França proíbe popular herbicida S-metolacloro por causar poluição das águas

aspersorUm aspersor rega plantações de milho nos arredores da cidade de Toulouse, no sul da França. AFP – JEAN-PIERRE MULLER

Por Amanda Morrow para a RFI

A autoridade de segurança alimentar da França, Anses, decidiu proibir o S-metolacloro, um herbicida comum usado por produtores de cereais, devido à poluição significativa das águas subterrâneas. O produto se junta a uma lista cada vez maior de produtos químicos que não são mais permitidos na agricultura francesa.

Uma vez espalhada no solo, a substância ativa se decompõe em metabólitos que migram para o solo, águas superficiais e subterrâneas. Embora não represente um risco imediato à saúde, Anses disse que a molécula é uma importante fonte de poluição da água. 

“Em testes de água potável, os metabólitos do S-metolacloro foram frequentemente detectados em concentrações que excedem os padrões de qualidade”, disse Anses .

Restrições

A proibição segue medidas anteriores das autoridades de saúde para restringir as doses permitidas para o uso deS-metolacloro em campos de milho, girassol, soja e sorgo.

Charlotte Grastilleur, vice-diretora da divisão de produtos regulamentados da Anses, disse que os resultados dos testes da agência são indiscutíveis.

“Apesar das recentes restrições às condições de uso, o limite de 0,1 micrograma por litro estabelecido pela legislação europeia em águas subterrâneas é excedido para três metabólitos do S-metolacloro”, disse Grastilleur.

As empresas que fabricam S-metolacloro foram informadas sobre o procedimento de retirada, e os produtores de cereais receberam de 6 a 12 meses para vender seus grãos antes de mudar para um herbicida alternativo.

A proibição do S-metolacloro ocorre semanas depois que os produtores franceses de beterraba foram proibidos de usar pesticidas neonicotinóides “matadores de abelhas”.


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Este texto escrito originalmente em inglês foi publicada pela RFI [Aqui!].

Derrota de Macron na França, greves contra Johnson na Inglaterra: os custos políticos e econômicos da guerra na Ucrânia começam a emergir

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Dois fatos são notáveis nesse final de semana na Europa: a derrota de Emmanuel Macron no segundo turno das eleições legislativas francesas e a crescente pressão dos trabalhadores contra Bóris Johnson na Inglaterra.  Esses dois fatos parecem sinalizar que a paciência dos trabalhadores europeus está se esgotando, colocando em xeque as políticas neoliberais por um lado, e o custoso apoio à Ucrânia no conflito armado em que este país serve como “proxy” no enfrentamento geopolítico com a Rússia.

Os próximos meses deverão aumentar a impaciência da classe trabalhadora europeia em outros países, a começar pela Alemanha, onde dezenas de bilhões de euros estão sendo alocados para a ajudar militar para os ucranianos, o que tem sido acompanhado por retaliações russas no fornecimento de gás, combustível essencial para tocar a vida na Europa.

 

Hamburger connection: McDonald´s encara problemas na justiça francesa por associação a desmatamento e trabalho escravo no Brasil

Investigação da ‘Repórter Brasil’ revelou violações trabalhistas e ambientais na produção de soja, café, laranja e carne

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McDonald’s contestou as denúncias e afirmou que exige de seus fornecedores o “cumprimento rigoroso” do Código de Conduta da companhia – Kenzo Tribouillard/AFP

Poliana Dallabrida e Naira Hofmeister Repórter Brasil

O McDonald’s tem três meses para apresentar uma estratégia de vigilância que garanta que seus fornecedores não estão envolvidos em crimes ambientais ou infrações trabalhistas. A rede de restaurantes de fast food foi notificada da exigência na manhã da última quarta-feira (30), um dia depois de a Repórter Brasil publicar uma investigação exclusiva mostrando que a carne de seus hambúrgueres, o suco de laranja, o café certificado e até mesmo a soja que alimenta os frangos que abate na Europa estão sujeitos ao desmatamento e ao trabalho escravo. 

Se a rede internacional não apresentar esse plano até junho, a Justiça francesa poderá ser acionada, obrigando a empresa a pagar multas por cada dia de atraso. “Esperamos que esta notificação leve a empresa a divulgar informações completas, detalhadas e transparentes [sobre] os riscos e violações [de sua cadeia]”, diz o documento, assinado por centrais sindicais brasileiras e francesas. 

O envio de uma notificação formal é a primeira etapa processual estabelecida pela lei francesa da devida diligência, em vigor desde março de 2017. Segundo a norma, empresas nacionais ou estrangeiras com mais de 5 mil empregados no país devem implementar um plano de vigilância anual para identificar, prevenir, mitigar e responder por danos nas áreas de direitos humanos, meio ambiente, saúde e segurança do trabalho.

O instrumento tem alcance sobre as operações da própria empresa, suas subsidiárias e fornecedores diretos e indiretos – inclusive fora do país. As denúncias da Repórter Brasil revelam casos como a compra de carne de um frigorífico da JBS no Mato Grosso do Sul cujo fornecedor foi flagrado mantendo nove trabalhadores indígenas em condições análogas à ecsravidão. Uma das fazendas brasileiras de seu principal fornecedor de café, a Segafredo, perdeu certificados de boas práticas depois que uma auditoria constatou aplicação de agrotóxico em áreas proibidas. Já a Sucocítrico Cutrale, que produz o suco de laranja vendido pelo McDonald’s em vários países, reduziu pagamentos a trabalhadores e cortou seu vale-alimentação durante a pandemia de covid-19.

Em pronunciamento divulgado pela imprensa francesa, o McDonald’s contestou as denúncias e afirmou que exige de seus fornecedores o “cumprimento rigoroso” do Código de Conduta da companhia. “O respeito aos direitos humanos e a segurança de nossos fornecedores são prioridades absolutas para o McDonald’s na França”, disse a filial da rede de fast food. A companhia havia enviado uma nota com teor semelhante à Repórter Brasil, incluída no relatório, porém, na ocasião, não comentou os casos específicos. As demais empresas e fazendas citadas no relatório também negaram os problemas.

Longo histórico de violações

A notificação dos sindicatos é endereçada a Nawfal Trabelsi, presidente do McDonald’s na França, e Chris Kempczinski, CEO da companhia, e é assinada por sindicatos de trabalhadores brasileiros e franceses. Pelo lado brasileiro, as organizações que encabeçaram a ação são a Central Única dos Trabalhadores (CUT) e a União Geral dos Trabalhadores (UGT). Na França, a denúncia foi coordenada pela Confédération Générale du Travail (Confederação Geral do Trabalho, na tradução para o português).

As entidades identificaram um longo histórico de violações tanto nos restaurantes da empresa como na cadeia de abastecimento da rede. Além das violações socioambientais no Brasil, a notificação dos sindicatos cita também denúncias de assédio moral e sexual em restaurantes da rede na França e Estados Unidos. 

O McDonald’s é o segundo maior empregador privado do mundo, com cerca de 2 milhões de empregados em mais de 40 mil restaurantes da rede. “O universo de trabalhadores atingidos por essa questão é imenso”, explica Alessandro Vietri, advogado que representou a UGT na ação francesa. “É uma empresa que, se puder fazer algum ajuste em suas condutas, trará importantes impactos e pode motivar e incentivar outras empresas a adotarem melhores formas de trabalho”.

A notificação também alega que a companhia atua para dificultar a liberdade sindical dos trabalhadores da rede, seja por meio da transferência de restaurantes para atrapalhar a criação de sindicatos ou pela discriminação de empregados devido à sua filiação sindical. “A liberdade sindical é uma liberdade fundamental de longa data. No entanto, o McDonald’s foi condenado em várias ocasiões por práticas que a infringem”, diz trecho da notificação.

Desinteresse na devida diligência

Além de ter descumprido a lei da devida diligência na França, as centrais sindicais também acusam o McDonald’s de não dialogar com as partes interessadas para a construção do plano de rastreamento no país. “Até essa data, nenhum diálogo parece ter sido iniciado pelo McDonald’s francês com sindicatos e ONGs na França para elaborar o plano de vigilância da empresa, embora isso seja um requisito da lei”, ressalta a notificação enviada à companhia.

“São questões comuns em todos os lugares do mundo, envolvendo trabalhadores direitos e indiretos. Eles precisam ter responsabilidade. Se o McDonald’s compra o café ou algum outro produto de um fornecedor, ele precisa diligenciar para saber se os trabalhadores possuem seus direitos garantidos”, afirma Vietri.

Repercussão internacional

A notificação do McDonald’s, assim como as denúncias da Repórter Brasil, repercutiram na imprensa internacional. A Bloomberg destacou a conexão da rede de fast food com o desmatamento ilegal na Amazônia e no Pantanal, que se dá através de fornecedores indireitos de frigoríficos que vendem carne para a produção de hambúrgueres.

Já o jornal Le Figaro lembrou que o McDonald’s não é a primeira empresa a ser notificada dentro da lei de devida diligência da França. Em março, a multinacional francesa do setor de cosméticos Yves Rocher foi notificada após denúncias de violações trabalhistas em sua subsidiária na Turquia. Em 2018, cerca de 130 trabalhadoras mulheres foram demitidas após protestarem por melhores condições de trabalho na fábrica do grupo em Gebze, na periferia de Istambul.


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Este texto foi originalmente publicado pelo jornal “Brasil de Fato” [Aqui!].

Uma revolta contra o agronegócio causa alvoroço na França

A campanha “Soulèvements de la Terre” está comprometida com a reviravolta agrícola e está causando alvoroço na França

frança revoltaManifestação contra o agronegócio no sábado em Passenans, França

Por Luc Skaille para o JungeWelt

Uma manhã cinzenta no final de janeiro no Jura francês. Quase 600 pessoas, equipadas com botas de borracha, tesouras de podar e alicates, reúnem-se num parque de estacionamento na aldeia de Passenans. Os coletes amarelos apresentam os recém-chegados. Representantes do sindicato dos agricultores Confédération Paysanne estão em cima de um trator. Os oradores abordarão a política agrícola da UE, as mortes nas quintas e a especulação. Juntamente com o movimento »Soulèvements de la Terre« (revoltas da terra, jW ) foi convocado um dia de ação com ocupação de terras. Apenas alguns gendarmes observavam os acontecimentos coloridos na garoa.

Desde março de 2021, após o seu lançamento em Besançon, a campanha concentrou-se nas principais questões agrícolas. Centenas de ativistas ocuparam fábricas pertencentes à empresa de cimento Holcim-Lafarge no porto de Gennevilliers em junho. Máquinas foram sabotadas, cabos cortados e calçadas bloqueadas. No outono, seguiu-se a sabotagem de bacias de retenção de água para a indústria de milho no sudoeste, acompanhada de confrontos com autoridades policiais. As buscas domiciliares não demoraram a acontecer. A crítica do movimento à devastação industrial do meio ambiente é aparentemente ampla.

O espectro varia desde o sindicato dos agricultores de esquerda e os “Amis de la Terre” (Amigos da Terra, jW ) até partes dos Autônomos. As consequências do crescimento da indústria alimentícia são inúmeras. A França tem menos 16.000 agricultores a cada ano e os danos causados ​​pela expansão das grandes fazendas são enormes. A consolidação de terras, o uso desenfreado de pesticidas e a globalização da indústria levam a enormes emissões de CO2, enquanto os modelos sustentáveis ​​de agricultura familiar quase não recebem nenhum financiamento.

A »Lei de Orientação Agrícola« introduzida em 1960 com a criação do órgão regulador SAFER pretendia limitar a especulação e a grilagem de terras. Mas durante anos, a evasão da lei tornou-se clara. As terras não são compradas como um todo, mas as corporações compram partes de terras. Isso também é evidente no Jura, onde o queijo Comté e as vinhas com o selo de origem AOC são muito procurados. Grandes proprietários de terras da vizinha Borgonha estão cada vez mais interessados ​​na reputação das vinhas do Jura e aumentam os preços. Mas o problema é a internacionalização. “A venda da adega “Ganevat”, que foi comprada em novembro pelo milionário Alexander Pumpjanski por 48.000 euros por hectare, é um exemplo do desenvolvimento”, disse o porta-voz do agricultor Steve Gormally. Isso significava quase dobrar o preço da terra local. Os agricultores coletivos e jovens têm poucas chances de fundar um negócio devido ao aumento dos custos.

A vinha ocupada em 29 de janeiro não é cultivada desde que foi adquirida pela empresa vitivinícola ABJ em 2008. Quando a manifestação chega a Passenans, centenas começam a limpar os vinhedos. Tratores e cavalos de tração recolhem arbustos e estacas desenraizados e os jogam em grandes pilhas; Nuvens de fumaça sobem ao céu. Ginette Meyer, uma agricultora alsaciana de 62 anos com chapéu e capa de chuva, observa o que está acontecendo. “Levamos muito tempo para contrariar a especulação. Milhares de fazendas morrem na França todos os anos e isso se deve a investidores implacáveis ​​e à falta de perspectivas para a nova geração.”

Um porta-voz da campanha anunciou mais atividades: “Em 2022, continuaremos a agir contra a indústria agrícola com demonstrações e ações diretas e arrebatar mais terras do capital!” Intervenções contra a gigante de sementes e  agrotóxicos da Monsanto/Bayer em 5 de março em Lyon já estão em vigor a próxima data de »Soulèvements«. As autoridades anunciaram que danos à propriedade e infrações criminais não seriam mais tolerados. Talvez fique em Lyon com uma aquisição pacífica.

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Este texto foi escrito originalmente em alemão e publicado pelo jornal JungeWelt [Aqui!].

Tribunal da França manobra e livra indústrias de agrotóxicos de condenação no caso Agente Laranja

Ao se declarar incompetente para julgar, corte francesa favorece indústrias de agrotóxicos que supriram exército dos EUA de armas químicas que até hoje fazem vítimas no Vietnã

agente-laranjaHelicóptero dos Estados Unidos despeja combinação de agrotóxicos altamente tóxicos sobre floresta no Vietnã

Por Cida de Oliveira, da RBA

São Paulo – Um tribunal da França favoreceu indústrias de agrotóxicos ao se declarar incompetente para julgar uma ação na qual eram acusadas de causar diversas danos à saúde de Tran To Nga, uma ativista franco-vietamita de 79 anos. Em decisão anunciada nesta segunda-feira (10), a Justiça de Evry, nos arredores de Paris, declarou não ter competência para julgar a responsabilização da Bayer, dona da Monsanto, a Dow Química e mais uma dezena de fabricantes de herbicidas componentes do Agente Laranja, arma química usada pelos Estados Unidos contra o Vietnã.

O tribunal também se declarou incompetente para julgar ações do governo dos Estados Unidos durante a guerra contra aquele país asiático. Segundo a imprensa local, o argumento foi que “as empresas estavam agindo por ordem do governo dos Estados Unidos, que estava envolvido em um ato soberano”.

Entre 1962 e 1971, aviões e helicópteros das forças estadunidenses despejaram milhares de toneladas de Agente Laranja sobre florestas e lavouras. O objetivo era localizar e atingir soldados vietnamitas, além de quebrar a produção de alimentos do país.

Agrotóxicos na guerra

A ativista, uma ex-jornalista nascida em 1942 na então Indochina francesa, também acusou os fabricantes de agrotóxicos de causar danos graves a outras pessoas. Desde a guerra, mais de 150.000 crianças nasceram com graves deformidades. E muitos casos continuam sendo registrados mesmo após 50 anos do fim da guerra.

Organizações de defesa dos direitos humanos e do meio ambiente estimam que quatro milhões de pessoas no Vietnã, Laos e Camboja foram expostas aos 76 milhões de litros de Agente Laranja pulverizados.

Até agora, apenas veteranos militares dos Estados Unidos e de seus aliados Austrália e Coreia obtiveram indenização pelos efeitos colaterais do produto químico altamente tóxico. Isso inclui deformidades graves em filhos desses soldados.

A gigante química alemã Bayer, dona da Monsanto, e as outras empresas acusadas argumentaram que não podiam ser responsabilizadas pelo uso que os militares americanos fizeram de seu produto.

Tribunal na França

Para o agrônomo Leonardo Melgarejo, coordenador-adjunto do Fórum Gaúcho de Combate aos Agrotóxicos, a decisão do tribunal na França é um “atestado de ausência de culpa, para quem tem culpa. Ou seja, uma espécie de troféu”. “Passa um verniz de inocência e preocupação com a saúde pública, que não é real”, disse à RBA.

Conforme destacou, essas empresas são responsáveis por danos concretos a toda uma gama de direitos humanos. “E gastam milhões na formatação de discursos ilusórios. Com certeza se beneficiarão de todo elemento que contribua para desviar o foco de dramas reais”.

“Isso fica evidente em publicação recente da FIAN, bem como posicionamento do relator especial da ONU sobre produtos tóxicos. Alias, é o terceiro relator da ONU a apontar os mesmos crimes, o que demonstra a longevidade da prática e a fragilidade dos governos quando o assunto é agrotóxicos e os direitos humanos”.

Vietnã no Brasil

Para o geógrafo Marcos Pedlowski, professor e pesquisador da Universidade Estadual do Norte Fluminense (Uenf) a decisão isenta as corporações produtoras de venenos agrícolas. “Além disso, contribui para a dupla moral dos países sede dessas companhias, que proíbem muitos deles dentro dos seus territórios. Mas liberam para venda no sul global ou permitem o seu uso como arma de guerra”, disse.

Conforme ele, o uso recente de agrotóxicos como armas químicas contra comunidades indígenas e quilombolas no Brasil mostra que a herança da Guerra do Vietnã está muito viva. “O que me parece evidente é que na inexistência de estruturas de contenção do avanço do latifúndio agroexportador sobre territórios ocupados por comunidades tradicionais, o agrotóxico está se tornando mais um instrumento para a sua remoção de áreas alvo para a implantação de monoculturas de exportação.”

“Em outras palavras, está se usando os agrotóxicos na sua função original, já que foi criado para serem armas químicas”, ponderou Pedlowski.

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Este texto foi inicialmente publicado pela Rede Brasil Atual [Aqui!  ].

Justiça condena França por falhas contra o aquecimento global

Em decisão histórica, Corte aponta fracasso parcial do país em cumprir suas metas climáticas

O Tribunal Administrativo de Paris decidiu hoje (3/02) que os Estado francês é culpado por não ter cumprido seus compromissos de reduzir as emissões de gases de efeito estufa.

A ação, apelidada pela imprensa francesa de “Caso do Século”, foi aberta em 2019 por um grupo de ONGs francesas e contou com o apoio de mais de 2 milhões de cidadãos. A iniciativa faz parte de um esforço global de ativistas para levar à justiça governos que não agem para mitigar a crise do clima. Os autores da ação são as ONGs Oxfam France, Notre Affaire à Tous, Fondation pour la Nature et l’Homme e Greenpeace France.

Os juízes identificaram uma relação causal entre o dano ecológico (aquecimento global) e as diversas falhas do Estado na luta contra a mudança climática, prejudicando o interesse coletivo. O tribunal condenou o Estado a pagar a quantia simbólica de 1 euro em compensação pelo “prejuízo moral”, uma prática comum na França. O caso ainda não está encerrado: uma segunda decisão da mesma corte, deve determinar que ações o país deve tomar para atuar efetivamente contra o aquecimento global. Para isso, os juízes ordenaram uma investigação suplementar, com um prazo de dois meses.

O presidente francês Emmanuel Macron tem sido muito vocal sobre seu apoio à ação contra a mudança climática. Em dezembro, ele fez pressão para aumentar as metas da União Europeia para 2030 a fim de reduzir os gases de efeito estufa em pelo menos 55% em comparação com os níveis de 1990 – acima da meta anterior de 40%. O que as quatro organizações que processaram o Estado alegam é que o discurso de Macron não tem lastro em medidas concretas para reduzir as emissões responsáveis pelo aquecimento global.

“Esta é uma vitória para todas as pessoas que já estão enfrentando os impactos devastadores da crise climática que nossos líderes não conseguem enfrentar”, comemora Cécilia Rinaudo, diretora executiva da Notre Affaire à Tous. “A decisão histórica prova que a inação climática da França não é mais tolerável, é ilegal.”

“Embora a inação climática do Estado francês já esteja prejudicando as pessoas e a natureza, é um alívio para nossas ONGs – e para os 2,3 milhões de pessoas que apoiaram nosso caso – ver que a Corte decidiu a favor da verdade e da ciência” , avalia Célia Gautier, consultora de Energia e Clima na Fondation Nicolas Hulot. “Esta grande vitória nos faz ter esperança para o segundo passo de nosso caso, que é conseguir que o país tome medidas climáticas adicionais.”

“Esta decisão não só leva em consideração o que os cientistas dizem e o que as pessoas querem das políticas públicas francesas, mas também deve inspirar as pessoas em todo o mundo a responsabilizar seus governos pelas mudanças climáticas em seus tribunais”, defende o diretor executivo do Greenpeace France, Jean-François Julliard.

Cécile Duflot, diretora executiva da Oxfam France, também vê na decisão um precedente legal que pode ser usado por pessoas afetadas pela crise climática em diferentes partes do mundo. “[a decisão] Também é um lembrete oportuno para todos os governos: ações falam mais alto do que palavras.”

França se opõe ao acordo entre União Européia e Mercosul

O governo justifica sua rejeição pelo desmatamento, que põe em risco a biodiversidade e perturba o clima da Terra.

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Por Julien Bouissou para o Le Monde

França rejeita projeto de acordo de livre comércio entre a União Européia (UE) e os quatro países do Mercosul (Argentina, Brasil, Paraguai, Uruguai), negociado há vinte anos, em nome do combate ao aquecimento global . O primeiro-ministro, Jean Castex, justificou sua oposição a este texto, na manhã desta sexta-feira, 18 de setembro, pelo desmatamento que “põe em risco a biodiversidade e desregula o clima” . Uma comissão de especialistas chefiada pelo economista ambiental Stefan Ambec acabara de lhe entregar um relatório algumas horas antes qualificando o projeto como uma “oportunidade perdida” em questões ambientais e de saúde.

Segundo a hipótese deles, o desmatamento atingiria uma taxa anual de 5% durante os seis anos seguintes à implementação do acordo, devido ao aumento da produção de carne bovina. Em outras palavras, o custo ambiental seria maior do que os benefícios comerciais. “Os outros países que nos criticam não têm problema com o fogo porque já queimaram todas as suas florestas”, respondeu, sexta-feira, o presidente brasileiro, Jair Bolsonaro, em reação às críticas da França. A comissão Ambec calculou ainda que esse acordo levaria a um aumento de 50 mil toneladas anuais de exportações de carne bovina do Mercosul para o Velho Continente, ou menos de 1% da produção anual da região latino-americana. O governo francês está atendendo às demandas da Federação Nacional de Sindicatos de Agricultores (FNSEA), que se opôs a este tratado em nome da “concorrência desleal” .

Três “demandas políticas”

“O projeto está morto ”, diz o assessor do executivo, “ porque carece de ambições ambientais e de disposições vinculativas, mas não queremos jogar tudo fora”. “ O governo fez três “ demandas políticas ” . Ele quer primeiro garantir que “o acordo não levará a nenhum desmatamento “ importado ” da União Européia“ por conta do comércio. Ele quer que os compromissos desses países em relação ao clima, e em particular os do acordo de Paris, sejam juridicamente vinculativos. E exige, por fim, que os controles alfandegários e de rastreabilidade sejam mais “frequentes e eficazes”para que todos os produtos agroalimentares importados cumpram as normas ambientais e sanitárias  de jure e de facto” .

Com todas essas demandas, a França endurece sua posição. Em agosto de 2019, durante a cúpula do G7 organizada em Biarritz, Emmanuel Macron se opôs ao tratado com o Mercosul , acusando o presidente brasileiro de ter “mentido” sobre seus compromissos em termos de desenvolvimento sustentável. Um ano depois, Paris exigiu que os compromissos climáticos fossem vinculativos e gravados na pedra neste acordo, como todos os outros que estão sendo negociados por Bruxelas. O executivo francês agora deve convencer seus parceiros europeus da exatidão desta análise.

Em nenhum lugar foi iniciado o processo de ratificação do acordo com o Mercosul, mas os parlamentos austríaco e holandês já aprovaram uma moção rejeitando-o em sua forma atual. A chanceler alemã, Angela Merkel, pela primeira vez, em 21 de agosto, expressou “sérias dúvidas” contra ela, apontando para “desmatamento contínuo” e “incêndios”. Pelo contrário, países como Espanha e Portugal o apoiam. Em uma reunião informal em Berlim no domingo, 20 e na segunda-feira, 21 de setembro, os ministros do Comércio da UE tentarão alinhar suas posições. O consenso também deve ser científico. Porque se a comissão Ambec prevê um aumento nas emissões de gases de efeito estufa, uma auditoria sobre o impacto ambiental, encomendada por Bruxelas na Universidade Britânica da London School of Economics (LSE), chegou a conclusões opostas. Outros países, como Suécia e Bélgica, devem publicar seus próprios estudos de impacto neste outono.

Entre restrição e incentivo

Paris quer finalmente aproveitar a oportunidade da revisão da doutrina comercial europeia, prevista para o início de 2021, para integrar os aspectos climáticos. Seu cavalo de batalha é o imposto sobre o carbono nas fronteiras, que visa combater os “vazamentos de CO 2  ” . Isso assume a forma de um imposto de importação nas fronteiras europeias, que inclui o preço oculto do carbono dos produtos importados. “Nosso objetivo não é taxar, mas ajustar o preço do CO 2 em nosso comércio”, disse um colaborador próximo do executivo sobre a medida acusado de protecionismo verde. Em agosto, Moscou estava preocupada com as consequências para sua economia, já que a Rússia depende das exportações de hidrocarbonetos para o Velho Continente.

Por fim, resta convencer os países do Mercosul a renegociar um acordo de livre comércio com esses novos requisitos. “Duvido que aceitem voltar a sentar-se à mesa de negociações sem ter, também, novos pedidos” , observa um alto funcionário europeu. Este último não esconde sua perplexidade: “Se começarmos a querer combater o desmatamento com um acordo de livre comércio, então os acordos de livre comércio não terão nada a ver com comércio”. “

No entanto, desde o enfraquecimento da Organização Mundial do Comércio e do multilateralismo, esses acordos de livre comércio entre países ou regiões têm desempenhado um papel cada vez mais importante na arquitetura global das transações comerciais. Para a UE, são também uma das poucas ferramentas à sua disposição para estreitar os laços com os seus parceiros e exportar as suas normas e padrões. “Conseguimos muitas coisas através do diálogo e da cooperação, sem necessariamente passar pela coerção”, explica um em Bruxelas. A França gostaria de alcançar um melhor equilíbrio entre restrição e incentivo. “Antes só tínhamos a cenoura, teríamos que ter o pau e a cenoura”,desliza um assessor para o executivo tricolor. Com essas novas demandas, a União Européia nunca esteve tão longe de um acordo com os países do Mercosul. O Brasil corre o risco de acusar Bruxelas de ingerência e rejeitar, em nome de sua soberania, as garantias exigidas em termos de desmatamento e biodiversidade na Amazônia.

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Acordo UE-Mercosul corre risco por causa do desmatamento acelerado na Amazônia

A comissão formada pelo ex-primeiro-ministro Edouard Philippe tirou duras conclusões sobre o acordo firmado em 2019 entre a União Europeia e o Mercosul formado por Brasil, Argentina, Paraguai e Uruguai.

madeireiraDesmatamento da Amazônia no Estado do Pará, Brasil, em 2019. NELSON ALMEIDA / AFP

Por Julien Bouissou   para o Le Monde

acordo comercial entre a União Européia (UE) e o Mercosul é uma “oportunidade perdida” em questões ambientais e de saúde. Esta é a dura conclusão do relatório da comissão de peritos formada pelo ex-primeiro-ministro Edouard Philippe, a que o Le Monde teve acesso, para avaliar o impacto do acordo de livre comércio no desenvolvimento sustentável. Assinado no verão de 2019, após vinte anos de negociações, ainda precisa ser ratificado por cada Estado-Membro da UE e pelo Parlamento Europeu antes de ser implementado.

No documento de 194 páginas, que deve ser apresentado sexta-feira, 18 de setembro, ao primeiro-ministro, Jean Castex, a hipótese mais provável adotada pelos especialistas é a de desmatamento a uma taxa anual de 5% durante os seis anos seguintes ao implementação do acordo, num total de 700.000 hectares. Em outras palavras, o custo ambiental medido a partir das emissões adicionais de CO 2 , a um custo unitário de US $ 250 por tonelada, seria maior do que os benefícios econômicos.

A comissão baseia seus cálculos no desmatamento causado principalmente pela criação de pastagens para aumentar a produção de carne nos quatro países do Mercosul: Brasil, Argentina, Paraguai e Uruguai. A criação de carne é, na verdade, muitas vezes o primeiro passo do desmatamento antes de dar lugar às culturas agrícolas.

Impacto “difícil de quantificar”

A pegada de carbono da produção de um quilo de carne bovina também é três vezes maior na América Latina em comparação com a Europa, segundo a Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO). No entanto, essa hipótese está longe de chegar a um consenso na comissão, que reuniu um representante da indústria da carne, economistas, um veterinário ou mesmo um especialista em direito. Para alguns, o custo ambiental é amplamente subestimado, porque o relatório não leva em consideração outros vetores de desmatamento, como cultivo de soja, cultivo de milho ou avicultura.

“É muito mais difícil quantificar seu impacto sobre a biodiversidade”, explica Stefan Ambec, economista ambiental da Escola de Economia de Toulouse e presidente do comitê. Outros consideram, ao contrário, que o impacto foi sobrestimado, se mantivermos a hipótese de um ligeiro aumento das exportações de carne para a União Europeia, ou de uma intensificação da pecuária que evita a criação de novas pastagens. A redução de direitos aduaneiros prevista no acordo diz respeito apenas a uma cota de 99 mil toneladas de carne bovina, enquanto a produção do Mercosul é de 8 milhões de toneladas.

O acordo também ignora muitos aspectos da saúde, de acordo com o comitê. Produtos como agrotóxicos, de uso proibido na Europa, são autorizados nos países do Mercosul. “Seria, sem dúvida, necessário definir melhor as especificações, em particular sobre o bem-estar animal, e integrá-las nos textos”, sugere Stefan Ambec.

“Incompatível com o Acordo Verde”

Um estudo de impacto, encomendado por Bruxelas à Universidade Britânica da London School of Economics e publicado em julho, afirmou que esse acordo de livre comércio não resultaria em emissões adicionais de gases de efeito estufa. “Mas essa auditoria subestima o impacto nas emissões de gases de efeito estufa, analisa Stefan Ambec, porque o modelo padrão utilizado não leva em consideração o uso do solo e minimiza as consequências do desmatamento. “

O comitê também se interessou pelo impacto climático, segundo ele relativamente baixo, do aumento da produção industrial. No Brasil, Paraguai ou Uruguai, onde a produção de energia hidrelétrica é importante, a pegada de carbono da matriz energética não é tão distante da Europa, enquanto na Argentina é maior que a da Europa. ‘Cerca de 30 %. As exportações de tecnologias europeias na produção de energia limpa, como a eólica ou a solar, facilitadas pelo acordo de comércio livre, teriam, portanto, um impacto limitado.

“O acordo com o Mercosul é incompatível com o Green Deal europeu e com as questões globais”, conclui Mathilde Dupré, do Instituto Veblen, think tank especializado em reformas econômicas necessárias para a transição ecológica. Acusado de acelerar o desmatamento, o acordo inclui, no entanto, cláusulas sobre a proteção da biodiversidade e o combate às mudanças climáticas. Mas estes últimos não são vinculativos e “oferecem garantias relativamente frágeis” , lamenta a comissão Ambec. “O conteúdo do acordo com o Mercosul não condiz com as orientações políticas apresentadas por Bruxelas,observa Sébastien Jean, diretor do Centro de Estudos Prospectivos e Informação Internacional (CEPII) e membro da comissão Ambec. Os aspectos comerciais dominam amplamente o resto. “

“Desmatamento Contínuo”

Como Bruxelas pode encorajar ou forçar seus parceiros a adotarem políticas sociais ou ambientais virtuosas graças aos seus acordos de livre comércio? Este é um dos desafios da consulta lançada em junho pela Comissão Europeia para a revisão da sua doutrina comercial, prevista para o início de 2021.

Os acordos comerciais podem servir como importantes alavancas de negociação para obter progresso nas áreas de mudança climática, biodiversidade ou direitos humanos. No entanto, as ONGs acusam a UE de não considerar suficientemente as questões de saúde e ambientais nos seus acordos. “Novas cláusulas ambientais e sociais foram incorporadas aos acordos comerciais, mas a relutância da União Europeia em aplicá-las no passado exige cautela quanto à sua eficácia”, disse Sébastien Jean, que, no entanto, reconhece que “a Comissão obteve resultados mais através da cooperação do que da coerção ”.

Os parlamentos austríaco e holandês já rejeitaram o acordo com o Mercosul em sua forma atual. Berlim, para quem a implementação do texto abriria muitas saídas para sua indústria automotiva, recentemente deu uma reviravolta. A chanceler Angela Merkel pela primeira vez, no dia 21 de agosto, expressou “sérias dúvidas” sobre o acordo, apontando “continuação do desmatamento” e “incêndios” .

No verão de 2019, o presidente francês Emmanuel Macron ameaçou não ratificá-lo se o governo brasileiro de Jair Bolsonaro não tomasse as medidas necessárias para proteger a floresta amazônica. Para o Instituto Veblen e a Fundação Nicolas Hulot, o acordo deve ser abandonado. “Não podemos ficar satisfeitos com as declarações políticas de Emmanuel Macron em relação a Jair Bolsonaro”, disse Samuel Leré, chefe de defesa da Fundação Nicolas Hulot, porque deixam uma ambigüidade sobre se a assinatura é assinada ou não no acordo com o Brasil, independentemente de seu líder. “

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Este artigo foi escrito originalmente em francês e publicado pelo jornal Le Monde [Aqui!].

Ervas daninhas são necessárias para uma boa saúde das colheitas

A diversidade de plantas daninhas representa uma esperança para a preservação da biodiversidade em ambientes agrícolas, sem impactar a produtividade

weedingAgricultores retiram as ervas daninhas e transplanta as colheitas na Amber Waves Farm em Amagansett, Nova York, EUA, 11 de julho de 2019. REUTERS / Lindsay Morris

Por Aline Nippert para o Le Monde

As ervas daninhas têm nomes errados. “As ervas daninhas são vistas como as principais pragas da agricultura”, observa Sabrina Gaba, diretora de pesquisas do Instituto Nacional de Pesquisas da Agricultura, Alimentação e Meio Ambiente (Inrae). Essas plantas selvagens competem com as safras pelo acesso aos recursos (luz, nutrientes no solo) e, portanto, são quase sistematicamente eliminadas. “Em geral, espalhando herbicidas”, explica a pesquisadora.

No entanto, a pesquisa em agroecologia – um campo de pesquisa que reúne ecologia científica e agronomia – demonstra, semente por semente, os papéis essenciais que papoulas, mirtilos, gerânios e outros indesejáveis ​​desempenham em certas áreas de cultivo: são o lar de insetos auxiliares e polinizadores, bem como microrganismos essenciais para a fertilidade do solo. “O objetivo final da agroecologia é, entre outras coisas, dispensar o uso de agrotóxicos”, diz Fabrice Le Bellec, diretor de pesquisas do Centro de Pesquisas Agronômicas para o Desenvolvimento (Cirad).

Na França, a agroecologia está em alta desde a implementação do plano Ecophyto I. Estabelecido em 2008 no final do Grenelle de l’environnement, deveria ter possibilitado reduzir pela metade o uso de pesticidas em dez anos. . Uma meta longe de ser alcançada: o uso de agrotóxicos aumentou 25% entre 2010 e 2020 na França . “Esse plano, no entanto, contribuiu para o financiamento de pesquisas para apoiar os produtores na transição agroecológica” , enfatiza Le Bellec. Desde então, dois novos planos (Ecophyto II em 2015, depois Ecophyto II + em 2019) foram lançados, postergando o prazo de redução do uso de agrotóxicos em 50% até 2025.

Evidência científica

“Uma mudança de paradigma está em andamento! “ Enthuses Paolo Barberi, professor de agronomia da Escola Superior Santa Ana de Pisa, referindo-se ao reconhecimento do papel das ervas daninhas na agricultura.

O projeto Disco-Weed (Cesab-FRB), liderado por Sabrina Gaba e concluído em 2019, contribui para esta reversão axiológica. “  Mostramos que essa flora silvestre pode ser mantida sem perder em termos de produtividade”, resume o piloto do programa. “  A força dessas publicações é que elas baseiam suas análises em dezenas de fazendas. Os dados são sólidos ” , garante o especialista italiano.

Entre os estudos recentes da Disco-Weed, o publicado na Frontiers in Sustainable Food Systems confirma os benefícios das mal chamadas “ervas daninhas”. Quanto mais diversificadas e abundantes forem as espécies de ervas daninhas em uma parcela agrícola, maior será o número de funções ecológicas – polinização, controle de pragas, fertilidade do solo -. “Por isso, fornecem serviços essenciais para o bom funcionamento de todos os ecossistemas, inclusive os agrícolas”, destaca o autor principal.

Deixe as ervas daninhas crescerem, é esse o segredo de fazer sem pesticidas? “  Não é tão simples. As ervas daninhas cumprem uma dupla função: são necessárias para a sobrevivência das lavouras, mas competem com as plantas cultivadas pelo acesso aos recursos, explica Sabrina Gaba. Trata-se de encontrar o equilíbrio certo. “

Rumo ao aumento da renda

É neste ponto que o estudo é o mais inovador: o aumento do número de funções ecológicas (que dependem da abundância e diversidade de plantas daninhas) não conduz à queda da produtividade. Por outro lado, o rendimento diminui à medida que aumenta a quantidade de ervas daninhas.

O espaço de manobra, portanto, está na diversificação das espécies. Resultados “encorajadores”, segundo Fabrice Le Bellec: “A renda dos agricultores – que depende de sua produção, mas também de seu orçamento em insumos químicos – é um grande problema na transição agroecológica. “

Para chegar a essas conclusões, os cientistas analisaram dados de 78 campos de trigo e 45 campos de colza, todos sob cultivo intensivo, e 61 prados coletados em 2016 no departamento de Deux-Sèvres, dentro ” um espaço dedicado à observação científica e à experimentação supervisionada pelo CNRS (área de oficinas de Plaine e Val de Sèvre ). “Para quantificar a capacidade de controle de pragas, dispersamos pulgões nas áreas estudadas”, explica a pesquisadora. Depois de um tempo, contamos o número de pragas restantes, o que nos permitiu estimar o potencial de regulação biológica. “

Área de refúgio

Resta ver como promover a diversidade de ervas daninhas em campos cultivados convencionais. Outro estudo da Disco Weed foi publicado em 8 de julho na revista Proceedings of the Royal Society B: Biological Sciences , fornece algumas respostas.

“Queríamos saber como as ervas daninhas se desenvolvem nas lavouras” , resume Bérenger Bourgeois, principal autor do artigo. As ervas daninhas estudadas são sobreviventes: “  Os habitats são zerados todos os anos, o solo é arado, os herbicidas são pulverizados e a competição com as plantas é intensa”, acrescenta Sabrina Gaba.

O artigo destaca, em escala de paisagem, uma correlação positiva entre a diversidade de espécies de plantas daninhas no campo estudado (convencional) e o número de parcelas orgânicas no entorno. “Parcelas rotuladas orgânicas representam um reservatório de ervas daninhas ”, comenta o principal signatário do estudo. As suas sementes são então difundidas à escala da paisagem e permitem preservar uma boa diversidade de ervas daninhas, não só no campo orgânico, mas em toda a área. “Os resultados não me surpreendem, comenta Paolo Barberi. Questionar as práticas agrícolas é essencial para proteger a vida nos campos de cultivo. “

A equipe de pesquisadores também confirma a importância das bordas das parcelas, muitas vezes gramíneas, na dispersão das ervas daninhas para o campo aberto e insiste no seu papel na manutenção da biodiversidade. “É uma área de refúgio para polinizadores”, diz Bérenger  Bourgeois. “Observamos uma dispersão em duas etapas , sintetiza Sabrina Gaba. Primeiro, as sementes chegam à borda da parcela. Em seguida, eles se dispersam para o interior do campo, a uma distância moderada. “

“Protegendo a biodiversidade”

“Esses resultados provam que os defensores do ‘compartilhamento de terras’ têm razão, que mostram que, no nível da paisagem, apenas mosaicos heterogêneos – misturando diferentes tipos de culturas e parcelas na agricultura orgânica com elementos semi-naturais como prados ou sebes – ajude a proteger a biodiversidade ”, contextualiza Paolo Barberi.

Pelo contrário, os defensores da “economia fundiária” defendem uma separação estrita entre as zonas destinadas à protecção da fauna e da flora (não cultivadas) e as terras destinadas à produção agrícola. “Este é um debate crucial sobre a questão da conservação da biodiversidade na agricultura”, insiste o Sr. Barberi.

Juntamente com as práticas agrícolas, as políticas de planejamento do uso da terra também têm um papel a desempenhar na reabilitação de ervas daninhas não amadas. “Você sabe o que dizem na indústria sobre ‘ervas daninhas’? ri Fabrice Le Bellec. Estas são as plantas cuja virtude ainda não descobrimos. “

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Este artigo foi escrito originalmente em francês e publicado pelo Le Monde [Aqui!  ].

França: comunidades locais acordam para a necessidade de terem “resiliência alimentar”

“É como se as pessoas tivessem percebido a fragilidade de nossos suprimentos”: comunidades locais em busca de “resiliência” alimentar

Mais e mais territórios estão preocupados em garantir a segurança alimentar dos residentes no nível local.

comida 1Um produtor de frutas e legumes prepara cestas no dia 25 de março em Sayat (Puy-de-Dôme). THIERRY ZOCCOLAN / AFP

Por Angela Bolis para o Le Monde

“Desenvolver comida local de qualidade, acessível em todas as cidades e vilas da França” . O primeiro ministro, Jean Castex, fez isso, com o desenvolvimento de “curtos-circuitos”, um dos eixos de sua declaração geral de política, entregue quarta-feira, 15 de julho, perante os deputados.

No terreno, várias comunidades assumiram a liderança. Alguns, que visam um alto grau de autonomia alimentar ou “resiliência” , foram reforçados em suas escolhas pela crise ligada à COVID-19. No ano passado, a política da Grande Angoulême nessa área tomou uma nova direção. “O objetivo, nos próximos cinco anos, é alimentar 150.000 habitantes, sendo capaz de suportar caprichos climáticos, uma crise de saúde ou econômica no final do petróleo … É factível, temos a terra e o know-how para isso “, resume Jean-François Dauré, presidente dessa associação intermunicipal, que lidera, desde 2015, um” projeto territorial de alimentos ” .

A comunidade fez seu cálculo. Teoricamente, pode reivindicar a auto-suficiência alimentar graças aos seus 30.000 hectares de área agrícola, desde que atue em determinadas variáveis: por exemplo, diminuindo pela metade o consumo de carne.

Mas muitas outras questões se escondem por trás da terra: para onde vão os fluxos de cereais produzidos no território? Existem moinhos suficientes, prensas? Como produzir mais frutas ou lançar um setor de proteínas vegetais?

Para avançar neste vasto projeto, Grand Angoulême está sendo acompanhado por Les Greniers d’Abondance. Esta jovem associação, fundada em 2018, fez da resiliência alimentar local seu cavalo de batalha. “Partimos da observação de que as políticas atuais não serão capazes de evitar fenômenos de ruptura, nos níveis ecológico, climático ou energético. Portanto, devemos antecipar e adaptar nossos sistemas alimentares, que têm uma função vital ” , explica um dos dois fundadores, Arthur Grimonpont. “O objetivo é alcançar certa autonomia nos territórios para garantir segurança alimentar básica em caso de grandes perturbações” , continua seu companheiro, Félix Lallemand.

Uma questão ainda emergente

Os dois co-fundadores, um engenheiro de uso da terra e outro biólogo, se reuniram nas fileiras do Shift Project, um grupo de reflexão dedicado a reduzir a dependência de combustíveis fósseis.

Com sua associação, eles se esforçam para descobrir as vulnerabilidades de um sistema alimentar globalizado: mudanças climáticas, colapso da biodiversidade, degradação do solo, esgotamento de energia e recursos de mineração, crise econômica, conflitos, crises de saúde … ec “É no nível das autoridades locais que eles acham melhor assumir o controle de sua segurança alimentar.

“A autonomia dos territórios locais foi forte até meados do XX °  século, com o objectivo previsto pelo governo, para abastecer a cidade com produtos frescos. Com o desenvolvimento da indústria de alimentos e as inovações logísticas, esse suprimento parecia ser um dado adquirido. Ele foi delegado ao setor privado, explica Claire Delfosse, professora de geografia na Universidade Lyon-II e diretora do Laboratório de Estudos Rurais, parceiro da associação. Desde a crise da Vaca Louca e os anos 2000, existe novamente uma preocupação crescente com a questão alimentar, que emana principalmente dos habitantes. Tornou-se um problema para o Estado e especialmente para as comunidades, e não do ponto de vista de curtos-circuitos e alimentação saudável. “

A questão da resiliência do sistema alimentar ainda está emergindo. Não obstante, parece um dos objetivos do Pacto de Milão, assinado em 2015 por uma centena de grandes cidades , incluindo oito na França, comprometidas com uma política alimentar sustentável.

Mais recentemente, a crise do Covid-19 nos lembrou a rapidez com que esse risco pode ressurgir. “Não havia escassez, ou muito pouco, mas as pessoas tinham medo disso. É como se eles tivessem percebido a fragilidade de nossos suprimentos … Onde a consciência da importância de se ter uma comida mais local “ , analisa Yuna Chiffoleau, pesquisadora do Instituto Nacional I para agricultura, alimentação e meio ambiente.

A instalação dos agricultores é essencial

comida 2Jardins compartilhados, 11 de junho em Chatel-en-Trièves (Isère). PHILIPPE DESMAZES / AFP

Durante o confinamento, uma pequena cidade em Vendée, Dompierre-sur-Yon, foi lançada em uma horta comunitária. Alguns meses antes, um coletivo de moradores lançou o impulso plantando um pomar em terras municipais. Desta vez, é a prefeitura que paga a um jardineiro responsável pelo cultivo de hortaliças em um terreno no centro da cidade. A antiga loja de grãos foi reinvestida para servir como armazenamento. Os legumes são reservados para os destinatários da ajuda alimentar.

Para garantir a produção local, a instalação dos agricultores, acima de tudo, é essencial, enquanto a população agrícola ativa diminui pela metade em vinte anos. A comunidade de comunas de Val de Drôme comprou assim uma propriedade de nove hectares para instalar cinco criadores e jardineiros. “Alugamos para eles a ferramenta de trabalho: a terra, as estufas, uma sala para processamento … O contrato é que eles vendam localmente” , explica o presidente da associação intermunicipal, Jean Serret. As comunidades também apoiaram, em Die, um dos menores matadouros da França, salvo do fechamento; ou, em Mornans, a empresa Troupéou, que permite processar e condicionar carne, especialmente carne de cabra.

Ganhar em resiliência implica, portanto, pensar amplamente, em todos os níveis da cadeia de produção de alimentos. E mesmo nos bastidores. “O ponto mais crucial da dependência é a energia: o petróleo, totalmente importado, é o sangue do nosso sistema alimentar” , observa Arthur Grimonpont. Soluções avançadas: produzem biocombustíveis localmente ou usam tração animal. Da mesma forma, devemos considerar a realocação de fertilizantes, sementes, manufatura de máquinas agrícolas, tanto quanto possível …

A água também é um recurso em tensão, com o aumento previsto nas secas. Em Rennes, por exemplo, a cidade integrou um mercado público em seu projeto de alimentos sustentáveis, com o objetivo de comprar comida local para suas cantinas, preservando a qualidade de sua água. Cerca de vinte agricultores, trabalhando na bacia hidrográfica, vendem seus produtos a eles pelo preço que estabelecem. Em troca, eles se comprometem a desenvolver suas práticas para proibir certos pesticidas e outros produtos que poluem a rede de água potável.

“Construindo complementaridade”

comida 3Abobrinha e abóbora orgânicas colhidas em Taupont (Morbihan). EVE MORCRETTE / PHOTONONSTOP

A resiliência é assim construída, segundo seus promotores, além das fronteiras da cidade, numa aliança entre urbano e rural. Em Grenoble, por exemplo, a cidade associou dois parques naturais vizinhos, Vercors e Chartreuse, ao seu projeto sustentável de alimentos.

Em Paris, mesmo que as iniciativas de agricultura urbana tenham florescido durante o último mandato, a oferta de habitantes não pode ser vista dentro de um perímetro tão reduzido. “Pensar na autonomia alimentar no nível da cidade não faz sentido; as cidades existem porque é possível produzir excedentes em outros lugares para alimentar os moradores da cidade”, explica Sabine Bognon, professora do Center d ‘. ecologia e ciências da conservação, que fizeram uma tese sobre o suprimento de alimentos da capital. Existe um mito do cinturão verde que alimentava Paris: desde a Revolução, os alimentos vieram de toda a França para alimentar seus habitantes. “

Em termos de paisagem, essa resiliência não é mais evidente. “O ambiente rural parece ser o local de produção agrícola por excelência “, observa a geógrafa Claire Delfosse. No entanto, existem problemas de mobilidade, acesso a lojas … E os territórios são mais especializados, em cereais, gado, viticultura, com muitas importações e exportações. “

Assim, a questão da resiliência não se limita a uma autonomia simples das cidades ou territórios rurais, e menos ainda à retirada. “Temos que reequilibrar o sistema para aumentar a proximidade, mas a idéia não é mudar para 100% local! Caso contrário, estaríamos igualmente vulneráveis, por exemplo, no caso de uma enchente ou uma epidemia nas culturas de uma região , estima Yuna Chiffoleau. Temos de criar complementaridade, por exemplo, estabelecendo uma parceria entre Paris e Creuse para o fornecimento de carne. Passamos então de dependências submetidas a interdependências controladas. “

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Este artigo foi escrito originalmente em francês e publicado pelo jornal Le Monde [Aqui!].