Comissão da Alerj fará vistoria nas montanhas de escória da CSN em Volta Redonda nessa quinta-feira (27/01)

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A Comissão de Defesa do Meio Ambiente da Alerj (CDMA) fará uma vistoria nas montanhas de escória da Companhia Siderúrgica Nacional mantidas pela empresa Harsco Metals às margens do Rio Paraíba do Sul em Volta Redonda, na Região Sul Fluminense. A ação será nessa quinta-feira (27/01), a partir das 11h, com as esquipes se encontrando para o início da operação na sede da Harsco, na Rodovia Lúcio Meira (BR-393), km 12,5, no bairro Brasilândia.

Devido a constantes denúncias da população sobre movimentações suspeitas no local e do alto risco ao meio ambiente nos arredores do terreno operado pela Harsco, de acordo com relatório de vistoria produzido pelo Instituto Estadual do Ambiente (Inea), a CDMA solicitou o embargo das atividades da Harsco por meio de ofício enviado semana passada à Secretaria de Estado do Ambiente e Sustentabilidade, ao Inea, ao Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), à Polícia Federal, ao Ministério Público Estadual (MPE) e ao Ministério Público Federal (MPF).

Homem andando ao lado de uma montanha

Descrição gerada automaticamente

Vistoria da Comissão de Saneamento Ambiental da Alerj às montanhas de escória ocorreu em 2019

Presidente da CDMA, o deputado estadual Gustavo Schmidt já realizou uma vistoria nas montanhas de escória em 2019, quando presidia a Comissão de Saneamento Ambiental da Alerj (Cosan). Na ocasião, foi verificado o descumprimento de uma determinação judicial, que obrigava as companhias a reduzir de 20 para 4 metros de altura o volume da escória nas margens do Paraíba do Sul. De acordo com moradores, a situação, desde então, se agravou, e as atividades continuam. Em seu relatório mais recente, o Inea confirma que as medidas não foram cumpridas, atestando, ainda, que as montanhas ficam a menos de 500 metros da área residencial na região.

“Diante das evidências apresentadas, mesmo antes da vistoria, solicitamos o embargo das atividades. Moradores informam que, além de não terem cumprido a determinação da Justiça, tem ocorrido grande movimentação de caminhões, aparentemente, despejando ainda mais material no alto das montanhas”, afirma Gustavo Schmidt.

Montanha de rejeitos da CSN ameaça causar catástrofe ambiental no Rio Paraíba do Sul

Fortes chuvas podem derrubar montanha de lixo químico no principal rio que abastece o Rio de Janeiro de água. Ambientalistas alertam que com as tempestades constantes atingindo Minas Gerais e parte do interior do estado do RJ, a pilha de escórias depositada pela CSN/HARSCO pode virar no rio Paraíba do Sul, responsável por abastecer de água 75% da população fluminense

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Pilha de lixo químico à beira do rio Paraíba do Sul

Por Felipe Lucena para o “Diário do Rio”

Uma situação que se estende por alguns anos, sendo frequentemente denunciada pelo DIÁRIO DO RIO, pode ter um desfecho trágico, segundo ambientalistas. Em Volta Redonda, no sul do Rio de Janeiro, existe uma montanha de resíduo siderúrgico depositado, diariamente, por cerca de 100 caminhões da Companhia Siderúrgica Nacional (CSN) e pela HARSCO METALS. A pilha de lixo químico de mais de 30 metros de altura, chamado de escória de aciaria, está a cerca de 50 metros do rio Paraíba do Sul, responsável por abastecer de água 75% da população fluminense (cerca de 9 milhões de pessoas). De acordo com pesquisas de ambientalistas, caso as substâncias empilhadas tenham contato com as águas do Paraíba do Sul, as consequências podem ser catastróficas e provocar um colapso hídrico. A preocupação atual são as fortes chuvas na região, que podem provocar um tombamento da pilha de lixo químico no rio.

As chuvas dos últimos dias já deixaram 370 cidades do estado de Minas Gerais em situação de emergência. Foram registradas 24 mortes desde o início do atual período de chuvas e mais de 4 mil pessoas estão desabrigadas, além de mais de 24 mil desalojadas.

De acordo com o ecologista Sérgio Ricardo, cofundador do Movimento Baía Viva: “Diante dos enormes estragos provocados pelas chuvas, é fundamental que as autoridades públicas notificadas hajam imediatamente orientadas pelos princípios da Precaução e da Prevenção que são os pilares do Direito Ambiental nacional e internacional visando determinar, seja pela via Administrativa (por meio de Recomendação Técnica conjunta do MPRJ e MPF) e/ou através da proposição de uma Ação Civil Pública (ACP) Ambiental, o reconhecimento da inadequalidade do pátio de escória de aciaria das empresas CSN/HARSCO METALS na beira do rio Paraíba do Sul, assim como para determinar a imediata de outro local ambientalmente seguro e adequado para a instalação de um novo depósito de lixo industrial  da CSN/Harsco metals, para livrar de vez o risco de um Colapso Hídrico no Rio Paraíba do Sul, manancial estratégico que diariamente abastece 75% da população fluminense (9 milhões de pessoas), além de atender a demanda hídrica de setores como indústria, agricultura e serviços”.

Sérgio Ricardo considera que o principal pedido de providências feito pela instituição desde 2018 aos Ministérios Públicos federal e estadual ainda não foi atendido, que é a: “exigência da apresentação, por parte das autoridades federais e estaduais de um Plano de Combate e Prevenção à Vulnerabilidade Hídrica na Bacia Hidrográfica do Rio Paraíba do Sul e seus Afluentes, em face da presença de diversas fontes de poluição nesta estratégica bacia hidrográfica que, em conjunto, vem comprometendo cada vez mais a essencial garantia de abastecimento público de vários municípios fluminenses situados no Vale do Paraíba, na Baixada Fluminense e na capital fluminense, bem como de cidades mineiras através de seus afluentes”

Nesta sexta feira (14/01), o Movimento Baía Viva ingressará com uma representação junto ao Ministério Público Federal da Procuradoria da República no Município de Juiz de Fora (MG), cujo titular é o Procurador da República Eduardo Henrique de Almeida Aguiar, e ao MPF no Município de Manhuaçu (MG), por meio do Procurador da República Francisco de AssisFloriano e Calderano, solicitando a reabertura de investigação quanto à garantia da segurança de um conjunto de barragens de rejeitos de mineração localizadas nas bacias hidrográficas dos rios Pomba e Muriaé, afluentes do Rio Paraíba do Sul que é o principal manancial de abastecimento de água das cidades fluminenses, que em função das intensas chuvas dos últimos dias no território mineiro podem provocar tombamentos (desmoronamentos) o que num caso de um desastre ambiental poderá colocar em risco o abastecimento de água de várias cidades, incluindo as cidades do Norte e Noroeste Fluminense.

Na nova Representação ao MPF-MG, o Baía Viva alerta que: “Estamos vivenciando tempos de mudanças climáticas na escala global e, por isso, é necessário uma ação territorializada de Planejamento Participativo com a adoção de Planos de Adaptação e de Mitigação e a definição de fontes de recursos específicos para a sua implementação, o que deveria estar sendo seriamente considerado pelo poder público em função dos cada vez mais presentes eventos extremos no cotidiano da sociedade contemporânea”.

As empresas CSN/HARSCO não apresentaram aos órgãos competentes os seus respectivos estudos hidráulico-hidrológicos e os obrigatórios estudos geotécnicos.

Em setembro de 2019, a Comissão de Saneamento Ambiental da Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro (Alerj) vistoriou o local e constatou que a montanha de resíduos produzidos pela Companhia Siderúrgica Nacional (CSN) não teve sua altura reduzida a quatro metros, como determinava a liminar deferida parcialmente pela 3ª Vara Federal de Volta Redonda. A pilha de lixo químico estava em 20 metros de altura.

Devido à montanha de lixo químico, a CSN foi intimada a pagar uma multa diária de R$ 20 mil, estabelecida pela Justiça Federal. O valor teria de ser pago enquanto a montanha de escória depositada a poucos metros do Rio Paraíba do Sul não fosse reduzida. A decisão foi do juiz Bruno Otero Nery, da 3ª Vara Federal de Volta Redonda, que frisou o não cumprimento do prazo de 120 dias úteis estabelecido em agosto de 2018.

CSN já emitiu nota afirmando que o material armazenado “não é perigoso, conforme classificação da ABNT, não representando qualquer risco ao meio ambiente ou a saúde”.

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Este texto foi originalmente publicado pelo “Diário do Rio” [Aqui!].

Congonhas do Campo: barragem “Casa de Pedra” da CSN é outro desastre anunciado?

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Em março de 2019 publiquei uma postagem apresentando uma avaliação técnica feita pelo arquiteto Frederico Lopes Freire acerca do que ele classificou como “padrão Brumadinho” envolvendo uma gigantesca barragem de rejeitos pertencente à CSN em Congonhas do Campo.  Naquela postagem, apresentei a análise realizada por Lopes Freire que indicavam uma série de problemas graves que colocavam em risco a estabilidade da barragem da mina Casa de Pedra, cujo rompimento poderia tomar parte da área urbana de uma cidade que reúne um rico patrimônio arquitetônico.

Eis que quase 3 anos depois da publicação daquela avaliação pelo “Blog do Pedlowski”, encontrei uma notícia publicada pelo jornal “Estado de Minas” informando que a justiça de Minas Gerais determinou o envio de uma equipe da Defesa Civil à mesma barragem Casa de Pedra. Com um detalhe: se a CSN impedisse a entrada dos fiscais, a empresa seria multada em R$ 1 milhão por dia.

A razão dessa decisão da justiça mineira se deu pelo fato de que os habitantes do entorno da barragem estão preocupados com constantes deslizamentos de terras das suas paredes. Esses deslizamentos teriam aumentado em função das fortes chuvas que estão ocorrendo em Congonhas do Campo.

A CSN, por sua vez, emitiu nota em que atesta a estabilidade da sua barragem, informando ainda que está realizando um processo de monitoramento contínuo para verificar a estabilidade das estruturas da Casa de Pedra.

Entretanto, a leitura do relatório técnico feito por Frederico Lopes Freire há quase 3 anos já apontava para um quadro altamente preocupante e que não será resolvido por ações tardias de monitoramento. A verdade é que o “padrão Brumadinho” paira neste momento sobre Congonhas do Campo.

Tremor de terra traz de volta o alarme sobre barragem da CSN em Congonhas de Campo (MG)

Ao longo de março deste ano, publiquei uma série de postagens sobre a situação periclitante  da barragem Casa de Pedra mantida pela Companhia Siderúrgica Nacional (CSN) na cidade de Congonhas do Campo. Como quase tudo que ocorre em relação à mineração no Brasil (e especialmente em Minas Gerais), pouco ou quase nada foi informado ao longo dos últimos meses sobre ações tomadas para garantir a estabilidade de uma estrutura que, se romper, poderá causar danos catastróficos e custar centenas de vidas humanas em função da proximidade da Casa de Pedra da área urbana de Congonhas do Campo.

Barragem Casa de Pedra - Detalhe - # 2 - 02 de dezembro de 2018Situação de forte instabilidade detectada em análise visual de imagens na barragem Casa de Pedra pelo arquiteto Frederico Lopes Freire em março de 2019.

Pois bem, como os processos naturais não esperam pela resposta das corporações e dos seus apoiadores dentro do Estado, ontem a região localizada entre Ouro Preto e Congonhas do Campo foi palco de um tremor de terra de grau 3,2 na Escala Richter. ESte fato pode ter tido impactos diretos não apenas na estrutura da Casa de Pedra, mas de diversas outras barragens existentes naquela parte de Minas Gerais, as quais já foram identificadas em diferentes graus de risco ao longo desde o rompimento da barragem mantida pela mineradora Vale no município de Brumadinho (MG).

Obviamente a CSN e a Vale (que possui outra barragem em Congonhas do Campo) já se apressaram para informar que o tremor de terra não causou abalos estruturais nas barragens que possuem nas proximidades da área urbana do município.  É interessante notar que no caso do rompimento ocorrido em Mariana em 2015, o governo de Minas Gerais e a Vale apresentaram como explicação para o incidente justamente a suposta ocorrência de um tremor de terra. Agora que um tremor de terras efetivamente ocorreu, a Vale e a CSN fazem manifestações públicas no sentido contrário.

A verdade é que a situação na barragem Casa de Pedra já era preocupante antes deste tremor de terra que na Escala Richter é avaliado com sendo de pequeno impacto. O problema é que mesmo tremores de pequeno impacto ocorrendo em estruturas já frágeis podem desencadear impactos catastróficos. Por isso, o mais indicado no caso da população de Congonhas do Campo seria o estabelecimento de um conjunto medidas de alerta e monitoramento de independente das barragens que pairam perigosamente sobre a cidade.  Afinal de contas, a CSN e a Vale são de baixa ou nenhuma confiabilidade, pois já deram inúmeras mostras de que colocam o lucro acima de qualquer outra coisa.

Enquanto isso, não há muito o que esperar dos governos de Romeu Zema e Jair Bolsonaro que têm dado demonstrações inequívocas de que não estão dispostos a estabelecer medidas de proteção ambiental e humana em face das atividades de mineração.

 

Reviravolta: CSN recua e abre negociações com a promotoria para retirada de moradores em Congonhas

 

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Barragem Casa de Pedra da CSN que ameaça romper em Congonhas (MG).

Uma grande notícia para a região. Um da após a recusa de transferir cerca de 2,5 mil moradores dos Bairros Residencial Gualter Monteiro e Cristo Reis, na tarde de hoje, dia 27, os advogados da CSN procuraram o Ministério Público, através do Promotor Vinícius Alcântara, para abrir as negociações em torno das recomendação expedida há 12 dias.

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O Promotor Vinicius Alcântara Galvão

Os representantes estiveram em Itabirito para conversar com o promotor. “A empresa procurou o Ministério Público para dar continuidade as conversações em torno da recomendação. Dentro de 48 horas vamos marcar uma nova data para uma nova reunião em que vai ser discutida a possibilidade de acordo em torno dos itens constantes na recomendação. De forma que já estávamos preparados para ingressar com uma Ação Civil Pública, então a empresa requereu pela continuidade do diálogo. A recomendação permanece fundamental em nosso entendimento”, avaliou Vinicius.

Segundo ele, na semana que vem acontece a reunião para retomada das negociações e de uma solução consensual para a remoção dos moradores atingidos pela Barragem Casa de Pedra que queiram deixar suas casas por medo que eles têm vivenciado. Em ata, os representantes da CSN abriram ao diálogo para cumprimento dos itens da recomendação ou busca de soluções pertinentes.  “A própria empresa procurou a promotoria para abrir negociações de itens averbados na recomendação. É uma grande notícia para Congonhas”, finalizou.  Segundo Vinicius, uma equipe de promotores vai atuar na possibilidade do acordo.


Esta matéria foi originalmente publicada pelo jornal “Correio de Minas” [Aqui!]

Barragem da CSN Congonhas (MG) está por um fio

Imagens de satélite indicam rachadura em barragem da CSN em Congonhas

Para arquiteto que fez estudos sobre situação de diversas barragens, a da mineradora e siderúrgica é a mais crítica. Nesta semana, Ministério Público de Minas recomendou retirada de famílias do entorno

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Vista geral da região de Congonhas. As linhas vermelhas indicam o perímetro da barragem Casa de Pedra, conforme imagem de 12 de fevereiro de 2018

Por Cida Moreira para a Rede Brasil Atual

São Paulo – Imagens de satélite obtidas por meio do aplicativo Google Earth indicam rachaduras e grandes manchas de umidade na barragem Casa de Pedra, da Companhia Siderúrgica Nacional (CSN), em Congonhas (MG). O reservatório de rejeitos de mineração da empresa privatizada em 1993 é cinco vezes maior que o do Córrego do Feijão, da mineradora Vale, em Brumadinho, que se rompeu em 25 de janeiro, matando pelo menos 308 pessoas – 203 corpos já foram resgatados e há 105 desaparecidos. 

Na quarta-feira (12), o Ministério Público de Minas Gerais (MP-MG) divulgou recomendação para que a CSN remova 600 famílias moradoras dos bairros Cristo Rei e Residencial Guarter Monteiro, no entorno da barragem. E que garanta o pagamento emergencial de aluguel no valor de R$ 1.500 por mês, em bairros com infraestrutura e oferta de creches e escolas, até que se tenha um plano de compensação para essas pessoas que já moravam nas imediações quando o empreendimento foi instalado. 

Uma análise do arquiteto e urbanista independente Frederico Lopes Freire, de Colatina (ES), que comparou imagens do período de 2002 a 2018, aponta que a área da barragem (imagem a seguir) está completamente tomada por uma mistura de água e resíduo de mineração. “O encharcamento dos resíduos funciona como um gatilho para uma possível liquefação estática, que leva uma barragem a se romper”, disse Freire, referindo-se a Mariana e Brumadinho. 

O processo de erosão e o acúmulo de água, que exerce pressão sobre os rejeitos secos, segundo ele, já podia ser visto em 2011, quando foi concluída a primeira fase da barragem Casa de Pedra. A comparação das imagens mostra que nessa época já não havia mais o córrego ou canal natural de drenagem.

Imagens de 2013 indicam reforços e reparos. Mas a obra de ampliação da barragem, em 2015, não resolveu o problema da erosão. Houve tentativas de controle do processo, conforme o arquiteto, que não obtiveram êxito, conforme imagens de 2017. Tanto que a mancha de umidade e a erosão aumentaram.

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Imagens da mesma barragem. Foto da esquerda indica erosões, lago e solo completamente encharcado

Independente, isenta de preconceitos ou tendências subjetivas, como definição de responsabilidades ou possíveis culpados, como Freire fez questão de ressaltar à RBA, sua análise tem como objetivo ajudar a evitar a ocorrência de novos desastres, a exemplo de Brumadinho, que o levou a pesquisar imagens de satélite e constatar deformações e rachaduras que serão tema de outra reportagem.

Ele passou a analisar imagens das barragens de Mar Azul, em Nova Lima, Pontal, em Itabira, e Casa de Pedra, em Congonhas, todas em Minas Gerais. “Sabemos que a liquefação estática leva ao colapso da barragem. Não há dúvidas. Então, a imprevidência quanto aos seus efeitos, sem um planejamento das consequências a longo prazo, traz a perspectiva de mais um acontecimento funesto”, disse.

A boa notícia, segundo o arquiteto, é que existem alternativas ao desmonte das barragens ou retirada dos rejeitos, que podem desestabilizá-las e até contribuir para outro tipo de liquefação, a dinâmica. Entre as tecnologias, a estabilização elétrica e eletroquímica, que consiste na descarga elétrica no solo em tensões específicas conforme as características e objetivos. “É preciso que os responsáveis pelas mineradoras se conscientizem de que não há um caminho fácil para uma solução, mas a ação tem de ser imediata”.

Desde a primeira análise, de Brumadinho, Freire tentou, sem êxito, contato com os grupos empresariais proprietários dos empreendimentos e a Prefeitura de Congonhas. No entanto, seus estudos foram recebidos por especialistas da organização internacional de pesquisa World Mine Tailings Failures, que mantém um banco de dados sobre falhas e eventos adversos significativos na deposição e armazenamento de rejeitos minerais, de fundições e refinarias.

Segundo a entidade, de 1990 para cá é crescente o número de falhas, cada vez mais graves. Os especialistas do World Mine defendem mudanças na legislação e regulamentação, nas práticas da indústria e em novas tecnologias mais seguras. Diante das condições atuais, as estimativas são de pelo menos 19 graves desastres até 2027.

A reportagem tentou contato com a CSN e com a prefeitura de Congonhas, mas não obteve posicionamento até o fechamento desta reportagem. Em sua página oficial, a mineradora e siderúrgica mantém uma mensagem. Afirma lamentar “profundamente o ocorrido em Brumadinho” e que a “barragem de Casa de Pedra, com método de construção a jusante, é segura”. Diz ainda que “a empresa está na vanguarda do tratamento de rejeitos, com investimento de R$ 250 milhões na tecnologia de empilhamento a seco, que já cobre 40% do volume de seus rejeitos, o maior empreendimento do tipo já feito no Brasil”.

Afirma também que até o fim de 2019 estará processando “100% do seu minério a seco, descartando a utilização de barragens para o processo produtivo”. “A população de Congonhas pode ficar tranquila.”


Esta matéria foi originalmente publicada pela Rede Brasil Atual [Aqui!]

MP de Minas Gerais notifica CSN para que faça remoção de moradores próximos de barragem em Congonhas

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No dia 06 de março,  publiquei uma análise visual de imagens de satélite obtidas na plataforma Google Earth feita pelo arquiteto e urbanista Frederico Lopes Freire sobre a condição de instabilidade a que estaria submetida a mega represa de rejeitos que a Companhia Siderúrgica Nacional (CSN) possui na cidade de Congonhas (MG), mais precisamente a barragem Casa de Pedra.

Pois bem, na tarde desta 3a. feira (12/03), o jornal “O TEMPO” publicou uma matéria assinada pelas jornalistas Natália Oliveira e Letícia Pontes dando conta que o Ministério Público de Minas Gerais recomendou que a CSN pague os custos para a remoção  de “moradores dos bairros Cristo Rei e Residencial Guarter Monteiro que sofrem por medo de rompimento da barragem“. A reportagem informa ainda que o MP/MG  pede que “eles (os moradores) sejam evacuados da área de risco e transferidos para local seguro”.

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A matéria informa ainda que o “MP deu dez dias úteis pra empresa responder se irá cumprir a recomendação“, e que “a mineradora informou que não irá se pronunciar sobre a recomendação por enquanto“.

Dada a situação vislumbrada por Frederico Lopes Freire nas análises citadas acima, o melhor que a CSN deveria fazer seria promover a imediata remoção dos habitantes mais ameaçados pela barragem Casa de Pedra. Além disso, seria mais do que prudente que a CSN iniciasse um processo urgente de verificação da situação da barragem, de modo a adotar todas as medidas possíveis de estabilização da Casa de Pedra.

A explicação para isto é bem singela: é que tudo aponta para um efeito ainda mais devastador sobre Congonhas do que já se viu em Mariana e Brumadinho. A razão para isto é simples: o grande volume de rejeitos estocados em Casa de Pedra e a proximidade extrema da barragem com a área urbana de Congonhas.

E como já aconteceu em Brumadinho, se o pior acontecer não será por falta de aviso.  A ver!

O espectro de Mariana e Brumadinho paira sobre Congonhas

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Este blog vem publicando uma série de análises produzidas pelo arquiteto e urbanista Frederico Lopes Freire onde ele alerta para o que tenho chamado de “padrão Brumadinho”. Essas análises resultam de uma meticulosa inspeção visual onde são detectados uma série de fatores que podem conduzir ao rompimento de mega barragens de rejeitos.

Estou hoje publicando a análise situacional da barragem Casa de Pedra que é de propriedade da Companhia Siderúrgica Nacional (CSN) que está situada imediatamente à montante da área urbana de Congonhas, cidade mundialmente conhecida por abrigar algumas das obras mais notáveis do escultor Antonio Francisco Lisboa, o Aleijadinho.

A série temporal analisada vai de 2002 a 2018, o que permitiu a Frederico Lopes Freire realizar uma série de verificações que não deixam dúvidas sobre o grave risco que já é de conhecimento público há alguns anos.

Como está bem frisado neste relatório, a situação verificada requer ação imediata da CSN e dos órgãos de governo para que se impeça a repetição das Tsulamas de Mariana e Brumadinho.  Um fato inédito na barragem Casa de Pedra é que seu a mesma está tomada por uma mistura de água e resíduo, algo não observado até então, em nenhuma das análises feitas por Frederico Lopes Freire.

 

Análise de imagens da Barragem Casa de Pedra,  da Companhia Siderúrgica Nacional (CSN), município de Congonhas-MG

 Por Frederico Lopes Freire*

 Este é um relatório pessoal, com base em observação de imagens de satélite disponibilizadas no Google Earth.

 Imagem 01 – Congonhas-MG – imagem datada de 12 de fevereiro de 2018 – última imagem disponível.

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Vista geral da região da cidade de Congonhas. Perímetro aproximado da barragem mostrado em linhas vermelhas e referências de nível indicadas com marcador amarelo, de acordo com a última imagem disponível, datada de 12 de fevereiro de 2018..

Imagem 02 – Datada de 08 de julho de 2002.casa 2

Imagem mostra a configuração geral quase virgem da área da barragem. Naquela data, duas barragens em sequencia, marcadas “Casa de Pedra” e “900”, coletavam água e rejeitos provenientes das direções indicadas no alto da imagem.

As linhas vermelhas indicam a projeção da área a ser ocupada pela barragem, em 12 de fevereiro de 2018. Os marcadores amarelos indicam níveis do terreno ou pontos de interesse a serem descritos posteriormente. 

Importante observar que partindo da barragem no nível 900, a depressão na vegetação indica o leito do córrego em direção a cota 878. Este córrego será aterrado e substituído por um canal de drenagem, também a ser eliminado posteriormente.

Outro córrego é indicado na parte superior direita da imagem, fluindo na direção do indicador “erosão n-880”, a ser descrito posteriormente.

Imagem 03 – Datada de 02 de outubro de 2007.

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Em andamento os serviços de desmatamento e terraplanagem para a  construção da nova barragem.  O córrego que existia entre o marcador 900 e o 878, foi eliminado, sendo um canal de drenagem construído logo a direita.

É visível no canto inferior esquerdo a locação do que serão os canais de drenagem futuros, junto ao marcador 898.

Não há qualquer sinal de erosão junto ao marcador n-880, no topo a direita da imagem, e na direção do qual fluía córrego indicado na imagem 02.

Imagem 04 – Datada de 24 de agosto de 2011

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 Construção da primeira fase da nova barragem está concluída. As antigas barragens acima e em torno do marcador 900 foram eliminadas. Grande acúmulo de águas superficiais até a parede da barragem.

Novos canais de drenagem estão concluídos no canto inferior esquerdo da imagem. Na parte superior da imagem está indicada a linha dos rejeitos que estão sendo introduzidos.

Na parte inferior da barragem, junto ao marcador 878, aparece a pequena lagoa e fluxo de água que permanecem no local até a última imagem disponível. Isto ocorre exatamente no ponto onde o córrego passava, e a vala de drenagem que o substituiu terminava.

No canto superior direito da imagem, junto e acima do marcador “erosão n-880”, aparecem erosões que serão melhor visualizadas na imagem 05 a seguir.

Imagem 05 – Datada de 24 de agosto de 2011.

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Erosões aparecem no canto superior direito da imagem, nas proximidades do marcador 930 – b, onde nada fora do comum podia ser observado nas imagens anteriores.

Erosões diversas aparecem junto ao marcador “erosão n-880” e proximidades na  direção da barragem acima, marcador 913. Indícios da localização do córrego ou canal natural de drenagem erradicado, podem ser vistos.

Imagem 06 – Datada de 29 de junho de 2013.

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Em andamento os serviços de ampliação, reforço e reparos da barragem e seu entorno. A entrada de resíduos é contida por uma barreira temporária no topo da imagem.

Barragem secundária está sendo construída, bem como contenções através de enrocamentos, ou barreiras de rochas compactadas, junto ao marcador “erosão n-880”.

Lagoa no marcador 878 na base da barragem está visivelmente maior. Ampliação da espessura da parede da barragem e do enrocamento, estão em execução logo acima do mesmo marcador e também junto ao marcador 898.

Imagem 07 – Datada de 03 de agosto de 2015.

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Construção da segunda fase da barragem está concluída. Apesar da construção de barragem secundária, erosão entre os marcadores 913 e “erosão n-880” permanece.

Lagoa e vazamento junto ao marcador 878 também permanecem inalterados.

A área da barragem está completamente tomada por uma mistura de água e resíduo, algo não observado até então, em nenhuma das análises de barragens anteriores.

Se o encharcamento dos resíduos é um gatilho para uma possível liquefação estática, o quadro está montado.

 Imagem 08 – Datada de 27 de setembro de 2017.

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Tentativa de controle das erosões junto ao marcador “erosão n-880” continua. Mancha de umidade se expande, bem como aumento das erosões e manchas existentes, com surgimento de novas.

Esta é, sem dúvida, a área mais crítica exigindo imediata ação de correção.

Este relatório tem por objetivo uma análise isenta de preconceitos ou tendências subjetivas, como definição de responsabilidades ou possíveis culpados.

O objetivo único é salvaguardar vidas. Por duas vezes um desastre ocorreu, e, se na primeira vez, dúvidas poderiam existir quanto a causa do colapso da barragem, na segunda não há mais dúvida quanto ao papel principal da liquefação estática.

Novamente a imprevidência quanto aos efeitos de se eliminar o equilíbrio natural existente, sem um planejamento das consequências a longo prazo, traz a perspectiva de mais um acontecimento funesto.

A exploração dos recursos naturais é fundamental para o progresso e bem estar da sociedade, desde que os recursos da ciência não sejam aplicados somente na eficiência econômica.

Desde nossa primeira análise em Brumadinho, temos tentado contato com os grupos empresariais proprietários dos locais em foco, sem absolutamente nenhum retorno.

Apontar causas é um trabalho bem mais fácil do que apontar soluções, mas estas existem. É agora tempo de investir nas soluções, interromper o uso das barragens é uma solução temporária, as bombas relógio continuarão sua trajetória.

O desmonte das barragens ou retirada dos rejeitos é uma operação de extremo perigo sem uma estabilização e drenagem dos excessos de líquido.

É preciso que os responsáveis pelas mineradoras se conscientizem de que não há um caminho fácil para uma solução, mas esta existe e exige ação imediata.

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*Frederico Lopes Freire é  Arquiteto e Urbanista. Este relatório é propriedade de Frederico Lopes Freire, a quem deverá ser solicitado autorização para publicação ou qualquer outra utilização.

Barragem da CSN coloca Congonhas sobre risco grave e iminente

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Barragem Casa de Pedra da CSN, situada logo acima da área urbana de Congonhas (MG) é considera como “propensa ao rompimento” desde 2017.

Venho publicando neste blog uma série de análises produzidas pelo arquiteto e urbanista Frederico Lopes Freire (Aqui!, Aqui! e Aqui!).  Inquieto com o que anda vendo e estupefato com a falta de resposta governamental, o arquiteto radicado às margens do Rio Doce em Colatina, norte do Espírito Santo, continua fazendo inspeções visuais em outras grandes barragens de rejeitos, onde acredita continuam persistindo os mesmos sintomas pré-colapso que estavam presentes nas Tsulamas da Mineradora Samarco em Mariana e da Vale em Brumadinho.

Abaixo publico uma imagem que Frederico Lopes Freire analisou, utilizando uma imagem de 02 de dezembro de 2018, as condições em que se encontra a barragem Casa de Pedra que é operada pela Companhia Siderúrgica Nacional (CSN) na cidade de Congonhas onde se encontram localizadas as principais obras do escultor Antônio Francisco Lisboa, o Aleijadinho.

Barragem Casa de Pedra - Detalhe - # 2 - 02 de dezembro de 2018

Paredes encharcadas e com deformações repetem padrão pré-ruptura de Mariana e Brumadinho.

Além das deformações que já havia identificado em suas análises anteriores, Frederico Lopes Freire identificou graves problemas numa das paredes laterais onde a presença de água está contribuindo para o encharcamento do solo a um ponto no qual a vegetação está morrendo e há o que parece ser um fluxo superficial. Todas essas condições seriam indicativas de que as paredes estão para romper, seguindo os mesmos padrões que ocorreram em Mariana e Brumadinho.

Para quem acha que Frederico Lopes Freire está tomado por um alarmismo infundado sugiro a leitura de uma reportagem escrita pelo jornalista Mateus Parreira, enviado especial do jornal Estado de Minas,  que visitou a cidade de Congonhas em Novembro de 2017 (ver imagem abaixo). Nessa reportagem, Mateus Parreira ofereceu informações importantes sobre as condições precárias do chamado “Plano de Ações Emergenciais” onde inexistiam, por exemplo, sirenes para alertar sobre emergências e sinalização de campo, treinamento adequado, mapas que simulam inundação não indicam pontos de fuga ou clareza nas rotas de fuga e pontos de encontro de eventuais desabrigados (ver infográfico abaixo).

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Assim, chega a ser inacreditável que, a despeito de tanta informação já acumulada sobre o risco grave e iminente que páira sobre Congonhas, ainda seja possível que a partir de uma inspeção visual (por olhos altamente treinados, é verdade), nada realmente de grande porte tenha sido feito pela CSN para diminuir as chances de que a represa Casa de Pedra venha a passar por um processo de ruptura causado pela liquefação de suas paredes.

E é preciso deixar claro que se as análises de Frederico Lopes Freire tem sido publicizadas apenas via este blog, pois ele tem feito um grande esforço para sensibilizar governantes e as empresas proprietários destes mega reservatórios. Mas até aqui seus esforços têm encontrado um muro mais sólido do que os das barragens que romperam ou ameaçam romper. Mas uma coisa é certa: se Casa de Pedra romper seguindo o mesmo padrão de Brumadinho e causar grande destruição humana, ambiental e urbana em Congonhas, não vai ser por falta de aviso.

População de Congonhas do Campo (MG) se mobiliza contra a barragem de rejeitos da CSN

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Aconteceu no dia 29/01, uma grande assembleia comunitária em Congonhas do Campo para discutir as  possíveis ações no sentido de resguardar a população e garantir a segurança de todos diante do risco que a Barragem Casa de Pedra representa.

Mais de 1.500 pessoas compareceram à assembleia, mas  não só moradores dos bairros que fazem parte da área considerada de maior risco (i.e., Residencial Gualter Monteiro e Cristo Rei), mas habitantes de diversas regiões da cidade que se solidarizam com a causa, e se preocupam com a situação a que Congonhas do Campo está exposta por causa da barragem da Companhia Siderúrgica Nacional (CSN).

Na oportunidade foram apresentadas três propostas de ações a serem reivindicadas pela população junto à CSN:

1. Desocupação imediata dos bairros Residencial Gualter Monteiro e Cristo Rei com remoção dos moradores para residências em áreas seguras da cidade, sob responsabilidade da CSN.

2. Suspensão imediata das operações na barragem e monitoramento constante de sua estrutura com pessoal qualificado, além de iluminação de toda sua área. Em seguida, início do processo de esvaziamento e secagem da barragem.

3. Indenização às famílias por danos morais em decorrência da situação de ameaça constante vivida por todos desde a instalação da barragem no local e seus processos de alteamento.

Os presentes foram favoráveis às três propostas e decidiram também entregar um documento com a descrição de tais ações à CSN, todos juntos, em um ato de luta. Aprovaram ainda, o prazo de três dias para que a empresa apresente uma resposta à população.


Fonte: Movimento pela Soberania Popular na Mineração (MAM) [Aqui!]