A herança maldita da mineração: 18 barragens da Vale sob risco em Minas Gerais

Feam e MP notificam Vale por duas barragens na mina de Gongo Soco

vale barragens

O Governo do Estado, através da Fundação Estadual do Meio Ambiente (Feam), e o Ministério Público de Minas Gerais notificaram a Vale para que, no prazo de 10 dias, tome providências quanto a segurança das barragens Sul Superior e Sul Inferior, da mina de Gongo Soco, em Barão de Cocais, e do dique Paracatu, da mina Fazendão, em Catas Altas, além de outras 15 estruturas, em Itabira, Ouro Preto, Mariana, Itabirito, Nova Lima e Belo Vale.
 
Está sendo exigido da Vale relatório técnico fotográfico, acompanhado de anotação de responsabilidade técnica (ART), informando quais são as medidas executadas ou o respectivo cronograma detalhado para tomar as seguintes ações: mitigar e corrigir os processos erosivos instalados no
entorno das estruturas; fazer a manutenção e limpeza dos sistemas de drenagem interna, superficial e do extravasor; reduzir a contribuição pluvial da bacia de drenagem para o reservatório da barragem e garantir a manutenção de rotina da estrutura, realizando inclusive o controle de vegetação.
 
A notificação tem caráter preventivo e foi feita após constatado que as 18 barragens “apresentam ocorrências que devem ser tratadas para evitar prejuízos no funcionamento de suas estruturas, sendo todas elas de responsabilidade da Vale”, segundo informou o Governo do Estado. “Para essas barragens, as notificações solicitam medidas para o tratamento dos processos erosivos nos entornos e para a garantia da manutenção das estruturas”.
 
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Este texto foi inicialmente publicado pelo “Diário de Barão” [Aqui!].

Gongo Soco: estrago pode ser maior que o previsto pela Vale, alertam pesquisadores

Congo Soco - caminho da lama

Por Pedro Peduzzi – Repórter da Agência Brasil 

O estrago que o rompimento da barragem da Mina de Gongo Soco causará na região de Barão de Cocais (MG) poderá ser ainda maior do que o previsto no relatório dam break, apresentado pela Vale, empresa responsável pela mina.

O alerta é do Grupo Política, Economia, Mineração, Ambiente e Sociedade (PoEMAS), núcleo composto por pesquisadores e alunos com formações diversas, que se utiliza de conhecimentos econômicos, geográficos, sociológicos e de políticas públicas para analisar e avaliar os impactos que as redes de produção associadas à indústria extrativa mineral geram para a sociedade e para o meio ambiente.

Segundo o engenheiro e integrante do grupo Bruno Milanez, as projeções apresentadas no relatório da Vale subestimaram a capacidade destrutiva da onda, por não levar em consideração o aumento de sua densidade por conta dos objetos de médio e grande porte que seriam arrastados ao longo do percurso.

“O modelo que usaram foi baseado em onda de água, considerando a altura do rejeito e a velocidade. No entanto, o rejeito terá uma densidade maior, porque ao longo do trajeto a onda carregará também os objetos que estiverem pelo caminho”, disse à Agência Brasil o professor do Departamento de Engenharia da Produção da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) Bruno Milanez.

O engenheiro alerta que “se essa onda trouxer consigo objetos como troncos ou até mesmo caminhões, ela terá uma densidade ainda maior de rejeitos. Dessa forma, o potencial de destruição nas áreas amarela e verde [áreas que segundo o estudo não seriam atingidas ou seriam parcialmente destruídas] seria ainda maior”.

Vale

Agência Brasil entrou em contato com a Vale, para saber a posição da empresa sobre a crítica apresentada pelo integrante do PoEmas. A vale, no entanto, manifestou apenas seu posicionamento com relação ao prazo de 72 horas, dado pela juíza Fernanda Machado, da Vara de Barão de Cocais (MG), para que apresentasse o estudo dos impactos relacionados ao eventual rompimento das estruturas da Mina de Congo Soco.

“A Vale, no prazo fixado pela determinação judicial, apresentou o relatório mais atualizado de dam break da Barragem Sul Superior, explicando naquela oportunidade a adequação dos critérios técnicos”, diz a nota enviada pela Vale à Agência Brasil.

Movimento

Segundo a coordenadora nacional do Movimento pela Soberania Popular na Mineração (MAM), Maria Júlia Andrade, a forma como as informações estão sendo repassadas pela Vale é inadequada, o que tem gerado “pânico e terror” na população local. Maria Júlia diz que há uma preocupação muito grande, nos últimos dias, após ter vindo à tona a informação de que existe um talude da cava da mina prestes a desmoronar.

“Esse problema já existia, mas ele só veio à tona agora. E o maior problema é que esta cava está localizada muito perto, cerca de 300 metros, da barragem que já estava em risco máximo há mais de três meses”, disse a coordenadora.

Na avaliação do MAM, “as informações [sobre os riscos] são dadas a conta-gotas, e o pânico e o terror estão generalizados [na região]. As pessoas não sabem se o risco é real, não sabem se a barragem vai romper ou não. Só sabem que existe um pânico e um medo de uma bomba relógio em cima de suas cabeças”, disse.

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Este artigo foi originalmente publicado pela Agência Brasil [Aqui!].

Vídeos mostram a situação em Barão de Cocais pré-Tsulama de Gongo Soco

para onde correr

Os vídeos abaixo, os dois primeiros produzidos pela Defesa Civil de Minas Gerais e o terceiro de uma afiliada da Band, mostram a situação pré-ruptura do talude norte da cava de Gongo Soco na área que romperá e seus efeitos na população de Barão de Cocais (MG).

Informações vindas de Barão de Cocais dão conta que há uma grande insatisfação em relação à forma com que a Vale vem tratando mais esse rompimento de uma das suas barragens no estado de Minas Gerais.

Os vídeos abaixo podem ser considerados como um testemunho do que ainda virá e de porque não se pode deixar com que a narrativa da Vale seja a única a ser veiculada, visto que isto faz parte da estratégia da empresa de controle dos territórios destruídos pela ruptura de suas barragens de rejeitos.

 

 

Análise integrada de riscos aponta que perigo de Gongo Soco está sendo subestimado

GONGO SOCO AMEAÇA

Desde o início de fevereiro venho acompanhando com bastante preocupação a situação envolvendo a mina de Gongo Soco que a mineradora Vale opera (ou operava) no município de Barão de Cocais, quando foram soadas as sirenes de alerta para prevenir a população para um eventual ruptura da barragem de rejeitos Sul Superior (ver vídeo abaixo).

Eu, como a maioria das pessoas que acompanham o problema, tenho me atido a me preocupar com o volume de rejeitos que escapariam da barragem Sul Superior caso a mesma viesse a se romper, pois existem pelo menos 3 municípios na vizinhança imediata daquela estrutura (i.e, Barão de Cocais, Santa Bárbara e São Gonçalo do Rio Abaixo). É que as estimativas fornecidas pela Agência Nacional de Mineração (ANM) dão conta que algo em torno de 6 milhões de metros cúbicos de rejeitos estariam estocados na Sul Superior e, em caso de ruptura, poderiam atingir diretamente todas as áreas urbanas da vizinhança imediata em questão de poucas horas.

gongo-soco-barragem-sul-superior

Pois bem, hoje tive acesso a mais um conjunto de inspeções visuais realizadas pelo arquiteto e urbanista Frederico Lopes Freire que me levaram a concluir que os riscos apontados para uma possível ruptura do talude da cava da mina de Gongo Soco, e o possível que isso teria em causar o mesmo processo de liquefação que ocorreu em Mariana e Brumadinho na Sul Superior,  estão sendo subestimados.

Gongo Soco - foto - profundidade.jpg

Para explicar as análises visuais que apoiam esta conclusão mostro uma primeira imagem da cava da Gongo Soco que teria em torno de 200 metros de profundidade, algo em torno de 800 metros de comprimento e 150 metros de largura. Então com medidas estimativas, há ali um potencial de estocagem de  pelo menos 15 milhões de metros cúbicos de água, usando uma medida conservadora (ver figura abaixo).

Gongo Soco - água acumulada

Assim, ao risco que está sendo aventado de que a ruptura do talude resulte na liquefação da Sul Superior, há que se acrescentar a possibilidade de que pelo menos parte da água estocada na cava de Gongo Soco escape dali e force a ruptura, levando junto os rejeitos ali estocados. 

Gongo Soco 31-08-2018

Essa combinação de volume de água estocada na cava de Gongo Soco com os rejeitos da Sul Superior teria um potencial destrutivo bem maior do que aquele sendo estimado apenas para a sua simples liquefação. Além disso, a combinação de água e rejeito tornaria ainda mais ineficiente a construção para lá de tardia de um muro de contenção para os rejeitos que foi anunciado pela Vale neste sábado (18/05).

A figura abaixo mostra o percurso que o Tsulama de Gongo Soco assumiria após o rompimento da estrutura da Sul Superior, mostrando exatamente como Barão de Cocais receberia o primeiro impacto.

Congo Soco - caminho da lama

Algo que carece de maior esclarecimento é de porque não se tem divulgado informações para o risco integrado que a água estocada na cava de Gongo Soco e os rejeitos depositados na Sul Superior representa para a população e para o meio ambiente dos municípios que serão diretamente afetados por mais esse incidente causado pela Vale. Isto sem falar na bacia do Rio Doce que receberá outro impacto direto, não tendo ainda se recuperado do evento ocorrido em Mariana.

O pior é que ao se desconsiderar, ou pelo menos não se divulgar os riscos integrados, quem faz isto acaba jogando com a vida das pessoas que estão desinformadas sobre a possibilidade de que a área que será inundada pelo Tsulama da Gongo Soco seja maior do que está sendo divulgado.

 

Mais um Tsulama está pronto para ocorrer, agora em Barão de Cocais (MG)

gongo soco barragem sul superior

Barragem Sul Superior, que deverá romper entre os dias 19 e 25 de junho, segundo informações da mineradora Vale.

Após a ruptura das desastrosas rupturas que ocorreram em Mariana em Novembro de 2015 e em Brumadinho no dia 25 de janeiro, já é fato conhecido que  32 barragens da mineradora Vale que foram construídas seguindo basicamente o mesmo modelo que falhou duas vezes poderiam romper a qualquer momento.

gongo soco em

Agora, menos de quatro meses depois de Brumadinho, a própria Vale está admitindo que o próximo Tsulama deverá irromper no município de Barão de Cocais a partir da provável ruptura do talude principal da mina de Gongo Soco, a qualquer deverá levar ao rompimento da barragem Sul Superior (ver imagens abaixo).

O problema é particularmente grave porque o rompimento da barragem Sul Superior deverá atingir em sequência os municípios de Barão de Cocais, Santa Bárbara e São Gonçalo do Rio Abaixo (ver imagem abaixo).

Mapa de Barragem que pode estourar_Regiao central de MG-24-03-2019

Em matéria publicado pelo jornal “O TEMPO”, os jornalistas Lara Alves e Lucas Ragazzi informam que a área potencialmente inundável pelo que agora parece inevitável rompimento da barragem Sul Superior é de 72,5 Km, e deverá causar forte destruição em áreas urbanas e nos rios localizados à jusante do ponto de rompimento.

Em um esforço para minimizar as inevitáveis perdas que ocorrerão, o Ministério Público de Minas Gerais alertou a mineradora Vale que “informe à população de Barão de Cocais os riscos a que estão sujeitos em caso de ruptura de barragem da Mina Gongo Soco“, e que tome as providências necessárias para amenizar os graves impactos que se seguirão ao rompimento da barragem Sul Superior.

O problema é que tendo tido todo o tempo que teve para impedir a ocorrência de mais rompimento desastroso de uma de suas barragens, a Vale continuou tocando seus negócios como se nada de mais grave estivesse para ocorrer em função de sua opção corporativa de favorecer o lucro em prol da segurança de suas barragens.

Mas como eu já havia dito no caso de Brumadinho, não há nada de surpreendente em relação ao rompimento que deverá ocorrer  nos próximos dias em Barão de Cocais. Na verdade, o que está para acontecer é mais um incidente friamente calculado pela Vale, e que só ocorrerá porque as diferentes instâncias de governo existentes no Brasil decidiram se omitir das suas obrigações de monitorar de forma independente a condição estrutural das centenas de barragens de rejeitos de mineração que existem apenas no território de Minas Gerais.

E ainda temos de ouvir do presidente Jair Bolsonaro e do seu antiministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, que o licenciamento ambiental atrapalha o desenvolvimento econômico do Brasil e, que por isso, é preciso flexibilizar (i.e., fragilizar) os instrumentos de regulação ambiental existentes para conter minimamente a irresponsabilidade das corporações que dominam as atividades de mineração em nosso país.

ricardo salles

Ricardo Salles, antiministro do Meio Ambiente, está preparando uma ampla flexibilização do processo de licenciamento ambiental para favorecer ruralistas e mineradoras

Por fim, há que se lembrar que parte significativa dos rejeitos que deverão ser liberados em Barão de Cocais irão atingir a já combalida bacia hidrográfica do Rio Doce. É que segundo a Defesa Civil, topo da represa está a apenas 1,2 km do Rio São João, que pertence à bacia do Rio Doce, a mesma afetada pelo Tsulama de Mariana de 2015.

Rio Doce, tem mais uma morte anunciada

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Desde o dia o8 de fevereiro, quando se anunciou que a barragem (ou barragens) do complexo de Gongo Seco está em condição de rompimento, uma sirene (não as da Vale) deveria ter soado nos governos estaduais e municipais de Minas Gerais e Espírito Santo. Mas tanto os governadores Romeu Zema (MG) e Renato Casagrande (ES) preferiram gastar tempo precioso com as articulações pró-contrarreforma da previdência proposta pelo ministro Paulo Guedes, e nenhuma medida de urgência aparentemente foi tomada para impedir mais um assassinato do Rio Doce.

É que em meio às declarações da mineradora Vale sobre não haver razões para pânico já que os moradores dos arredores imediatos foram removidos de suas residências, essa aparentemente calma serve apenas para acalmar os ânimos dos detentores de suas ações.

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A verdade é que não motivo algum para calma caso a barragem (ou barragens) de rejeito da mina Gongo Soco, pois ali estão estocados algo em torno de 10 milhões de metros cúbicos do mesmo tipo de rejeito que escapou em Mariana e Brumadinho, e equivalente ao que escapou da mina do Córrego do Feijão. E mais, como no caso de Mariana, não se trata de atingir uns poucos moradores dos arredores, mas cidades inteiras que estarão no rastro da lama que deverá escapar de Gongo Soco, sendo que a primeira cidade a ser atingida será Barão de Cocais (ver primeira imagem abaixo).

Congo Soco - caminho da lama

Mas Barão de Cocais será a primeira de uma série de cidades vizinhas que receberão o grosso do impacto de uma eventual onda de lama (Tsulama, como eu já batizei) já que logo abaixo estão as cidades de Santa Bárbara e São Gonçalo do Rio Abaixo (ver imagem abaixo).

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Mas o detalhe que deveria estar incomodando tanto os governadores Romeu Zema e Renato Casagrande como dezenas de prefeitos de cidades que estão localizadas à jusante da barragem que ameaça romper em Gongo Soco é o fato de que um eventual Tsulama em Gongo Soco irá desembocar novamente no Rio Doce que ainda nem começou a se recuperar dos impactos causados pelo rompimento da barragem de Fundão em Mariana (ver imagem abaixo).

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E mais ainda, como Gongo Soco é apenas umas das muitas minas em condição de estabilidade duvidosa cujo rompimento enviaria novas ondas de lama para o Rio Doce, a verdade é que não há motivo para que se minimize o que está acontecendo neste momento em Barão de Cocais. A verdade é que estamos assistindo a mais uma morte anunciada do Rio Doce, enquanto as autoridades constituídas permitem mais uma vez que a Vale dite a narrativa dos acontecimentos e estabeleça um controle do território que dificultará qualquer acompanhamento independente dos impactos de mais essa tragédia anunciada.

O interessante é que há vários meses o arquiteto Frederico Lopes Freire, que traçou nas imagens acima o trajeto dos rejeitos que podem escapar de Gongo Soco, vem tentando alertar autoridades e representantes de empresas sobre os graves riscos que pairam sobre o Rio Doce em cujas margens ele vive. Até agora, os alertas de Lopes Freire caíram em ouvidos mocos e insensíveis.  Vamos ver como ficarão aqueles que se fingiram de surdos quando ele tentou avisar se o pior acontecer.

Rompimento é iminente na barragem de rejeitos da Vale em Barão de Cocais

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Sirene da barragem de Barão de Cocais é acionada e alerta sobe para nível mais crítico

Redação, Rádio Itatiaia

Foto: Reprodução/TV Globo

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A sirene da barragem da mina de Gongo Soco, localizada em Barão de Cocais, na Região Central do estado, tocou na noite desta sexta-feira. De acordo com a Defesa Civil de Minas, o nível de segurança da estrutura, que pertence à Vale, passou de 2 para 3, quando já há o risco iminente de rompimento.

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Barragem Sul Superior recebe rejeitos da mina de Gongo Soco da mineradora Vale em Barão de Cocais (MG).

No entanto, não será necessário fazer a evacuação do entorno da área, já que cerca de 500 moradores da região já foram retirados de casa no dia 8 de fevereiro, quando foi acionado o nível 2 da barragem. Na ocasião, foi esvaziada as áreas das comunidades de Socorro, Tabuleiro e Piteiras por determinação da Agência Nacional de Mineração (ANM), após uma consultoria avaliar que a barragem não era estável.

A Defesa Civil estadual marcou uma entrevista coletiva para as 23h desta sexta-feira, em Belo Horizonte, para dar mais detalhes da situação da barragem em Barão de Cocais.


Esta matéria foi originalmente publicada pela Rádio Itatiaia [ Aqui!]