Desde o início de fevereiro venho acompanhando com bastante preocupação a situação envolvendo a mina de Gongo Soco que a mineradora Vale opera (ou operava) no município de Barão de Cocais, quando foram soadas as sirenes de alerta para prevenir a população para um eventual ruptura da barragem de rejeitos Sul Superior (ver vídeo abaixo).
Eu, como a maioria das pessoas que acompanham o problema, tenho me atido a me preocupar com o volume de rejeitos que escapariam da barragem Sul Superior caso a mesma viesse a se romper, pois existem pelo menos 3 municípios na vizinhança imediata daquela estrutura (i.e, Barão de Cocais, Santa Bárbara e São Gonçalo do Rio Abaixo). É que as estimativas fornecidas pela Agência Nacional de Mineração (ANM) dão conta que algo em torno de 6 milhões de metros cúbicos de rejeitos estariam estocados na Sul Superior e, em caso de ruptura, poderiam atingir diretamente todas as áreas urbanas da vizinhança imediata em questão de poucas horas.
Pois bem, hoje tive acesso a mais um conjunto de inspeções visuais realizadas pelo arquiteto e urbanista Frederico Lopes Freire que me levaram a concluir que os riscos apontados para uma possível ruptura do talude da cava da mina de Gongo Soco, e o possível que isso teria em causar o mesmo processo de liquefação que ocorreu em Mariana e Brumadinho na Sul Superior, estão sendo subestimados.
Para explicar as análises visuais que apoiam esta conclusão mostro uma primeira imagem da cava da Gongo Soco que teria em torno de 200 metros de profundidade, algo em torno de 800 metros de comprimento e 150 metros de largura. Então com medidas estimativas, há ali um potencial de estocagem de pelo menos 15 milhões de metros cúbicos de água, usando uma medida conservadora (ver figura abaixo).
Assim, ao risco que está sendo aventado de que a ruptura do talude resulte na liquefação da Sul Superior, há que se acrescentar a possibilidade de que pelo menos parte da água estocada na cava de Gongo Soco escape dali e force a ruptura, levando junto os rejeitos ali estocados.
Essa combinação de volume de água estocada na cava de Gongo Soco com os rejeitos da Sul Superior teria um potencial destrutivo bem maior do que aquele sendo estimado apenas para a sua simples liquefação. Além disso, a combinação de água e rejeito tornaria ainda mais ineficiente a construção para lá de tardia de um muro de contenção para os rejeitos que foi anunciado pela Vale neste sábado (18/05).
A figura abaixo mostra o percurso que o Tsulama de Gongo Soco assumiria após o rompimento da estrutura da Sul Superior, mostrando exatamente como Barão de Cocais receberia o primeiro impacto.
Algo que carece de maior esclarecimento é de porque não se tem divulgado informações para o risco integrado que a água estocada na cava de Gongo Soco e os rejeitos depositados na Sul Superior representa para a população e para o meio ambiente dos municípios que serão diretamente afetados por mais esse incidente causado pela Vale. Isto sem falar na bacia do Rio Doce que receberá outro impacto direto, não tendo ainda se recuperado do evento ocorrido em Mariana.
O pior é que ao se desconsiderar, ou pelo menos não se divulgar os riscos integrados, quem faz isto acaba jogando com a vida das pessoas que estão desinformadas sobre a possibilidade de que a área que será inundada pelo Tsulama da Gongo Soco seja maior do que está sendo divulgado.
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