Boas vindas ao Diário da Pandemia, um blog a ser lido (e temido)

diário

Depois de um interregno, eis que uma das mentes mais inquietas que já deitaram pés sobre a planície goitacá volta a publicar um blog. Falo aqui do Douglas da Mata que já deu vida, entre outros, ao blog “Planície Lamacenta”,  mas que agora volta a nos brindar com seus textos sem instigantes agora a partir do “Diário da Pandemia“.

Há quem veja na forma de escrever do Douglas da Mata algo de exageros estilísticos desnecessários que, por vezes, pecam por ataques excessivos e virulentos. Aliás, esse estilo já lhe custou vários supostos amigos, os quais hoje talvez prefiram cruzar para o outro da lado em vez de fingir um cumprimento educado.

De minha parte, considero que o final do “Planície Lamacenta” terminou empobrecendo uma esfera de debates e, pior, em um momento que exige que os escribas sejam autênticos e fiéis às suas formas de interpretar o mundo, por mais que possam gerar desconfortos. Por isso mesmo, vejo o surgimento do “Diário da Pandemia” como algo auspicioso para uma blogosfera que curiosamente entrou em quase completa dormência, como se uma moda tivesse se exaurido.

Alguém mais cínico ou ingênuo (ou os dois) vai achar que as minhas boas vindas ao “Diário da Pandemia” se deve ao fato de haver algum tipo de garantia de que eu mesmo não serei alvo da mão pesada do Douglas da Mata.  Na verdade eu conto com o contrário, pois com isso me manterei minimamente afiado (sem ter a pretensão de alcançar o nível de agudeza que o Douglas da Mata consegue alcançar) nos embates que certamente nos esperam, começando por um eleição municipal em que se pretende impor a lógica de que a única lógica possível é o do arrocho sobre os mais pobres em nome de uma suposta saúde fiscal que só beneficia os que vivem da especulação financeira e dos gastos perdulários que ela garante.

Por isso, longa vida ao Diário da Pandemia. Eu só espero que o Douglas demore bastante a se sentir enfado com a tarefa de ser o escriba que nos mantém em posição de contrição intelectual.

Diário de Pandemia

democracia

Por Douglas da Mata

O mito ocidental da democracia (e sua impossibilidade de convívio com os sistemas capitalistas).

Boa parte de nossa ciência social, destacando a sociologia brasileira, e certamente parte considerável da latino-americana, padece de um erro conceitual que deriva diretamente da mentalidade colonizada.

Na verdade, esta submissão não é deletéria às nossas ciências e cientistas sociais, mas a constatação de um fato histórico, ou seja, assim como o capitalismo subordina as relações sociais dentre as classes sociais de uma nação, ele o faz quando se trata de sociedades localizadas em países de diferentes posições relativas, aquilo que Adam Smith chamou de divisão internacional (do trabalho).

Claro que devemos afastar o risco economicista que ronda tais análises, mas não é errado supor que parte do que a ciência social produz aqui repercute uma anterioridade científica como referência, seja para criar novos olhares sobre as teses produzidas no chamado “mundo anterior” (principalmente a Europa), seja para confirmar outras teses.

O capitalismo subordina seus atores, e com boa chance de acerto, subordina também as narrativas elaboradas por estes.

Neste sentido, a ciência social brasileira nunca questionou a existência da Democracia e sua convivência com o sistema capitalista que se hegemonizou a partir da Era Moderna.

No mínimo, sempre teve um grande receio de abordar com profundidade a possibilidade que a Democracia seja incompatível com o capitalismo.

Democracia aqui mal definida como um sistema de representação (direta e/ou indireta) que proporcione a supremacia de um projeto majoritário, sem aniquilação de minorias, fortalecimento de impessoalidade e isonomia (cada qual na medida de sua capacidade, responsabilidade, necessidade) na aplicação de recursos públicos e tributação, e que via de regra, dê chance para que as classes que se opõem no capitalismo se alternem no poder!

Certamente alguns sociólogos mais precipitados correrão a recitar o chavão: Democracia é um processo em construção!

Pois bem, mas para aceitar este sofisma temos que enxergar algum aspecto de progressividade, ou de avanço do empoderamento das classes subalternas.

A pergunta que se deve fazer, além dos parâmetros econométricos (IDH, PIB, longevidade, mortalidade infantil, etc) ou dos parâmetros institucionais formais (direito a voto, funcionamento das chamadas instituições, com imprensa e judiciário) é se, de fato, os “processos democráticos” permitiram alguma forma real de alternância de PODER.

Há pergunta anterior?

Sim, há:

É possível, dentro dos limites da ordem capitalista, que haja tal alternância?

Pensamos que não, e pensamos ainda que o chamado “processo democrático” nos trouxe a lugares bem distantes desta necessidade democrática de alternância, sem a qual, a etimologia da palavra democracia perde sentido ou utilidade.

Não me refiro aos dias atuais, onde esta distância parece óbvia, seja no chamado berço democrático (Europa, GBR), seja nos “campeões da democracia”, os EUA.

Falo de toda a história do capitalismo, que excetuando a rasa análise das agregações formais e econométricas que já citamos, sempre foi um vai e vem, de um passo a frente e vinte atrás, no quesito dos controles sociais dedicados a conservar as estruturas de subordinação!

Na verdade, toda a gama de “direitos” conquistada ao longo deste processo nunca teve sua permanência garantida, e “coincidentemente” (não é coincidência, mas causa e efeito recíproco), a cada volta da espiral de refluxo e fluxo da acumulação capitalista (agora pós capitalista, no rentismo) foi cassada parte considerável destas conquistas, trazendo as lutas para estágios anteriores aos que foram estabelecidos.

Enquanto isto, as estruturas de dominação nunca foram alteradas e/ou ameaçadas, ao contrário, a cada “direito” conquistado, criaram-se outros tantos freios ao avanço das sociedades, diluindo tais conquistas em uma equação de resultado (-1).

Por isto não nos espanta que os sistemas militares globais tenham estabelecido suas agendas como concorrentes a expansão rentista, monitorando e tutelando, direta ou indiretamente, os governos e entidades.

O medo da nossa ciência social de falar em alto e bom som que não existe e nem existirá democracia alguma em um sistema capitalista, é explicável.

Deriva do truque semiótico imposto pelos detentores do capital, imputando a pecha de autoritários a todos àqueles que desejam romper esta ordem pseudo-democrática.

Aproveitando o que nos diz Robert Kürz, este erro grave leva a outro, que é a construção de uma práxis “revolucionária” que só macaqueia e reproduz os erros de uma sociedade baseada nos mesmos pilares capitalistas, sem romper com esta ordem, sem oferecer a mesma dinâmica do consumo (prazerosa) e deixando apenas a parte autoritária das experiências planificadoras estatais, no chamado capitalismo planejado de estado, que tem seu maior expoente a China!

Só existirá Democracia ou processo democrático na luta anti-capital, e na extinção completa de suas formas de organização da sociedade.

Robert Kürz chama tudo isso de totalitarismo democrático, porque no capitalismo todas as escolhas já estão pré-determinadas, e o capital sempre sabe o resultado.

Algo como o alegado livre-arbítrio religioso, frente a um deus onisciente que sabe o que você escolherá!

É isso que a ciência social precisa dizer, e é isto que devemos ouvir:

Capitalismo e democracia são incompatíveis!

Campos sob nova direção? Leia o Planicie Lamacenta e tire suas conclusões

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Muitos podem não concordar com o estilo, digamos, abrasivo que o blogueiro Douglas da Mata utiliza para refletir sobre a nossa realidade política, econômica e social. Eu mesmo já fui alvo de sua pena pesada uns tempos atrás. Mas nem isso me fez deixar de admirar o estilo e a contundência. Aliás, num mundo em que a maioria se contenta com apresentar uma fachada politicamente correta para esconder as reais intenções, considero indispensável que tenhamos quem fale as coisas do jeito que elas são, ainda que com excesso de “pimenta”.

Nesse momento, venho acompanhando como leitor as várias reflexões que o Douglas da Mata vem fazendo sobre os caminhos (ou seriam descaminhos?) que estão sendo trilhados pelo jovem prefeito de Campos dos Goytacazes, Rafael Diniz, no início de um mandato que deveria representar uma mudança qualitativa na forma de govenar a nossa cidade.

Por essa razão, e com a forte possibilidade de tomar uma sarrafada do Douglas da Mata que não é muito chegado em propaganda alheia para o seu blog, recomendo que quem não se contentar em ser iludido com uma cobertura midiática e blogueira que aparentemente quer nos convencer que agora vivemos, como num passe de mágica, numa cidade despossuída de problemas, que acessem e leiam o Planície Lamacenta sem medo ou preconceito.

Aliás, o prefeito Rafael Diniz e sua equipe deveriam ser os primeiros a fazerem isso. Quem sabe deixem de continuar cometendo alguns dos erros básicos que já cometeram.

Para ler o Planície Lamacenta, basta clicar  (Aqui!)