Cruesp manifesta preocupação com a situação orçamentária do CNPq

Resultado de imagem para CRISE FINANCEIRA CNPQ

O Conselho de Reitores das Universidades Estaduais Paulistas encaminhou ofício ao presidente Michel Temer, aos ministros Gilberto Kassab (da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações); Henrique Meirelles (da Fazenda); e Dyogo Oliveira (do Planejamento, Desenvolvimento e Gestão): “Sem pesquisas cientificas, será impossível criar riquezas”

Veja o documento abaixo:

O Conselho de Reitores das Universidades Estaduais Paulistas (CRUESP) representando conjuntamente as administrações da USP, UNICAMP, e UNESP, vêm expressar sua profunda preocupação com a situação orçamentária do Conselho Nacional de Desenvolvimento Cientifico e Tecnológico (CNPq). Preocupa-nos também o contingenciamento do FNDCT, que tem contribuído ao longo dos anos com cerca de 25% da receita do CNPq. Até o presente momento, foi liberado somente 4,6% dos recursos totais ao Conselho (aproximadamente R$ 60 milhões).

Nos últimos anos, temos acompanhado a redução das verbas federais alocadas aos investimentos em ciência, tecnologia e inovação, em função das dificuldades econômicas que nosso país ainda enfrenta. Compreendemos a necessidade da redução das despesas do governo federal de forma a atingir o equilíbrio fiscal, o que demanda visão de nossas autoridades para priorizar a alocação dos escassos recursos disponíveis.

O contingenciamento desses recursos afeta direta e drasticamente o pagamento de bolsas de estudo, que tem por fim a formação de pessoal de nível superior altamente qualificado, o financiamento de projetos científicos e de desenvolvimento tecnológico e de programas de excelência como, por exemplo, os institutos Nacionais de Ciência e Tecnologia (INCTs), que congregam os mais destacados cientistas do Brasil.

Um eventual atraso no pagamento das bolsas de estudo traria consequências imponderáveis, mas seguramente deletérias, ao sistema nacional de pós-graduação, pois essas bolsas são o único meio de subsistência desses jovens cientistas, que mantêm um vínculo não empregatício com o CNPq, porém de dedicação integral e exclusiva durante a vigência da bolsa.

O sistema nacional de ciência e tecnologia experimentou vigoroso crescimento nas ultimas décadas, fruto de vários esforços coletivos e de um constante amadurecimento de nossa comunidade acadêmica e tecnológica. Nosso país, por sua importância internacional, por suas dimensões e pelo tamanho de sua população, precisa almejar ainda muito mais. A simples manutenção do sistema exige um aporte mínimo de recursos, sob pena de rapidamente destruirmos aquilo que foi duramente conquistado por sucessivas gerações de cientistas.

Junte-se a isso o fato de que o financiamento aos projetos e programas de pesquisa alavancou a produtividade acadêmica do Brasil, que é hoje o 13º maior produtor de ciência do mundo e abriga cinco das dez melhores universidades da América Latina, segundo ranking divulgado em 20 de julho de 2017 pela Times Higher Education (THE). O desenvolvimento tecnológico resultante desses projetos de pesquisa revela a importância dos investimentos em ciência para o avanço econômico e social do país.

O CNPq existe há 66 anos como a principal agência de fomento à pesquisa científica no País. Atualmente, além de financiar equipamentos e materiais para a consecução de projetos que permitem o avanço de nosso conhecimento, o CNPq possui uma importante dimensão humana: mais de cem mil estudantes e pesquisadores recebem bolsas de estudo. Para a maioria deles, a bolsa é sua única fonte de renda, inclusive porque se comprometem a manter dedicação exclusiva aos programas de que participam.

No século XXI, está mais do que demonstrado que a geração de receitas e o crescimento econômico advêm de inovações que resultam de conhecimentos novos. Sem pesquisas cientificas, será impossível criar riquezas.

Estamos todos cientes de que a atual crise financeira é sem precedentes neste país. Os reflexos negativos para o desenvolvimento da ciência e da tecnologia são visíveis na redução da dotação orçamentária do CNPq nos últimos anos, mas o contingenciamento dos recursos que se vislumbra trará danos irreparáveis a este importante setor da economia.

O CRUESP, representando aqui o conjunto das Universidades responsáveis por mais que um terço da produção científica brasileira, vem externar sua profunda preocupação com relação aos recursos contingenciados e espera que o MCTIC logre êxito junto às demais pastas do governo federal para garantir o aporte financeiro ao CNPq o quanto antes.

Certos de que podemos contar com a compreensão e ação de Vossa Excelência, diante dessa importante questão, agradecemos seu empenho.

Cordialmente,

Sandro Roberto Valentini

Presidente do CRUESP

Ascom – Cruesp

FONTE: http://jcnoticias.jornaldaciencia.org.br/4-cruesp-manifesta-preocupacao-com-a-situacao-orcamentaria-do-cnpq/

Ciência brasileira sob grave perigo. CNPq está à beira da falência

 

vaca-brejo_1

Em matéria bastante completa, o jornalista Herton Escobar do “O ESTADO DE SÃO PAULO” mostra que o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico Tecnológico (CNPq) se encontra objetivamente em estado falimentar por causa do processo de congelamento de seu orçamento pelo governo “de facto” de Michel Temer  [Aqui!].

A situação é tão crítica que já em Setembro, o CNPq ficará sem orçamento e, consequentemente, impedido de pagar bolsas e liberar os recursos para projetos científicos. Isto se dá por uma decisão deliberada de contingenciar recursos de áreas estratégicas para continuar alimentando a ciranda financeira e também o intenso processo de lobby que está sendo realizado no congresso nacional para impedir o início do processo de impeachment do presidente Temer. Aliás, chega a ser vexaminoso comparar o sufoco imposto ao CNPq com a milionárias verbas que foram angariadas a toque de caixa pelos parlamentares que irão rejeitar hoje o início do processo de impeachment de um presidente acusado de corrupção passiva.

Por outro lado, um dos gráficos mostrados na matéria e que vai logo abaixo mostra que em termos nominais os investimentos feitos pelo CNPq retornaram aos níveis de 2004, o que representa uma verdadeira tragédia para a manutenção do sistema nacional de ciência e tecnologia e perdas ainda maiores para o Brasil, já que a importação de tecnologia aumentará brutalmente os gastos nacionais.

CNPq_dispêndios_2001-2017-1

Mas o que pode ser uma perda incalculável para o desenvolvimento econômico do Brasil num futuro muito previsível poderá se tornar um drama presente para mais de 90 mil bolsistas e 20 mil pesquisadores que dependem diretamente dos desembolsos feitos pelo CNPq para sobreviverem enquanto se dedicam ao avanço da ciência nacional. Contudo, o que pode ser um drama pessoal momentâneo pode ser um agravante grave para o sucateamento da ciência brasileira, na medida em que muitos dos pesquidadores que serão afetados deverão sair do Brasil para continuar as suas carreiras científicas.

A verdade é que é preciso que seja iniciada uma ampla mobilização para pressionar o governo Temer a aplicar o orçamento aprovada numa área tão estratégica como é a da ciência e tecnologia. É que se depender de Michel Temer e Henrique Meirelles todo o dinheiro cortado do CNPq vai ser entregue aos bancos que hoje são os únicos a lucrarem com a grave crise econômica em que estamos afundados.

Nunca é demais lembrar que a China aprovou e já está implementando fortes investimentos no seu ministério voltado para o desenvolvimento científico. Não fica difícil prever quem vai tornar ainda mais forte economicamente nas próximas décadas se o atual ataque ao CNPq não for imediatamente revertido. 

O assassinato da ciência nacional é um crime hediondo contra o futuro do Brasil

ciencia

Ao que tudo indica, o que está ruim ainda vai piorar muito quando se trata do financiamento da ciência brasileira. Os alarmes já estão soando em 2017 com os cortes drásticos que foram realizados nas principais agências de fomento do sistema brasileiro de ciência e tecnologia, mas a coisa pode piorar ainda mais em 2018 quando se avizinha uma erosão ainda maior do aporte de verbas. Em artigo publicado na prestigiosa revista científica “Science”, o jornalista Herton Escobar sintetiza bem o problema: à diminuição de 44% no orçamento do ministério comandado por Gilberto Kassab deverão ser acrescidos outra diminuição de 40% em 2018 [Aqui!]!

E note-se que muitas reitorias de universidades federais já estão anunciando que seus orçamentos deverão ser esgotados já no mês de Setembro, o que deverá causar uma crise sem precedentes, a exemplo do que já vem ocorrendo nas universidades estaduais do Rio de Janeiro. E com isso se ameaça diretamente quase 100% do que é produzido em termos de ciência e tecnologia no Brasil!

Em comparação com países como Coréia do Sul e China, os investimentos brasileiros em ciência e tecnologia estão se tornando em irrisórios em termos da porcentagem investida em relação ao Produto Interno Bruto. E para quem acha que isso é irrelevante e sem importância, basta verificar o que esses dois países, cada um no seu ritmo, alcançou nos últimos 20 anos em comparação ao Brasil. Eu utilizo exatamente Coréia do Sul e China porque não muito atrás no tempo, o peso da economia brasileira era similar ao destes países, mas agora estamos sendo deixados na poeira pelo agigantamento científico e tecnológico que eles obtiveram ao investir de forma pesada no desenvolvimento de suas universidades e institutos de pesquisa.

O que estou afirmando é que ao rebaixar o nível de investimento em ciência e tecnologia, o governo “de facto” de Michel Temer está impossibilitando que o Brasil tenha um mínimo de possibilidade de se libertar de sua dependência cada vez maior da exportação de commodities agrícolas e minerais.  E a estas alturas do campeonato não é difícil estimar que tipo de futura se reserva a um país de dimensão continental que se dá ao luxo de continuar ancorado na venda de commodities em detrimento do estabelecimento de novas tecnologias, inclusive para a produção sustentável de produtos agrícolas! 

Contraditoriamente o desmanche do sistema científico e tecnológico nacional tem sido facilitado pela posição letárgica da chamada “comunidade científica” brasileira. Ao invés de se fazer uma crítica mais contundente sobre o encurtamento de verbas para uma área tão estratégica, o que mais tenho ouvido é uma ladainha em prol da construção de parcerias público-privadas para suprir o abandono desta área estratégica pelo Estado.  Esse tipo de discurso apenas favorece aos que querem desnacionalizar a ciência nacional para colocá-la como mais um apêndice dos oligopólios que, de fato, controlam a economia nacional.   E, pior, não leva em consideração sequer o fato de que as corporações econômicas não possuem a menor disposição para realizar investimentos substantivos nas universidades e institutos de pesquisa, pois importam a tecnologia que precisam de suas matrizes.

Como não vejo qualquer possibilidade do governo “de facto” de Michel Temer parar o seu projeto de asfixiar financeiramente o sistema nacional de ciência e tecnologia, a única saída que resta para os que não querem rumar para outros paises (inclusive as já citadas China e Coréia do Sul) em busca de ambientes menos inóspitos é organizar a resistência aqui e agora. Do contrário, só vai restar mesmo o caminho do aeroporto.

E concluo afirmando que esse massacre do sistema nacional de ciência e tecnologia é um verdadeiro crime hediondo contra o futuro do Brasil. O problema é que este governo está cometendo tantos crimes hediondos contra o nosso futuro, que arrisca ninguém notar o cometido contra a ciência.

Ciência sob ataque no Brasil da pós-verdade de Temer e Kassab

FRENTE / PREFEITOS

Dois elementos sobre profundo ataque no mundo da “pós verdade” são a ciência e a Natureza. Essa condição é peculiar de um tipo de resposta que as grandes corporações e seus vassalos dentro de governos nacionais vêm tratando um novo ciclo de crise profunda no sistema capitalista. Não é que não existam outros elementos de regressão, mas me parece haver um ódio especial contra a ciência.

E evidências de que o ódio vem sendo transformado em política de (des) governo aparecem em vários planos. Um exemplo disso é a verdadeira tunga que foi promovida nos orçamentos das fundações estaduais de amparo à pesquisa pelo Brasil afora, incluindo a joia da coroa que é Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp). No caso específico da Fapesp, o jornalista Maurício Tuffani mostra hoje no seu “Direto da Ciência” que o corte orçamentário promovido pela Assembleia Legislativa de São Paulo e aplicada sem cerimônia alguma por Geraldo Alckmin foi totalmente inconstitucional (Aqui!).  E, pior, totalmente improducente, já que ataque diretamente a capacidade de produção científica do estado de São Paulo, jogando assim contra os interesses públicos e privados.

Mas São Paulo ainda está razoavelmente bem servido em termos de financiamento, já que outros estados igualmente importantes como Rio de Janeiro, Minas Gerais, Bahia e Rio Grande do Sul praticamente seus investimentos em desenvolvimento científico e tecnológico, sob a desculpa rala de que atravessam graves crises financeiras. Entretanto, nesses estados ainda há dinheiro de sobra para entregar às corporações privadas sob a forma de isenções fiscais.

Entretanto, eu diria que o corte orçamentário é apenas a faceta de algo mais complexo que é a tentativa de desqualificar a importância da ciência no processo de desenvolvimento nacional. Daí é que não são raras as manifestações de que se gasta e vê pouco retorno em ciência no Brasil, quando, na verdade, já vivíamos um período de seca orçamentária mesmo antes do golpe light que levou Michel Temer à condição de presidente “de facto“.  Um exemplo maior desta desqualificação foi a dissolução do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI) e sua substituição pelo esdrúxulo Ministério da Ciência Tecnologia Inovação e Comunicações (MCTIC) que foi colocado sob o comando de Gilberto Kassab, o que já diz muito sobre o lugar que a ciência tem nas prioridades de Michel Temer.

Apenas para comparar a situação incoerente em que a ciência brasileira está sendo colocado, repito o exemplo já dado anteriormente neste blog sobre o forte investimento que está sendo realizado pela China no seu Ministério da Ciência que recebeu um acréscimo orçamentário notável como forma de incentivar a produção científica voltada para, entre outras coisas, o desenvolvimento de tecnologias de ponta  (Aqui!).  Enquanto isso no Brasil, estamos sob o risco de ver extintos grupos de pesquisa e até de universidades muito bem ranqueadas em nível internacional, como são os casos da Uenf e da Uerj que estão sendo literalmente destroçadas pelas mãos do (des) governador Luiz Fernando Pezão e do seu inepto (des) secretário de Ciência, Tecnologia e Inovação, Gustavo Tutuca.

O incrível é que este ataque à nossa capacidade  de ampliar o desenvolvimento científico nacional está apenas agora sendo objeto de algum tipo de resposta mais organizada por parte das principais sociedades científicas. E apesar deste atraso é fundamental que se saia da defensiva e se organize uma política de defesa da ciência nacional. Afinal, não há futuro algum para um país que se contente em ser exportador de commodities agrícolas e minerais ou, como a China já decidiu que não será, um mero exportador de manufaturas.

E para mim, a coisa é muito simples: ou defendemos a ciência nacional ou seremos eternamente um país atolado no atraso e na desigualdade abissal entre ricos e pobres.

Extinção do MCTI e sucateamento das FAPs colocam em risco o sistema nacional de ciência e tecnologia

Uma das principais características de um país que procura alcançar novos níveis de desenvolvimento é o investimento sustentado em ciência e tecnologia.  A China, por exemplo, optou por um aumento consistente no orçamento do seu ministério de Ciências para o próximo quinquênio como uma forma de responder à crise econômica que está se abatendo sobre a economia mundial  (Aqui!).

No caso do Brasil, o que estamos assistindo é um processo totalmente oposto ao caminho adotado pela China. O fato é que estamos presenciando um ataque duro e direto às estruturas que foram desenvolvidas nos planos federal e estadual para providenciar recursos e estabelecer políticas voltadas para orientar o desenvolvimento científico e tecnológico. O principal exemplo disso foi a extinção do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI) como um dos primeiros atos do governo “de facto” de Michel Temer. 

Há que se ressaltar que a desvalorização estratégica do sistema nacional de ciência não parou na extinção do MCTI. O fato é que os principais órgãos responsáveis pelo desenvolvimento científico brasileiro foram virtualmente colocados no limbo no novo ministério comandado por Gilberto Kassab. E não se fala apenas dos brutais cortes anunciados nos orçamentos do CNPq, da CAPES, e da FINEP . A questão da desvalorização está no tratamento de órgãos de segunda ou terceira categoria que os novos chefetes do tal Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações (MCTIC). Aliás, a única coisa notável que brotou do MCTIC até agora foi a tentativa de dar um presente bilionário para as empresas de telecomunicação e que só não se concretizou ainda porque a presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), ministra Carmen Lúcia, resolveu pedir informações sobre mais essa bandalheira com o dinheiro público (Aqui!).

Agora, se a coisa está ruim no plano federal, a situação não é nada melhor na maioria dos estados. As chamadas “fundações de amparo à pesquisa” que são as responsáveis no plano estadual por apoiar o desenvolvimento científico e tecnológico, se encontram em sua maioria em situação falimentar. Basta ver os casos de estados como o Rio de Janeiro, Bahia, Pernambuco e Maranhão onde a falta de recursos impede qualquer suporte real num momento de encurtamento do aporte de verbas federais. Já no caso do Rio Grande do Sul, apesar de ter escapado da extinção que atingiu outras nove fundações, a  Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio Grande do Sul (Fapergs) deverá ser mantida na mesma situação de penúria que outras FAPs estão enfrentando.

A única exceção a este processo de sucateamento das FAPs ainda é a Fundação de Amparo à Pesquisa do estado de São Paulo (Fapesp) que possui verbas próprias e um patrimônio invejável. Com isso, a Fapesp deverá continuar sendo capaz de financiar ações estratégicas como os do Institutos Nacionais de Ciência e Tecnologia (INCTs), o que deverá contribuir para a criação de uma espécie de colonialismo científico interno  com as universidades e institutos de pesquisa paulistas se tornando os únicos com nível de interagir com grandes centros científicos mundiais.

A repercussão desse processo de degradação dos órgãos federais e das FAPS foge a um análise de curto prazo. A verdade é que esta estratégia de fragilização do nossos sistema nacional de ciência e tecnologia terá implicações graves para o desenvolvimento econômico brasileiro. E como os chineses já explicaram ao anunciar  a sua transição de um modelo econômico baseado na exportação de manufaturas para outro baseado na venda de alta tecnologia, os países que ficarem para trás na corrida tecnológica certamente  enfrentaram desafios sociais e ambientais duríssimos no futuro.

O problema é que no Brasil estamos enfrentando uma verdadeira onda de ódio ao conhecimento científico, e que está sendo comandada pelos setores que dependem de algo ainda pior e mais atrasado do que a exportação de manufaturados, e que estão fortemente associados ao interesses das grandes mineradoras e o latifúndio agroexportador.  Para esses setores, o conhecimento científico é um entrave para suas aspirações de recolonização total do Brasil.

E será contra este tipo de interesse anti científico que teremos nos debater em 2017 para impedir a completa destruição do nosso sistema nacional de ciência e tecnologia. Simples assim!

 

Artigo na Nature mostra ciência brasileira na encruzilhada da PEC 241

Em um artigo publicada na respeitada revista científica Nature, o assessor de comunicação da organização não-governamental Observatório do Clima, Cláudio Angelo, traça um cenário angustiante para o futuro da ciência brasileira sob o espectro da vigência da chamada PEC 241 (Aqui!).

nature-claudio-angelo

Como bem mostra Cláudio Angelo, a PEC 241 irá agravar um encolhimento orçamentário que já vinha ocorrendo ao longo dos últimos 4 anos, ainda sob o governo de Dilma Rousseff, mas que foi agravado pelo desmantelamento imposto no Ministério de Ciência e Tecnologia e sua incorporação por baixo no frankenstein intitulado de “Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovação e Comunicações” sob o comando de preparadíssimo Gilberto Kassab (ver figura abaixo). 

nature-brazil-12-may-16-v2

Mas o mais grave é que se o orçamento destinado à pesquisa científica for congelado nos níveis baixos em que se encontra, o provável é que o Brasil passe por um processo de descontinuidade de projetos vitais em muitas áreas sensíveis, implicando no desmantelamento de grupos de pesquisas e, consequentemente, um recuo grave na consolidação de áreas emergentes da ciência brasileira.

Um aspecto importante que me parece ser necessário apontar é que a imensa maioria dos pesquisadores brasileiros continua tocando as suas pesquisas em condições cada vez mais precárias como se isso fosse prova de algum tipo de demonstração de imunidade à crise. Pior ainda são alguns setores que apostam na disposição das corporações privadas de entrar com recursos para suplementar a lacuna cada vez maior do que não está sendo fornecido pelo estado. Somados esses dois comportamentos talvez se entenda porque os protestos contra o desmantelamento da ciência nacional que a PEC 241 irá inevitavelmente causar são ainda tão localizados. Mas, sinceramente, de alguns setores não se pode esperar nada mais do que adesismo puro simples.

Para mim esse comportamento do governo “de facto” de Michel Temer é completamente coerente com a proposta de inserção completamente dependente do Brasil à ordem econômica mundial que é comandada pelos grandes bancos internacionais. Para quem deseja que o Brasil viva cada vez mais dependente do rentismo, não faz mesmo sentido apoiar o desenvolvimento da ciência nacional. O negócio de Michel Temer et caterva é adquirir pacotes tecnológicos prontos, e o conhecimento autóctone que se dane.

Resta saber o que farão os cientistas brasileiros frente à essa ameaça de desconstrução que vem no bojo da aprovação da PEC 241. Mas é importante notar que a hora de reagir é agora. Depois talvez apenas reste o caminho do aeroporto para quem desejar continuar fazendo ciência de alto nível.

A extinção do MCTI e suas implicações para o desenvolvimento nacional

dark

Vou deixar de lado a discussão sobre a natureza golpista da assunção ao poder do presidente interino Michel Temer, pois acho que muitos outros blogueiros vão se dedicar a abordar esse aspecto do que está ocorrendo no Brasil.  Mas como professor universitário e pesquisador não posso deixar de lamentar a extinção do Ministério de Ciência, Tecnologia e Inovação e a colocação dos assuntos desta pasta numa espécie de puxadinho num novo ministério alcunhado com um estranhíssimo nome “Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações.

Algum esperançoso poderia dizer que ciência, tecnologia e inovação não pode ser um puxadinho num ministério que tem esses conceitos na prioridade do seu nome. Mas eu acredito que os engenheiros dessa extinção acham que podem enganar a comunidade científica (que terá mais a perder inicialmente com esse retrocesso) e o resto da população brasileira ao vincular o desenvolvimento tecnológico nacional à área de comunicações. Se fosse pelo menos a área de comunicação científica ainda poderia se entender, mas não é evidentemente o caso. Aliás, a entrega desse “novo” ministério a Gilberto Kassab não deixa nenhuma dúvida sobre o papel secundário que se pretende dar à ciência e tecnologia. É que tendo passado algum tempo no Ministério das Cidades,  a única coisa digna de ser notada que Kassab fez foi abandonar o governo Dilma para apoiar o seu impeachment,

A raiz do problema é que ao negar à ciência e tecnologia um ministério próprio, o que o presidente interino está apontando é o seu pouco caso com o desenvolvimento autônomo da produção do conhecimento que poderia nos transformar em um outro tipo de exportador, qual seja, de ciência e tecnologia.  Aliás, esse é o caso que está sendo adotado pela China que não apenas turbinou o orçamento do seu ministério da Ciência, mas como também já anunciou que pretende diminuir a dependência em relação à exportação de produtos manufaturados e aumentar o peso das transações comerciais apoiadas em tecnologia de ponta.  Diante dessa opção de Temer, o Brasil que ficou na poeira atrás da Coréia do Brasil, agora se arrisca a ser sumir no espelho da “Ferrari” científica que os chineses estão desenvolvendo.

Eu que voltei ao Brasil em 1998 em meio às tentativas do PSDB de privatizar as universidades federais, vi de tudo um pouco em relação ao descaso do governo federal com o necessário suporte para nos alçar enquanto uma potência científica e tecnológica. Agora, os sinais emitidos nas primeiras 24 horas do governo interino de Michel Temer mostram que se quer impor uma regressão ainda pior sobre a nossa capacidade de produzir ciência qualificada e efetivamente inovadora. Como a comunidade científica brasileira vai responder a esse ataque à sua própria existência é um mistério neste momento. Eu espero que não seja de forma conformista e acovardada, pois isto nos levaria mais rapidamente de volta ao Século XIX quando inexistiam universidades e centros de pesquisa científica no brasil. Parece trágico e é.