Concedi nesta 2a. feira uma entrevista ao jornalista Anderson , âncora do tradicional programa “Faixa Livre” sobre o atual momento de mobilização dos professores da Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy Ribeiro (Uenf) em prol da implementação do novo Plano de Cargos e Vencimentos (PCV) que foi aprovado pelo Conselho Universitário da instituição em 2021 e até não foi enviado pelo governador Cláudio Castro para apreciação pela Assembleia Legislativa do estado do Rio de Janeiro (Alerj).
É importante enfatizar a paciência demonstrada pelos servidores da Uenf em face do imenso desrespeito com quem têm sido tratados pelo governo de Cláudio Castro. Assim, se agora se fala em uma posição greve, o grande responsável por essa possibilidade é o governador.
As próximas semanas deverão ser decisivas para o destino do novo PCV da UENF e os professores, organizados pela ADUENF, deverão deixar ainda mais clara a sua disposição de lutar pelos seus direitos, continuamente desrespeitados pelo governador de plantão.
Após esperarem por mais de 4 anos a implementação do seu novo Plano de Cargos e Vencimentos (PCV), os professores da Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy Ribeiro (Uenf) decidiram em uma assembléia representativa, e por ampla maioria, se colocar em estado de greve a partir de hoje (29/10).
Além de se colocar em estado objetivo de preparação para uma greve geral caso o governador Cláudio Castro não envie o novo PCV da Uenf para ser apreciado pela Alerj no mês de novembro, os professores decidiram ainda formar um Comando de Mobilização, o qual será responsável por organizar atos e mobilizações em defesa da universidade pública e do respeito aos servidores.
Como primeira atividade desse estágio pré-greve, os professores decidiram que irão estar presentes na Alerj no dia 3 de novembro para a audiência pública que será realizada para analisar os impactos da Reforma Administrativa sobre os servidores públicos estaduais, a qual também deverá atingir todos os servidores da Uenf.
A assembléia de hoje foi a maior desde o encerramento da greve geral dos professores que ocorreu em 2017 quando os salários deixaram de ser pagos pelo governador Luiz Fernando Pezão.
Eles nos empurraram para uma greve e agora tentam nos ameaçar com judicialização. Mas a verdade é que o governo está em uma posição delicada
*Wallace Rafael Rocha Lopes
No sábado, 22 de junho, o site Metrópoles publicou uma matéria dizendo que, na próxima semana, a AGU acionará o STJ para decretar a ilegalidade da greve do Ibama. “Acabou a paciência. Virou mais uma questão política que de direito sindical”, afirmou um ministro do governo, sob reserva.
Quem acompanha esse processo de negociação desde o início e viu tantos verdadeiros absurdos acontecerem sabe que isso já era esperado. Eles nos empurraram para uma greve e agora tentam nos ameaçar com judicialização. Mas a verdade é que o governo está em uma posição delicada.
Eles sabem que nossa reestruturação é uma questão de justiça e que não promovê-la tem um custo político enorme, pois revela uma incoerência retumbante deste governo, que prefere pagar bem mais para um agente penitenciário ou qualquer outro policial do que para um analista ou técnico ambiental que, além de combater em campo facções criminosas fortemente armadas que se espalharam feito ratazanas pela Amazônia, ainda é responsável pela proteção direta de mais de 20% de todo o território nacional, pelo licenciamento de atividades e estruturas complexas, como usinas hidrelétricas e plataformas de petróleo, além de lidar com uma infinidade de questões socioambientais e climáticas que afetam a vida de todos nós. Nossa luta é por justiça salarial e igualdade de tratamento dentro do Executivo, apenas isso.
A preocupação com o desgaste político e as consequências imprevisíveis de um governo dito progressista retaliar os servidores ambientais é tão grande que o ministro responsável pela informação de judicialização é um sujeito oculto na matéria. Quem será? Por que não quis se identificar, mas não achou problema nenhum que a matéria fosse publicada?
A pergunta que fica é: será mesmo que este governo vai assumir, diante do Brasil e do mundo, uma postura persecutória contra os servidores da área ambiental, já tão assediados e humilhados no governo Bolsonaro? Mesmo com os servidores contando com o massivo apoio de boa parte de parlamentares (de direita, de centro e de esquerda), dos movimentos sociais pela causa ambiental e animal, dos artistas e da imprensa nacional e internacional que acompanhou e continua acompanhando toda a nossa trajetória de luta pela sobrevivência?
Se isso realmente acontecer, será um choque de realidade para muita gente, inclusive para muitos de nós que acreditaram que os tempos seriam outros depois de ajudarmos a colocar Bolsonaro na lata de lixo da história e de enfrentarmos com coragem e abnegação os milicianos escolhidos a dedo por Salles e seus asseclas para frear nosso ímpeto em proteger nossos indígenas, as unidades de conservação, nossa fauna, flora, biodiversidade e toda a política ambiental que ajudamos a construir.
Eu prefiro acreditar que este governo, e aqui leia-se LULA, coloque a mão na consciência, seja minimamente coerente com sua história sindicalista e com suas nítidas pretensões de se tornar uma referência mundial na questão ambiental e climática, e determine, ainda no início desta semana, a retomada das negociações que foram encerradas unilateralmente pelo representante designado no Ministério da Gestão e da Inovação em Serviços Públicos (MGI), sem sequer analisar nossa proposta e muito menos a contraproposta que construímos na tentativa de facilitar um acordo.
Todo esse processo de negociação começou em outubro de 2023 e de lá para cá os servidores sempre se mostraram dispostos a colaborar na construção de um acordo que considere a realidade dos dois lados da mesa, e não seja simplesmente uma imposição do “empregador” sobre o “empregado”, o que seria mais uma incoerência vexatória para um governo do dito “partido dos trabalhadores”.
Talvez seja válido lembrar que, nesses meses em que estivemos mobilizados, nós conseguimos mostrar para o mundo a relevância do nosso trabalho para o futuro de toda a humanidade, só que agora de uma outra forma. Digo de uma outra forma porque nós estamos mais acostumados a fazer isso literalmente doando nossas vidas em campo, como foi o caso dos nossos colegas Olavo, Rochinski, Raimundo, Welington, Gaspar e tantos outros. Tudo isso para que os representantes desse país possam estufar o peito cheio de orgulho na frente de chefes de Estado de outros países para dizerem “nós estamos fazendo a nossa parte e agora os países ricos precisam fazer a sua”.
Agora isso não será mais possível. O voluntarismo que fez a gente entregar os resultados de 2023, como a redução contundente do desmatamento na Amazônia, com a mesmíssima estrutura combalida que foi herdada do governo anterior, não existe mais. Agora, o que nos move é a certeza de que somente com um MMA, Ibama, ICMBio e SFB fortalecidos nós iremos parar de enxugar gelo e caminhar para uma sustentabilidade verdadeira. E isso começa com servidores públicos valorizados.
E é por isso que, mesmo que este governo continue esse show de incoerências, mesmo que toda a nossa depauperada estrutura ainda assim seja considerada essencial e que sobrevenha uma improvável decisão judicial contra um direito que também pertence aos trabalhadores e trabalhadoras da área ambiental, nossa luta vai continuar e cada vez mais fortalecida. Vão descobrir da pior forma que, do jeito que a área ambiental foi e continua sendo relegada, nós servidores só teremos condição de fazer o ordinário, e talvez nem isso. Sem o nosso EXTRAordinário, a área ambiental naturalmente morrerá por inanição. Sem o nosso sangue e suor, não tem Marina na lista de personalidades da revista Time; não tem Lula discursando bonito na COP; não tem desenvolvimento, muito menos um que seja sustentável.
Que venha o assédio judicial, moral e institucional… que venham os abusos, as perseguições e a imposição de toda a cartilha do governo Bolsonaro contra os servidores ambientais mais uma vez. Nós continuaremos aqui honrando o nosso compromisso com a sociedade e lutando para que meio ambiente e sustentabilidade sejam mais que palavras bonitas para florir discursos políticos.
*Wallace Rafael Rocha Lopes é diretor adjunto da Ascema Nacional (Associação Nacional dos Servidores da Carreira de Especialista em Meio Ambiente), sendo analista ambiental do Ibama desde 2009, onde já atuou em diversas áreas. Compõe o quadro de Agentes Ambientais Federais e Coordenadores de Operações de Fiscalização Ambiental no Cerrado e na Amazônia. É bacharel e mestre em Engenharia Ambiental (UFT) e doutorando em Desenvolvimento Sustentável (UnB). É membro da Frente Ampla de Desenvolvimento Socioambiental (FADS).
Lula fez diversas manifestações contra a greve realizada por professores e servidores de universidades e institutos federais
Em mais uma manifestação irritada contra a greve realizada por professores e técnicos de universidades e institutos federais, o presidente Lula declarou que não teria medo de reitores porque não que teriam sido eles que teriam “mordido” o seu dedo mindinho (aquele que ele perdeu em uma prensa mecânica nos tempos em que era metalúrgico).
Essa é mais uma manifestação reveladora da postura do governo Lula curiosamente contra um segmento que o apoiou de forma majoritária durante o período em que ficou preso em Curitiba e também no duro embate eleitoral travado em 2022 contra Jair Bolsonaro. É que ao negar algo minimamente próximo ao mesmo tipo de reposição salarial concedida à policiais federais e a policiais rodoviários federais (categorias que claramente formaram a linha de frente de apoio a Bolsonaro), Lula mostra algo mais profundo que é o descompromisso com o fortalecimento das universidades e institutos federais cujos orçamentos estão muito aquém do que seria preciso para recuperar as perdas ocorridas sob Bolsonaro.
Ao negar o fortalecimento não apenas dos salários de professores e técnicos, mas principalmente a recomposição da condição orçamentária das universidades federais, Lula apenas confirma seu descompromisso com o desenvolvimento científico e tecnológico do Brasil. É que até as emas do Palácio do Planalto sabem que é nas universidades federais que se produz mais de 90% da ciência nacional. Assim, ao se negar a recompor as perdas salariais acumuladas ao longo dos últimos anos e manter as universidades em condição de penúria, Lula literalmente mantém as linhas gerais adotadas por Bolsonaro.
Enquanto o Brasil investe em uma agricultura altamente predatória, a China faz investimentos massivos em desenvolvimento científico e tecnológico
Apenas por comparação, a China que está se tornando a principal potência científica do mundo vem aumentando de forma consistente o orçamento investido em desenvolvimento científico e tecnológico. Enquanto isso, a opção brasileira é por investir em torno de R$ 360 bilhõespara apoiar principalmente o latifúndio agro-exportador que não precisa de muita tecnologia para produzir commodities que serão compradas majoritariamente pelos chineses que cada vez mais nos vendem produtos com alto valor agregado (curiosamente quase o mesmo valor investido pela China em desenvolvimento científico e tecnológico). O resultado deste tipo de troca altamente desigual nós já sabemos: alto nível de desenvolvimento para os chineses, enquanto que para o Brasil sobra poluição de águas e solos pelo uso excessivo de fertilizantes e agrotóxicos, desmatamento e diminuição de recursos hídricos.
A questão que me parece clara é que os seguidos ataques de Lula ao movimento grevista nas universidades federais reflete mais a sua opção de país que ele quer que o Brasil seja do que qualquer preocupação com a falta de aulas para os estudantes. E no caso, o país que se desenha a partir dessas declarações que continuará atrasado tecnologicamente e cada vez mais dependente e controlado pelas oliquarquias agrárias que sempre controlaram os rumos da sociedade brasileira.
As universidades e institutos federaisestão neste momento em meio a um processo de greve que deve paralisar a maioria dessas instituições. As demandas são muitas e incluem não apenas a necessária recomposição de salários corroídos por anos sem recomposição sequer das perdas inflacionárias, mas também de orçamentos que hoje ameaçam inviabilizar essas instituições estratégicas para o desenvolvimento nacional.
O governo Lula, ao contrário do que prometeu na campanha eleitoral, vem impondo também na educação federal a sua agenda neoliberal e, com isso, não apenas se recusa a negociar com os sindicatos, mas continua asfixiando financeiramente as instituições. Desta forma, restou aos servidores de universidades e institutos federais o caminho da mobilização. Assim, o Brasil assiste neste momento o nascimento de um movimento grevista que busca o cumprimento das promessas desprezadas em nome da obediência ao “novo teto de gastos” que apenas serve aos interesses dos agentes do rentismo, a começar pelas grandes instituições financeiras que hoje controlam a economia brasileira.
Curiosamente tenho lido uma série de manifestações nas redes sociais vindas daquilo que pode se chamar de “intelectuais consentidos” que não apenas condenam o movimento de greve, mas que imputam a ele a chance de que a dita reforma administrativa seja mais facilmente aprovada pelo congresso nacional. É preciso que se esclareça que essa reforma administrativa que visa solapar o caráter público do funcionalismo estatal vem avançando sob os olhares plácidos do governo Lula em um misto de tolerância e cumplicidade.
Um dos argumentos que são usados pelo que eu estou chamando de “intelectuais consentidos” é de que este não é o momento de fazer greve, pois o governo Lula estaria, digamos, encurralado pela extrema-direita no congresso nacional. Além disso, se diz que se não houve greve no governo Bolsonaro, por que se fazer no de Lula? Ora, essa me parece uma questão óbvia, pois nem sempre as condições materiais são suficientes para que haja uma greve, há que existir as condições políticas. Curiosamente, o abandono do governo Lula de seus compromissos de campanha foi quem criou as condições políticas para que um movimento grevista pudesse ocorrer.
Como alguém que já está em uma universidade pública desde 1998, já muita coisa, inclusive a ação de docentes que negavam a necessidade do confronto para se obter melhorias orçamentárias e salariais. No caso da Universidade Estadual do Norte Fluminense, os grandes avanços que tivemos sempre resultaram de greves, nunca se dando chance a uma súbita disposição dos governantes para conceder o óbvio. Mas o que assisto hoje me parece estar diretamente alinhado com a hegemonia neoliberal na sociedade brasileira, inclusive dentro dos segmentos que se dizem de esquerda dentro das universidades públicas. É a supremacia das ideias de empreendedorismo e do mérito pessoal sobre as demandas coletivas e de natureza universalista.
E antes que eu me esqueça, uma definição sobre o que seriam intelectuais consentidos. Eles seguem o figurino daquilo que eu identifiquei como “menudos neoliberais” no governo desastroso de Rafael Diniz em Campos dos Goytacazes. A maioria deles aparece sempre usando os melhores figurinos da moda, seguem um perfil estético engomadinho, e são aqueles que sempre aparecem como figurinhas carimbadas em programas de TV e rádio da mídia corporativa. Por isso tudo, eles são consentidos.
Finalmente, de minha parte deixo clara a minha posição de apoio à greve nas universidades e institutos federais. Essa mobilização mostra o caminho que precisamos seguir para defender o ensino público superior. Na Uenf já tarda a hora de começarmos um movimento que faça o governo de Cláudio Castro a cumprir seus compromissos, a começar pelo pagamento da recomposição das perdas inflacionárias.
Os servidores de agências ambientais do governo federal interromperam as operações de campo e poderão interromper completamente o trabalho
Grupo de fiscalização do Ibama encerra operação de mineração ilegal em floresta nacional brasileira em 2018. Crédito: Felipe Werneck/Ibama
Por Meghie Rodrigues para a Nature
No último mês, os trabalhadores das agências ambientais do governo federal estiveram parcialmente em greve: pararam de trabalhar no campo, onde realizam vigilância do desmatamento e ajudam a encerrar operações ilegais de mineração. Mas, se as suas exigências não forem satisfeitas, poderão em breve aumentar a pressão sobre o governo e parar completamente de trabalhar – o que poderá interromper a investigação que ajuda na elaboração de políticas ambientais.
Funcionários do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA), órgão de proteção ambiental do país; o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), que administra as áreas protegidas do país; e o Serviço Florestal Brasileiro (SFB) pedem desde 2017 mais recursos e melhores salários.
A administração do atual presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, emitiu no ano passado um aumento de 9% para todos os funcionários públicos depois que ele assumiu o cargo. Mas os trabalhadores ambientais não receberam aumento nos últimos sete anos, e o aumento salarial não é suficiente para conter a inflação, dizem eles. Seu sindicato, a Associação Brasileira de Carreiras Ambientais (Ascema Nacional), aponta que, de 2003 a 2023, cerca de 720 trabalhadores ambientais foram demitidos para ocupar outras funções governamentais – o que significa que os que permanecem estão sobrecarregados.
Não só estão sobrecarregados de trabalho, dizem os funcionários, mas a sua segurança também está em risco. No terreno, têm de lidar com pessoas ligadas ao crime organizado, como garimpeiros ilegais e grileiros de terras.
Trabalhadores do IBAMA e do ICMBio colaboraram em operação conjunta de combate a incêndios na Amazônia em 2019. Crédito: Vinícius Mendonça/Ibama
“Por causa da baixa remuneração, temos perdido pessoal para carreiras mais atraentes, até mesmo no serviço público”, diz Alexandre Gontijo, membro do conselho de administração da Ascema Nacional e especialista ambiental da BFS. “Nossas responsabilidades aumentam enquanto o número de servidores diminui e as coisas ficam mais difíceis à medida que o trabalho se acumula. Vigilar a Amazônia, por exemplo, não é uma tarefa trivial.”
A Ascema Nacional se reunirá com representantes do Ministério do Meio Ambiente e Mudanças Climáticas do Brasil e do Ministério de Gestão e Inovação em Serviços Públicos no dia 1º de fevereiro para discutir as demandas e se os trabalhadores irão suspender adicionalmente o trabalho administrativo.
Embora preocupados com as consequências, os pesquisadores brasileiros apoiam o movimento e apelam ao governo Lula para que invista nos seus trabalhadores. “Se o meio ambiente está no centro da política externa do Brasil, apoiar os trabalhadores na área deveria ser uma política interna fundamental”, diz Erika Berenguer, pesquisadora de incêndios na Amazônia na Universidade de Oxford, no Reino Unido. “É fundamental valorizar quem coloca o próprio corpo na linha de frente.”
Em comunicado à Nature , o Ministério da Administração brasileiro disse que realizou 21 mesas redondas no ano passado para negociar com funcionários federais de vários departamentos. Disse ainda que está trabalhando dentro dos limites orçamentários para atender às demandas.
Sentindo os impactos
Funcionários do IBAMA entraram em greve no dia 2 de janeiro, e trabalhadores de outros órgãos ambientais fizeram o mesmo alguns dias depois. O seu objectivo era trazer o governo de volta à mesa de negociações. No passado mês de Outubro, a Ascema Nacional reuniu-se com o ministério da gestão, mas não foi alcançada qualquer resolução. “O governo prometeu nos dar uma resposta em 30 a 45 dias, mas não obtivemos nenhuma”, diz Cleberson Zavaski, presidente do sindicato e especialista ambiental do ICMBio.
Neste momento, diz Zavaski, o único trabalho de campo em curso é o realizado sob ordem judicial e para fazer face a emergências ou perigos, como grandes incêndios florestais. “Ficam congeladas a fiscalização e licenciamento ambiental, a prevenção de incêndios florestais e as pesquisas de campo com animais peçonhentos, por exemplo. Apenas o trabalho de escritório está totalmente operacional”, acrescenta.
Cerca de 90% de todos os especialistas ambientais federais estão participando da greve parcial, diz Zavaski. De acordo com o Painel de Estatística de Pessoal do Brasil e a Ascema Nacional, há cerca de 4.800 trabalhadores ambientais ativos nas agências federais do Brasil.
Após a greve, apenas 16 fiscais ambientais permanecem em campo no Brasil, dois dos quais estão na Amazônia, segundo o sindicato. E os impactos começam a ser sentidos: os fiscais emitiram 93% menos multas ambientais na Amazônia durante as duas primeiras semanas de janeiro do que no mesmo período do ano passado.
Mudança estrutural
O fato de a greve ter acontecido durante o mandato de Lula é surpreendente para alguns. Sob o seu antecessor – Jair Bolsonaro, um líder favorável à indústria – a desflorestação na Amazónia atingiu o máximo dos últimos 15 anos e mais de 180 mil multas ambientais, no valor de 1,3 mil milhões de reais (260 milhões de dólares), foram anuladas. “A perda de recursos e os ataques públicos dificultaram muito o nosso trabalho [sob Bolsonaro], mas fizemos um esforço de resiliência para continuar trabalhando”, diz Gontijo. “Aí entrou Lula e, embora tenhamos tido apoio institucional público e o fim dos ataques, não tivemos mudança estrutural.”
Emcomunicado público no início deste mês, o Ministério do Meio Ambiente, que abriga os órgãos em greve, disse que, após negociações no ano passado, enviou ao Ministério da Gestão um pedido para realizar chamadas públicas para preencher cerca de 3.300 vagas de pessoal no IBAMA, ICMBio e Jardim Botânico do Rio de Janeiro.
Os pesquisadores estão ansiosos para que as negociações dêem frutos esta semana. Celso Silva Jr, pesquisador de sensoriamento remoto e uso da terra do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia, em Brasília, afirma que a vigilância e a fiscalização são fundamentais para reprimir o desmatamento ilegal na Amazônia. A greve suscita preocupação “porque a reversão da actual tendência decrescente [na desflorestação] resultaria numa maior perda de biodiversidade e de emissões de carbono para a atmosfera”.
O ano de 2024 começa no ritmo de alta tensão dentro dos servidores públicos federais à luz das políticas restritivas impostas pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad, para uma reposição linear das perdas salariais acumuladas nos últimos anos. A temperatura subiu ainda mais com o anúncio de que o governo Lula anunciou um reajuste salarial escalonado para seis cargos na Polícia Federal (PF) e na Polícia Rodoviária Federal (PRF). O acordo abrange as carreiras de delegado, perito criminal, agente, escrivão e papiloscopista na PF, além dos policiais rodoviários federais.
O problema fica ainda mais evidente com a decisão dos servidores do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente (IBAMA) anunciaram já no dia 1 de janeiro que se restringirão à realizar atividades internas em face do descaso com as suas demandas salariais e de condições de trabalho (ver imagem abaixo).
A verdade é que apesar de todas os acenos feitos em suas viagens internacionais, o presidente Lula ainda está devendo ações concretas para valorização dos servidores não apenas do IBAMA, mas também do ICMBio, na medida em que eles estão na linha de frente da defesa das florestas brasileiras, mas sem a devida valorização ou condições mínimas de trabalho.
“Estamos lutando para que aqueles de nós que fazem a maior parte do ensino e da pesquisa não tenham que viver com altos encargos de aluguel e dívidas, enquanto administradores bem pagos vivem em mansões com financiamento público”, explicou um líder grevista
Por Brett Wilkins para o “Nation of Change”
Cerca de 48.000 trabalhadores acadêmicos sindicalizadosem cada campus da Universidade da Califórnia começaram na segunda-feira o que está sendo chamado de “a maior greve do ensino superior na história dos Estados Unidos”, exigindo um salário digno e melhores benefícios e condições de trabalho.
Trabalhadores em greve incluem assistentes de ensino, bolsistas de pós-doutorado, pesquisadores de pós-graduação, tutores e bolsistas nos 10 campi da UC, bem como funcionários do Laboratório Nacional Lawrence Berkeley.
Os grevistas – que são membros do United Auto Workers (UAW) 2865, UAW 5810 e Student Research United-UAW – estão buscando salários mais altos, reembolso de creche, proteção de segurança no trabalho, incentivos de trânsito sustentável, eliminação de taxas para pesquisadores estudantes internacionais e melhor acesso para deficientes.
Mondello também disse que 25 queixas de práticas trabalhistas injustas foram registradas contra a UC no Conselho de Relações Públicas de Emprego do estado, que em vários casos encontrou evidências que apoiam as reivindicações dos trabalhadores.
“Nossas propostas trazem a todos um salário suportável”, afirmou ela. “Estamos, como um todo, apenas pedindo para sermos tratados com dignidade. Nós realmente mantemos a UC funcionando.”
Segundo o Times :
Os grevistas da UC Irvine começaram a se manifestar no campus às 8h30, enquanto as greves em alguns outros campi foram marcadas para as 9h, incluindo UC Davis e UC San Francisco. Os 48.000 trabalhadores, representados por quatro unidades de negociação do UAW, exigiram salários-base de US$ 54.000, um aumento salarial que mais do que dobraria o salário médio atual de cerca de US$ 24.000 anualmente. A UC ofereceu um aumento salarial de 7% no primeiro ano e de 3% em cada ano seguinte, mas os trabalhadores dizem que isso não é suficiente.
Lavanya Nott, 30, estudante de pós-graduação e pesquisadora da UCLA, disse que ganha US$ 24.000 por ano com seu trabalho e cerca de US$ 2.000 a mais como aluna.
“É quase impossível morar em Los Angeles ou na maioria das cidades da Califórnia”, disse ela ao Times . “Muitos de nós temos um segundo ou terceiro emprego. Estamos sempre pensando em como temos pouco dinheiro e como estamos limitados financeiramente, e acho que isso nos daria um pouco de paz de espírito e liberdade para focar em nosso trabalho e ter alguma dignidade. Só queremos ser tirados da pobreza.”
O presidente do UAW 2865 e trabalhador graduado da UCLA, Rafael Jaime , disse ao Guardian que “estamos lutando para que aqueles de nós que fazem a maior parte do ensino e da pesquisa não tenham que viver com altos encargos de aluguel e dívidas, enquanto os administradores altamente pagos vivem em países financiados pelo governo. mansões”.
Jacob Kemner, um estudante de doutorado em estudos ambientais na UC Riverside que ganha cerca de US$ 28.000 por ano, disse que doa plasma sanguíneo duas vezes por semana para cerca de US$ 200 em renda suplementar.
“Estou ganhando dinheiro com a venda de plasma”, disse Kemner aoThe Washington Post . “Sou menos capaz de ser eficaz em meu trabalho por causa disso, porque passo de seis a 10 horas indo e voltando do centro de doação de plasma. Se eu não estivesse gastando tempo com isso, poderia estar planejando aulas e avaliando.”
Bernard Remollino, pesquisador e assistente de ensino da UCLA, disse que durante a maior parte do ano letivo de 2018-2019 ele morou fora de seu carro porque não tinha dinheiro para morar.
“A situação dos aluguéis em Los Angeles era insustentável tanto nas residências dos estudantes de pós-graduação quanto no mercado privado”, disse ele ao Guardian . “É fisicamente desgastante tentar economizar e economizar e sentir que esses esforços foram em vão. Tinha que haver mais dignidade no trabalho do que isso.”
“Esta ação está acontecendo devido ao fracasso da UC em apoiar uma força de trabalho diversificada. Essa falha prejudica a qualidade da pesquisa e da educação”, acrescentou Remollino. “A UC funciona porque nós trabalhamos. Ele funciona com o trabalho intelectual, emocional e físico de seus trabalhadores acadêmicos, mas, apesar de nossas contribuições, trabalhamos em condições difíceis e somos severamente subcompensados.”
Este texto escrito originalmente em inglês foi publicado pelo site “Nation of Change” [Aqui!].
Trabalhadores do Porto do Açu prosseguem com manifestação nesta sexta-feira (8)
Por Isis Rodrigues para o Portal OZK
Trabalhadores de duas empresas do Complexo Portuário do Açu, em São João da Barra, realizam uma nova manifestação na manhã desta sexta-feira (8), na altura da localidade de Rua Nova – 5º Distrito. Hoje é o terceiro dia consecutivo de protesto.
De acordo com informações obtidas pelo Portalozk.com , duas empresas do Porto estariam realizando demissões em massa sem pagar os direitos dos colaboradores. Além disso, eles reivindicaram a falta de plano de saúde. A Andrade Gutierrez informou que “os acessos ao Porto Açu estão liberados”. Os ônibus foram parados na altura de Rua Nova.
Nesta quinta houve uma reunião das duas empresas para tentar avançar nas negociações. Já que os trabalhadores querem que o final de ano seja pago trabalhando aos sábados até fevereiro e nem todos tem previsão de quando serão demitidos.
Confira as reivindicações: equiparações de salário, auxílio moradia, Ticket alimentação, folga de campo, forma de pagamento de dias em relação ao final de ano.
Nesta quarta, por volta das 08h, após não ter acordo, os trabalhadores foram liberados para suas casas.
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Esta nota foi originalmente publicada pelo Portal OZK New [Aqui!].
Trabalhadores das empresas Andrade Gutierrez e Acciona no Porto do Açu estão mobilizados para lutar por seus direitos trabalhistas
A implantação e o funcionamento do Porto do Açu no litoral norte do Rio de Janeiro têm sido marcados pela eclosão de movimentos paredistas organizados por trabalhadores que denunciam de tempos em tempos a realização de demissões em massa sem que sejam pagos os direitos trabalhistas devidos.
Após algum tempo de aparente calmaria no interior do Porto do Açu, há desde ontem (06/11) um forte movimento que impede a chegada dos trabalhadores no interior do megaempreendimento construído pelo Grupo EBX do ex-bilionário Eike Batista e hoje controlado pelo fundo de “private equity” EIG Global Partners.
Segundo o Portal OZK, o movimento paredista iniciado ontem é realizado por trabalhadores das empresas Andrade Gutierrez e Acciona que se mobilizam por causa do descumprimento de direitos devidos em processos de demissão.
Essa situação vai de encontro à imagem cuidadosamente pintada de que o Porto do Açu seria uma espécie de redenção para os problemas sociais existentes em São João da Barra e nos municípios que o circundam. A verdade é que, mais uma vez, os trabalhadores do porto são obrigados a impedir o seu funcionamento para garantir o pagamento de direitos.
Essa não é a primeira vez que isto ocorre e, muito provavelmente, não será a última. É que como no caso das desapropriações, o que vale é o lema do “farinha pouca, meu pirão primeiro”. Como no caso dos agricultores desapropriados por Sérgio Cabral, os trabalhadores do Porto do Açu são aquelas que ficam sem a farinha e o pirão.