No Dia do Professor é dia de luta, pois Brasil paga salários de fome e impõe condições indignas de trabalho

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No dia em que o Brasil deveria estar celebrando o “Dia dos Professores” com pompa e circunstância dado o papel que estes profissionais cumprem no processo de desenvolvimento nacional, a realidade é muito dura para a maioria da categoria. Por um lado, o nosso país além de pagar alguns dos piores salários do planeta (ver figura abaixo que vem de um estudo da OCDE onde o Brasil aparece na última colocação entre os 40 países que tiveram seus dados analisados), ainda se assiste uma degradação exponencial das condições em que o trabalho ocorre em todos os níveis de formação.

salarios professores

O resultado disso é que o Brasil não apenas assiste a um forte processo de evasão de professores, mas como já se antecipa que em até duas décadas, o país não terá mais pessoas interessadas a trabalhar nesta profissão.  Essa situação já se mostra grave em diversas disciplinas, incluindo Biologia, Química, Geografia, Letras e História, nas quais a falta de formação de professores já está evidente.

queda licenciaturas

Caso essa tendência não seja revertida, o que teremos diante de nós será devastador, na medida em queas próximas gerações estarão impedidas de ter acesso a um mínimo de qualidade em seu ensino, como se vê aqui mesmo em Campos dos Goytacazes continuam sendo para lá de insuficientes.

Por isso, mais do que nunca, o Dia do Professor tem que ser um dia de luta em defesa de uma educação pública, democrática, gratuíta e laica, e que todos os profissionais da Educação sejam tratados de forma digna e com salários que permitam que eles cumpram suas obrigações dentro dos padrões elevados que o Brasil necessita.

 

Dia do professor é sempre dia de luta

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Venho de uma família de professoras que passaram parte significativa de seus vidas se dedicando ao duro trabalho de educar várias gerações de brasileiros.  Pelas mãos da minha avó materna, Alzira Cunha Siqueira, passaram centenas de jovens que viviam numa área rural que até hoje está inserida numa das regiões mais pobres do Paraná. E mesmo após duas décadas de sua morte, ela ainda é lembrada pelos seus estudantes pela firmeza com que tratava as tarefas da sua profissão.

Fiz o pequeno prólogo acima para dizer que normalmente não dou atenção ao chamado “Dia do Professor” que acontece a cada 15 de Outubro, É que dia do professor na minha família sempre aconteceu todos os dias, sem a expectativa de muita deferência ou falsas celebrações por parte dos governantes.  Mas nesse ano faço uma exceção porque acredito que vivemos um ataque sem precedentes nas frágeis estruturas que pensadores como Florestan Fernandes, Darcy Ribeiro, Paulo Freire, Anísio Teixeira lutaram para que fossem lançadas num país marcado por diferenças sociais colossais.

Apesar de não serem novos, esses ataques estão vindo de todos os níveis de governo sob a forma de fechamento de escolas, redução de verbas, perseguição aos educadores e imposição de regras draconianas sobre os conteúdos que podem ser oferecidos aos estudantes em nome de uma suposta e inalcançável neutralidade ideológica.

O fato inescapável é que todos esses ataques à educação pública fazem parte de uma estratégia de manter nossa população numa condição de amorfismo ideológico enquanto o nosso país é transformado num amplo pasto para as grandes corporações multinacionais que daqui tiram nossas riquezas enquanto deixam destruição social e ambiental no seu rastro de enriquecimento.

Assim, por mais que a asfixia financeira que me tem sido imposta pelo (des) governo Pezão pelo confisco dos meus salários, não vou desanimar ou me deixar dobrar no ofício que me foi passado a partir das minhas raízes familiares.  É que o principal custo de me deixar desanimar, além de ter custos que extrapolam minhas necessidades pessoais, seria o de não honrar devidamente aquilo que me foi mostrado desde os primeiros anos que me tornei um ser humano alerta da realidade em que vivem a maioria dos brasileiros.

Viva Florestan, Darcy, Paulo, Anísio, Alzira, e tantos outros que dedicaram as suas vidas à tarefa de liberar o nosso povo da ignorância e da pobreza!