeitos caso a barragem construída há cerca de dois anos, como parte da operação Minas-Rio, da mineradora Anglo American, ceda. Todo o vilarejo seria soterrado em nove minutos.

“Aqui, acabou o sossego. Como é que dorme sabendo que pode acontecer uma coisa dessas?”, questiona Marlene. A preocupação é compartilhada pelas 46 famílias que moram no lugarejo, atingido duramente pela instalação da indústria de extração de minério de ferro. Em pé de guerra com o empreendimento desde o início da operação, os moradores desconfiam do estado da barragem. Problemas como licenciamentos ambientais concedidos de forma acelerada e o descumprimento de condicionantes estabelecidas em contrato também são alvos de questionamentos do Ministério Público de Minas Gerais.

“Pessoas que trabalham lá dentro nos disseram que ela tinha pelo menos três trincas grandes”, diz o lavrador José Helvécio Cesário, 57, marido de Marlene. Ele visitou Bento Rodrigues após a tragédia. “Eu já tinha medo, mas fiz questão de ir ver de perto o que pode acontecer com a gente. Foi muito triste ver aquela devastação”.

Moradora de Água Quente desde que nasceu, Maria das Graças Reis, 67, reclama da falta de um sistema de alerta com sirenes. “Não instalaram nada, porque falam que não precisa preocupar, que é tudo seguro. Mas não é o que falavam em Mariana? A verdade é que, se essa barragem estourar, a lama vai levar a gente embora, não dá nem tempo de correr”, lamenta.

Proprietário de uma fazenda que também seria atingida por um eventual rompimento, o comerciante Lúcio Guerra Júnior, 49, diz que o Plano de Ação Emergencial (PAE) da Anglo American detalha que, como está localizada em um vale, com pouquíssimos obstáculos no caminho, a comunidade seria engolida em nove minutos. Água Quente está a 3 km do dique da represa.

Relembre

Mineroduto. Em 2014, um caderno especial de O TEMPO mostrou as dificuldades da comunidade de Água Quente com a instalação do mineroduto que liga a mina ao porto de São João da Barra (RJ).

Atividade trouxe problemas

Não é só o risco de um rompimento que provoca temores nos moradores de Água Quente. Problemas típicos de cidade grande, como acidentes de trânsito e violência, têm tirado o sossego do lugarejo.

“Aqui nunca tinha tido crime. Mas no começo do ano me assaltaram, levando R$ 500 em dinheiro e uma moto que eu tinha. Isso é gente que veio para cá por causa da mina”, diz o lavrador José Lúcio Reis, 47. Ele também se acidentou duas vezes com os veículos da Anglo American.

“Em um deles, eu fui atropelado e quebrei a clavícula. Fiquei três meses parado, disseram que iriam me ajudar, mas nem aqui para ver como eu estava vieram”, conta Reis, que não registrou boletim de ocorrência do acidente.

Mineradora nega risco de rompimento

A mineradora Anglo American, responsável pela construção da barragem, negou em nota que a construção ofereça qualquer risco e garantiu que não existem trincas que ameacem a integridade da estrutura de contenção de rejeitos do Sistema Minas-Rio.

“Ela foi projetada, construída e é operada em conformidade com rigorosos critérios e requisitos de segurança, e conta com atestado de declaração de estabilidade emitido por empresa especializada”, afirma.

Ainda segundo a empresa, a barragem passa por fiscalizações anuais de técnicos da Fundação Estadual do Meio Ambiente (Feam) e do Departamento Nacional de Produção Mineral (DNPM), sendo que a última foi realizada no dia 31 de julho deste ano. Além disso, a Anglo American garante ter equipes de prontidão na área da mina para atendimentos de emergência. 

FONTE: http://www.otempo.com.br/cidades/comunidade-rural-n%C3%A3o-dorme-com-medo-de-barragem-ceder-1.1181178

Rede que defende atingidos pelo mineroduto Minas-Rio denuncia ações da Anglo American em Conceição do Mato Dentro (MG)

ANGLO AMERICAN, EM CONCEIÇÃO DO MATO DENTRO, É SINÔNIMO DE DESRESPEITO E VULNERALIZAÇÃO DE PESSOAS

ATINGIDOS

Voltamos a público para alertar a população de Conceição do Mato Dentro que a prática de fragmentação de comunidades, com frequência utilizada pela mineradora Anglo American, está atingindo agora o meio urbano. O argumento principal continua sendo a ameaça de desemprego. Os fatos nos levam a crer que se busca obter a desestabilização política e social como tática para se obter a liberação de anuências em desconformidade com as leis municipais e os protocolos /acordos assumidos anteriormente.

A estratégia da fragmentação de conterrâneos e da transformação deles, pela perda da identidade que os unia e a adoção da lógica da empresa (de romper os laços de reconhecimento entre partes valorizadas de uma mesma comunidade), conseguiu cindir a cidade, transformar cidadãos, famílias, diferentes grupos sociais, em sujeitos antagônicos e, algumas vezes, adversários desafiados à revanche.

No ardor de legitimar suas aberrações, a Anglo ameaça desempregar e rescindir contratos de aluguel /prestação de serviços. Atira todos ao caos e, de forma antiética e estúpida, ameaça atirar-nos no fratricídio.

O projeto Minas-Rio é pau que nasceu torto. Foi elaborado a toque de caixa pela MMX, com tecnologias ultrapassadas e com o discurso de baixo custo logístico em razão da utilização do mineroduto que não considerou as consequências e impactos ambientais sistêmicos. Chegou a Conceição de forma disfarçada enquanto fazenda de criação de cavalos de raça. Comprou terras com valores díspares e vendia a ideia de negócio sustentável do ponto de vista social e ambiental.

À medida que obtinha licenças, facilitadas pelo governo estadual e uma sucessão de prefeitos, a Anglo American foi assumindo seu caráter coronelista, a ponto de tripudiar de autoridades, particularmente daquelas mais complacentes, que acreditavam ou passavam a ideia de terem boa fé em quem, os fatos vêm demonstrando, não é merecedor de tanta consideração.

Parece patente agora que a Anglo American quer passar seu negócio pra frente, da mesma forma que Eike Batista o fez em 2008, ajustando as tratativas e licenças ambientais, antes de vender o projeto Minas-Rio, e dar início ao seu depois frustrado enriquecimento. A Anglo American quer porque quer obter a anuência (sem que tenha sido feito Estudo de Impacto Ambiental) da Etapa 3 do empreendimento quando ainda não licenciado a Etapa 2. A pretensão de ocupação do território pela empresa parece algo tão desordenado quanto a reprodução de células cancerígenas.

Qual a justificativa para um empreendimento exigir duas (02) novas licenças de acréscimo de áreas antes mesmo de completar um ano de licença de operação de uma área que, segundo estudos da própria empresa seria equivalente a 05 anos de exploração?

Agora, o aviso de férias coletivas de 200 empregados da empresa mineradora, mesmo que tenha sido garantido a eles os direitos assegurados pela legislação trabalhista, passou a ser utilizado como ameaça e justificativa para transpor o controle de legalidade e o esvaziamento de valores de solidariedade a tantos outros trabalhadores rurais que tiveram seus empregos e produção ameaçados pelos impactos causados pela mesma empresa. São os Antônios, Zés, Marias, Ritas, Anas, Raimundos, Pedros, Bentos e tantos outros que tiveram e continuam tendo suas vidas, destinos e produção inviabilizada por tantos anos e sem quaisquer garantias, nem mesmo de que a lei seria cumprida.

Lamentamos que o mesmo clamor social não tenha ocorrido em novembro de 2013 quando 172 trabalhadores foram resgatados em obras da Anglo American, em condições análogas à de escravo, incluindo 100 haitianos e 72 nordestinos. Tampouco os conceicionenses manifestaram-se diante da reincidência do flagrante em maio de 2014, com mais 185 trabalhadores submetidos a condições análogas às de escravo pela fiscalização do Ministério do Trabalho e pelo Ministério Público do Trabalho. http://reporterbrasil.org.br/2014/05/fiscalizacao-volta-a-flagrar-escravidao-em-megaobra-da-anglo-american/

E o muitos continuam assistindo da janela, sem estranhar o massacre de conterrâneos, considerando normal este processo de dominação econômica, jurídica, política, social, territorial. Alguém se pergunta o que está por trás das férias coletivas da Anglo… Da interrupção de compromissos…

-A inviabilidade da produção em razão da escassez de água que levou o interrupção na captação do Rio do Peixe para uso no mineroduto?

– A redução de gastos já anunciada publicamente desde julho/2015 para viabilizar maior lucratividade?
– O plano de fragmentação maciça da comunidade para deixar novamente acéfala uma cidade?
– Dividir cidadãos e transformar a cidade em uma arena de gladiadores?
– Chantagear para superar limitações legais?
– Responsabilizar os atingidos e os técnicos encarregados do controle de legalidade a responsabilidade da redução dos 53.000 postos de trabalhos em todo o mundo já anunciada pela empresa desde julho de 2015. http://exame.abril.com.br/negocios/noticias/mineradora-anglo-american-ira-demitir-53-000-em-todo-o-mundo

A Anglo que pretende encurralar a administração pública municipal e os órgãos licenciadores é a mesma que recusou-se a participar de audiência pública do Sapo no dia 02 de julho de 2015, ocasião em que teria obrigação de informar aos cidadãos e interessados o projeto de expansão da Mina do Sapo (Etapa 2).

É também a mesma que recusou-se a participar da reunião convocada pelos secretários estaduais, membros da comunidade e da Mesa Estadual de Diálogo e Negociação Permanente sobre Ocupações Urbanas e no Campo no dia 26/05/2015 em Conceição do Mato Dentro .

É a mesma que continua se recusando a cumprir as condicionantes, compromissos públicos e obrigações legais assumidas.

Não iremos nos calar diante de tantas irregularidades. Somos todos conceicionenses.

REAJA – REDE DE ARTICULAÇÃO E JUSTIÇA AMBIENTAL DOS ATINGIDOS PELO PROJETO MINAS-RIO

FONTE: http://conflitosambientaismg.lcc.ufmg.br/noticias/anglo-american-em-conceicao-do-mato-dentro-e-sinonimo-de-desrespeito-e-vulneralizacao-de-pessoas/

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Violência e humilhação no despejo de integrantes da família Pimenta na zona rural de Conceição do Mato Dentro

No dia 14 de abril de 2015 ocorreu a ação de despejo ilegítima de integrantes da família Pimenta em favor da mineradora Anglo American, com mais de 50 policiais do Estado de Minas Gerais portando vários armamentos, e com o apoio de funcionários da empresa Anglo American. Os familiares possuem registro da propriedade do imóvel, que é um terreno de herança(1 )das famílias Pimenta e Balbino, com oito núcleos familiares de herdeiros, sendo que o inventário está em processo de conclusão. Os Pimenta constituem uma parentela antiga em Conceição do Mato Dentro, de pelo menos quatro gerações, cuja origem remonta à escrava – ou filha de escravos – Bernardina Pimenta. A família Balbino também é muito antiga na região. A mineradora negociou a posse da área com apenas um núcleo familiar, desconsiderando todos os outros núcleos familiares de herdeiros.

No momento do despejo, cerca de dez familiares estavam morando efetivamente no local, sendo que outros parentes e herdeiros os visitavam constantemente, ficando por alguns dias. Entre os moradores estava uma idosa de 76 anos. A empresa mineradora os vigiava permanentemente, 24 horas por dia, através de seguranças privados que ficavam de vigília, com binóculo, nas imediações do terreno, controlando as ações dos familiares e coagindo-os. No dia da ação de despejo, foi uma caminhonete da mineradora que fechou a estrada que dava acesso ao terreno, não permitindo a passagem de outros moradores da região que queriam ajudar as famílias.

A ação de despejo foi feita com inúmeros policiais, ostensivamente armados, contra pessoas que são vítimas de uma estratégia recorrente adotada pela mineradora: o desconhecimento da condição dos herdeiros, tanto os presentes como os ausentes, de terras mantidas em comum. A empresa procura apenas alguns herdeiros, separadamente, com propostas de negociação, submetendo-os a várias formas de pressão, desconsiderando o princípio da herança familiar e da conjugação de direitos baseados no parentesco. Os integrantes das famílias que foram vítimas do despejo denunciam que a escritura para adquirir a posse do terreno foi feita pela empresa em um cartório do distrito de Piedade do Paraopeba, no município de Brumadinho, longe de Conceição do Mato Dentro, eles só vieram a ter conhecimento das negociações após estas terem sido finalizadas. Outro terreno da família Pimenta, denominado Água Santa, já havia sido apropriado pela mineradora através das mesmas estratégias, e encontra-se atualmente em disputa judicial. No terreno de herança das famílias Pimenta e Balbino havia nove casas, com horta, quintal e plantações. Todas foram destruídas. Durante a ação, não havia ambulância, só mesmo policiais, oficiais de justiça e funcionários da empresa – que, segundo os relatos, ficavam só rindo e batendo papo. Apenas depois que os oficiais e policiais foram embora é que a ambulância chegou. Um dos moradores idosos passou mal, devido à pressão para que retirassem todas as coisas das casas, “se não as máquinas passariam por cima com o que estivesse dentro”. Assim que acabavam de tirar as coisas de uma casa, já a derrubavam, com uma máquina da própria empresa. Só puderam comer ao final do dia. Nas palavras de um herdeiro, “foi tortura mesmo”, as máquinas estavam quase jogando as casas em cima dos familiares de tanta violência e pressa.

Processos de negociação de terrenos familiares extremamente conflituosos, violentos e desagregadores, provocados pelo assédio da mineradora sobre os grupos de herdeiros, já são denunciados desde pelo menos 2008 na região do empreendimento em Conceição do Mato Dentro. A aquisição de terras de herdeiros de comunidades tradicionais rurais na região continua intensamente. Para este ano, a empresa Anglo American já deu inícioàs etapas “Otimização da Mina do Sapo” e “Extensão da Mina do Sapo”.

1 Terra de herdeiros: figura que, no mundo agrário brasileiro, com frequência abrange sistemas de uso ou posse comum da terra.

anglo1 anglo2 anglo3 anglo4 anglo5FONTE: http://conflitosambientaismg.lcc.ufmg.br/noticias/violencia-e-humilhacao-no-despejo-de-integrantes-da-familia-pimenta-na-zona-rural-de-conceicao-do-mato-dentro/ 

 

Decisão judicial sobre o Sítio do Birica repercute entre os atingidos pelo mineroduto da Anglo American em Minas Gerais

unidade

Quando postei aqui a decisão do juiz Leonardo Cajueiro sobre a desapropriação do Sítio do Birica tinha a percepção de que esta era uma decisão que ultrapassava os limites do V Distrito de São João da Barra. Confirmando essa percepção recebi esta tarde uma mensagem da Patrícia Generoso, que é uma atingida pelo Projeto Minas-Rio e membro da Rede de Articulação e Justiça Ambiental dos Atingidos pelo Projeto Minas Rio (REAJA), manifestando sua felicidade por esse desdobramento que para muitos era impensável.

Posto abaixo a mensagem da Patrícia Generoso, pois creio que a mesma é extremamente clara no que se refere ao alcance da luta realizada pela Dona Noêmia e seu esposo Valmir para manterem o Sítio do Birica como um símbolo da luta por um novo modelo de desenvolvimento no Brasil.

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Prezado Professor Marcos,

Tenho acompanhado as noticias daí.

Fiquei imensamente feliz com a  decisão  do sítio da D Noêmia.

É preciso comemorar cada vitória. Gostaria apenas de  propor uma correção na notícia publicada no blog : a  D. NOÊMIA  não é  só  um símbolos de resistência do V Distrito de São João da Barra. 

Ela é um símbolo de resistência deste famigerado Projeto Minas-Rio, é exemplo para nós daqui de Minas, de Conceição do Mato Dentro, de Alvorada de Minas e de todos os outros municípios mineiros pelos quais este rastro de destruição chamado MINERODUTO passou.

Tivemos a honra de receber a D. Noêmia  e outros atingidos do  V Distrito de São João da Barra  aqui em Minas-unindo as resistências de uma ponta a outra. Também estivemos aí no V Distrito  e ficamos hospedados  no Sítio do Birica.

Levamos para D. NOÊMIA  uma camiseta que unificou a luta e nos uniu em uma rede de solidariedade com  a seguinte mensagem:  

INJUSTIÇA QUE SE FAZ A UM É INJUSTIÇA QUE SE FAZ A TODOS!

Patrícia Generoso

(Atingida pelo Projeto Minas-Rio e  Membro da REAJA (Rede de Articulação e Justiça Ambiental dos Atingidos pelo Projeto Minas Rio)

 

Anglo American e o mundo-cão da mineração

atingidos

Por Júlio César de Castro

Quando o povo desta terra – salve, salve Brasil! – reverencia o heroico Tiradentes por destemidamente enfrentar a Coroa Portuguesa, ante a exploração à larga da riqueza do solo brasileiro, para saciar a voracidade do poder econômico da Inglaterra, ainda hoje assistimos à classe de vassalos políticos e mercadores de toga conluiar-se com as transnacionais. Mesmo que isto implique “passar o trator” sobre direitos legais, sobre terras e casas de camponeses, desarranjar o ecossistema e aniquilar com famílias de trabalhadores. E, para tal intento atroz, utilizam-se de todo meio vil de intimidação, calhamaço de liminares de remoção forçada e da truculência do braço armado do Estado para impor as “ordens” e barbaridades do grande capital.

 Não bastassem as denúncias de órgãos de defesa do Meio Ambiente e de Direitos Humanos, e da mídia independente (o jornal A Nova Democracia teceu matérias contundentes às aberrações do mineroduto em terras brasileiras) alertando sobre graves danos de impacto socioambiental e do sofrimento com clamor de vítimas, a Anglo American Minério de Ferro do Brasil S/A (ex-Anglo Ferrous Minas-Rio Mineração S/A), cooptando governantes e secretários do Estado, inclusive peemes de alta patente, contratando advogados de luxo, e “agradando” magistrados a fazerem vista grossa à legislação e ouvido de mercador às escancaradas declarações de abusos, cometidos em todo o processo de instalação e operação da mina de minério de ferro, a empresa arrombou o direito constitucional, “comprou” licença ambiental e impôs na marra toda a estrutura de linha de transmissão de energia, barragens e estradas, desalojou numerosas famílias e instalou o mineroduto com 525 km de extensão, da região mineira de Conceição do Mato Dentro até o Porto de Açu, no Rio de Janeiro.

Na arrogante determinação de a Anglo American reeditar o processo colonial de economia predatória, aqui acobertada pela Companhia de Desenvolvimento CODEMIG e pela Polícia Militar mineira (até a construção / reforma da unidade da PM em Conceição do Mato Dentro foi “concedida” pela mineradora), a empresa adquiriu suas terras de modo tenebroso, com todo vício de fraudes processuais e crimes de estelionato contra famílias desassistidas, que há centenas de anos, geração a geração, estavam morando e trabalhando com dignidade por lá.

Assim, além de omitir-se de responsabilidades, agir com má-intenção em explorar o produto mineral do solo expropriado, por intermediação de vigaristas profissionais do ramo fundiário, matreiramente a Anglo American desvaloriza a pequena propriedade dos trabalhadores e arrota desalojá-los de suas terras com sucessivas liminares de emissão de posse e “ordens de despejo”, sem levar em consideração nem a vulnerabilidade social de idosos e doentes no processo de desapropriação e reassentamento.

Assim, quando a “crise” descortina o quadro da dura realidade brasileira, o que era vendido como mera “marolinha” pelo sarcasmo lulista e maquiado por inserções publicitárias, agora, passado o engodo das eleições, estão às claras os números econômicos avultados no país. E, como sempre, esse gerenciamento oficial de subservientes ao capitalismo impõe ao povo arcar com a conta dos desmandos e corrupção impunes em todas as esferas de governos.

Ou seja, para manter a “boa relação política” com lobbies no Congresso Nacional e o acúmulo de capital, ocultaram os números econômicos, promoveram a Economia de ficção, represaram índices de inflação, seguraram as tarifas de energia elétrica e de água encanada para as empresas, isentaram muitas delas de impostos, financiaram e refinanciaram com recursos do BNDES obras e serviços públicos superfaturados, e legalizaram indistinta, irresponsável e inconsequentemente a famigerada terceirização da mão-de-obra a todos os setores de atividade profissional, com precarização e concentração da renda.

Além do mais, ainda estão subtraindo direitos trabalhistas e previdenciários, com a conivência das centrais pelegas, cobrando mais sacrifício da população trabalhadora com aumento do custo de alimentação, tarifas e impostos. Essas são as elites, manifestadas na mídia de troca-textos vendida, que defendem “os ajustes” nas contas do governo, com redução de recursos da Educação, Saúde, Previdência etc.

Assim, analisemos a enormidade de volumes que a Anglo American consumiu e vem consumindo de energia elétrica e de água (criminosamente retirada do solo, o que extingue nascentes afora) para a operação do seu mineroduto. Os saques infrenes da riqueza de minério de ferro em Minas Gerais, para aplacar a ganância do capital transnacional. As aberrações cometidas contra o bem público e contra a vida em comunidades.

Tudo isto sob aplausos intensos de claques e oportunistas, salamaleques e solenidades à “chave-de-ouro” em palácios de “Excelências”, configurando ostentoso crime de lesa-pátria. E, à luz da triste história de invasão e exploração nesta Terra Adorada, a Anglo American é mais uma Predadora S/A, e com os infames argumentos oficiais de “equilíbrio da balança comercial”. Enquanto as famílias de trabalhadores sofrem com as atrocidades dessas empresas.

Um caso emblemático, dentre tantos outros vividos por famílias de camponeses de Minas, é o drama da lavradora aposentada Natalina Ferreira da Silva, de 83 anos de idade, cardíaca gravemente adoentada, e seus filhos deficientes – conforme relatórios médicos –, moradora de Serra da Ferrugem, na zona rural de Conceição do Mato Dento, jogada ao deus-dará e à vulnerabilidade do núcleo familiar, isolada em área de risco, ultrajada por processo de despejo, desde o ano de 2012, quando a Anglo American ajuizou ação de reintegração de posse, com base em contrato de compra e venda repleto de vícios. Muito embora o advogado da família dela tenha requerido na Justiça a anulação contratual, devido à obrigação, não cumprida, de a empresa reassentá-la em outra fazenda na mesma região, e em face de condicionantes determinadas pela SUPRAM.

Contestada a ação de reintegração e despejo em juízo, com as plausíveis justificativas, a dona Natalina conseguiu suspender a decisão da Justiça inquisitória. Mas a Anglo American, no rompante do poder econômico, interpôs recurso no TJMG pela manutenção de execução da ordem de despejo. E, após três anos, esse Tribunal de Justiça de Minas Gerais concedeu para a mineradora o recurso, atropelando a primeira instância, que ainda não decidiu pela ação. Com isto, a fim de questionar e suspender a tendenciosa ordem do TJMG, a família prejudicada entrou com outro recurso; ainda em curso de decisão.

Como convém, estaremos atentos ao desenrolar e desfecho de mais esse caso, denunciando as mutretas e o favoritismo, entre a Anglo American e o Estado. Estaremos firmes na defesa dos direitos conquistados na luta pelo conjunto dos cidadãos trabalhadores.

Este é o retrato de um Brasil injusto, socialmente excludente, tratado com descaso, desmandos, servilismo político-partidário e “desvio de recursos” (leia-se roubo do patrimônio público), em escusas transações, sob a gerência da canalha do velho Estado e da máfia empresarial.

Júlio Cesar de Castro presta assessoria técnica em Construção Civil.

FONTE: http://www.correiocidadania.com.br/index.php?option=com_content&view=article&id=10769:submmanchete150515&catid=71:social&Itemid=180

Crise hídrica: por que o discurso apocalítico deixa os minerodutos de fora?

Vem de blog do Professor Roberto Moraes, que por sua vez retirou do Facebook do economista Ranulfo Vidigal, um interessante artigo escrito pelo jornalista Bruno Porto sobre o uso extensivo de água por minerodutos que saem de Minas Gerais e alcançam portos no Rio de Janeiro e Espírito Santo.

Essa matéria desvela uma interessante contradição entre o discurso apocalíptico que está sendo disseminado para pressionar o cidadão comum para que este se ajuste à escassez hídrica, enquanto se permite que o agronegócio e as mineradores gastam água de forma perdulária e ambientalmente insustentável. Isto sem falar nos diversos de contaminação causados por defeitos nos tubos de transmissão do minério de ferro.

O fato que os números mostrados na matéria assinado por Bruno Porto demonstram que é que precisamos sair da armadilha da escassez relativa que está sendo disseminado pela mídia corporativa para então fazermos uma análise crítica dos usos e costumes que cercam a crise hídrica em curso!

Em meio à crise hídrica, minerodutos utilizam água dos rios para levar polpa de ferro ao porto
Bruno Porto – Hoje em Dia

“A seca prolongada ameaça o abastecimento de água e energia elétrica, mas a crise hídrica passa longe das atividades de mineração em Minas Gerais. Os minerodutos – tubulações que levam o minério de ferro em estado arenoso misturado com água, como se fosse uma polpa – operam a todo vapor, e novos projetos estão em andamento, sinalizando para a continuação do desperdício de um recurso precioso.

Os quatro projetos de mineração do Estado que têm dutos para o transporte do ferro contam com uma outorga de captação de água suficiente para suprir uma cidade de 1,6 milhão de habitantes. O uso de água pelos minerodutos chama a atenção porque muitas vezes não há o reaproveitamento do recurso hídrico, que é descartado no mar.

A Manabi, por exemplo, mineradora em implantação no município mineiro de Morro do Pilar, tem outorga para uso de 2.847 metros cúbicos (m3) de água por hora. Deste volume, um terço, ou 949 m3 por hora serão usados no mineroduto, que irá até Linhares, no Espírito Santo. A própria empresa informa: “o projeto não prevê reuso da água usada no mineroduto, mas para essa mistura que segue para Linhares, a Manabi projetou um sistema de tratamento e filtragem, garantindo atendimento da qualidade definida pelo Conama, antes do seu descarte no mar”.

Os volumes de água utilizados pelos minerodutos não foram informados, mas, caso as três outras empresas com minerodutos em operação ou em licenciamento ambiental no Estado utilizem a mesma proporção de um terço da outorga para uso no transporte via dutos, seriam 3.711 m3 por hora de água retirada dos mananciais mineiros que teriam como destino o descarte no mar. Esse volume equivale a 3,711 milhões de litros de água por hora, e é suficiente para abastecer um município com 558 mil habitantes, mais do que a população de 546 mil pessoas de Juiz de Fora, a quarta cidade mais populosa de Minas Gerais.

A conta considera o diagnóstico dos Serviços de Água e Esgoto do Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento, do Ministério das Cidades, que apontou um consumo médio per capita de água, em Minas Gerais, de 159 litros por dia, ou 4.782 litros mensais.
Atualmente, quatro minerodutos estão em operação com captação de água em rios de Minas Gerais (três da Samarco e um da Anglo American) e outros dois (Ferrous e Manabi) estão em fase de licenciamento ambiental junto ao Instituto Brasileiro de Meio Ambiente (Ibama). A permissão para captação de água nos cursos de água é concedida pelo Instituto Mineiro de Gestão de Águas (Igam), órgão subordinado à Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável (Semad).

Lei prevê cobrança pelo uso de recursos hídricos

As quatro mineradoras com atuação em Minas Gerais que utilizam o mineroduto como meio de escoamento da produção foram procuradas pelo Hoje em Dia. Samarco e Ferrous foram as únicas que não informaram as outorgas que possuem, mas os dados foram informados pela Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável (Semad).

A Anglo American, que possui um mineroduto em operação, sustenta que parte da água usada nos dutos de transporte de minério de ferro é reutilizada, mas não informa o volume e não detalha como o reuso se tornou viável.

A Manabi, em resposta aos questionamentos apresentados, ressaltou que nos estudos para verificação da viabilidade de seu projeto de mineração, a avaliação da disponibilidade hídrica foi um dos temas principais, “cercado dos cuidados demandados pela questão, com antecipação das tratativas legais associadas à obtenção da outorga de direito de uso das águas”.

Infraestrutura
A proliferação do uso do mineroduto surgiu como alternativa para o escoamento da produção, devido aos altos custos do transporte rodoviário para volumes elevados de minério de ferro e à saturação da malha ferroviária.

O investimento em novos ramais de ferrovias é considerado muito alto, o que assegura atratividade ao mineroduto. O ganho logístico gerado pelos minerodutos está ainda no fato de operarem 24 horas por dia, todos os dias.

A Política Nacional de Recursos Hídricos e a Política Estadual de Recursos Hídricos de Minas Gerais, regulamentada pelo Decreto 44.046, de 13 de junho de 2005, estabeleceu a cobrança pelo uso da água, até então sem nenhum ônus para as empresas.

Samarco e Ferrous não informaram o valor que pagaram pelas captações. A Anglo American informou que, em 2014, o pagamento foi de cerca de R$ 900 mil. A Manabi declarou ter pago R$ 542,3 mil.

Editoria de Arte/Hoje em Dia

FONTE: http://www.hojeemdia.com.br/noticias/economia-e-negocios/em-meio-a-crise-hidrica-minerodutos-utilizam-agua-dos-rios-para-levar-polpa-de-ferro-ao-porto-1.295245

Conceição do Mato Dentro: Conselho desiste da Anglo American

Comunidades de Conceição do Mato Dentro ocupam novamente estrada para denunciar truculência da Anglo American

 A comunidade do Turco está fazendo nova paralisação da MG 10.

A empresa Anglo American que havia se comprometido  solucionar o problema e reunir-se com a comunidade,  enviou uma carta com resposta negativa neste último dia 01 de dezembro e não compareceu.

A estrada está bloqueada desde  3 horas da manha de hoje, dia 03/12/2014.

As casas continuam sendo abaladas pelos tremores  do MINERODUTO que provocam rachaduras nas edificações  e colocam em risco  Crianças, idosos e  todo os moradores da comunidade.

Além disso, várias nascentes secaram  e outras foram assoreadas ou até mesmo soterradas pelas diversas obras de implantação do Projeto Minas Rio.

Outra queixa da comunidade é a falta de segurança, transtornos com barulho e  poeira que tem causado internações e adoecimento da comunidade.

jornal
FONTE: http://conflitosambientaismg.lcc.ufmg.br/noticias/comunidades-de-conceicao-do-mato-dentro-ocupam-novamente-estrada-para-denunciar-truculencia-da-anglo-american/