Inverno mais uma vez se prova um aliado inabalável da Rússia em mais um conflito militar

inverno russia

A recente decisão da Gazprom, estatal que é maior empresa de gás da Rússia e também do mundo, de suspender indefinidamente os seus suprimentos para a Europa gerou um efeito dominó em termos de forte alta de preços e depreciação do Euro e da libra esterlina. Esse movimento, baseado na mais básica noção de uso de uma commodity com finalidades estratégicas, promete transformar o próximo inverno europeu em um pesadelo para os povos do continente, mas também para os governantes que optaram por transformar o conflito entre Rússia e Ucrânia em um proxy de uma futura 3a. guerra mundial.

Gazprom corta gás natural para Europa em 31 de agosto | Plásticos em Revista

As elites europeias, pressionadas pelo governo de Joe Biden, deveriam ter feito um mínimo de lição de casa, pois tanto Napoleão Bonaparte como Adolf Hitler viram suas aspirações imperiais atolarem no território gelado da Rússia. E tudo indica que dessa vez os russos vão passar um inverno em meio às baixas temperaturas nas ruas, mas com temperaturas mais elevadas dentro de casa, ao contrário dos europeus que estão neste momento quebrando a cabeça para ver como vão se virar sem o gás russo.

Mas antes que se culpe o governo de Vladimir Putin por agir dentro de uma lógica fria e calculista, há que se lembrar que a ideia de impor uma articulação entre os mercados consumidores europeus e a Rússia foi dos governos neoliberais que comandam com mão de ferro o Conselho Europeu.  A questão é que quando impuseram atrasos pensados na adoção de energias alternativas ao gás russo, as elites europeias provavelmente desprezaram a ideia de que essa dependência poderia se voltar contra seus interesses na forma de uma arma de guerra.

Por outro lado, está ficando claro, e as manifestações populares já estão começando em diferentes países europeus, que não se pode declarar guerra contra um país que detém tamanho controle de uma commodity estratégica em um continente que, apesar e por causa das mudanças climáticas, pode ter invernos bem rigorosos.

Thousands Protest in Prague Over Energy Crisis - Bloomberg

Manifestação realizada em Praga no sábado (03/09), capital da República Tcheca, demanda neutralidade no conflito bélico na Ucrânia em troca de garantia de fornecimento de gás. Foto: Petr David Josek/AP

Como o gás fornecido pelos EUA é muito mais caro que o russo, a batata quente está cada vez mais nas mãos dos governantes que decidirar, na prática, declarar guerra à Rússia, ainda que usando a Ucrânia como anteparo.

Finalmente, não deixa de ser curioso que em pleno Século XXI, uma estação do ano possa estar se provando uma arma de guerra tão eficiente e devastadora, antes mesmo de ter sido acionada. Por isso mesmo, a lentidão que muitos analistas veem na ação das forças militares russas seja apenas um cálculo bem feito de que o principal reforço está pronto para entrar em ação  de forma brutal em pouco mais de 3 meses e vai estar claramente presente no campo de batalha até março de 2023. E isso certamente irá testar a disposição dos europeus em permanecer em guerra com a Rússia. 

Moradores de Macaé (RJ) já respiram ar poluído e estão pressionados por novos projetos termelétricos, mostra novo estudo do IEMA

macae poluição

Três meses de ar poluído. Os habitantes de Macaé respiraram por 88 dias uma quantidade de ozônio em 2020 acima do recomendado pela Organização Mundial da Saúde (OMS), segundo a nota técnica “Qualidade do ar em Macaé (RJ)”, publicada hoje dia 15 de dezembro pelo Instituto de Energia e Meio Ambiente (IEMA). Essa foi a marca alcançada pela estação Fazenda Severina que mede a qualidade do ar em Macaé, nas proximidades das duas usinas termelétricas que lá operam. Com a previsão da expansão de termelétricas no município, a possibilidade de aumentar em mais de oito vezes a capacidade atual de geração de energia elétrica local. Os moradores e os visitantes da “Princesinha do Atlântico”, internacionalmente conhecida como a “Capital do Petróleo”, podem sofrer ainda mais de doenças crônicas causadas pela inadequada qualidade do ar.

“É preciso atender aos dois objetivos ao mesmo tempo, proteger a saúde da população local e garantir a geração elétrica para o desenvolvimento socioeconômico do país”, ressalta David Tsai, coordenador de projetos do IEMA e um dos autores do estudo. O aumento projetado de termelétricas novas ou ligadas por mais tempo indica que algumas regiões serão particularmente mais impactadas. Como é o caso de Macaé, no Norte Fluminense. De acordo com o documento:

●     Existem lacunas na produção dos dados diários pelas quatro estações que operam no município. As estações Fazenda Severina e Pesagro não produziram dados em quantidade satisfatória para o poluente ozônio nos anos 2018 e 2019. Entre 31% e até 80% dos dias do ano não houve medições válidas para o cálculo da média diária. A mesma situação também ocorreu na estação Pesagro nos anos 2016 e 2017. A estação Cabiúnas apresenta lacuna relevante de dados, mas em menor escala. Já a estação Fazenda Aires manteve uma média de 7% do número de dias por ano sem dados;

●     É possível observar frequentes concentrações do poluente ozônio (O3) acima das recomendações da Organização Mundial da Saúde (OMS), sobretudo nos últimos dois anos (2019 e 2020). Também há esporádicos episódios críticos de poluição por dióxido de enxofre (SO2) detectados por uma das estações;

●     O excesso de ozônio na região consta em relatórios do órgão ambiental do Rio de Janeiro e nos estudos de impacto ambiental das novas instalações termelétricas previstas para o município. Ou seja, a questão da poluição do ar é um problema reconhecido pelo poder público local e pelo setor elétrico. Porém, mesmo assim, está prevista a expansão do polo de energia centrado na exploração do gás natural, gerando mais poluentes.

Gás natural

Macaé tem dois polos de processamento de gás natural (Petrobras e Shell/Mitsubishi). Também duas usinas termelétricas (UTEs) a gás natural: a UTE Termomacaé (antiga Mário Lago) com 922 MW de potência e a UTE Norte Fluminense com quase 827 MW. Juntas elas representam 4% da potência termelétrica total instalada no Brasil. Somada a elas, está em fase de construção a usina termelétrica Vale Azul I, licenciada com mais de 565 MW de potência.

Estão previstos quatro novos parques termelétricos (Litos, São João Batista, Vale Azul e Nossa Senhora de Fátima) e a expansão de um parque existente (Norte Fluminense), do Terminal Portuário de Macaé (Tepor) e de uma nova unidade de processamento de gás natural. Esses novos parques termelétricos aumentam em mais de oito vezes a capacidade atual de geração no município.

Tais empreendimentos são reforçados pela expansão da produção offshore (localizadas em alto mar). Recentemente, foi anunciada a decisão de se escoar a produção de gás do pré-sal da bacia por meio de gasoduto submarino, conectando as plataformas ao Terminal Cabiúnas, já existente na cidade. “Macaé pode até continuar expandindo sua geração elétrica, mas isso deve ser feito sem agravar a qualidade do ar. É preciso empregar tecnologias mais limpas ou, caso não seja possível, expandir a geração elétrica para outros locais respeitando sua capacidade de suporte à carga de poluentes”, ressalta Tsai.

“Aumentar as emissões de poluentes em uma região já saturada, com problema de poluição por ozônio, é inadequado. O setor elétrico e os governos precisam se atentar a essa questão”, diz. “Além disso, é necessário a elaboração de inventário oficial de emissões de poluentes atmosféricos, um instrumento para identificar mais precisamente como cada instalação contribui para a poluição local, de modo a planejar ações certeiras para reduzir as emissões”, explica Tsai.

Ar poluído

O ozônio na baixa atmosfera não é emitido diretamente, mas formado em reações químicas que ocorrem sob influência de elevadas temperaturas e níveis de radiação solar, tendo como reagentes principais (os “ingredientes da receita”) os compostos orgânicos voláteis não metano (COVNM) e os óxidos de nitrogênio (NOx), ambos poluentes emitidos diretamente pelas fontes poluidoras.

Segundo dados do SEEG Municípios, as usinas termelétricas foram responsáveis por 41% das emissões totais desses compostos orgânicos voláteis no município no ano de 2018. O demais é proveniente do transporte na região, com destaque para as emissões associadas a automóveis e motocicletas. Com relação aos óxidos de nitrogênio, a maior parte das emissões, mais de 70%, são das usinas termelétricas. A queima de óleo diesel no transporte rodoviário, principalmente a partir de caminhões e ônibus, responde por 14%.

Há uma poluição sistemática local ocasionada pelo gás ozônio. A expansão do polo de energia de Macaé centrado na exploração do gás natural deve levar em conta as implicações para o agravamento da poluição do ar e seu impacto na saúde da população. Existem mais de dez projetos de usinas termelétricas com licença ambiental, além dos investimentos anunciados por grandes empresas petrolíferas.

Qualidade do ar

Os dados analisados na Nota Técnica são produzidos pelas estações de qualidade do ar operadas por empreendimentos potencialmente poluidores e enviados em tempo real para a central do Instituto Estadual do Ambiente (INEA) onde são armazenados, processados e disponibilizados no endereço eletrônico do órgão público. O IEMA inclui esses dados na sua Plataforma da Qualidade do Ar, uma ferramenta que reúne e padroniza as informações do monitoramento da qualidade do ar gerados por órgãos do poder público de todo o Brasil.

As informações publicadas pelo INEA indicam quatro estações de monitoramento automático da qualidade do ar operando em Macaé: Fazenda Severina (desde 2002), Pesagro (também desde 2002), Fazenda Aires (a partir de 2003) e Cabiúnas (2010). Os poluentes monitorados por essas estações são o monóxido de carbono (CO), os óxidos de nitrogênio (NOx), o ozônio (O3), hidrocarbonetos (HC), material particulado (MP10), partículas totais em suspensão (PTS) e dióxido de enxofre (SO2). Os três últimos são apenas monitorados pela estação Cabiúnas.

Organizações ambientais alertam contra rótulos verdes para gás natural e energia nuclear

ovelhasFoto: imago images / Chris Emil Janßen

Bruxelas. As organizações ambientais alertam a Comissão Europeia contra a classificação da energia nuclear e do gás natural como energias amigas do ambiente. Tal movimento contradiria as medidas que seriam necessárias para limitar a mudança climática a 1,5 graus, disse Sébastien Godinot do WWF na quinta-feira. A inclusão da energia nuclear e do gás natural na chamada taxonomia da UE seria “grosseiramente irresponsável”, disse a ativista do Greenpeace Silvia Pastorelli.

O pano de fundo para isso é o trabalho em andamento pela Comissão da UE em um sistema de classificação para investimentos sustentáveis. Isso deve dar aos investidores diretrizes claras sobre quais investimentos são considerados amigáveis ​​ao clima – o selo, portanto, oferece enormes vantagens financeiras.

Um documento circulou em Bruxelas pedindo que a energia nuclear e o gás fossem incluídos na taxonomia. De acordo com diplomatas, ele vem da França, mas também é apoiado por vários outros países, como a Polônia e a República Tcheca. Até agora, a Alemanha se manifestou claramente contra classificar a energia nuclear como amiga do clima. No entanto, existe um forte lobby para a promoção do gás como uma tecnologia de transição, a fim de garantir o fornecimento de eletricidade após a planejada eliminação da energia nuclear e do carvão.

Segundo os critérios propostos no documento, metade das fábricas de gás existentes na UE seriam consideradas “verdes”, disse Godinot. Também poderia financiar novas usinas de gás que poderiam durar até 2065. De acordo com o economista do WWF, isso não é compatível com os objetivos de proteção climática da UE.

Roger Spautz, do Greenpeace, alertou sobre as consequências ambientais dos resíduos radioativos produzidos pela fissão nuclear. “Em nossa opinião, a indústria nuclear quer entrar na taxonomia porque quer roubar dinheiro para manter seus antigos reatores funcionando”, disse Spautz. Depois de 70 anos, a indústria nuclear ainda não encontrou uma solução para o lixo nuclear, disse Godinot, colega do WWF.

De acordo com a comissária de finanças responsável da UE, Mairead McGuinness, a decisão sobre a classificação do nuclear e do gás deve ser tomada até o final do ano. Os estados membros e o Parlamento da UE têm então dois meses para levantar objeções – caso contrário, a taxonomia entrará em vigor. (dpa / jW)

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Este texto foi escrito originalmente em alemão e publicado pelo jornal “JungeWelt” [Aqui!].

Suspensão da oferta de gás ao Nordeste pela Petrobrás reforça “privatização aos pedaços” e monopólio privado na região

Para o coordenador geral da FUP, Deyvid Bacelar, com gás natural sendo reinjetado pela Petrobrás por falta de mercado, não há razão econômica para empresa não mais abastecer as distribuidoras do Nordeste a partir de 2022.

Federação pretende tomar medidas judiciais contra a decisão da atual gestão da petroleira

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Por Deyvid Bacelar*

“Qual é a lógica comercial de uma empresa que espontaneamente abre mão de seu segundo maior mercado consumidor, o mercado da região Nordeste? Não há resposta econômica ou financeira que justifique isso. E não é falta de gás natural, porque sabemos que a Petrobrás vem reinjetando gás em campos do pré-sal justamente por falta de mercado. O que a gestão da Petrobrás está fazendo, mais uma vez, é dar de mão beijada o mercado da estatal para um monopólio privado. Como fez com a Gaspetro, como está fazendo com as refinarias e com a Petrobras Biocombustível (PBio).

Mais uma vez, o que vemos é uma atitude da gestão da Petrobrás de reduzir uma empresa gigante, controlada pelo Estado, a um tamanho ínfimo, sob uma justificativa infundada de redução de endividamento. Assim, vai se confirmando a teoria da “privatização aos pedaços” da Petrobrás. Estão pegando uma mansão e quebrando suas janelas, suas paredes, tirando tudo o que ela tem dentro. Vão deixar somente um telhado, que não vai ser suficiente para proteger o caixa da empresa.

A verdade é que o governo Bolsonaro está esquartejando a companhia porque não tem força política e nem argumento econômico para propor a venda da maior estatal do país ao Congresso Nacional. E pior: Bolsonaro usa a Petrobrás como instrumento de vingança pessoal contra a região Nordeste, onde perdeu nas eleições de 2018 e tem seus piores índices de popularidade.

Outro fato curioso dessa decisão estapafúrdia é que se deu poucos dias depois de pelo menos duas distribuidoras de gás canalizado do Nordeste – A Bahiagás, da Bahia, e a Sergás, de Sergipe – manifestarem-se contrárias à venda da Gaspetro à Compass Gás e Energia, do grupo Cosan, que ganhou um monopólio de mão beijada.

Bahiagás e Sergás decidiram exercer seu direito de preferência na compra da parte da Gaspetro em seu quadro acionário, para evitar que a Compass exerça qualquer poder sobre as empresas. Curiosamente, no dia seguinte a esse anúncio a gestão da Petrobrás decide cortar o suprimento de gás natural para o Nordeste a partir de 2022 – ou seja, daqui a cinco meses!

Coincidência? Está claro que não, trata-se de um revanchismo míope e personalista, como tudo o que vem deste desgoverno de Bolsonaro.

Por isso, a Federação Única dos Petroleiros já avalia como tomar medidas judiciais contra mais esta decisão arbitrária e injustificável da atual diretoria da Petrobrás.”

*Deivy Bacelar é  Coordenador geral da Federação Única dos Petroleiros – FUP

Projetos de gás enfrentam graves problemas financeiros, mesmo com recuperação da pandemia

gnl

A Global Energy Monitor divulgou hoje (24/06) os resultados de uma pesquisa mundial sobre projetos de terminais de gás natural liquefeito (GNL). O relatório, “Nervous Money: Global LNG Terminals Update 2021”, destaca que apesar da recuperação da pandemia estar se acelerando em partes do mundo, 38% do fornecimento total planejado de GNL está enfrentando atrasos nas decisões finais de investimento (FIDs) ou outras interrupções graves de projeto.

A notícia é preocupante para o Brasil. Fora da Ásia, o país é um hotspot de investimentos no setor, com 13 terminais de importação de GNL em construção ou pré-construção. E o governo federal está impulsionando a infraestrutura de gás e a criação de novas termelétricas, tanto pela lei do gás sancionada em abril (Lei 14.134/2021), como pelos jabutis infiltrados na Medida Provisória 1031/2021, que privatiza a Eletrobrás.

No ano passado, apenas um projeto de GNL chegou a uma decisão final de investimento no mundo – o terminal Costa Azul, no México. Os custos excedentes foram exacerbados pela COVID-19, uma vez que muitos recursos humanos não puderam realizar o trabalho. “O tamanho dos projetos expôs os investidores a perdas catastróficas”, disse Lydia Plante, a principal autora do relatório da GEM.

O cenário para o gás contrasta com o mercado de energias renováveis. Esta semana, a Agência Internacional para Energias Renováveis (IRENA) divulgou um relatório em que afirma que o percentual de renováveis que alcançaram custo inferior ao das energias fósseis mais competitivas dobrou em 2020. Foram 162 GW – ou 62% do total de geração adicionada no ano passado – com custo mais baixo que as opções fósseis mais baratas. O documento ressalta ainda uma tendência de redução sustentada de custos das renováveis, tanto para instalação, como para a manutenção.

Barreiras ao gás

As preocupações climáticas são o maior entrave do gás na Europa, mas regiões-chave para esse mercado, como os EUA, foram afetadas também pelo fornecimento barato de Qatar e Rússia, afirma o estudo. O relatório aponta ainda a vulnerabilidade dos terminais de gás em ambientes de instabilidade política, e cita como exemplo os ataques de insurgentes às instalações da Total em Moçambique , ainda em construção. A petroleira francesa declarou “força maior” para o encerramento do projeto de 20 bilhões de dólares financiado por um amplo consórcio, incluindo investidores privados, bancos públicos e instituições de crédito dos Estados Unidos, China, Japão e União Europeia.

Outro impacto negativo para o ambiente de investimentos em gás foi o inédito relatório net-zero da Agência Internacional de Energia (AIE) em maio. A agência vê a demanda de gás caindo significativamente nos próximos anos e uma mudança global para a descarbonização total do setor energético viabilizada pela energia renovável. De acordo com a AIE, o comércio interregional de GNL precisaria diminuir rapidamente após 2025 sob um cenário zero líquido em 2050.

“O GNL foi vendido aos formuladores de políticas e aos investidores como uma aposta limpa e segura”, afirma Plante. “Agora todos esses atributos se transformaram em responsabilidades. Os cenários recentes da AIE para 2050 mostram que o GNL não tem lugar num futuro energético seguro para o clima. A indústria perdeu sua auréola climática, e a única questão é se a Administração Biden irá desperdiçar capital político precioso para apoiar potenciais elefantes brancos”.

Para Ted Nace, diretor executivo da Global Energy Monitor, quem avalia o investimento em infraestrutura como “seguro” pode enfrentar percalços no setor de gás. “A oportunidade para a construção de mais capacidade de exportação se reduziu, e os projetos norte-americanos ficaram para trás por vários motivos. Eles são vistos com razão, especialmente pelos compradores europeus, como particularmente sujos, devido à sua dependência do fracking.”

Uma vez considerado como uma solução climática potencial, o setor de GNL é cada vez mais visto como um problema climático, particularmente para os compradores europeus. A América do Norte responde por 64% da capacidade global de exportação em construção ou pré-construção. A América do Norte também tem os projetos mais conturbados, com 11 dos 26 terminais de exportação de GNL relatando atrasos na FID ou outras perturbações graves.

A capacidade de importação de GNL continua em rápida expansão, com projetos suficientes em construção ou pré-construção para aumentar a capacidade global em 70%. Da capacidade em construção ou pré-construção, 32% está na China, 11% está na Índia e 7% está na Tailândia. Fora da Ásia, o Brasil é um hotspot com 13 terminais de importação de GNL em construção ou pré-construção.

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Leia o relatório aqui.
A metodologia usada no Global Fossil Infrastructure Tracker está aqui .

Contatos para entrevista:
Ted Nace, Global Energy Monitor, (510) 331-8743, ted.nace@globalenergymonitor.org
Lydia Plante, Global Energy Monitor, (504) 442-8145, lydia.plante@globalenergymonitor.org
James Browning, Global Energy Monitor, (215) 900-0869james.browning@globalenergymonitor.org

Sobre o Global Energy Monitor

Global Energy Monitor é uma rede de pesquisadores que desenvolve recursos informativos sobre combustíveis fósseis e alternativas energéticas.

Sobre o Global Fossil Infrastructure Tracker

O Global Fossil Infrastructure Tracker identifica, mapeia, descreve e categoriza os oleodutos e terminais existentes e propostos. Desenvolvido pelo grupo de pesquisa Global Energy Monitor, o rastreador utiliza fontes públicas para documentar cada projeto e é projetado para apoiar o monitoramento longitudinal.

Expansão de terminais de gás natural vive “tempestade perfeita”

Relatório muda projeção feita no ano passado e afirma que problemas do setor não vão desaparecer com fim da pandemia

GNL

Um novo relatório divulgado nesta terça (7/7) pelo Global Energy Monitor (GEM) revela que os terminais de gás natural liquefeito terão pela frente um futuro pouco promissor. A combinação de produção excessiva, preços em baixa, diminuição de demanda em decorrência da pandemia e crescente oposição política ambientalista criou um cenário drasticamente diferente daquele apresentado pelo mesmo levantamento em 2019.

O relatório, com base nos dados mais recente do Global Fossil Infrastructure Tracker da GEM, destaca que a construção de terminais de GNL em todo o mundo mais que dobrou, passando de US ﹩ 82,8 bilhões para US ﹩ 196,1 bilhões em investimentos. Muitos desses projetos, em fase de construção ou pré-construção, estão em sério risco. Ao menos duas dúzias de projetos foram cancelados ou estão com atrasos de financiamento ou de construção. A queda sustentada nos custos das energias renováveis nos últimos meses agravou ainda mais a viabilidade dos projetos de gás.

Além dos reveses financeiros, o cenário político passou a ser de hostilidade ao setor. A coalizão para formação do novo governo da Irlanda incluiu uma série de concessões ambientais ao Partido Verde, e uma delas foi o cancelamento do projeto de terminal de GNL do estuário de Shannon. A medida, que estava na lista de interesses comuns da Europa, sofreu uma derrota adicional quando o Tribunal de Justiça Europeu decidiu que a permissão de planejamento do projeto era inválida. Na sequência, foi a vez da Suécia remover da mesma lista interesse comum do continente seu projeto para o terminal de gás Gotemburgo.

A Berkshire Hathaway, do megainvestidor Warren Buffett’s, gastou bilhões de dólares em financiamento para a Energie Saguenay LNG em Quebec, mas protestos em todo o Canadá contra os dutos tornaram o projeto uma odisséia política. A empresa desistiu do investimento no final de março. Em julho, a mesma companhia adquiriu a produtora de gás natural dos EUA Dominion por US ﹩ 4 bilhões — um negócio total de US ﹩ 10 bilhões, já que a empresa tinha dívidas de quase US ﹩ 6 bi. Em comunicado oficial sobre a aquisição, a Dominion afirmou que a venda “faz parte de uma série de medidas para se tornar uma companhia focada em produção de energia limpa eólica, solar e de gás natural.”

Energia suja

A expansão do GNL contradiz diretamente as metas climáticas de Paris, que exigem um declínio de 15% no uso de gás até 2030 e um declínio de 43% até 2040, em relação a 2020. Embora seja considerado um “combustível-ponte” por seus proponentes, a pegada de carbono de uma nova usina a gás na Europa ou na Ásia que queima GNL dos EUA é aproximadamente a mesma de uma nova usina a carvão no mesmo local. Isso porque há vazamento de metano em todo o sistema de suprimento de gás, que somado à penalidade energética do transporte marítimo de longa distância do produto, aumentam a pegada final do GNL.

“O GNL já foi considerado uma aposta segura para os investidores”, afirma Greig Aitken, analista de pesquisa da Global Energy Monitor. “Não apenas foi considerado um combustível ecológico, mas havia um apoio governamental substancial para garantir que esses megaprojetos – incluindo alguns dos maiores projetos do setor de capital já construídos – fossem conduzidos até a conclusão com todos os bilhões necessários. De repente, o setor está cheio de problemas.”

“Os problemas do GNL não desaparecerão magicamente com o fim da pandemia”, diz Ted Nace, diretor executivo da GEM. “No setor de energia, a modelagem mostra que os pacotes renováveis ​​já estão superando o gás importado na Coréia do Sul. E a cada ano que passa, as energias renováveis ​​se tornam mais competitivas.”

Sobre o estudo da GEM

A pesquisa da GEM sobre a infraestrutura de GNL é baseada no relatório Global Fossil Infrastructure Tracker (GFIT), um censo projeto-a-projeto de instalações de petróleo e gás desenvolvido pela Global Energy Monitor. O GFIT usa a mesma metodologia que o Global Coal Plant Tracker (GCPT), um censo bianual de usinas a carvão, licenciado pela Bloomberg Terminals e UBS Research, e usado pelo Banco Mundial, OCDE, Nações Unidas e imprensa especializada em economia.

Leia o projeto “Gas Bubble 2020: Tracking Global LNG Infrastructure” aqui (password: LNG)

Sobre o mesmo tema, leia aqui o relatório do GEM divulgado em 3/7 — “Gambling on Gas: Risks Grow for Japan’s ﹩20 Billion LNG Financing Spree”.

Metodologia do estudo  aqui