Vou deixar de lado a discussão sobre a natureza golpista da assunção ao poder do presidente interino Michel Temer, pois acho que muitos outros blogueiros vão se dedicar a abordar esse aspecto do que está ocorrendo no Brasil. Mas como professor universitário e pesquisador não posso deixar de lamentar a extinção do Ministério de Ciência, Tecnologia e Inovação e a colocação dos assuntos desta pasta numa espécie de puxadinho num novo ministério alcunhado com um estranhíssimo nome “Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações.
Algum esperançoso poderia dizer que ciência, tecnologia e inovação não pode ser um puxadinho num ministério que tem esses conceitos na prioridade do seu nome. Mas eu acredito que os engenheiros dessa extinção acham que podem enganar a comunidade científica (que terá mais a perder inicialmente com esse retrocesso) e o resto da população brasileira ao vincular o desenvolvimento tecnológico nacional à área de comunicações. Se fosse pelo menos a área de comunicação científica ainda poderia se entender, mas não é evidentemente o caso. Aliás, a entrega desse “novo” ministério a Gilberto Kassab não deixa nenhuma dúvida sobre o papel secundário que se pretende dar à ciência e tecnologia. É que tendo passado algum tempo no Ministério das Cidades, a única coisa digna de ser notada que Kassab fez foi abandonar o governo Dilma para apoiar o seu impeachment,
A raiz do problema é que ao negar à ciência e tecnologia um ministério próprio, o que o presidente interino está apontando é o seu pouco caso com o desenvolvimento autônomo da produção do conhecimento que poderia nos transformar em um outro tipo de exportador, qual seja, de ciência e tecnologia. Aliás, esse é o caso que está sendo adotado pela China que não apenas turbinou o orçamento do seu ministério da Ciência, mas como também já anunciou que pretende diminuir a dependência em relação à exportação de produtos manufaturados e aumentar o peso das transações comerciais apoiadas em tecnologia de ponta. Diante dessa opção de Temer, o Brasil que ficou na poeira atrás da Coréia do Brasil, agora se arrisca a ser sumir no espelho da “Ferrari” científica que os chineses estão desenvolvendo.
Eu que voltei ao Brasil em 1998 em meio às tentativas do PSDB de privatizar as universidades federais, vi de tudo um pouco em relação ao descaso do governo federal com o necessário suporte para nos alçar enquanto uma potência científica e tecnológica. Agora, os sinais emitidos nas primeiras 24 horas do governo interino de Michel Temer mostram que se quer impor uma regressão ainda pior sobre a nossa capacidade de produzir ciência qualificada e efetivamente inovadora. Como a comunidade científica brasileira vai responder a esse ataque à sua própria existência é um mistério neste momento. Eu espero que não seja de forma conformista e acovardada, pois isto nos levaria mais rapidamente de volta ao Século XIX quando inexistiam universidades e centros de pesquisa científica no brasil. Parece trágico e é.
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Caro Pedlovski,
Também me preocupa muito esta fusão. É evidente que as fusões e extinções de ministérios não foram feitas de maneira casual. As fuões nos ministérios de Ciência, Tecnologia e Comunicações, mas também Educação e Cultura indicam um forte desprezo por estas áreas. Você poderia imaginar se eles iriam fundir os ministérios de economia e de planejamento? Jamais!!!
Grande abraço
Julio Wasserman – Professor Titular Universidade Federal Fluminense
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Verdade, Júlio!
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Não se posicionaram contra a quebra da ordem democrática, as Associações de Ciência e tal, por omissão, contribuíram para a extinção do MCTI
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Disse tudo Marlene, estamos pagando pela omissão diante desse governo ilegítimo, que de forma arbitrária está causando o desmonte de setores essenciais do estado brasileiro como o MCTI.
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