Desmatamento na Amazônia brasileira bate novo recorde em janeiro

fogo ilegalIncêndio ilegal na floresta amazônica, no estado de Mato Grosso, em 11 de agosto de 2020 afp_tickers

(AFP) O desmatamento na Amazônia brasileira atingiu um novo recorde para janeiro já nas três primeiras semanas do ano, segundo dados oficiais divulgados nesta quarta-feira (2), um sinal alarmante da destruição da maior floresta tropical do mundo.

Cerca de 360 km² de floresta foram destruidos entre 1º e 21 de janeiro, de acordo com dados preliminares divulgados pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe).

Embora o registro pare em 21 de janeiro, a área desmatada até esse dia já é maior do que qualquer janeiro completo desde 2015, quando o Inpe lançou o programa de monitoramento periódico Deter. 

O desmatamento da Amazônia em janeiro do ano passado foi de 83 km², quatro vezes menos do que o registrado nas três primeiras semanas de 2022.  Especialistas ambientais disseram que os dados podem indicar um risco elevado de que 2022 se torne outro ano devastador para a Amazônia do Brasil, onde o desmatamento aumentou desde que o presidente Jair Bolsonaro assumiu o cargo em 2019.

“Um número tão alto em janeiro, que é o pico da estação chuvosa, certamente chama atenção e nos deixa extremamente preocupados”, disse à AFP Claudio Angelo, da ONG Observatório do Clima. 

Em novembro, o Inpe anunciou que o desmatamento da Amazônia brasileira havia se estendido a 13.235 km2 entre agosto de 2020 e julho de 2021, um número inédito em 15 anos.

Foi o terceiro aumento anual consecutivo desde a chegada ao poder de Bolsonaro, que é alvo de críticas internacionais por ter enfraquecido as políticas de proteção à floresta e por ter promovido a mineração e a exploração agrícola em áreas protegidas.

“Precisamos aguardar os próximos meses, mas o sinal não é nada bom”, acrescentou Angelo.

O Observatório do Clima revelou na terça-feira que o Ibama gastou apenas 41% de seu orçamento em 2021.

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Este texto foi inicialmente publicado pelo SWI swissinfo.ch [Aqui!].

Sem freios no desmatamento: DETER – 2021 registra o pior outubro da série histórica

Enquanto governo tenta passar uma maquiagem verde para inglês ver na COP 26, dados comprovam o descontrole do desmatamento na Amazônia

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 São Paulo, 12 de novembro de 2021 – Dados do sistema DETER-B, do Instituto de Pesquisas Espaciais (Inpe), divulgados hoje, apontam para uma área desmatada na Amazônia de 877 km². Os dados contemplam todo o mês de outubro e comprovam um recorde para o mês na série histórica do Deter – B que iniciou em 2016. Ao mesmo tempo em que o Brasil tenta limpar sua imagem durante a COP de Clima, assinando declarações e assumindo compromissos, essa notícia chega para evidenciar como a Amazônia segue sob constante abandono do governo Bolsonaro.

“Enquanto o governo federal tenta vender o Brasil como potência verde na COP 26, a verdade é que o desmatamento em outubro bateu mais um recorde e vem sendo impulsionado pela política antiambiental do presidente, do ministério do meio ambiente com apoio de parte do congresso nacional. Assinar ou endossar os diferentes planos e acordos não muda a realidade do chão da floresta, o desmatamento e queimadas continuam fora de controle e a violência contra os povos indígenas e população tradicional só aumenta”, declara Rômulo Batista, porta-voz da campanha Amazônia do Greenpeace.

Os alertas de desmatamento em outubro se concentraram nos estados do Pará 501 km² (57% do total), Amazonas 116 km² (13% do total) e Mato Grosso 105 km² (12% do total). Estimativas do Observatório do Clima apontam que a maior parte (46%) dos gases estufa emitidos pelo Brasil são provenientes do desmatamento. Os dados de 2020 mostram que o Brasil continua, desde 2010, a ampliar suas emissões. No ano passado, em plena pandemia, o aumento das emissões de gases de efeito estufa no Brasil foi de 9,5%; no restante do mundo, houve redução de cerca de 7%.

“Enquanto o ministro do meio ambiente passeia na COP 26, exaltando que o futuro verde já começou no Brasil, tecendo elogio ao agronegócio brasileiro, o desmatamento continua sem parar na Amazônia e em nenhum momento dessa COP o governo apresentou a verdade que é justamente essa agropecuária “verde” a responsável direta por 73% das emissões de gases do efeito estufa no país e principal motor do desmatamento na amazônia e outros biomas no Brasil ” conclui Rômulo.

DETER confirma: desmatamento na Amazônia segue fora de controle

Governo e Congresso seguem estimulando a destruição da nossa maior aliada na contenção da crise climática, a poucos dias da divulgação de novas conclusões da ciência para o clima

Fire Monitoring in the Amazon in July, 2021Monitoramento de Queimadas na Amazônia em Julho de 2021

Área queimada em polígono com desmatamento recente, identificado pelo Deter 2021 e Prodes 2019, em Aripuanã, Mato Grosso. Todos os anos o Greenpeace Brasil realiza uma série de sobrevoos de monitoramento, para acompanhar o avanço do desmatamento e das queimadas na Amazônia. 

Monitoramento de Queimadas na Amazônia em Julho de 2021

São Paulo, 06 de agosto, de 2021 – Dados do sistema DETER, do Instituto de Pesquisas Espaciais (Inpe), divulgados hoje, confirmam a tendência dos meses anteriores: os alertas de desmatamento na Amazônia permanecem em patamares inaceitáveis. Os dados (área com alertas) até o dia 30 de julho, faltando um dia para que encerre o intervalo oficial (agosto-julho) da taxa anual de desmatamento aferida pelo Sistema Prodes (Inpe), apontou para uma área desmatada de 8.712 Km2, o segundo maior acumulado da série histórica do Deter-B.

Já era esperado que o governo não cumpriria a promessa de reduzir o desmatamento em 10%, já que a principal estratégia adotada, a GLO, é comprovadamente ineficiente. Além disso, os órgãos ambientais seguem enfraquecidos, enquanto o Congresso atua como aliado do governo no desmonte ambiental, discutindo e aprovando mudanças danosas na legislação, como o PL 2633/2020, aprovado esta semana na câmara dos deputados.”Se o senado aprovar o PL da Grilagem, estará estimulando o desmatamento de áreas extremamente estratégicas para enfrentar a crise do clima e contribuirá ativamente para o colapso da Amazônia, seguindo na direção oposta dos esforços necessários globalmente para a redução de emissões de gases do efeito estufa”, comenta Cristiane Mazzetti, Gestora Ambiental do Greenpeace Brasil.

O acumulado em alertas de desmatamento (agosto 2020 – julho 2021) representa uma redução de apenas 5,47% em relação ao mesmo período anterior e aponta que a taxa oficial de 2021 será muito aquém da redução de 10%, prometida pelo vice-presidente no âmbito nacional e internacional. O cenário da Amazônia é crítico, foram 1.417 km² desmatados apenas no mês de julho, com destaque para o estado do Amazonas, que ocupa a segunda posição, com alertas de desmatamento em 402 km², atrás apenas do estado do Pará, que registrou alertas em 498 km².

Em sobrevoo realizado na última semana de julho, o Greenpeace flagrou diversas áreas com grandes desmatamentos (incluindo um desmatamento de 2.716 hectares, equivalente a 3.888 campos de futebol) que devem queimar nas próximas semanas, quando a vegetação remanescente fica mais seca e suscetível ao fogo.

Veja imagens inéditas do sobrevoo aqui

“Estamos à beira da publicação do relatório do IPCC, que deve reforçar o papel das ações humanas na crise climática e a contribuição das emissões de carbono no agravamento de extremos climáticos. A acelerada destruição da Amazônia é um fator que contribui na intensificação de eventos como os vivenciados recentemente no Brasil, que vão desde inundações recordes no norte do país à crise hídrica nas demais regiões, trazendo impactos negativos para a sociedade brasileira como o aumento da conta de energia, do preço dos alimentos, além da ameaça de um racionamento de água e energia”, avalia Cristiane.

DETER confirma tendência de aumento dos alertas de desmatamentos e junho tem novo recorde

Foram 326Km2 de área desmatada somente na última semana do mês

desmatamento amazoniaFoto: Imagem aérea de desmatamento registrada pelo Greenpeace durante sobrevoo no estado de Roraima em abril de 2021.

Manaus, 09 de Julho de 2021 – Dados do sistema DETER, do Instituto de Pesquisas Espaciais (Inpe), divulgados hoje demonstram que os alertas de desmatamento na Amazônia não param de crescer. Os dados do mês de junho mostram uma área destruída de 1.062 Km2, que representa um aumento de 1,8% na área com alertas de desmatamento em relação aos registrados em junho de 2020. Somente na última semana do mês passado foram 326 Km2 e o acumulado no ano já soma 3.610 Km2, 17,1% maior que o mesmo período de 2020.

deter 2021

Gráfico: Área dos alertas de desmatamento para o mês de junho, segundo o Programa DETER-B/INPE. Consultado às 07:00am em 09/07/2021.

Apesar dos números crescentes, o governo federal insiste em manter uma operação cara e comprovadamente ineficaz em lidar com o problema, enviando as tropas militares através da GLO, para combater o desmatamento. Dessa forma, validando a política antiambiental do atual governo que fragilizou órgãos de fiscalização, como Ibama e ICMBio.

“É mais um triste recorde para a floresta e seus povos, esse número só confirma que o Governo Federal, não tem capacidade de combater toda essa destruição ambiental. Enviar o exército à Amazônia, somente neste momento em que o fogo e a devastação estão, mais uma vez, avançando sobre a floresta, é uma estratégia tardia e equivocada, deixando evidente que na verdade não há interesse em combater o desmatamento”, declara Rômulo Batista, porta-voz da campanha Amazônia do Greenpeace.

Esse tipo de operação vem, há dois anos, mobilizando recursos públicos muitas vezes superiores ao orçamento anual do IBAMA para fiscalização e um grande número de militares, sem efetividade na prevenção do desmatamento e queimadas, o resultado é o aumento desses números. Além de não evitar o desmatamento, o próprio governo divulgou os 26 municípios onde atuarão as Forças Armadas, o que compromete o “elemento surpresa” necessário para encontrar e punir criminosos.

Estamos vivendo uma crise climática que se agrava com esses recordes de queimadas e desmatamentos, os reflexos no Brasil já podem ser vistos, como por exemplo a crise hídrica, causando o aumento da conta de luz e a aumento no preço dos alimentos. Mas ao invés de prevenir e combater o crime ambiental, esquemas organizados e patrocinados por grandes proprietários e grileiros de terra encontram-se amparados pelo esvaziamento das políticas de proteção ambiental, das atividades de fiscalização e pelas sinalizações vindas também do Congresso Nacional, que vem atuando para legalizar o ilegal. Exemplo são os Projetos de Lei 2633/2020 e 490/2017 que anistia grileiros e abre terras indígenas para atividades predatórias – respectivamente.

“Ao invés dos parlamentares estarem focados em conter os impactos da pandemia e combater o crime que avança na floresta, e que não só queima nossas riquezas naturais, mas também a imagem e a economia do país, eles tentam aprovar projetos que irão acelerar ainda mais o desmatamento, os conflitos no campo e a invasão de terras públicas. Nosso país não precisa da aprovação destes projetos, e o Presidente da Câmara dos deputados, Arthur Lira, não deve pautar o PL da grilagem e muito menos o PL 490 que é um ataque direto aos direitos dos povos indígenas. O que precisamos é de vontade política para avançar no combate ao desmatamento, queimadas e grilagem de terras”, finaliza Rômulo.

Amazônia em chamas: desmatamento de junho de 2021 confirma pior semestre desde 2016

 
A stretch of the Amazon rainforest is deliberately burned for cattle pasture in Brazil's Rodonia State, Sept. 8, 2019. (Victor Moriyama/The New York Times)

 

O desmatamento registrado em junho na Amazônia cresceu pelo terceiro ano consecutivo: foram 1.062 quilômetros quadrados num único mês, observados pelo sistema Deter, versus 1.043 km2 em junho de 2020 e 935 km2 em 2019. Houve uma queda em relação a maio desse ano, que apresentou um pico de 1.391 km2; contudo, confirma o primeiro semestre com mais derrubada desde 2016, com 3.610 km2, ou 17% a mais do que o mesmo período de 2020 – fato já determinado na semana passada, quando faltavam números dos últimos cinco dias de junho na divulgação feita pelo INPE.

O Deter costuma apresentar dados subestimados em relação ao sistema oficial de monitoramento do desmatamento da Amazônia, o Prodes, que é divulgado anualmente. Contudo, indica tendências.

“O aumento do desmatamento na Amazônia se confirma, o que é extremamente preocupante. O sul da região pode sofrer uma seca mais pronunciada em 2021, então o combate em campo será duplamente desafiador para o governo federal”, diz o pesquisador sênior do IPAM (Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia), Paulo Moutinho.

Segundo estudo recém-lançado pelo IPAM e o Woodwell Climate Research Center, existem 5 mil quilômetros quadrados de vegetação desmatada desde 2019 esperando o fogo, e um efeito somado do fenômeno La Niña e o aquecimento de partes do Atlântico Tropical Norte pode criar condições mais secas para a região – o que facilita o espalhamento do fogo.

Nesta semana, o vice-presidente Hamilton Mourão, que lidera o Conselho Nacional da Amazônia, afirmou que o objetivo da GLO (Garantia da Lei e da Ordem) na região nos próximos meses é reduzir em 10% o desmatamento.

“É insuficiente: só a derrubada que acontece nas florestas públicas não destinadas, que é totalmente ilegal, responde por um terço de todo o desmatamento na Amazônia”, afirma Moutinho. “A sinalização de que alguma ilegalidade é admitida, somada a projetos como o PL 2633, que em nome da regularização fundiária pode anistiar grilagem, tendem a estimular ainda mais desmatamento.”

Outro ponto de preocupação é a falta de clareza sobre ações de coibição das queimadas. “A publicação de uma moratória do fogo neste ano, como aconteceu no ano passado, deve ser seguida de apoio às brigadas em campo e a um trabalho de conscientização em curto e médio prazo, para que o fogo deixe de ser usado na prática rural”, explica o diretor de Políticas Públicas e Desenvolvimento Territorial do IPAM, Eugênio Pantoja.

O antiambientalismo sob pressão

Por  Helena Margarido Moreira*

 
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São Paulo, 14 de dezembro de 2020 – A cada novo mês, nos deparamos com quebras de recordes nos desmatamentos e queimadas de nossa vegetação nativa. Até o dia 22 de outubro, o número de queimadas na Amazônia já havia superado os registros do ano de 2019, quando a média mensal de áreas que receberam alertas de desmatamentos pelo Deter (Sistema de Detecção de Desmatamento em Tempo Real) foi de 1.189 Km2, enquanto que entre 2015 e 2018 foi de 576 Km2.

Os focos de calor no mês de outubro de 2020 já foram 73% superiores ao do mês de setembro e também é superior a anos anteriores. Esta espiral do fogo e do desmatamento, porque os dois estão diretamente relacionados, vem consumindo a biodiversidade brasileira e ameaçando a sobrevivência das comunidades indígenas. Também, mudanças no uso do solo e o agronegócio são os principais vetores de emissão dos gases de efeito estufa (GEE), que intensificam o aquecimento global, o que coloca o Brasil como o sétimo maior emissor do mundo.  

Os últimos relatórios do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC) já apontavam que riscos associados ao clima para os sistemas natural e humano são maiores para o aquecimento global de 1,5°C que para o atual (que já está em torno de 1℃), mas ainda menores que para 2°C. Esses riscos dependem da magnitude e ritmo do aquecimento, localização geográfica, níveis de desenvolvimento e vulnerabilidade, de escolhas e da implementação de políticas de adaptação às mudanças climáticas e de mitigação das emissões de GEE. A cada aumento de temperatura, aumentam também os riscos associados ao clima para a saúde, para os meios de subsistência, para a manutenção da biodiversidade, para a segurança alimentar, o abastecimento de água e para o crescimento econômico. Estes efeitos são sentidos de forma ainda mais severa pela população de baixa renda, intensificando as desigualdades socioeconômicas entre os indivíduos.

A este cenário desafiador, se soma uma pressão cada vez maior da comunidade internacional, que será liderada a partir de janeiro de 2020 pelo presidente eleito dos EUA, Joe Biden, e sua agenda prioritária de combate à crise climática. A pressão, portanto, para que o Brasil garanta o cumprimento de nosso aparato de proteção ambiental e se empenhe não só a cumprir as metas do Acordo de Paris, mas renová-las com mais ousadia, aumenta bastante com o início do governo Biden-Harris nos EUA. Neste contexto, o Brasil deve, junto aos demais países signatários do Acordo de Paris, submeter até o final deste ano metas e planos de ação mais ousados que permitam que o aumento da temperatura global da Terra se limite à 2℃ (o que já traz consequências bastante graves).

Naomi Klein afirma que o negacionismo climático não será mais voltado à negação da ciência do clima, mas sim às políticas de proteção às populações mais vulneráveis que necessariamente deverão ser tomadas pelos governantes no combate à crise climática que vem se intensificando, e que traz impactos desiguais nas diferentes regiões do planeta. E as respostas passam necessariamente, portanto, por pensar em desigualdade e crise climática. É preciso garantir a proteção dos biomas, zerar o desmatamento ilegal, proteger as populações indígenas e as populações mais vulneráveis.

*Helena Margarido Moreira é doutora em Geografia pela USP e Professora de Relações Internacionais. 

Amazônia: alta do desmatamento não é inépcia; é projeto

Alertas de devastação em 2020 têm novo pico, de 9.205 km2, mesmo com Exército na Amazônia; Jair Bolsonaro poderá ser primeiro presidente da história com dois anos seguidos de aumento recorde no corte da floresta

queimadasGrandes queimadas começam a aparecer em Rondônia. Na imagem de satélite da NASA registrada ontem, pode-se ver grandes focos circundando áreas indígenas, como a Karipuna e Uru-Eu-Wau-WAu. São focos de grilagem.

NOTA DO OBSERVATÓRIO DO CLIMA

Somente alguém que tenha chegado ontem de um outro planeta poderia se surpreender com a nova alta nos alertas de desmatamento na Amazônia, que atingiram imorais 9.205 quilômetros quadrados em 2020. A elevação de 34% na velocidade da devastação neste ano, medida pelo sistema Deter, do Inpe, tem dois agravantes: ela vem após um ano que já havia tido o maior desmatamento desde 2008. E ocorreu mesmo após três meses de presença das Forças Armadas na floresta – em tese para combater o desmatamento.

Desde a campanha eleitoral que levou Jair Bolsonaro à Presidência da República, a área de alertas de desmatamento dobrou na Amazônia. Os alertas do Deter são uma subestimativa; a taxa oficial de devastação, dada pelo sistema Prodes, mais preciso, será conhecida apenas no fim do ano. No entanto, se a variação entre os dados do Deter e os do Prodes ficar na média histórica, poderemos ter cerca de 13.000 quilômetros quadrados de desmatamento, a maior taxa desde 2006 e três vezes mais do que a meta da Política Nacional de Mudança do Clima para 2020. Será também a primeira vez na história que o desmatamento na Amazônia tem duas altas seguidas na casa dos 30%.

dados deter

Acabam de sair dados para o mês de julho do sistema Deter do INPE. Está confirmado: o desmatamento na Amazônia cresce sem controle, mesmo durante a pandemia. Nos últimos 12 meses, o crescimento é de 34% comparado com o mesmo período do ano passado. Foram derrubados 9,2 mil km²

Isso não acontece por incompetência do governo no combate à devastação; acontece porque a agenda do governo Bolsonaro é promover ativamente a devastação. Não é inépcia; é projeto.

Desde o início do governo um amplo grupo de atores – que vai de cientistas a povos indígenas, passando por ex-ministros, organizações ambientalistas, servidores federais e Ministério Público – vem denunciando o desmonte sistemático da governança ambiental brasileira: o fechamento branco do Ministério do Meio Ambiente, o enterro dos planos de combate ao desmatamento na Amazônia e no Cerrado, a banana dada ao Acordo de Paris, a perseguição a fiscais e a omissão ideológica e ilegal em investir no combate a ilícitos ambientais mesmo tendo quase R$ 2 bilhões em caixa.

Tal conjunto de ações e omissões, que o ministro do Meio Ambiente tão bem sintetizou na infame expressão “passar a boiada”, é o responsável direto pelo descontrole do desmatamento, que transforma o Brasil em pária internacional e ameaça levar embora investimentos no momento em que eles são mais necessários, o de recuperação econômica no pós-pandemia.

Declarações de integrantes do Observatório do Clima

“A explosão do desmatamento na Amazônia tem como causa importante o discurso do Presidente da República, que deslegitima a fiscalização ambiental ao mesmo tempo em que estimula a ocupação da região em modelo predatório. O Ministro do Meio Ambiente segue as ordens de seu patrão. Quem lucra com isso é o desmatador ilegal, o grileiro, o investidor no garimpo sem controle que explora trabalho escravo. Se quisesse controlar o desmatamento, e essa realmente não parece ser a intenção, o governo retomaria o Plano de Prevenção e Controle do Desmatamento na Amazônia e reforçaria a atuação do Ibama e outros órgãos ambientais, no lugar de gastar dinheiro com a atuação teatral das Forças Armadas.” – Suely Araújo, especialista-sênior em Políticas Públicas do OC

“Os números mostram, mais uma vez, a verdade que o governo trabalha para esconder. Combate ao desmatamento se faz com transparência, ciência, áreas protegidas, órgãos especializados eficientes e controle social. Tudo o que Bolsonaro odeia. A política de destruição promovida pelo governo empodera os que lucram com a floresta no chão e ameaça os que lutam para mantê-la em pé, arrastando o Brasil para o atraso. Ao ignorar a importância de conservar nossas riquezas naturais, o governo Bolsonaro impacta de forma negativa os brasileiros, a economia do país e o clima global.” – Mariana Mota, coordenadora de Políticas Públicas do Greenpeace Brasil

“Será difícil conter o desmatamento se o governo continuar a intenção de alterar a legislação fundiária para legalizar áreas desmatadas e invadidas ilegalmente. A grilagem de terras públicas é um vetor do desmatamento, que é estimulado com a expectativa de anistia e legalização” – Brenda Brito, pesquisadora-associada do Imazon

“Os dados do Inpe indicam que o Brasil fracassou no cumprimento de sua lei de clima, cuja meta para 2020 era limitar o desmatamento na Amazônia a no máximo 3.925 km2. Isso também nos desvia da rota do Acordo de Paris, o que criará uma série de dificuldades comerciais para o Brasil no período crítico de recuperação econômica no pós-pandemia. O crime tomou conta da Amazônia, incentivado pelo próprio governo Bolsonaro.” – Marcio Astrini, secretário-executivo do Observatório do Clima

“A alta nos alertas de desmatamento entre o ano da eleição e este ano é de 101%. Como lembrou um amigo meu, a ex-presidente Dilma Rousseff dizia que quanto atingisse a meta dobraria a meta. Jair Bolsonaro acabou com a meta e dobrou o desmatamento.” – Caetano Scannavino Filho, coordenador do Projeto Saúde e Alegria

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Este texto foi inicialmente publicado pelo Observatório do Clima [Aqui!].

Greenpeace registra imagens de focos ilegais na Amazônia

Com falta de fiscalização e inteligência no combate aos danos ambientais, Brasil pode registrar novos recordes de fogo na Amazônia neste ano

unnamed (12)Foto: © Foco de calor direto em floresta, próximo a área recém desmatada, com alerta Deter, em Alta Floresta (MT). Christian Braga / Greenpeace.

Manaus, 17 de julho de 2020 – Mesmo com a medida que proíbe queimadas em Mato Grosso a partir de 1 de julho, o Greenpeace registrou imagens de focos de incêndio na floresta amazônica no Estado em sobrevoo realizado na semana passada. Além das áreas completamente queimadas, o Greenpeace também registrou imagens de áreas sendo preparadas para a queima. Com 4.437 focos de incêndio até o dia 13 de julho, o Estado de Mato Grosso já conta com o maior número de queimadas na Amazônia brasileira este ano, representando 49,52% de todas as queimadas na região em 2020.

Acesse as imagens aqui

“Essas imagens e o aumento recorde do desmatamento este ano são o resultado da política antiambiental do governo para a Amazônia, que ainda tenta usar a crise provocada pela Covid-19 como uma cortina de fumaça para permitir ainda mais desmatamento, grilagem e garimpo na floresta. A única coisa que este governo está fazendo é colocando o clima e mais vidas em risco, especialmente as dos povos indígenas”, afirma Rômulo Batista, porta-voz da campanha de Florestas do Greenpeace Brasil.

Em junho de 2020, 2.248 focos de incêndio foram registrados na Amazônia, um aumento de 19,57% comparado a junho de 2019 (1.800) e o maior número registrado para o mês desde 2007. Entre 1 e 13 de julho, 1.057 focos de incêndio foram registrados no bioma. Atualmente, todos os focos de incêndio na Amazônia são considerados ilegais devido a um decreto, publicado essa semana, proibindo queimadas entre julho e setembro.

“Incêndios não ocorrem de forma natural na Amazônia. O fogo é ateado por fazendeiros e grileiros para remover a floresta ou quando ela já está derrubada e seca pelo sol, visando aumentar as áreas de pastagem ou agrícola, especulação de terras e grilagem. A prática se tornou ainda mais comum com a falta de fiscalização e desmantelamento dos órgãos ambientais promovido por este governo, pois gera a sensação de certeza da impunidade. Hoje, os criminosos já esperam que o governo aprove leis e medidas que venham a conceder anistia da grilagem e desmatamento ilegal. Como se não bastasse a ameaça do novo coronavírus, com a temporada de fogo os povos indígenas estarão ainda mais vulneráveis, pois a fumaça e a fuligem das queimadas prejudicam ainda mais sua saúde”, explica Batista.

Mesmo com a ameaça de saída de investidores e os impactos resultantes na reputação e a economia do país, a resposta do governo tem sido teatral e ineficiente: com orçamento de R$ 60 milhões por mês, a Operação Verde Brasil 2, via Garantia da Lei e da Ordem (GLO), não tem diminuído o desmatamento. “As imagens da Amazônia em chamas em Mato Grosso são um claro exemplo de que a moratória do fogo, não funcionará se não estiver acompanhada de um trabalho eficiente de comando e controle, que Bolsonaro segue enfraquecendo. Afinal, criminoso não é conhecido por seguir a lei. Não podemos nos enganar com a propaganda do governo, pois ela não resultará em proteção à floresta e seus povos”, finaliza Rômulo.

Governo Bolsonaro exonera responsável por monitorar Amazônia no Inpe

queimadasA demissão acontece em meio às maiores taxas de alerta de desmatamento da Amazônia dos últimos cinco anos. Imagem: Getty Images

Por Giovana Girardi para

Em meio às maiores taxas de alerta de desmatamento da Amazônia dos últimos cinco anos, foi exonerada hoje a pesquisadora responsável pelo trabalho de monitoramento da devastação florestal no Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe).

Lubia Vinhas ocupava o cargo de coordenadora-geral de Observação da Terra do Inpe, departamento responsável pelos sistemas Deter e Prodes, que acompanham o desmatamento da Amazônia. A exoneração foi publicada no Diário Oficial desta segunda, assinada pelo ministro Marcos Pontes, da Ciência e Tecnologia, pasta à qual é vinculada o Inpe. O motivo ainda não foi esclarecido. A reportagem procurou o ministério, mas ainda não recebeu uma resposta.

Na sexta-feira (10), o órgão atualizou em seu site os dados referentes ao desmatamento da Amazônia em junho, apontando que o ritmo de alta se manteve, mesmo com uma ação de militares na região desde maio e com a pressão que vem sendo feita por investidores estrangeiros para que o governo controle o problema.

Alertas feitos pelo sistema Deter, do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), indicam a perda de 1.034,4 km² no mês de junho, alta de 10,65% em relação a junho do ano passado, quando os alertas apontaram desmate de 934,81 km². Em apenas um mês, foram derrubados na Amazônia o equivalente à área da cidade de Belém (Pará).

É o mês de junho com maior devastação dos últimos cinco anos. Já são 14 meses consecutivos de alta no corte da floresta em relação aos mesmos meses do ano anterior. Em oito desses meses, as taxas bateram os recordes do registro desde 2015

No acumulado desde agosto (quando se inicia o calendário anual para fins de detecção do que ocorre na floresta), o Deter indica a devastação de 7.566 km², ante 4.589 km² no período de agosto de 2018 a junho de 2019. O aumento para esse período é de 65% .

O valor até o momento já é maior do que o acumulado de todos os alertas dos 12 meses entre agosto de 2018 e julho de 2019: 6.844 km². Somente nos primeiros seis meses deste ano, foram mais de 3 mil km² de florestas perdidos, o equivalente a duas vezes a área da cidade de São Paulo.

No ano passado, quando alertas do Deter começaram a indicar que a Amazônia estava sendo devastada, o presidente Jair Bolsonaro e o ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, rejeitaram inicialmente os dados e chegaram a alegar que eles eram mentirosos. O estresse acabou culminando, em agosto, na exoneração do então diretor do Inpe, Ricardo Galvão.

Alguns meses depois, quando foram divulgados os dados do sistema Prodes, que traz os dados oficiais de desmatamento na floresta, confirmou-se que a perda de vegetação na Amazônia, entre agosto de 2018 e julho de 2019 havia sido a maior desde 2008.

Apesar dos números alarmantes, da cobrança de investidores estrangeiros e nacionais, das denúncias feitas por agentes ambientais, pesquisadores e ambientalistas, o problema não cessa. As taxas mensais de alertas do Deter continuaram em alta desde então.

O governo enviou em maio deste ano uma nova operação militar para a floresta, a Verde Brasil 2, mas no mesmo período, o desmatamento continuou subindo.

fecho

Este artigo foi originalmente pelo jornal “O Estado de São Paulo” [Aqui!].

Mourão falha e desmatamento mantém viés de alta na Amazônia

Dados confirmam recorde para junho e a maior área acumulada em alertas para o período fiscal desde 2008

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Área desmatada de 1.022 ha na APA Triunfo do Xingu, na cidade de São Félix do Xingu, no Pará, com alerta de desmatamento do Deter detectado entre agosto de 2019 a junho de 2020

Por Karen Mota para o Greenpeace

São Paulo, 10 de julho, de 2020 – O desmatamento segue alcançando níveis alarmantes na floresta Amazônica, é o que comprova os dados do sistema DETER, do Instituto de Pesquisas Espaciais (Inpe), divulgados hoje. Os dados apontam alertas de desmatamento em uma área de 1.034 km² para junho, um aumento de 11% em relação ao mesmo mês do ano passado (935km²) e representam o pior junho desde 2007. Apesar dos números crescentes, o governo federal segue ineficaz em lidar com o problema, dando assim, prosseguimento à sua política antiambiental que fragilizou órgãos de fiscalização, como Ibama e ICMBio, enquanto prevê uma grande quantidade de recursos para operações militares ineficazes, sob comando do vice-presidente Hamilton Mourão.

A opção do governo em não adotar um plano concreto para impedir o desmatamento e as queimadas na Amazônia, além de colocar vidas em risco, também aumenta dramaticamente a vulnerabilidade econômica do Brasil. Isto é cada vez mais visível na relutância de alguns países europeus a acordos comerciais com o Brasil, e nas cartas enviadas ao governo brasileiro por representantes de países, investidores e empresas internacionais pedindo ações concretas para a defesa da maior floresta tropical do planeta.

A reação do governo às pressões é esconder o problema atrás de uma cortina feita de campanha publicitária, viagens e ações de fachada. “Mitigar e reverter os danos causados por esta política anti-ambiental à floresta e à imagem do país exigirá muito mais: precisamos de resultados concretos, e para isso será necessário um plano robusto para conter tamanha destruição, na linha do que foi o PPCDAM – a começar por ações de comando e controle em caráter permanente e executadas por órgãos competentes e bem aparelhados. Este é um caminho – já conhecido – que este governo insiste em ignorar”, afirma Cristiane Mazzetti, da campanha de Amazônia do Greenpeace. “Os números crescentes estampam a verdade, se enganam aqueles que aceitarem o que foi apresentado pelo governo até então como uma garantia de mudança de cenário”, completa.

A destruição avança com velocidade assustadora até mesmo em áreas protegidas (Unidades de Conservação e Terras Indígenas). Cerca de 67% do garimpo realizado na Amazônia no mês de junho ocorreu dentro dessas áreas. Foram desmatados 387 hectares para realização de garimpo em Terras Indígenas e 1.021 hectares em Unidades de Conservação somente no mês de junho. “Em meio a pior pandemia do século, nem mesmo o desastre ambiental de 2019 e a repercussão internacional do descaso do governo brasileiro com seu maior patrimônio natural e com os povos indígenas, parecem ser o bastante para fazer com que medidas concretas e inteligentes sejam tomadas para combater o crime na floresta”, avalia Cristiane.

imagens amazoniaApui, Amazonas Rodovia Transamazônica. À esquerda área em 28/03/2020 e à direita estado da área em 16/06/2020.

O Deter aponta a tendência da taxa oficial de desmatamento (Prodes), mesmo sem o último mês do chamado “ano fiscal do desmatamento”, medido entre os meses de agosto e julho, a área com alertas já soma 7.540km² (agosto de 2019-junho de 2020) 10% de crescimento em comparação com o ano anterior fechado (6.844km² entre agosto de 2018 e junho 2019), é o maior acumulado para o período fiscal desde 2008. Como resultado já esperado deste cenário, a taxa oficial do desmatamento, que ultrapassou os 10.000 km² em 2019, tende a ser ainda maior em 2020. “Não temos mais tempo a perder, os dados estão evidenciando o rastro do fogo, é urgente a adoção de ações verdadeiramente eficazes para garantir a integridade da floresta e a vida daqueles que nela residem”, completa Cristiane.