Elio Gaspari e o preço dos agrotrogloditas

agrotrogloditas

Por Elio Gaspari

Em novembro, reúne-se no Egito a conferência das Nações Unidas para o Meio Ambiente, a COP-27. Com um governo influenciado pelos agrotrogloditas que desmatam o país e hostilizam as causas ambientais, o Brasil tornou-se saco de pancadas do mundo. Um pária orgulhoso, nas palavras do ex-chanceler Ernesto Araújo. Talvez convenha alertar a inerte burocracia federal que arma-se um bote ambiental contra o agronegócio brasileiro na COP-27.

Na COP-26, realizada em Glasgow no início do ano, o governo americano pediu sugestões para a redução do aquecimento global. Chegou ao Fórum de Commodities Agrícolas, que congrega os grandes compradores e vendedores mundiais de grãos, uma sugestão da Tropical Forest Alliance. A ideia é levar à COP-27 uma proposta antecipando de 2030 para 2025 a meta de desmatamento zero no cerrado. A partir de janeiro de 2026, as grandes empresas e companhias de comércio exterior não comprariam mais grãos (leia-se soja) vindos de áreas ambientalmente críticas. Isso tudo sem que o governo e os empresários brasileiros tenham sido ouvidos nem cheirados.

Pelo regime de hoje, um empresário é obrigado a preservar 35% de sua área. Com a antecipação, ferra-se quem comprou terra ou começou seu negócio no cerrado programando-se para cumprir as regras em 2030. Com um governo que tolera o desmatamento ilegal, vai-se avançar sobre o desmatamento legal.

Se Bolsonaro e os agrotrogloditas continuarem tratando o meio ambiente como um problema exclusivamente doméstico, a proposta de antecipação irá em frente.

Isso nada tem a ver com a Amazônia, onde a plantação de grãos é irrelevante. Quem vai para o tabuleiro é o cerrado. Sem floresta luxuriante, é um bioma que precisa ser protegido, até porque, entre 1985 e 2020, ele perdeu cerca de 13% de sua vegetação nativa.

Metade da exportação brasileira de soja vem do cerrado. Como não há diálogo entre o governo e as entidades ambientais que defendem o bioma, arrisca-se chegar a uma situação em que, seguindo uma possível recomendação da COP-27, essa antecipação da meta resulte num boicote às exportações de parte da soja do cerrado a partir de janeiro de 2026.

O ministro Paulo Guedes poderá continuar achando que a mulher do presidente francês é feia ou ligar o que bem entender, mas compradores como o Carrefour não negociarão com derivados da soja do cerrado.

O grosso do moderno agronegócio brasileiro afastou-se dos agrotrogloditas, mas são eles quem dão cartas em Brasília. Mandam muito em seus favorecidos e mandam nada em reuniões como a COP ou em entidades como o Fórum de Commodities Agrícolas.

Nessas instâncias, o governo brasileiro pode ser ouvido e seria um negociador legítimo. Perdeu legitimidade porque quis, quando preferiu jactar-se de ser pária. Na questão da Amazônia, foi um pária orgulhoso e acabou confundido com o crime organizado.

O bioma do cerrado pode e deve ser defendido com uma negociação que preserve o meio ambiente e a produção nacional de soja de agroempresários dispostos a cumprir as leis nacionais e a prestar atenção nas combinações internacionais.


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Este texto foi originalmente publicado no jornal “O GLOBO”  [Aqui!].

Elio Gaspari sugere o óbvio: bye, bye Pezão!

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O jornalista Elio Gaspari usou parte da sua coluna desta domingo (18/02) para desancar a intervenção restrita no Rio de Janeiro e, de quebra sugerir o óbvio: que o (des) governo Luiz Fernando Pezão deve sair imediatamente da cadeira que finge ocupar no Palácio Guanabara [1].

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Mas Elio Gaspari vai mais além e aponta que a intervenção militar restrita à segurança tem como resultado objetivo aliviar os correligionários de Michel Temer no (des) governo do Rio de Janeiro e de proteger a máquina (criminosa) montada pelo ex-governador Sérgio Cabral e pelo deputado estadual Jorge Picciani, presidente preso da Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj).

Como Elio Gaspari não representa apenas a si mesmo quando escreve suas colunas, o mais provável é que ele esteja repercutindo a visão de grupos políticos influentes que não estão satisfeitos com a manobra arriscada que está sendo realizada pelo presidente “de facto” Michel Temer.

Por outro lado, não é de hoje, e o próprio Elio Gaspari aponta isso, que está mais do que evidente que o sr. Luiz Fernando Pezão perdeu toda a condição de garantir a governabilidade no Rio de Janeiro. Aliás, ele e seu vice-governador, o desaparecido Francisco Dornelles, só estão nos cargos que ocupam por força de medida liminar que impediu a consumação do ato de cassação decidido pelo Tribunal Regional Eleitoral. Aliás, não apenas pela existência de uma liminar, mas também pela completa omissão dos partidos que se dizem de oposição ao (des) governo que eles comandam.

O pior é que, como também alerta Elio Gaspari, a intervenção militar que Michel Temer decretou no Rio de Janeiro tem tudo para ser ‘um exercício de enxugamento de gelo‘, ou algo ainda pior que será “o prosseguimento de uma rotina na qual as forças policiais invadem bairros pobres e proclamam vitória matando ‘suspeitos‘”.

Em função não apenas da falência desse (des) governo na área da segurança pública, mas também na educação, saúde e habitação, é que o (des) governo Pezão precisa ser imediatamente encerrado. Essa medida é essencial para que se chegue a um processo de  reorganização política que dê um mínimo de chance para a possibilidade do Rio de Janeiro sair do caos instalado pelos consecutivos (des) governos do (P) MDB.  Do contrário, o que teremos será o aprofundamento da barbárie com seus altos custos sociais e econômicos.  Simples assim!

Por isso tudo,  é hora de dizer “bye, bye Pezão!


[1] https://www1.folha.uol.com.br/colunas/eliogaspari/2018/02/pezao-precisa-sair-do-governo-do-rio.shtml

 

 

As longas fileiras dos inimigos das universidades estaduais do Rio de Janeiro já tem um farol, Elio Gaspari

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Não tenho certeza por quais cargas d´água, o jornalista Elio Gaspari decidiu depositar na sua coluna dominical o petardo acima contra a Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj).  Uns podem até pensar que é por falta de assunto mais relevante ou até um caso de jornalista que não checa bem suas fontes.

Aliás, pontos facultativos em órgãos públicos como a Uerj normalmente decorrem de determinações de instâncias superiores do executivo estadual, o que deveria ter sido adicionado, a bem da informação, por Elio Gaspari em seu comentário.

Mas Elio Gaspari não é nenhum foca no jornalismo e sua mensagem parece mais uma daquelas em que se atende um pedido de amigos dentro das altas esferas. Como a Uerj possui mais de um professor no pleno do Superior Tribunal Federal (STF) essa minha hipótese não pode ser desprezada.

Como pelo menos um desses professores, o ministro Luís Roberto Barroso, já se manifestou positivamente em tempos recentes sobre a necessidade da Uerj ser geradora de sua autonomia financeira [1] (cobrando mensalidades dos seus estudantes para começo de conversa, é preciso que se diga), não posso deixar de entender essa associação a uma decisão da reitoria da Uerj, se ela realmente ocorreu, à ideia de que no serviço público perdura uma atitude perdulária e irresponsável no uso do dinheiro dos contribuintes. 

Ao levantar este tipo de ataque à Uerj, enquanto ignora as reais condições que têm sido impostas à instituição pelo (des) governo Pezão, Elio Gaspari não apenas sacia a fome dos seus leitores dos jornalões da mídia corporativa por matérias que exponham uma suposta preguiça dos servidores públicos.  Na verdade ele vai além e tenta dar argumentos para quem quer privatizar as universidades estaduais do Rio de Janeiro, negando-lhes a possibilidade de continuar educando jovens oriundos das classes mais pobres da nossa população. 

Interessante notar que a crise que assola a Uerj vem recebendo um tratamento mais abrangente da mídia estrangeira como foi o caso de um artigo publicado em janeiro de 2017 pelo jornal “El País” com o título “Universidade do Estado do Rio pede socorro em meio à grave crise” [2].

Aluna da UERJ confecciona cartazes de protesto na universidade.

Entretanto, sobre a situação pré-falimentar que ronda a Uerj e as demais universidades estaduais do Rio de Janeiro certamente não leremos nada na coluna de Elio Gaspari. É que está claro que ele serve muito bem a outros propósitos, a começar por ser um farol das longas fileiras de inimigos que as universidades estaduais do Rio de Janeiro acumulam fora e até do lado de dentro dos seus muros.

De toda forma, é preciso repudiar de forma rápida e contundente este tipo de mensagem falaciosa, sob pena de que o que está sendo imputado por Elio Gaspari se torne mais instrumento de ataque ao ensino superior estadual do Rio de Janeiro.


[1] http://justificando.cartacapital.com.br/2017/01/15/especialistas-rebatem-defesa-de-barroso-de-privatizacao-da-uerj/

[2] https://brasil.elpais.com/brasil/2017/01/18/politica/1484780217_645185.html

Elio Gaspari e a ruína do (des) governador Pezão

pezao cabralA coluna que o jornalista Elio Gaspari publica em diferentes veículos da mídia corporativa traz hoje um artigo que considero devastador para o que ainda restava de credibilidade do (des) governador Luiz Fernando Pezão (Aqui!). 

É que neste artigo Gaspari faz uma excelente síntese dos últimos acontecimentos em torno do suposto envolvimento do (des) governador Pezão em múltiplos casos de corrupção, bem como sobre o seu papel de herdeiro político do hoje presidiário ex (des) governador Sérgio Cabral.

A sensação que eu tenha é que este artigo de Elio Gaspari representa mais um prego no caixão político de Luiz Fernando Pezão cuja continuidade no cargo está claramente segura por um fio muito fino e prestes a arrebentar. 

Abaixo segue a íntegra do artigo de Elio Gaspari cujo título já diz muito sobre o conteúdo do mesmo.

Pezão foi condenado a viver sua própria ruína 

FOTOS DO DIA

O governador do Rio de Janeiro, Luiz Fernando Pezão (PMDB), em visita ao Ministério da Fazenda

Por Elio Gaspari

Tendo vivido o esplendor da ilusão cabralina, quando foi secretário de Obras e vice-governador, Luiz Fernando Pezão está condenado a viver sua própria ruína. Aquele teleférico do morro do Alemão, que foi inaugurado duas vezes, está parado. (Ele se entristecia quando era exposto o ridículo das duas inaugurações.)

A política de segurança do xerife José Mariano Beltrame ruiu, as contas públicas jogaram o governador para a condição de pedinte e os cidadãos a um período de decadência jamais visto.

Sérgio Cabral está em Bangu, decidindo entre uma cana de 40 anos e a possibilidade de colaborar com a Viúva, cuja bolsa repetidamente assaltou. O coral dos poderosos da ilusão cabralina já tem dois doleiros, um ex-presidente do Tribunal de Contas, seu filho, e mais gente na fila.

Pezão está na situação dos hierarcas do stalinismo que moravam num imponente edifício perto do Kremlin. À noite, quando o elevador fazia barulho, os comissários acordavam temendo que tivessem vindo buscá-los. A administração do Rio está parada.

Fica a impressão de que só dois gabinetes funcionam: o do juiz Marcelo Bretas, da 7ª Vara Federal, e o do ministro Felix Fischer, do Superior Tribunal de Justiça. Um encanou Cabral. O outro ouviu a melodia da colaboração de Jonas Lopes e de seu filho. O doutor Jonas presidiu o Tribunal de Contas do Estado e sua cantoria resultou na prisão de cinco conselheiros. (Em tempo, não se deveriam chamar essas comissões de contas de “tribunal”, pois não o são.)

Admitindo-se que Pezão tenha sido secretário de Obras e vice de Cabral sem ter desconfiado de nada, nem dos cortes de seus ternos Ermenegildo Zegna “su misura”, Jonas e seu filho jogaram o governador na frigideira. O pai contou que em 2013 Pezão mediou em sua casa uma acalorada discussão para definir o rachuncho das propinas. Num lance, em 2015, cada felizardo receberia R$ 60 mil mensais. Noutro, mordiam a comida dos presidiários.

Jonas Filho diz ter ouvido que parte do dinheiro mandado aos conselheiros foi desviada para atender despesas pessoais de Pezão. Coisa de R$ 900 mil. Nesse aspecto a suspeita é a um só tempo frágil e meritória. Frágil, porque nasce de um “ouvir dizer”. Meritória porque se Pezão recebesse apenas R$ 900 mil para cobrir despesas pessoais, seria um anacoreta na corte de Sérgio, o Magnífico.

O capilé de R$ 900 mil teria sido revelado a Jonas por Marcelo Santos Amorim, o Marcelinho, subsecretário de Comunicação do governador. Ele estava no lote de celebridades estaduais levadas para a Polícia Federal na semana passada. Se a história do capilé é ou não verdadeira, só Marcelinho poderá dizer. De qualquer forma ele terá algo a contar sobre o milagre da comunicação de Pezão, que navegava num Estado falido com a pose dos canoeiros de Oxford.

Pezão e Marcelinho negam que tenham praticado qualquer malfeito e queixam-se da falta de acesso às narrativas de quem os acusa.

Graças ao juiz Bretas e ao ministro Fischer, a administração do Rio de Janeiro pode garantir ao detento Sérgio Cabral que ficou mais difícil roubar em cima das verbas de alimentação do presidiários.

Elio Gaspari desanca o (des) governador Pezão em sua coluna dominical com menções indiretas à queda da Bastilha

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No dia 07 de Novembro publiquei uma nota sobre a minha avaliação de que o (des) governador Luiz Feranando Pezão dava sintomas de que está vivendo um clima típico da corte de Luís XVI à beira da queda da Bastilha (Aqui!).

Pois não é que hoje o jornalista Elio Gaspari usou basicamente da mesma analogia para tratar da forma pela qual o (des) governador Pezão não está enfrentando a crise que ele e seu mentor, o ex (des) governador Sérgio Cabral, ajudaram a criar.

Não sei porquê, mas tenho a nítida impressão que com esta coluna de Elio Gaspari, a família Marinho está enviando um recado claro a todos que se interessaram de que sua blindagem do (des) governo do PMDB acabou. Resta-nos agora ver como serão os próximos capítulos da lamentável condição em que se encontra o (des) governo Pezão, e qual será o papel da chamada operação Lava Jato na sua inexorável caminhada para o cadafalço. A ver!

Abaixo a coluna de Elio Gaspari.

Pezão sabe como comeram o coelho

Pezão sabe o tamanho da ruína do Rio, o que ele não sabe é se comportar diante dela

Elio Gaspari, O Globo

 

Maria Antonieta, coitada, nunca mandou que na falta de pão os parisienses comessem brioches. Muito melhor fez o governador Luiz Fernando Pezão, do Rio de Janeiro: provocou o fechamento de restaurantes populares que serviam pratos de comida a R$ 2, quer cortar o aluguel social que ampara milhares de famílias de desabrigados e mudou-se do seu apartamento no Leblon para o Palácio Laranjeiras, onde será servido pela criadagem da mansão.

Pezão administrará a ruína do andar de baixo no luxo do andar de cima. Governa um estado falido e vai morar num palacete francês construído no inicio do século passado para alegrar o magnata Eduardo Guinle. A casa tem um momento de humor na estátua de um nu feminino exposto no terraço, com o traseiro voltado para o olhar do castelão. Quando os Guinle precisaram de dinheiro, passaram a propriedade ao governo federal que mais tarde entregou-a ao Estado do Rio.

Foi no Laranjeiras que senhores de terno e gravata praticaram na biblioteca a indecência jurídica da edição do Ato Institucional nº 5. Sob a administração do Estado do Rio, senhores sem terno, gravata ou fosse lá o que fosse, divertiam-se na sala de jantar. Em todos os casos as contas foram para os contribuintes. Não foi Pezão quem comprou o palácio. Quem o ouve aprende também que, a seu juízo, nada teve a ver com a falência do Estado do Rio.

Outro dia, ele era entrevistado por cinco jornalistas, ao vivo e a cores, quando o repórter Octavio Guedes perguntou-lhe se a promiscuidade cultivada pelo governo do Rio com alguns de seus fornecedores “atrapalhava” a boa administração. Guedes se referia expressamente ao anel de brilhantes com que o empreiteiro Fernando Cavendish presenteou o governador Sergio Cabral. Coisa de 2009, quando Pezão era seu vice. O governador toureou-o por três minutos e não respondeu. Atrapalhava, é óbvio, tanto que Cabral devolveu-o quando a polícia saiu atrás de Cavendish.

Pezão sabe o tamanho da ruína do Rio, o que ele não sabe é se comportar diante dela. Acha natural cortar o aluguel social de desabrigados aninhando-se num palácio, ou tourear uma pergunta banal como a de Guedes com a sutileza de um Mike Tyson. O doutor repete que não pode tirar coelho da cartola porque nem cartola tem mais. Verdade. Podia ao menos contar como comeram o coelho?

Sala de jantar  do Palácio Laranjeiras, residência oficial do governador do estado do Rio de Janeiro (Foto: Wikipedia)Sala de jantar do Palácio Laranjeiras, residência oficial do governador do estado do Rio de Janeiro (Foto: Wikipedia)

Elio Gaspari é jornalista

FONTE: https://blogdopedlowski.com/2016/11/07/multiplos-precipicios-ameacam-o-des-governador-pezao-mas-ele-segue-imerso-num-clima-pre-queda-da-bastilha/amp/

Elio Gaspari desfere golpe duro na já combalida imagem do (des) governador Pezão

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O jornalista Elio Gaspari que publica sua coluna de opinião nos principais jornais brasileiros reservou boa parte do seu espaço deste domingo para desferir um duro golpe na já combalida imagem do (des) governador do Rio de Janeiro, Luiz Fernando de Souza, o Pezão.

Usando como ponto de partida os comentários de Pezão sobre a a prisão de um menor, que depois se verificou não estava envolvido na morte do médico Jaime Gold, Gaspari nos lembra não apenas que o (des) governador está bastante enrolado nas investigações da chamada Operação Lava Jato, como também já possui pelo menos uma condenação por improbidade administrativa.

Vamos ver se depois desse artigo devastador, Pezão pelo menos tenta controlar sua incontinência verbal. Já faria muito por si, e nos livraria de um desnecessário besteirol acerca dos problemas de segurança que afligem atualmente a população fluminense. 

 

Luiz Fernando de Souza acertou seu pezão

 Por Elio Gaspari

A sorte abandonou o governador Luiz Fernando de Souza, o Pezão, quando ele comentou a prisão dos três menores acusados de terem matado o médico Jaime Gold enquanto pedalava na lagoa Rodrigo de Freitas. O doutor disse o seguinte: “Nenhum dos três é inocente. Todos possuem anotações criminais, e o importante é que a polícia está prendendo.”

Parecia uma simples constatação, mas embutia uma empulhação. Um dos três menores, precisamente aquele que a polícia capturara em apenas 72 horas numa operação aparentemente exemplar, seria inocente do crime de que o acusaram. Seis testemunhas estão dispostas a depor mostrando que ele estava em outro lugar na hora do crime.

Se isso fosse pouco, outro menor, confesso, apresentara-se à polícia inocentando-o.

O adolescente tem mais de uma dezena de anotações criminais, nenhuma delas por lesões corporais.

É negro, favelado e infrator. Portanto, seria capaz de tudo. Pezão transformou uma solução -a detenção, mais tarde, de pelo menos um criminoso confesso- num problema: a tentativa de justificar uma acusação contra um inocente.

Como disse o próprio governador “pode ter havido engano, erros acontecem”. Foi aí que a sorte lhe faltou. No mesmo dia o Superior Tribunal de Justiça autorizara a quebra do seu sigilo telefônico para que se investigue a procedência de denúncia do “amigo Paulinho”, que o colocou na frigideira dos 40 políticos envolvidos na Operação Lava Jato.

Segundo o ex-diretor da Petrobras, na campanha eleitoral de 2010, quando “Pezão” elegeu-se vice-governador na chapa de Sérgio Cabral, cinco empreiteiras teriam despejado R$ 30 milhões no caixa dois dos candidatos. O governador, como o menor, repele a acusação.

Na métrica que Pezão usou em relação ao jovem preso, “pode ter havido engano, erros acontecem”. Se a polícia do Rio já tivesse reconhecido o erro, tudo bem, mas isso ainda não havia sido feito. Resta outro ponto: o menor “tem anotações criminais”.

Pezão também. Em 2013 foi condenado a pagar uma multa de R$ 14 mil por improbidade administrativa na compra de uma ambulância quando era prefeito de Piraí. Decisão de primeira instância; só pode ser considerada definitiva depois que o recurso do réu for apreciado.

Muita gente acredita que um menor infrator é capaz de tudo. Também há muita gente que, sem esperar pelo devido processo judicial, já condenou os 40 políticos que entraram na lista do procurador-geral Rodrigo Janot.

Quando se viu arrolado na investigação, o próprio Pezão, com bons motivos, queixou-se dessa conduta irracional: “Fui julgado e condenado”.

FONTE: http://www1.folha.uol.com.br/colunas/eliogaspari/2015/06/1638583-luiz-fernando-de-souza-acertou-seu-pezao.shtml