Syriza mostra ao PT que existem alternativas ao estelionato eleitoral: povo grego diz sonoro não à austeridade da troika

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A população da Grécia acaba de dar um sonoro não às políticas de austeridade que estavam sendo impostas pela troika (Fundo Monetário Internacional, Comissão Europeia, Banco Central Europeu) para continuar asfixiando a economia grega. A margem da derrota imposta à troika não deve ter sido prevista nem pelos mais otimistas membros da coalizão governista comandada pelo Syriza. Há que se ressaltar que a aposta no referendo foi uma manobra arriscada do primeiro-ministro grego Alexis Tsipras que, confrontado pela intransigência do FMI e da Comissão Europeia comandada por Angela Merkel, resolveu fazer um movimento imprevisto no tabuleiro político da Europa.

Um detalhe que foi explorado pela imprensa corporativa brasileira, sempre alinhada com os esforços de submissão dentro do Brasil, é que a imensa maioria dos 240 bilhões de euros colocados nas contas da dívida da Grécia sequer chegou a tocar o solo grego. Na verdade, todo esse dinheiro foi colocado em bancos europeus, principalmente alemães, que tinham especulado centenas de bilhões de dólares na Grécia e perderam.

Confrontados com o plebiscito proposta por Tsipras, os gerentes da dívida inicialmente desdenharam e tentaram ignorar a decisão grega de ouvir a população sobre o pacote de austeridade. Entretanto, com o passar dos dias e com a resistência da coalizão governista grega, os chefões europeus rapidamente passaram a agir como o lobo mau em frente da casa dos três porquinhos e começaram a fazer as ameaças de sempre.

Neste domingo (05/07), os gregos decidiram rejeitar a ameaças do lobo mau e decidiram rejeitar mais uma rodada de inaceitáveis cortes em direitos sociais que não teriam qualquer efeito na solução da crise financeira grega. E a vitória da rejeição foi por uma diferença impressionante (60 a 40). Este resultado não só deixa dúvida do nível de rejeição do povo grego à austeridade imposta pela troika, mas como coloca o governo comandado pelo Syriza na condição de alterar todo o balanço político da Europa. De quebra, os gregos indicam que não se importam com a ameaça de expulsá-los da União Europeia. Colocando tudo isso junto, a vitória do Não é de uma grande importância histórica.

Há ainda que se ressaltar a grande lição que o Syriza está dando ao PT. É que diferente de Dilma Rousseff, Alexis Tsipras se negou a realizar o estelionato eleitoral e vem governando exatamente ao longo das linhas com que se comprometeu para ser eleito.  Ainda que isto não torne Tsipras um revolucionário no sentido dado pelos revolucionários marxistas, é certo que no estado de miséria intelectual e política que reina no mundo, Tsipras está cumprindo um papel que o torna extremamente relevante. 

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E Tsipras, ainda poderá tomar para si a fase frase de Jorge Lobo Zagallo para dizer à troika: vocês vão ter que me engolir!

Jürgen Habermas: A escandalosa política grega da Europa

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O texto abaixo é de Jürgen Habermas e foi divulgado no jornal Le Monde, no passado dia 25 de Junho. Apesar de eu ter a consciência de que é talvez demasiado longo para ser publicado num blogue, julgo que merece sê-lo e aqui fica a tradução. Para quem não disponha de tempo para o ler na íntegra, deixo um conselho: não perder a última secção («Intransigência»).

O resultado das eleições na Grécia exprime a escolha de uma nação onde uma grande maioria da população se colocou numa posição defensiva face à miséria social, tão humilhante como esmagadora, provocada por uma política de austeridade, imposta ao país a partir do exterior. A votação propriamente dita não permite nenhum subterfúgio: a população rejeitou a continuação de uma política cujo falhanço sofreu brutalmente, na sua própria carne. Com a força desta legitimação democrática, o governo grego tentou provocar uma mudança de política na zona euro. Ao fazê-lo, entrou em choque com os representantes de dezoito outros governos que justificam recusas referindo-se, friamente, ao seu próprio mandato democrático.

Lembramo-nos dos primeiros encontros em que noviços arrogantes, levados pela exaltação do triunfo, se entregavam a um torneio ridículo com pessoas bem instaladas, que reagiam umas vezes com gestos paternalistas de um bom tio e outras com uma espécie de desdém rotineiro: cada uma das partes gabava-se de desfrutar do poder conferido pelo seu respectivo «povo» e repetia o refrão como papagaios. Foi ao descobrir até que ponto a reflexão que então faziam, e que se baseava no quadro do Estado-nação, era involuntariamente cómica, que toda a opinião pública europeia percebeu o que realmente fazia falta: uma perspectiva que permitisse a constituição de uma vontade política comum dos cidadãos, capaz de colocar no centro da Europa marcos políticos com consequências reais. Mas o véu que escondia esse deficit institucional ainda não foi realmente rasgado.

A eleição grega introduziu grãos de areia na engrenagem de Bruxelas: foram os próprios cidadãos que decidiram a necessidade urgente de propor uma política europeia alternativa. Mas é verdade que, noutras paragens, os representantes dos governos tomam decisões entre eles, segundo métodos tecnocráticos, e evitam infligir às suas opiniões públicas nacionais temas que possam inquietá-las.

Se as negociações para um compromisso falharem em Bruxelas, será certamente sobretudo porque os dois lados não atribuem a esterilidade dos debates ao vício na construção dos procedimentos e das instituições, mas sim ao mau comportamento do parceiro. Não há dúvida de que a questão de fundo é a obstinação com que se agarra uma política de austeridade, que é cada vez mais criticada nos meios científicos internacionais e que teve consequências bárbaras na Grécia, onde se concretizou num fracasso óbvio.

No conflito de base, o facto de uma das partes querer provocar uma mudança desta política, enquanto a outra se recusa obstinadamente a envolver-se em qualquer espécie de negociação política, revela, no entanto, uma assimetria mais profunda. Há que compreender o que esta recusa tem de chocante, e mesmo de escandaloso. O compromisso não falha por causa de alguns milhares de milhões a mais ou a menos, nem mesmo por uma ou outra cláusula de um caderno de encargos, mas unicamente por uma reivindicação: os gregos pedem que seja permitido à sua economia e a uma população explorada por elites corruptas que tenham um novo começo, apagando uma parte do passivo – ou tomando uma medida equivalente como, por exemplo, uma moratória da dívida cuja duração dependesse do crescimento. Em vez disso, os credores continuam a exigir o reconhecimento de uma montanha de dívidas, que a economia grega nunca poderá pagar.

Note-se que ninguém contesta que uma supressão parcial da dívida é inevitável, a curto ou a longo prazo. Os credores continuam, portanto, com pleno conhecimento dos factos, a exigir o reconhecimento formal de um passivo cujo peso é, na prática, impossível de carregar. Até há pouco tempo, persistiam mesmo em defender a exigência, literalmente fantasmagórica, de um excedente primário de mais de 4%. É verdade que este passou para o nível de 1%, mas continua irrealista. Até agora, foi impossível chegar a um acordo – do qual depende o destino da União Europeia – porque os credores exigem que se mantenha uma ficção.

Claro que os «países credores» têm motivos políticos para se agarrarem a esta ficção que permite, no curto prazo, que se adie uma decisão desagradável. Por exemplo, temem um efeito dominó em outros «países devedores» e Angela Merkel não está segura da sua própria maioria no Bísesundestag. Mas quando se conduz uma má política, é-se obrigado a revê-la, de uma forma ou de outra, se se percebe que ela é contra-produtiva.

Por outro lado, não se pode atirar com toda a culpa da um falhanço para cima de uma das duas partes. Não posso dizer se o processo táctico do governo grego se baseia numa estratégia reflectida, nem ajuizar sobre aquilo que, nesta atitude, tem origem em constrangimentos políticos, inexperiência ou incompetência do pessoal encarregado dos assuntos. Não tenho informação suficiente sobre as práticas habituais ou sobre as estruturas sociais que se opõem às reformas possíveis.

O que é óbvio, seja como for, é que os Wittelsbach não construíram um Estado que funcione. Mas estas circunstâncias difíceis não podem no entanto explicar por que motivo o governo grego complica tanto a tarefa dos que tentam, mesmo sendo seus apoiantes, discernir uma linha no seu comportamento errático. Não se vê nenhuma tentativa racional de formar alianças; é caso para perguntar se os nacionalistas de esquerda não se apegam a uma representação um tanto etnocêntrica da solidariedade, se só permanecem na zona euro por razões que relevam do simples bom senso – ou se a sua perspectiva excede, apesar de tudo, o âmbito do Estado-nação.

A exigência para uma corte parcial das dívidas, que constitui a base contínua das suas negociações, não é suficiente para que a outra parte tenha pelo menos confiança para acreditar que o novo governo não é como os anteriores e que agirá com mais energia e de forma mais responsável do que os governos clientelistas que substituiu.

Mistura tóxica

Alexis Tsipras e o Syriza podiam ter desenvolvido o programa de reformas de um governo de esquerda e «ridicularizar» e os seus parceiros de negociações em Bruxelas e em Berlim. Amartya Sen comparou as políticas de austeridade impostas pelo governo alemão a um medicamento que contivesse uma mistura tóxica de antibióticos e de veneno para matar ratos. O governo de esquerda teria tido perfeitamente a possibilidade, na linha do que entendia o Prémio Nobel de Economia, de proceder a uma decomposição keynesiana da mistura de Merkel e de rejeitar sistematicamente todas as exigências neoliberais; mas, ao mesmo tempo, devia ter tornado credível a intenção de lançar a modernização de um Estado e de uma economia (de que tanto precisam), de procurar uma melhor distribuição dos custos, de combater a corrupção e a fraude fiscal, etc.

Em vez disso, ele limitou-se a um papel de moralizador – um blame game. Dadas as circunstâncias, isto permitiu que o governo alemão afastasse, de uma penada, com a robustez da Nova Alemanha, a queixa justificada da Grécia sobre o comportamento mais inteligente, mas indigno, que o governo de Kohl teve no início dos anos 90.

O fraco exercício do governo grego não altera o escândalo: os homens políticos de Bruxelas e de Berlim recusam assumir o papel de homens políticos quando se reúnem com os seus colegas atenienses. Têm certamente boa aparência, mas, quando falam, fazem-no unicamente na sua função económica, como credores. Faz sentido que se transformem assim em zombies: é preciso dar ao processo tardio de insolvência de um Estado a aparência de um processo apolítico, susceptível de se tornar objecto de um procedimento de direito privado nos tribunais. Uma vez conseguido este objectivo, é muito mais fácil negar uma co-responsabilidade política. A nossa imprensa diverte-se porque se rebaptizou a «troika» – trata-se, efectivamente, de uma espécie de truque de mágico. Mas o que ele exprime é o desejo legítimo de ver surgir a cara de políticos atrás das máscaras de financeiros. Porque este papel é o único no qual eles podem ter de prestar contas por um falhanço que se traduziu numa grande quantidade de existências estragadas, miséria social e desespero.

Intransigência

Para levar por diante as suas duvidosas operações de socorro, Angela Merkel, meteu o Fundo Monetário Internacional no barco. Este organismo tem competência para tratar do mau funcionamento do sistema financeiro internacional. Como terapeuta, garante a estabilidade e age portanto em função do interesse geral dos investidores, em especial dos investidores institucionais. Como membros da «troika», as instituições europeias alinharam com esse actor, a tal ponto que os políticos, na medida em que actuam nessa função, podem refugiar-se no papel de agentes que operam no estrito respeito das regras e a quem não é possível pedir contas.

Esta dissolução da política na conformidade com os mercados pode talvez explicar a insolência com a qual os representantes do governo alemão, que são pessoas de elevada moralidade, negam a co-responsabilidade política nas consequências sociais devastadoras que no entanto aceitaram como líderes de opinião no Conselho Europeu, quando impuseram o programa neoliberal para as economias.

O escândalo dos escândalos é a intransigência com a qual o governo alemão assume o seu papel de líder. A Alemanha deve o impulso que lhe permitiu ter a ascensão económica de que se alimenta ainda hoje à generosidade das nações de credores que, aquando do acordo de Londres, em 1954, eliminaram com um simples traço cerca de metade das suas dívidas.

Mas o essencial não é o embaraço moral, mas sim o testemunho político: as elites políticas da Europa já não têm o direito de se esconder atrás dos seus eleitores e de fugirem a alternativas perante as quais nos coloca uma comunidade monetária politicamente inacabada. São os cidadãos, não os banqueiros, que devem ter a última palavra sobre questões que dizem respeito ao destino europeu.

A sonolência pós-democrática da opinião pública deve-se também ao facto de a imprensa se ter inclinado para um jornalismo de «enquadramento», que avança de mão dada com a classe política e se preocupa com o bem-estar dos seus clientes.

FONTE: https://observatoriogrecia.wordpress.com/2015/06/29/a-escandalosa-politica-grega-da-europa/

Grupos de intelectuais lança carta de apoio à Grécia

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Carta de apoio para a Grécia

Um grupo de acadêmicos reconhecido internacionalmente, incluindo o ex-Arcebispo de Canterbury, Rowan Williams, escreveu uma carta para apoiar os gregos e apelar à União Europeia para retomar os princípios da democracia. Eis o que diz a carta:

“Nos últimos cinco anos, a União Europeia (UE) e o Fundo Monetário Internacional (FMI) impuseram uma política de austeridade sem precedentes na Grécia. E essa política falhou. A economia encolheu em 26%, o desemprego aumentou para 27%, o desemprego dos jovens chegou a  60%,   e proporção da dívida em relação ao PIB passou de 120% para 180%. A catástrofe econômica levou a uma crise humanitária, com mais de 3 milhões de pessoas vivendo na linha de pobreza ou abaixo dela.

Neste contexto, o povo grego elegeu o governo liderado pelo Syriza em 25 de janeiro, com um mandato claro para pôr fim à austeridade. Nas negociações que se seguiram, o governo do Syriza deixou claro que o futuro da Grécia é na zona do euro e na UE. Os credores, no entanto, insistiram na continuação de sua receita fracassada, se recusando a discutir uma diminuição da dívida – que o FMI  considera comoinviável – e, finalmente, em 26 de junho, emitiu um ultimato para a Grécia por meio de um pacote inegociável que consolidaria austeridade. Isto foi seguido por uma suspensão de liquidez aos bancos gregos e a  imposição do controle de capitais.

Nesta situação, o governo do Syriza pediu ao povo grego para decidir o futuro do país em um referendo a ser realizado no próximo domingo. Acreditamos que este ultimato para o povo grego e para democracia deve ser rejeitado. O referendo grego dá à União Europeia uma oportunidade de reafirmar o seu compromisso com os valores do Iluminismo – igualdade, justiça, solidariedade – e aos princípios da democracia sobre o qual assenta a sua legitimidade. O lugar onde nasceu a democracia dá à Europa a oportunidade de compromisso com seus ideais no século 21.

Etienne Balibar
Costas Douzinas
Barbara Spinelli
Rowan Williams, ex-arcebispo de Canterbury
Immanuel Wallerstein
Slavoj Zizek
Michael Mansfield
Judith Butler
Chantal Mouffe
Homi Bhabha
Wendy Brown
Eric Fassin
Tariq Ali

FONTE: http://www.theguardian.com/business/live/2015/jun/29/greek-crisis-stock-markets-slide-capital-controls-banks-closed-live

Syriza choca FMI e a Eurozona ao anunciar plebiscito sobre acordo da dívida

Ao fazer algo que parece básico em qualquer democracia, isto é, convocar um plebiscito para decidir sobre o novo plano de arrocho proposto pelo Fundo Monetário Internacional (FMI) e pelo Banco Central Europeu (BCE), o primeiro-ministro Alexis Tsipras conseguiu surpreender quem achava que ele tinha sido empurrado para um beco sem saída. Aliás, um beco onde a única saída seria cometer um estelionato eleitoral e trair o mandato que lhe foi outorgado pela população grega, que foi o de combater os implausíveis planos de austeridade que reduziram a Grécia a um estado de interminável coma financeiro.

As reações dos ministros da Fazenda e dos dirigentes da União Européia tem sido de completa fúria, visto que não aceitam que o povo da Grécia seja consultado sobre algo que governos gregos anteriores aceitaram passivamente, em que pesem os graves prejuízos causados ao país. Imaginem se o exemplo prospero e todos os povos europeus (a começar pelos espanhóis e portugueses) comecem a querer votar neste tipo de assunto!

Essa ação fulminante de Alexis Tsipras deveria servir de lição aos neopetistas que abraçam hoje os planos de austeridade do mesmo FMI que o Syriza rejeita. Como se vê, a saída não é o estelionato eleitoral ou, tampouco, a traição das bandeiras históricas. O caminho é apostar na resistência e na organização da juventude e dos trabalhadores.

Abaixo reações que estão hoje aparecendo na imprensa internacional sobre a decisão de Alexis Tsipras de promover o plebiscito, cinco dias após o prazo limite imposto pelo FMI e pelo BCE para a Grécia se ajoelhar e aceitar mais arrocho e cortes de direitos.

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Alexis Tsipras: FMI tem responsabilidade criminal sobre crise econômica grega

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Enquanto o governo de Dilma Rousseff continua estendendo o tapete vermelho para as medidas neoliberais ditadas pelo Fundo Monetário Internacional (FMI), o primeiro-ministro grego Alexis Tsipras partiu definitivamente para o ataque contra a agência multilateral que comanda as finanças dos Estado-Nação em escala mundial (Aqui!).  

Em pronunciamento feito no dia de hoje ao parlamento grego, Tsipras afirmou que o FMI tem uma responsabilidade criminal sobre a crise da dívida grega, e que a União Européia deveria analisar as responsabilidades do fundo neste processo. Além disso, Tsipras afirmou que as medidas que o FMI visa impor à Grécia são parte de um plano político para humilhar o povo grego que já sofreu o suficiente nos últimos cinco anos de implementação da dura agenda neoliberal imposta pela troika. Em síntese, Tsipras afirmou que é chegada a hora das ações do FMI serem julgadas publicamente pela Europa.

Pode até ser que no final, Tsipras e o Syriza acabem aceitando algum tipo de acordo imposto pelo FMI para evitar a insolvência financeira da Grécia. Entretanto, este pronunciamento pelo menos mostra que já é passado o tempo, ao menos na Grécia, de que as imposições do FMI são tomadas de forma natural. Melhor para os gregos

Por último, o que mais me impressiona nisso tudo é a docilidade do governo Dilma Rousseff às determinações do ministro/banqueiro Joaquim Levy e sua ação preferencial pelos banqueiros. Mas será que eu ainda deveria me impressionar com alguma coisa feita por Dilma e o neoPT?

E se a Grécia entrar em moratória?

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Enquanto aqui no Brasil o congresso do PT termina numa melancólica reafirmação das políticas neoliberais da dupla Rousseff/Levy, na Grécia o Syriza tenta manter o respeito dos seus leitores ao rejeitar mais medidas draconianas das agências multilaterais que procuram impor pela força, o que no Brasil é feito de forma voluntária por um partido que se diz dos trabalhadores.

A recusa do Syriza em aceitar mais desregulamentação dos direitos trabalhistas e restrições ao pagamento de aposentadorias simboliza a recusa a um receituário que já se provou ineficaz e contraproducente. Por isso, o seu governo é alvo dos mais variados e covardes tipos de pressão por parte do Fundo Monetário Internacional (FMI) e do Banco Central Europeu (BCE).

Uma coisa que a mídia corporativa normalmente omite é que a maioria dos desembolsos feitos pelo FMI e pelo BCE serviram para que os bancos gregos pagassem suas dívidas com bancos europeus, principalmente alemães. Assim, o que está por detrás dessa pressão toda não é solidez dos bancos gregos, mas principalmente do sistema bancário europeu. Se nenhum dos outros motivos existentes servisse para justificar a recusa do Syriza em aceitar mais um pacote de maldades contra o povo grego, essa já seria uma razão mais do que justa.

E se o Syriza não piscar, o final desta semana deverá trazer enormes transformações na ordem econômica que mantem não apenas gregos, mas espanhóis e portugueses, enredados num ciclo vicioso de medidas de austeridade levando a mais pobreza e causando mais depressão econômica. A ver!

Ucrânia: um balanço de dois meses do golpe – Parte I

A ascensão fascista

Por Carlos Serrano Ferreira 

Há pouco mais de dois meses, em 22 de fevereiro, um golpe liderado por uma frente composta pelo Partido da Pátria e pelo fascista Svoboda (até alguns anos atrás chamado Partido Nacional-Socialista da Ucrânia, remetendo diretamente ao Partido Nazi de Hitler) e as milícias da federação de organizações fascistas chamada Setor Direita (Pravy Sektor) derrubaram o governo legitimamente eleito, ainda que corrupto, de Viktor Yanukovych. À frente do Pátria estava a oligarca Yulia Timoschenko, que já governou a Ucrânia e por suas ações escusas estava presa, sendo libertada pelas forças golpistas. 

Dirigindo o Svoboda está Oleh Tyanybok, raivoso antissemita e russófobo, adorador de Stepan Bandera, líder terrorista fascista da Organização Nacionalista Ucraniana “facção Bandera” (OUN-B) e do Exército Revolucionário Ucraniano (UPA), que se aliou à Hitler quando este invadiu o país. Bandera defendia uma Ucrânia só para ucranianos puros e durante e depois da II Guerra Mundial manteve ações terroristas contra o povo ucraniano, tendo entre os crimes de sua folha corrida o genocídio de 70.000 polacos e de 200.000 judeus. Ele foi parado apenas em 1959 pela ação do heróico agente da KGB Bohdan Stashynsky, que o assassinou na Alemanha Ocidental, país que abrigara o monstro nazista. Tyanybok foi expulso da facção parlamentar “Our Ukraine” (bloco eleitoral de Viktor Yuschenko) em 2004 após um discurso antissemita e antirrusso feito no túmulo de um comandante da UPA, onde afirmou entre outras sandices que o país era controlado por uma “máfia judaico-moscovita” (1). Outro dirigente partidário é Yuri Mykhailyshyn, um “intelectual”, conselheiro de Tyanybok, deputado e membro do Conselho Municipal de Lviv. Entre seus “feitos” consta a fundção em 2005 na internet do Centro de Pesquisa Política Joseph Goebbels (ministro da propaganda nazista), que depois teve seu nome alterado para Ernst Jünger e fechado em 2011, para reaparecer possivelmente com outro nome (2).

O outro setor fascista, o Setor Direita, é liderado por Dmytro Yarosh, acusado de ter lutado ao lado de extremistas muçulmanos na Guerra da Chechênia e é procurado por terrorismo pela Rússia. Em 1° de março deste ano a página do Pravy Sektor apelou à ajuda do terrorista e líder islamita checheno, ligado a Al-Qaeda, Dokka Umarov. Tanto os líderes do Svoboda, quanto do Pravy Sektor dizem que lutam contra a “máfia judaico-moscovita”. Estes, como diz em entrevista Sergei Kirichuk, líder do “Borotba”, um movimento surgido há três anos que unifica organizações de esquerda anticapitalistas ucranianas, “as pessoas estavam tão zangadas com a administração de Yanukovich que seguiram e apoiaram o Setor Direita, e quando Yanukovich fugiu do país, o Setor Direita tornou-se uma força política poderosa”(3). Este é uma frente de várias organizações paramilitares fascistas, como a Assembleia Nacional Ucraniana – Autodefesa Nacional Ucraniana (UNA-UNSO, na sigla em inglês). 

Na verdade, há uma clara ligação entre as duas organizações fascistas, sendo quase uma divisão de tarefa: o Svoboda é a face “mais humana”, “mais polida”, política e o Pravy Sektor é o braço armado, as milícias, o lado mais violento dos fascistas ucranianos. Isso não exclui, é claro, que militantes do Svoboda participem diretamente de ações violentas ao lado do Pravy Sektor, como na derrubada da estátua do Lênin em Kiev, ação repudiada pela esmagadora maioria da população daquela cidade, como mostra a pesquisa do instituto independente Research & Branding Group (4). Nem exclui que exista a disputa pela supremacia no movimento fascista entre esses setores. O que unifica a extrema-direita ucraniana é, nas palavras de Kirichuk, do Borotba a defesa de: “um estado nacional corporativo. Eles são contra os sindicatos e a língua russa. […] Ucrânia é separada em duas grandes divisões. Metade fala ucraniano e a outra metade fala russo. Eles são contra a língua russa. Eles são contra o feminismo, contra os direitos das mulheres. Eles são muito homofóbicos, então em política interna eles tentam ser muito tradicionais, políticos orientados para a direita” (5).

Qual o balanço do novo governo? Qual o resultado de suas ações? Alguns dirão que é pouco tempo para isso, que ainda seria cedo para isso. Na verdade, tal foi a velocidade – e em alguns casos a ferocidade das ações – que está mais do que claro o seu caráter e os efeitos de sua chegada ao poder. É possível elencar os seguintes resultados, dois o primeiro será analisado neste artigo e os outros em futuros textos: a) pela primeira vez desde a derrota do nazifascismo na Segunda Guerra Mundial e dos fascismos ibéricos – franquismo espanhol e salazarismo português, reminiscências anacrônicas do período entreguerras que terminaram nos anos setenta (6) – num governo europeu se encontram em posições estratégicas e decisivas fascistas; b) o surgimento de um movimento antifascista, que se materializa na política de secessão ou federativa; c) a mudança de orientação externa do frágil imperialismo russo e suas vitórias táticas; d) o domínio total pelos EUA e pelo FMI da Ucrânia; e) a vitória estratégica dos EUA, alcançando a divisão da União Europeia e da Rússia e a fragilização da Alemanha, que perdeu os dois primeiros rounds na disputa pela Ucrânia, mas pode vencer no final com as eleições presidenciais e uma possível vitória do oligarca Petro Poroshenko; f) o fortalecimento dos oligarcas ucranianos.

O primeiro elemento, que abordaremos neste primeiro artigo, pois é o mais assustador, é o peso dos fascistas no novo governo (7). Eles não só compõem o governo, eles estão em postos chaves, em particular no controle dos aparelhos ideológicos e repressivos. O mais importante posto é de Andriy Parubiy, cofundador do Svoboda, nomeado Secretário do Conselho de Segurança e de Defesa Nacional, que supervisiona todo o aparato militar e inclusive o Ministério da Defesa (8). Ele dirigiu os batalhões mascarados do Setor Direita nas ações violentas das batalhas campais em Kiev. Em 26 de fevereiro deste ano ele “fez um protesto contra UE pela condenação de Stepan Bandera, o líder antissemita e nacionalista ” (9). O segundo cargo mais importante desse Comitê que dirige as forças de segurança e as forças armadas do país é ocupado por Dmytro Arosh, líder do Pravy Sektor(10).

Outro nomeado para uma posição chave foi “Oleksandr Sych, um parlamentar do Svoboda de Ivano-Frankivsk, mais conhecido pelas suas tentativas de banir o direito a todos os tipos de aborto na Ucrânia, incluindo os resultados de estupros, ele foi nomeado vice-primeiro-ministro para assuntos econômicos”(11) . Ele é o chefe ideológico do Svoboda(12) , e trabalhou como professor de história, sendo o autor de “numerosos ensaios alterando a história apresentando os ultranacionalistas ucranianos e colaboradores de nazistas num movimento glorioso de libertação”(13) .

Outro parlamentar membro do Svoboda nomeado foi Oleh Makhnitsky, alçado a nada mais, nada menos, que a procurador-geral. Além disso, outras organizações fascistas, como a UNA-UNSO ganharam cargos no novo governo. Tetyana Chernovol, hoje oficialmente desligada da UNA-UNSO, é “retratada na mídia ocidental como uma abnegada jornalista investigativa, mas sem nenhuma referência ao seu envolvimento passado com o antissemita UNA-UNSO, nomeada presidente do comitê anticorrupção do governo”(14) . É curioso que essa ligação não tenha sido feita nem mesmo quando ela sofreu uma suposta agressão perpetrada pela polícia de Yanukovich e isto foi um dos elementos para que as mobilizações que vinham refluindo crescessem novamente. Ela entrou com 17 anos na UAN-UNSO e foi sua secretária de imprensa posteriormente. Outro que também foi “alegadamente” sequestrado pela polícia, mas que também é ligado à UAN-UNSO, é Dmytro Bulatov, nomeado ministro da juventude e dos esportes. 

Mas, a inserção dos fascistas no governo não para aí: o Svoboda nomeou seu membro Serhiy Kvit Ministro da Educação, “conhecido por seus esforços em glorificar aqueles que inspiraram os fascistas banderistas na Segunda Guerra Mundial”(15) . Também foi nomeado como Ministro da Ecologia e dos Recursos Naturais pelo Svoboda o seu vice-presidente e membro do conselho político, Andriy Makhnyk, responsável também pelos contatos com os outros partidos fascistas europeus. Entre as suas posições políticas incluem-se “a proibição da ideologia comunista e o julgamento dos comunistas”(16) . A importância do papel deste e dos contatos com os outros partidos da extrema-direita europeia se materializa na entrada como observador do Svoboda em 2009 na Aliança dos Movimentos Nacionais Europeus, único partido de fora da EU(17) . Contudo, demonstrando as ligações de Putin com os fascistas da Europa Ocidental – apenas apoiando os antifascistas no Leste e Sul por interesses geopolíticos – e a impossibilidade dos antifascistas ucranianos se apoiarem nele, este recebeu o apoio dos fascistas ocidentais às ações russas na Crimeia e na Ucrânia(18) . Por isso, o Svoboda saiu em 2014 dessa aliança fascista(19) .

Por fim, o Svoboda emplacou Ihor Shvaiko como Ministro da Agricultura, também membro do partido e um agro-oligarca, um dos homens mais ricos da Ucrânia, com vários investimentos na agricultura. É o caso clássico daquele velho ditado popular: “é colocar a raposa para cuidar do galinheiro”.

Desta forma, como se vê, os fascistas controlam o judiciário (procuradoria-geral), outros instrumentos políticos de repressão (comitê anticorrupção); setores chaves do governo em relação à economia (vice-primeiro-ministro para assuntos econômicos e o ministério da agricultura); controlam as forças armadas (Secretário do Conselho de Segurança e de Defesa Nacional); e controlam instrumentos ideológicos fundamentais (ministério da Educação e ministério da juventude e dos esportes). Durante quase um mês, entre 27 de fevereiro e 25 de março, o Svoboda ainda controlou o Ministério da Defesa com seu militante o Almirante Ihor Tenyukh, demitido após a operação que vitimou outro fascista, o criminoso líder do Pravy Sektor (o que revela a disputa interna no governo, que faz as suas próprias vítimas) e acusações de não dar resposta frente à ação russa na Crimeia. 

É verdade que as projeções eleitorais dos fascistas para as eleições presidenciais são muito ruins, com Oleh Tyahnybok do Svoboda com apenas 2,1% e Dmytro Yarosh do Setor Direita com 0,9% na pesquisa da SOCIS de 23 de abril(20) . Mas, como ratos eles roem o pouco de democracia que existia no país, impondo suas políticas e suas posições, inclusive abusando da violência.

Desde que assumiram a “vanguarda” dos processos contestatórios, alterando o caráter de insurreição popular contra o governo de Viktor Yanukovich – corrupto e apoiado por parte da oligarquia – tornando-o num golpe(21) , os fascistas se utilizaram de suas armas corriqueiras: a violência – como o cerco violento ao Parlamento – e as mentiras. Neste quesito se sobressai a ação dos snipers (franco-atiradores) recrutados pelos fascistas – provavelmente em conluio com as outras forças conservadoras de oposição – que vitimaram quase uma centena de manifestantes do próprio EuroMaidan. Buscaram assim criar a consternação necessária para justificar suas ações violentas. Quem afirma isso não é o Kremlin, mas aliados europeus: numa conversa vazada entre o ministro das Relações Exteriores da Estônia, Urmas Paet, e a chefe da diplomacia europeia, Catherine Ashton, ele afirma que “Fica cada vez mais evidente que por trás dos franco-atiradores não estava (o presidente Viktor) Yanukovich, mas alguém da nova coalizão” e ainda que “é preocupante que a nova coalizão não queira investigar”(22) . Os fascistas tem se utilizado dos “Mártires do Movimento” – que eles mesmo mataram – para criar uma mitologia unificadora, usando esse elemento para acusar os que se afastam de seus métodos e objetivos como traidores desses mártires!(23) 

O golpe foi garantido com o cerco ao Parlamento por milícias fascistas e ameaças que levaram a renúncia de vários dos parlamentares apoiantes do governo ou impediram mesmo a participação deles na sessão da Verkhovna Rada (Parlamento Ucraniano). Os “deputados estiveram submetidos à enorme pressão, posto que o edifício da Rada Suprema estava custodiado por dezenas de membros das guardas de autodefesa [nome fantasia das milícias fascistas em Kiev], que formavam uma fileira na porta do Parlamento, e toda a sessão foi retransmitida em direto pela megafonia à praça. Concluída a votação, os deputados se viram obrigados à sair do edifício através corredor de um metro de largura formado pelos membros das forças de autodefesa, em sua maioria encapuzados e alguns portando bastões de beisebol e outros métodos de defesa artesanais”(24) . 

Logo após o golpe os fascistas, com apoio do Partido Pátria, buscou a legalização da discriminação dos russos, com a aprovação no dia seguinte à deposição de Yanukovich da abolição da lei que estabelecia como língua cooficial as línguas minoritárias que contavam com mais de 10% de falantes, como é o caso de 13 das 27 regiões ucranianas (na zona oriental), onde o russo é falado nalguns casos pela maioria da população. Poucos dias depois, frente à pressão russa e de seus aliados da UE, o presidente em exercício Aleksandr Turchinov vetou a lei de abolição do direito linguístico e ordenou ao Parlamento que construísse uma nova lei que restabelecesse os direitos linguísticos das minorias(25) . Contudo os sinais não são auspiciosos: os encarregados de tal proposta são Volodymyr Yavorivsky, um russófobo neonazi do Pátria, e Iryna Farion, membro e parlamentar do Svoboda(26) .

Porém, as “travessuras” fascistas não pararam por aí. Como essa mesma lei vetada trazia a imposição do banimento de toda a mídia em russo, eles encontraram uma outra maneira de fazer valer sua vontade. Através do “Conselho de Defesa e Segurança Nacional [se] instruiu o Escritório do Procurador-Geral e [d]o Serviço de Segurança a investigar as atividades dos canais russos de TV por descumprimento da legislação ucraniana [… por] incitamento ao ódio étnico, incitamento à guerra, separatismo” e a “Corte Administrativa do Distrito de Kiev decidiu pela suspensão da transmissão de quatro canais russos”(27) . Essas decisões levaram ao repúdio da Organização para a Segurança e a Cooperação na Europa (OSCE), expressado na declaração do seu Representante sobre Liberdade da Mídia, Dunja Mijatović de que “banir programação sem base legal é uma forma de censura; preocupações com segurança nacional não deveriam ser usadas a expensas da liberdade da mídia”(28) . Em 11 de março já mais de 50% das empresas de mídia não passavam mais canais russos, seguindo as ordens do órgão de fiscalização da mídia(29) . Não bastando isso, um parlamentar do Svoboda e outros militantes fascistas foram até o escritório do CEO da Companhia Nacional de Televisão, Aleksandr Panteleymonov, o espancaram e gritaram até forçá-lo a assinar sua demissão, sob a justificativa de ele seria “pró-russo”(30) .

O clima de terror e de controle totalitário que buscam instalar no país. É um salto qualitativo num país onde os setores fascistas, apoiados crescentemente pela pequena-burguesia da parte ocidental da Ucrânia, vem crescendo e impondo medo às minorias. “Na Ucrânia atual o anti-semitismo é tão forte, que nos últimos 20 anos, depois da derrocada da União Soviética – que sempre protegeu os judeus como etnia – 80% dos 500.000 hebreus que viviam no país o abandonaram, desde 1989, em um êxodo sem precedentes no pós-guerra. Hoje, em uma população de mais de 44 milhões de habitantes, há menos de 70.000 judeus ucranianos”(31) . Contudo é ainda pior para “os cerca de 120.000 a 400.000 ciganos que vivem na Ucrânia, uma minoria que não conta com recursos para deixar o país, nem com um destino, como Israel, que os possa receber. Com a desmobilização da polícia e do exército, e sua substituição por brigadas paramilitares compostas de vândalos e arruaceiros, os neonazistas têm circulado livremente pelos bairros ciganos da periferia de Kiev e de cidades do interior do país, insultando e agredindo impunemente, qualquer homem, mulher, criança, idoso, que encontrem pela frente”(32) .

A violência se estende aos membros do Partido das Regiões, mas principalmente contra a esquerda, tanto comunistas, membros do Borotba, ou anarquistas (com uma história de raízes profundas no país). No dia 24 de fevereiro, perto de Kiev, “a casa do líder do Partido Comunista da Ucrânia, Pyotr Simonenko, foi queimada […]. A esposa de Simonenko, Okasana Vashenko, contou […] que a casa foi invadida por indivíduos que procuravam alguma coisa que incriminasse o dirigente. Como não acharam nada eles simplesmente atearam fogo na casa, com caixas de coquetéis Molotov”(33) . Mas, não foi só isso: “Sedes [do Partido Comunista] foram atacadas no País inteiro, câmaras regionais foram ameaçadas com armas para aprovar determinadas medidas, políticos foram obrigados, sob ameaça física, a renunciar a seus cargos”(34) . No dia 25 de fevereiro, um ativista do Pravy Sektor, chamado Aleksandr Muzychko, entrou no “Parlamento Regional de Rovno, aonde ele ameaçou os membros do parlamento regional com uma metralhadora e certo número de outras armas e demandou uma decisão garantindo apartamentos para as famílias dos manifestantes mortos durante os violentos confrontos da última semana no centro de Kiev”(35) . No Parlamento Nacional, quando o líder do Partido Comunista, Pyotr Simonenko, discursava defendendo a federalização do país e a concessão do status de língua oficial ao idioma russo ele foi atacado por dois deputados do Svoboda, levando a que os deputados comunistas tivessem que se defender dos ataques(26) . Em Lviv, bastião do Svoboda, eles chegaram a torturar o primeiro secretário do Partido Comunista de Lviv, Rostislav Vasilko(37) . Uma idosa foi brutalmente espancada pelos fascistas por estar a levar flores para uma estátua de Lênin(38) . Até mesmo as Igrejas Ortodoxas subordinadas ao Patriarcado de Moscou estão sendo atacadas(39) . 

Essa violência contra a esquerda já se dava desde os próprios protestos do EuroMaidan, como denunciava o anarcossindicalista ucraniano Denys, da União do Trabalhador Autônomo da Ucrânia, à Rádio Asheville FM, da Carolina do Norte: “Hoje e talvez em todos os outros dias da última semana, você poderia estar em perigo real, se você começar a dizer algo assim [falar sobre a alternativa de classe], porque você seria imediatamente considerado um provocador do partido no poder. Na verdade, houve um par desses incidentes no Euromaidan, quando pessoas de diferentes grupos de esquerda estavam tentando fazer exatamente o que você está dizendo [falar sobre a alternativa de classe], e alguns deles foram espancados muito severamente, outros foram apenas expulsos. Isso ocorre porque as pessoas comuns mostram algum interesse, às vezes, mas o outro problema é que entre os ativistas no Euromaidan, entre a segurança e os responsáveis locais (os organizadores dos protestos), entre os que fazem as coisas, há forte infiltração pelos grupos de extrema-direita que realmente têm suas próprias coisas para dizer para a esquerda. E eles têm a confiança das pessoas comuns, dos políticos, por isso, se algum nazista novo que conhecemos diz: “Oh, meu Deus, olha, estes são os comunistas, estes são provocadores, eu acho que eles apenas apoiam Yanukovych”, ninguém mais ouvirá você. Você seria expulso”(40) .

Mas, o salto qualitativo no domínio de terror se deu com o aprofundamento do golpe, em 13 de março: o Parlamento Nacional aprovou a criação de uma “Guarda Nacional” com 60 mil stormtroopers (tropas de assalto), “cujos trabalhos incluirão a proteção da ‘ordem pública’ (moldada sobre a ‘nova ordem’ alemã sobre os territórios ocupados) e a supressão de ‘distúrbios’ (protestos populares) durante um estado de emergência, bem como a assistência na defesa das fronteiras (com a Rússia, naturalmente), e a participação em operações militares em caso de guerra”(41) . Isto na verdade significou a incorporação das milícias fascistas à estrutura oficial de repressão. O sonho de Ernest Röhm para as suas Sturmabteilung (SA) e depois realizada pela SS por Heinrich Himmler, com a constituição a partir dos batalhões da Waffen SS, foi realizado pelos fascistas ucranianos em tempo recorde. Estes batalhões “principalmente originados de Lviv [bastião do Svoboda e dos fascistas em geral] (Ucrânia Ocidental) serão unidades de retaliação e de fronteira – análogas às Waffen SS(42) . Na sua era, os nazistas rapidamente livraram-se dos generais da Wehrmacht que ousaram se opor à criação e a militarização do “Exército do Partido”. Usando o mesmo esquema de jogo, o “primeiro-ministro” em exercício, Arseny Yatsenyuk não hesitou a demitir três vice-ministros da defesa que se atreveram a se opor ao lunático plano de armar o Setor Direita”(43) . Arsen Avakov, ministro do Interior, declarou “como uma de suas primeiras intenções que o Setor Direita deve ser integrado no aparato estatal de segurança”(44) , o que cumpriu inteiramente.

Esses grupos de assaltos, secundados por grupos de extrema-direita ligado às claques de futebol (financiadas pelos oligarcas proprietários desses clubes) realizaram o grande Massacre de Odessa. Na noite da passada sexta-feira, dia 3 de maio, as torcidas organizadas de dois clubes que jogavam na cidade de Odessa, junto de membros do Pravy Sektor e as milícias fascistas começaram a atacar os militantes antifascistas, se dirigindo para o acampamento montado por estes junto à Casa dos Sindicatos, para onde estes foram encurralados. Os fascistas então lançaram uma bomba que iniciou o incêndio, que vitimou ao menos 42 pessoas, carbonizadas até a morte(45) . Ao contrário da propaganda da mídia imperialista e de Kiev, todos eram ucranianos, não se encontrou nenhum corpo de “infiltrados russos”. Tanto os queimados, como os mortos a tiros pelos fascistas nesse massacre, eram em sua maioria militantes do partido comunista ucraniano e do outro partido de esquerda, o Borotba. 

É assustador, mas os fascistas possuem de fato o poder local “em ao menos algumas das regiões ocidentais ucranianas, como as regiões de Rivne e Volyn”(46) . Como a Ucrânia é um estado unitário, a indicação dos governadores de região é feita por Kiev, que indicou quatro militantes do Svoboda como governadores(47) . Já nas eleições parlamentares de 2012 eles obtiveram 10,44% de votos no sistema proporcional e 12 deputados eleitos diretamente no sistema distrital, superando então a cláusula de barreira de 5%, permitindo alcançarem 38 deputados entre 450 vagas(48) . Nas eleições locais de 2010 tiveram “uma média de 25,7% de votos na Galícia Oriental, e seus candidatos venceram a maioria dos cargos distritais. Como resultado, o Svoboda conformou coalizões majoritárias nos conselhos regionais e, em Ternopil, Ivano-Frankivsk e várias pequenas cidades o partido tem uma maioria absoluta. Ternopil permanence, contudo, a única cidade onde o partido pode governar independentemente, pois o prefeito é membro deste partido”(49) . O crescimento em militância do Svoboda também tem sido exponencial: em 2004 tinha 5.000 militantes, em 2010 já havia subido para 15.000(50) ! A verdade é que o crescimento dos setores fascistas pela via eleitoral tem como limite a divisão do país e sua política antiminoria russa. Por isso, eles pressionam pela mudança na legislação eleitoral e pela substituição do staff da Comissão Central de Eleições, e o Setor Direita e o Causa Comum (outro grupo fascista) manterão até as eleições militantes nos escritórios dessa comissão(51) . Não se pode descartar, obviamente, que ocorram fraudes nas eleições presidenciais do dia 25 de maio para beneficiar os fascistas ou uma parte deles.

Como reflete brilhantemente Mauro Santayna: “Até agora, o neonazismo se ressentia de um território grande e simbólico o suficiente, do ponto de vista de uma forte ligação com o anticomunismo e com o nacional-socialismo, no passado, para servir de estuário para o ressentimento e as frustrações de um continente decadente e nostálgico das glórias perdidas, que nunca se sentiu realmente distante, ou decididamente oposto, ao fascismo. Faltava um lugar, um santuário, onde se pudesse perseguir o mais fraco, o diferente, impunemente. Um front ideológico e militar para onde pudessem convergir – como voluntários ou simpatizantes — militantes da supremacia branca de todo o mundo. Um laboratório para a criação de um novo estado, com leis, estrutura e ideologia semelhantes às que imperavam na Alemanha há 70 anos. Se, como tudo indica, os neonazistas se encastelarem no poder em Kiev, por meio de eleições fraudadas, ou da consolidação de um golpe de estado desfechado contra um governante eleito, o ninho da serpente poderá renascer, agora, no conflagrado território ucraniano”(52) .

O exemplo dos fascistas ucranianos já inspira fascistas de outras partes, como os nazistas do Partido dos Suecos, que tem atacado militantes de esquerdas – como em Malmo, após manifestações de esquerda pelo Dia Internacional da Mulher – e judeus, ou ainda o Movimento de Resistência Sueco: “Ao todo, 12 membros de vários grupos de extrema direita suecos foram nas últimas semanas a Kiev para participar das revoltas contra o governo anterior, apoiando partidos de ideologia similar ao Setor de Direitas e Svoboda. Um dos três detidos pelo incidente de Malmo acabava de retornar da Ucrânia, revelou a ‘Expo’ O Säpo [serviço de inteligência sueco] havia admitido dias antes que sabia da presença de nazistas suecos na Ucrânia, mas que não lhe constava que tivessem intenção de cometer delitos com motivações políticas na Suécia”(53) .

Os perigos da ascensão dos fascistas na Ucrânia não se restringem ao espaço ucraniano, muito pelo contrário. Como corretamente pondera Yorgos Mitralias, membro do comitê grego da iniciativa do Manifesto Antifascista Europeu: “Independentemente do caminho que tomem os acontecimentos que vêem afrontar-se no solo ucraniano não só a Rússia e a Ucrânia (igualmente reacionárias e enfeudadas aos oligarcas) mas também as grandes potências imperialistas do nosso tempo, tudo indica que os neo-nazis ucranianos, já poderosos, serão os únicos a aproveitar-se da devastação que não deixarão de provocar tanto as políticas de austeridade do FMI como os ventos guerreiros e nacionalistas que varrem a região. As consequências são previsíveis. Os neo-nazis ucranianos em armas serão provavelmente capazes de estender a sua influência para lá do Leste europeu e gangrenar o conjunto do nosso continente. Como? Primeiro, impondo, no interior do campo da extrema-direita europeia em ascensão, relações de força favoráveis ao neo-nazismo militante. Depois, servindo como modelo de exportação ao menos para os países vizinhos (incluindo a Grécia), já martirizados pelas políticas de austeridade e já contaminados por vírus racistas, homofóbicos, anti-semitas e neo-fascistas. E, evidentemente, sem esquecer o grande “argumento” que constituem os milhares e milhares de armas – incluindo pesadas – na sua posse, que não deixarão de exportar. A conclusão salta à vista. É o conjunto da paisagem, equilíbrios e relações de força na Europa que será inevitavelmente transformado, às custas de sindicatos operários, organizações de esquerda e movimentos sociais. Em palavras simples, já há de que ter pesadelos”(54) .

Na verdade, o fascismo e o liberalismo são duas bestas gêmeas paridas pelo capitalismo. Não por acaso convivem harmoniosamente no novo governo ucraniano, como já o fizeram, por exemplo, no Chile de Pinochet. Mais do que isso: o fascismo é a expressão desesperada dos capitalistas em crise, que se utilizam dos pequeno-burgueses ameaçados de proletarização na sua luta para esmagar a resistência da classe trabalhadora. Por isso, não há outra forma de derrotar o fascismo em definitivo sem a derrota do capitalismo. Não é de surpreender que o fascismo, que parecia ter sido morto no Julgamento de Nuremberg, e enterrado em definitivo com a Revolução dos Cravos e o fim do franquismo, volta com toda a força. É como explica o líder do Borotba sobre a situação ucraniana, ao falar sobre o Svoboda: “Eles [o Svoboda] foram apoiados por alguns grupos e o governo burguês porque o governo burguês [e a] administração de Yanukovich [estava] tentando usar os fascistas contra os seus inimigos políticos. Por exemplo, você sabe que na Ucrânia um dos mais populares políticos foi Yulia Tymoshenko. Ela foi uma política realmente corrupta, mas ao mesmo tempo foi bastante popular, então Yanukovich e seu grupo usaram o Svoboda para atacá-la. Eles fizeram boas doações para financiar o Svoboda, e em poucos anos eles converteram-se de um pequeno partido fascista da Ucrânia Ocidental num grande partido parlamentar. Eu preciso explicar que a Ucrânia é um país muito nacionalista. Quando a União Soviética caiu e nós tivemos um grande desastre social aqui na Ucrânia, era da intenção e da vontade do povo lutar contra o capitalismo porque ele não trouxe nada de bom para o povo, e [toda] a oligarquia ucraniana, novos homens de negócio, novos ricos, começaram a usar a ideologia nacionalista para evitar que o país voltasse ao “Passado Vermelho”. Nós tivemos propaganda nacionalista por vinte anos através da mídia, na escola, e nós tivemos um grande financiamento para sustentar os movimentos fascistas. Estas duas condições fizeram possível os fascistas estarem no parlamento ucraniano”(55) . O que ele fala de governo de Yanukovich é válido para todos os governos oligarcas anteriores. O “herói da democracia”, líder da “Revolução” Laranja, Viktor Yuschenko, no fim de seu governo, após não conseguir se reeleger ao perder a eleição para Yanukovich, premiou postumamente com o título de “Herói da Ucrânia” o líder fascista e colaborador de nazistas, Stepan Bandera(56) . O que Sergei Kirichuk demonstra é que foi a partir do apoio do Estado burguês e da grande burguesia ucraniana que se construiu o fascismo. Yanukovich alimentou a fera fascista, que depois devorou a mão que lhe entregava dinheiro(57) . 

Com grande clarividência, o líder do Borotba coloca que eles não lutam apenas contra os fascistas, mas que é necessário lutar principalmente contra a “oligarquia ucraniana e a classe dominante ucraniana, porque os fascistas ucranianos são apenas um sintoma dessa doença chamada desenvolvimento capitalista. Atualmente, eles são apenas um dos problemas da Ucrânia porque nós temos um enorme número de problemas ligados à corrupção, pobreza e movimentos de extrema-direita. O grande desemprego, a pobreza na Ucrânia, eles não criam uma boa base de desenvolvimento, mas estes movimentos neonazistas. Logo, nosso inimigo central é a classe dominante”(58) . 

Apesar da ameaça fascista, felizmente, no Sul e no Leste da Ucrânia – mesmo que a campanha de desinformação da grande mídia internacional pinte a mobilização popular nessas regiões como um plano arquitetado por Moscou, chamando os militantes de “pró-russos” – cresce uma verdadeira revolução antifascista, com a entrada em cena de batalhões pesados da classe operária, como os mineiros. Inclusive se debate entre estes a necessidade de expropriar a propriedade dos oligarcas. Ainda há esperança para a Ucrânia. Ainda há esperança para a Europa. Que a resistência do povo ucraniano oriental derrote o fascismo como o povo soviético derrotou a besta nazista em Stalingrado.

Notas:

(1) Kuzio, Taras. Yushchenko Finally Gets Tough On Nationalists. Eurasia Daily Monitor, v.1, n° 66. Disponível em:http://www.jamestown.org/single/?no_cache=1&tx_ttnews%5Bswords%5D=8fd5893941d69d0be3f378576261ae3e&tx_ttnews%5Bany_of_the_words%5D=Tyahnybok&tx_ttnews%5Btt_news%5D=26703&tx_ttnews%5BbackPid%5D=7&cHash=0a5d124110#.U2nW4_ldXZ0. 

(2) Olszański , Tadeusz A.. Svoboda party – the new phenomenon on the Ukrainian right-wing scene. OSW Commentary, n.° 56, 2011. p.2. Disponível em:http://mercury.ethz.ch/serviceengine/Files/ISN/137051/ipublicationdocument_singledocument/fd513b79-1b42-403d-bde8-3d3d3a6a6f32/en/commentary_56.pdf.

(3) Democracy and Class Struggle. Ukraine: Sergei Kirichuk of Union Borotba Interviewed by the Last Defense – Red Star verses Brown Shirt. 5 de abril de 2014. Disponível em: http://democracyandclasstruggle.blogspot.co.uk/2014/04/ukraine-sergei-kirichuk-of-union_5.html. Tradução livre do inglês.

(4) Segundo a pesquisa da R&B, entre os moradores da Kiev, “majoritariamente favorável ao EuroMaidan, mostra que 69% consideram totalmente negativa a atitude de derrubada da estátua [de Lênin]; apenas 13% a consideram totalmente positiva; e, 67% consideraram um ato bárbaro, contra apenas 29% que não o tipificam assim.” Ferreira, Carlos Serrano. A Batalha pela Ucrânia. História & Luta de Classes, n° 17, março 2014. p. 72. 

(5) Ver nota (3). Tradução livre do inglês.

(6) Seria muito polêmico acrescentar a ditadura dos coronéis (1967-1974), um regime ditatorial militar, mas que não chegava a ser um fascismo clássico.

(7) Infelizmente, devido aos limites do espaço, não será possível aqui citar a extensa ligação entre países imperialistas europeus e, principalmente, os EUA, com os fascistas ucranianos desde seu surgimento décadas atrás. 

(8) As informações sobre a participação dos fascistas no novo governo foram extraídas principalmente do artigo de Greg Rose, Ukraine Transition Government: Neo-Nazis in Control of Armed Forces, National Security, Economy, Justice and Education, publicado em 2 de março deste ano em Global Research News e disponível emhttp://www.globalresearch.ca/ukraine-transition-government-neo-nazis-in-control-of-armed-forces-national-security-economy-justice-and-education/5371539. 

(9) Democracy and Class Strugle. Know your Enemy :The new neoliberal fascist government in Ukraine. Disponível em: http://democracyandclasstruggle.blogspot.co.uk/2014/03/the-new-neoliberal-fascist-government.html. Tradução livre do inglês.

(10) Informação extraída de Mitralias, Yorgos. Ucrânia: Anti-fascistas europeus, despertem! A peste castanha está de volta!. 8 de março de 2014. Disponível em:http://www.esquerda.net/artigo/ucrânia-anti-fascistas-europeus-despertem-peste-castanha-está-de-volta/31654. 

(11) Ver nota (8). Tradução livre do inglês.

(12) Ryan, John. Misinformation about Ukraine and Russia. Disponível em: http://canadiandimension.com/articles/6044/. 

(13) Ver nota (9). Tradução livre do inglês.

(14) Ver nota (8). Tradução livre do inglês.

(15) Ver nota (12).

(16) Ver nota (9). Tradução livre do inglês.

(17) Ver nota (2). p.2. 

(18) Ames, Paul. Europe’s Far Right Is Embracing Putin. 10 de abril de 2014. Disponível em: http://www.businessinsider.com/paul-ames-europes-far-right-is-embracing-putin-2014-4#!J4Zqz. 

(19) Tiahnybok, Oleh. Oleh Tiahnybok withdraws Svoboda’s membership within the Alliance of European National Movements. 20 de março de 2014. Disponível em:http://en.svoboda.org.ua/news/events/00010596/. 

(20) Disponível em http://metapolls.net/2014/04/23/ukrainian-presidential-election-23-april-2014-poll/#.U2hfG_ldXZ0. 

(21) Sobre essa transformação de uma insurreição em golpe sugere-se a leitura do artigo Ferreira, Carlos Serrano. Ucrânia: da insurreição ao golpe. Diário Liberdade. Disponível em: http://www.diarioliberdade.org/opiniom/opiniom-propia/46329-ucrània-da-insurreição-ao-golpe.html. Pode ser acessado em vários outros sites, como no do PCB: http://www.pcb.org.br/portal/index.php?option=com_content&view=article&id=7097%3Aucrania-da-insurreicao-ao-golpe&catid=43%3Aimperialismo. 

(22) EFE. Chanceler estoniano sugere que atiradores de Kiev foram pagos pela oposição. UOL Notícias. Disponível em:http://noticias.uol.com.br/ultimas-noticias/efe/2014/03/05/chanceler-estoniano-sugere-que-atiradores-de-kiev-foram-pagos-pela-oposicao.htm. 

(23) Sobre isso veja-se Who is in charge of Ukraine today?. Oriental Review. 19 de março de 2014. Disponível em:http://orientalreview.org/2014/03/19/who-is-in-charge-of-ukraine-today/. 

(24) Suanzes, Pablo Rodríguez. El Parlamento destituye a Yanukovich y convoca elecciones. El Mundo, 22 de fevereiro de 2014. Disponível em: http://www.elmundo.es/internacional/2014/02/22/53086e73e2704ec87a8b456a.html. Grifos no original. Tradução livre do castelhano. 

(25) RT. Canceled language law in Ukraine sparks concern among Russian and EU diplomats. 27 de fevereiro de 2014. Disponível em: http://on.rt.com/fpsdcn. 

(26) Who is in charge of Ukraine today?, citado na nota (23).

(27) RT. Ukrainian court bans Russian TV broadcast.26 de março de 2014. Disponível em: http://on.rt.com/w7ybdu. 

(28) Idem.

(29) RT. Humiliation: Ukrainian MP & thugs beat state TV Channel head into resigning (VIDEO). 18 de março de 2014. Disponível em: http://on.rt.com/b3y4ax. Além da notícia há um vídeo com as cenas de brutalidade fascista. 

(30) Idem.

(31) Santayana, Mauro. Capitalismo ameaçado passeia com o fascismo. 9 de março de 2014. Disponível em:http://www.viomundo.com.br/denuncias/mauro-santayana-capitalismo-ameacado-sempre-passeia-com-o-fascismo-o-ataque-aos-povos-roma-na-europa.html. 

(32) Idem.

(33) PCO. Fascistas queimam casa de líder do Partido Comunista. Disponível em: http://pco.org.br/blog/politicainternacional/238/europa/ucrania/2014/fascistas-queimam-casa-de-lider-do-partido-comunista/. Sobre outras ações terroristas dos fascistas na Ucrânia pode se ler mais em: Workers BushTelegraph. The Coup Leadership in Ukraine is Fascist. 28 de abril de 2014. Disponível em: http://workersbushtelegraph.com.au/2014/04/28/the-coup-leadership-in-ukraine-is-fascist/. 

(34) Fascistas queimam casa de líder do Partido Comunista. Ver nota anterior.

(35) RT. Ukraine: “Thugs R Us”. Western-Backed Extremists’ Intimidation Techniques. 27 de fevereiro de 2014. Tradução livre do inglês. Disponível em: http://www.globalresearch.ca/ukraine-thugs-r-us-western-backed-extremists-intimidation-techniques/5370914. 

(36) DNAgola. Deputados nacionalistas e comunistas trocaram tapas na sessão de ontem do Conselho Supremo em Kiev. Disponível em: http://www.dnangola.com/2014/04/deputados-nacionalistas-e-comunistas-trocaram-tapas-na-sessao-de-ontem-do-conselho-supremo-em-kiev/. 

(37) La Republica. Rostislav Vasilk, comunista torturado por los fascistas de EuroMaidan. 27 de fevereiro de 2014. Disponível em: http://www.larepublica.es/2014/02/rostislav-vasilk-comunista-torturado-por-los-fascistas-de-euromaidan/. 

(38) Bleitrach, Danielle. Questions à l’Union européenne et au gouvernement français. Disponível em: http://histoireetsociete.wordpress.com/2014/02/26/questions-a-lunion-europeenne-et-au-gouvernement-francais-par-danielle-bleitrach/. 

(39) Ver nota (35).

(40) Tahrir-ICN. Anarquista ucraniano alerta sobre a influência fascista na oposição ucraniana. Tradução Carlos Serrano Ferreira. Diário Liberdade. Disponível em: http://www.diarioliberdade.org/mundo/antifascismo-e-anti-racismo/45455-ucrânia-anarquista-ucraniano-dissipa-mitos-que-cercam-os-protestos-do-euromaidan-e-alerta-sobre-a-influência-fascista.html. 

(41) Ver nota (23). Tradução livre do inglês.

(42) É importante notar que a Divisão Galitzia da Waffen SS teve um importante papel na história do fascismo ucraniano, e não é estranho que seja um parâmetro para esse processo: “Os nazistas ucranianos não apenas forneceram assassinos e torturadores para o holocausto — e a eliminação de prisioneiros políticos e de homossexuais — mas também lutaram ao lado dos alemães, por meio da sua famigerada Legião Ucraniana de Autodefesa e da Divisão SS Galitzia, contra os russos, na Segunda Guerra Mundial.Longe de renegar esse passado, do qual toma parte o extermínio da própria população ucraniana – em Baby Yar, uma ravina perto de Kiev, foram massacrados, com a ajuda de soldados e policiais ucranianos, 150.000 mil civis, entre ciganos, comunistas, e judeus ucranianos, 33.700 deles apenas nos dias 29 e 30 de setembro de 1941 – a direita ucraniana o venera e honra. No dia primeiro de agosto de 2013, com a presença de um padre ortodoxo, dezenas de pessoas vestindo uniformes da Waffen SS, em meio a uma profusão de bandeiras ucranianas e de suásticas, se encontraram na cidade de Chervone, na Ucrânia, para honrar o “sacrifício” dos “heróis” ucranianos da Divisão SS Galitzia”. Ver referência na nota (31).

(43) Ver nota (23). Tradução livre do inglês.

(44) Ver nota (9). Tradução livre do inglês.

(45) Pode-se ver informações sobre o Massacre em RT. Radicals shooting at people in Odessa’s burning building caught on tape. 4 de maio de 2014. Disponível em:http://on.rt.com/oa8vvj; Oliphant, Roland. Ukraine crisis: death by fire in Odessa as country suffers bloodiest day since the revolution. The Telegraph, 3 de maio de 2014. Disponível em:http://www.telegraph.co.uk/news/worldnews/europe/ukraine/10806656/Ukraine-crisis-death-by-fire-in-Odessa-as-country-suffers-bloodiest-day-since-the-revolution.html; 

(46) The Coup Leadership in Ukraine is Fascist. Ver nota (33). Tradução livre do inglês.

(47) Ver nota (9). Tradução livre do inglês.

(48) Vyacheslav Likhachev . 2012 REPORT on manifestations of anti-semitism in Ukraine. Disponível em:http://eajc.org/page635. 

(49) Ver nota (2). p.2.

(50) Ver nota(2). p.2.

(51) Ver nota (35).

(52) Ver nota (31).

(53) EFE. Aumento da violência neonazista gera debate e protestos na Suécia. 16 de março de 2014. Disponível em:https://br.noticias.yahoo.com/aumento-violência-neonazista-gera-debate-protestos-suécia-131358617.html. 

(54) Ver nota (9). Tradução livre do inglês.

(55) Ver nota (3). Tradução livre do inglês.

(56) RT. Bandera: Ukraine’s national hero or traitor?. 5 de abril de 2010. Disponível em: http://on.rt.com/tty2if. 

(57) Outro exemplo de financiamento das oligarquias ao Svoboda pode ser visto nas eleições dos conselhos distritais em 2009, onde Ihor Kolomoyskyi, em conflito há época com Yulia Timoshenko, financiou a campanha do candidato do Svoboda ao conselho de distrital de Ternopil. Fonte: Olszański , Tadeusz A.. Svoboda party – the new phenomenon on the Ukrainian right-wing scene. OSW Commentary, n.° 56, 2011. p.5. Disponível em: http://mercury.ethz.ch/serviceengine/Files/ISN/137051/ipublicationdocument_singledocument/fd513b79-1b42-403d-bde8-3d3d3a6a6f32/en/commentary_56.pdf. 

(58) Ver nota (3). Tradução livre do inglês.