Barragem de rejeitos da Arcelormittal, em Itatiaiuçu (MG), subiu para o Nível 3 de Emergência

Atingidos que vivem no entorno da barragem ficaram sabendo através da imprensa sobre alteração do nível de segurança da estrutura. Em 2019, famílias que vivem no entorno da estrutura precisaram deixar suas casas por conta do risco de rompimento da barragem

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 Por Coletivo Nacional de Comunicação do MAB

Atingidos de Itatiaiuçu descobriram hoje, 09, através da imprensa que a barragem que integra a Mina Serra Azul da ArcelorMittal teve o seu nível de emergência alterado pela Agência Nacional de Mineração (ANM) no último dia 23 de fevereiro, após a publicação da resolução que instituiu novas normas sobre segurança de barragens no país.

Até essa data, a mineradora não havia feito nenhum comunicado aos moradores, que estão totalmente vulneráveis em caso de rompimento, sobre a alteração do nível de emergência de 2 para 3. Segundo Pablo Dias, da coordenação do Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB), a falta de informações seguras e claras por parte da mineradora agrava ainda mais o estado emocional dos atingidos. “Essa situação só aumenta o sofrimento dos moradores que convivem diariamente com a incerteza sobre o risco que suas famílias estão correndo diante da falta de clareza sobre as condições de segurança de uma barragem que armazena mais de 5 milhões de metros cúbicos de rejeitos de minério de ferro. Muitos desenvolvem diversos transtornos psíquicos, adoecem e acabam tendo, inclusive, dificuldades de trabalhar por conta do abalo psicológico”, afirma o coordenador.

Em 2019, atingidos pela barragem foram obrigados a deixar suas casas por conta do risco de rompimento da estrutura. Três anos após a evacuação, a população denuncia a lentidão na execução das ações de reparação por parte da mineradora. As remoções tiveram início logo após o rompimento da barragem da Vale em Brumadinho (em 25 de janeiro de 2019). No primeiro momento, cerca de 200 moradores das comunidades Vieiras, Lagoa das Flores, Pinheiros e Retiro Colonial foram retirados de suas residências. Posteriormente, outras pessoas foram notificadas para deixarem suas casas.

Na época, após vistorias da Agência Nacional de Mineração (ANM) e de ações de fiscalização do Ministério Público Federal (MPF), dezenas de barragens do país foram consideradas inseguras e ficaram impedidas de operar. As evacuações foram determinadas para os casos mais preocupantes, porém, poucas ações foram executadas para garantir a segurança da população atingida desde então.

No último mês, os moradores de Itatiaiuçu fizeram um ato no município para denunciar que seguem aguardando o  pagamento das indenizações, o levantamento da desvalorização dos imóveis, o reconhecimento de danos morais, a garantia de moradia aos caseiros e inquilinos, além do reconhecimento da perda de renda dos comerciantes.

Em seu canal de atendimento, a ArcelorMittal informou que o nível de emergência da barragem foi alterado automaticamente após modificação da legislação da Agência Nacional de Mineração, mas não comunicou o risco de rompimento. Segundo a companhia, a barragem continua monitorada e mantém as mesmas condições de segurança desde o acionamento do Plano de Ação de Emergência para Barragens de Mineração em 2019. Ainda assim, a população cobra um diálogo com informações mais claras por parte da mineradora acerca da segurança da barragem e das ações de prevenção que estão sendo implementadas diante do novo nível de emergência.


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Este texto foi inicialmente publicado no site oficial do MAB [Aqui!].

Mais tragédias rondam Minas Gerais na forma de barragens de rejeitos

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Barragem da Mina Gongo Soco da Vale em Barão de Cocais (MG).

No dia 27 de janeiro escrevi uma postagem intitulada “Façam suas apostas: onde e quando ocorrerá o próximo Tsulama em Minas Gerais?” onde apontei para o fato de que Minas Gerais possui  450 barragens,  e que pelo menos 22 delas não têm garantia de estabilidade.  Já no dia 03 de fevereiro escrevi sobre o medo que rondava cidades mineiras que estão próximas de grandes barragens.

Nesta 6a. feira o que era medo potencial passou a risco iminente para duas cidades que até então não apareciam na lista das mais ameçadas pela possibilidade da eclosão de Tsulama.  Essas duas cidades, Itatiaiuçu e Barão de Cocais, hospedam, respectivamente, barragens da Vale e da Arcelor Mital.  Em ambos os casos moradores tiveram de ser retirados das áreas que seriam atingidas por uma eventual ruptura das barragens e não possuem prazo para serem retornados para suas casas (ver vídeo abaixo com o depoimento de um militante do Movimento de Atingidos por Barragens (MAB).

O fato é que apenas em Minas Gerais existem neste momento um alto potencial para a repetição das tragédias socioambientais que já ocorreram em Mariana e Brumadinho. Além disso, como os casos de Itatiaiuçu e Barão de Cocais demonstram é que há sim razão para que os habitantes de municípios que abrigam barragens de rejeitos, algumas delas maiores do que as que já romperam,  estejam tomados pela sensação de medo.

Por outro lado, o que essa situação que agora toma ares de emergência total escancara é que a ideia de deixar as mineradoras como fiéis depositárias de seus próprios rejeitos é um modelo superado, o que só seria agravado pelo aprofundamento e legalização do modelo de autolicenciamento “de facto” que vem sendo executado em função da atitude benevolente da maioria dos governantes brasileiros.

Desta forma, é fundamental que sejam organizadas atividades para alertar os habitantes das cidades que estejam próximas de barragens, de forma a educá-las para que pressionem as mineradores a adotarem medidas urgentes para monitorar a real condição dessas estruturas. Do contrário, tudo indica que efetivamente não só teremos novos “Tsulamas”, mas como não existirão os necessários mecanismos de alerta que são fundamentais para impedir a enorme perda de vidas humanas que ocorreu em Brumadinho.