Deserto Verde e a rearticulação dos defensores da monocultura do eucalipto no território fluminense

Monocultura de eucalipto em expansão na região de Morro do Coco, norte do município de Campos dos Goytacazes 

Por Rede Alerta contra Desertos Verdes (RADV)

A retomada do debate em torno da monocultura do eucalipto no estado do Rio de Janeiro, capitaneada por grupos empresariais, setores do governo Claudio Castro (PL) e representantes de órgãos federais, exige uma reflexão crítica sobre os rumos da política agrária fluminense e seus possíveis impactos socioambientais.

O Fórum Florestal Fluminense (FFF), criado em 2008, vem se consolidando como um espaço estratégico de articulação entre representantes do setor industrial, governo do estado, de associações de classe e de órgãos de pesquisa federais e estaduais. Sua atuação recente, entretanto, revela a retomada de antigos projetos de expansão da monocultura do eucalipto — propostas já questionadas e barradas no passado pela sociedade civil organizada, em defesa dos interesses ambientais e territoriais da população fluminense.

É importante destacar que o Fórum Florestal Fluminense, surgiu a partir de uma parceria entre a Associação Profissional dos Engenheiros Florestais do Rio de Janeiro (APEFERJ), o Instituto BioAtlântica (IBio), a então empresa Aracruz Celulose (atual Suzano) e federações empresariais como a Federação das Indústrias do Rio de Janeiro (FIRJAN). Dentre os objetivos principais do Fórum Florestal Fluminense, podemos citar: discutir normas de licenciamento ambiental, fomentar políticas de incentivo à silvicultura industrial e a ampliação da cadeia produtiva florestal no estado. Desde sua origem, o Fórum defende a criação de mecanismos que facilitem a entrada, no território fluminense, de grandes empresas do setor de papel e celulose — especialmente a Suzano, já consolidada nos estados vizinhos do Espírito Santo e de São Paulo. 

Entre 2008 e 2016, o Fórum Florestal Fluminense promoveu diversos encontros em municípios como Campos dos Goytacazes, Nova Friburgo, Macaé e Rio Claro. Após um período de inatividade, o Fórum Florestal Fluminense retomou suas ações em outubro de 2021 e intensificou sua atuação em agosto de 2022, quando promoveu um evento no Museu do Amanhã, no Rio de Janeiro. Na ocasião, apresentou propostas para o “desenvolvimento florestal” no estado do Rio de Janeiro a representantes políticos, incluindo candidatos de “esquerda”, que pleiteavam o governo estadual e o parlamento fluminense.

Cabe destacar que, dentre os atores que compõem o Fórum, a FIRJAN tem se destacado como principal porta voz da expansão da monocultura do eucalipto no estado. A entidade vem promovendo eventos de grande visibilidade, como o seminário “Economia Verde: Firjan, Governo e Especialistas Analisam o Potencial Econômico da Silvicultura no RJ”, realizado em maio de 2023, lotando o auditório da própria FIRJAN.

Nesse encontro, lideranças empresariais como Eduardo Eugênio Gouvêa Vieira (então presidente da FIRJAN) e Paulo Hartung, ex-governador do Espírito Santo e presidente da Indústria Brasileira de Árvores (IBÁ) defenderam a silvicultura industrial como solução para “gerar empregos”, “recuperar áreas degradadas” e reduzir a dependência da madeira importada no estado do Rio de Janeiro — o que, segundo eles, representaria modernização e sustentabilidade econômica para o espaço agrário fluminense. Estiveram presentes também no evento, Thiago Pampolha – então Secretário de Estado do Ambiente e Sustentabilidade (SEAS) e Vice-governador do Estado do Rio de Janeiro, Diogo Ladvocat – representante da Suzano, Joésio Perin – Vice-Presidente na STCP Engenharia, entre outros representantes de setores empresariais e da política fluminense. 

Entretanto, esse discurso da chamada “economia verde”, propagado por representantes do setor industrial, precisa ser questionado. Apesar de se autoproclamarem como defensores do reflorestamento e da sustentabilidade, o modelo promovido por esses grupos, baseia-se em plantações homogêneas de eucalipto — uma monocultura voltada majoritariamente à produção de celulose para exportação. Na prática, trata-se de um modelo agroexportador, altamente dependente de grandes extensões de terra, que tende a acentuar conflitos fundiários, aumentar a concentração da terra, pressionar os recursos hídricos, impactar a biodiversidade regional e aumentar a insegurança alimentar. Esses problemas e muitos outros já foram amplamente documentados em estados onde existe a monocultura do eucalipto em larga escala e a atuação da Suzano, tais como o Espírito Santo e a Bahia.

Muito embora o Rio de Janeiro ainda não possua extensas áreas de eucalipto (pouco mais de 20 mil hectares), novos empreendimentos estão sendo planejados, especialmente no Norte Fluminense. Destaca-se a atuação recente da empresa Tree Agroflorestal S.A, que projeta o plantio de cerca de 30 mil hectares de eucalipto em Campos dos Goytacazes — município historicamente marcado pela concentração fundiária, pelos conflitos no campo, pelo desmatamento e pela monocultura.

 Em recente publicação nas suas redes sociais, o prefeito de Campos, Wladimir Garotinho afirmou:

“O desenvolvimento da nossa cidade segue firme! Antes, terras sem uso e improdutivas agora estão sendo arrendadas para o plantio de eucalipto. Já temos uma empresa investindo R$ 80 milhões nesse projeto, gerando mais de 100 empregos! Essa conquista só foi possível graças à alteração na lei municipal, que agora permite o plantio de eucalipto em áreas específicas, garantindo um uso sustentável e estratégico dessas terras. Seguimos trabalhando para atrair mais investimentos e transformar o agronegócio em um dos grandes motores da nossa economia!”

Mas não parou por aí: ele afirmou que esse investimento só foi possível com a aprovação da Lei Municipal nº 9.333/2023 que revogou a Lei Municipal nº 7.282/2002, facilitando o cultivo de eucalipto no município. Com isso, o intuito é, a curto prazo, viabilizar o aumento do cultivo de eucalipto no município, para que a médio prazo, possa se instalar uma empresa de celulose em Campos. Ninguém tem dúvida, pelas tentativas anteriores e pelas articulações em curso, que essa empresa seria, preferencialmente, a SUZANO.

Buscando antecipar-se às críticas sociais e ambientais decorrentes das experiências negativas da monocultura do eucalipto em outros estados, o Fórum Florestal Fluminense, com apoio da FIRJAN e de setores do governo estadual, tem defendido a atualização dos dados sobre as terras disponíveis nos chamados Distritos Florestais (Decreto 45.597/2016), que somam um total de 600 mil hectares, sendo 324 mil hectares com “potencial” para a monocultura do eucalipto.

Figura 1: Áreas dos Distritos Florestais do Estado do Rio de Janeiro

Fonte: http://www.seas.rj.gov.br

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¹ Atualmente, existem cinco Distritos Florestais no Rio de Janeiro, que abrangem municípios das regiões Norte1 (Campos dos Goytacazes, Cardoso Moreira, Italva, São Francisco do Itabapoana e Bom Jesus de Itabapoana), Norte 2 (Campos dos Goytacazes, Quissamã, Carapebus, Conceição de Macabu Santa Maria Madalena e Macaé), Noroeste (Itaperuna, Laje do Muriaé, Miracema, Santo Antônio do Pádua e São José de Ubá), Serrana (Carmo, São Sebastião do Alto e Cantagalo) e Médio Paraíba (Paraíba do Sul, Paty do Alferes, Rio das Flores, Quatis, Valença e Vassouras).

A criação dos Distritos Florestais, alinhada com a mudança na legislação, através da aprovação da Lei Estadual nº 9.972/2023 (Política Estadual de Desenvolvimento Florestal), foi festejada por defensores da monocultura do eucalipto no evento da FIRJAN, pois as facilidades criadas pela nova legislação poderão garantir viabilidade para o projeto dos Distritos Florestais e da silvicultura industrial sair do papel. 

Com a nova lei, o governo estadual fará o licenciamento prévio dos Distritos Florestais, assim cada empresa ou grande produtor que se instalar nessas regiões precisará só de uma licença autodeclaratória. Essa lei facilitadora para a introdução da monocultura do eucalipto em larga escala foi aprovada pelos deputados estaduais no apagar das luzes da legislatura anterior (2019 – 2022) e o govenador Claudio Castro, sancionou no início do seu segundo mandato (janeiro de 2023), “passando a boiada” do licenciamento ambiental e “escancarando” o território fluminense para a monocultura do eucalipto. 

Essa estratégia em curso é vendida como uma forma de ordenamento produtivo de espaços ditos “abandonados” e, com isso, busca-se neutralizar críticas sobre os impactos fundiários, produtivos e ambientais da expansão da monocultura do eucalipto no RJ. Ao mesmo tempo em que afirmam existir terras suficientes para implantar projetos industriais, omitem os riscos de novas formas de territorialização do capital, que podem se dar por meio da subordinação de pequenos produtores à lógica empresarial do setor celulósico-papeleiro, marcado inclusive, pelo endividamento dos produtores que participaram da última tentativa frustrada de exportar essa atividade industrial para a região, empreendida pela então Aracruz Celulose\Fibria e pelo pai do atual prefeito de Campos e na época govenador do estado RJ, o senhor Anthony Garotinho.  Projeto fracassado que teve continuidade nas gestões de Sérgio Cabral\Carlos Minc e do governador Pezão, deixando um passivo de dívidas, abandono e perda de terras por partes dos produtores no Norte e Noroeste Fluminense.

A atual ofensiva em defesa da monocultura do eucalipto no Rio de Janeiro, liderada por setores empresariais e legitimada pelo Fórum Florestal Fluminense, representa, portanto, um projeto de reconfiguração territorial que ameaça a diversidade ambiental e social no estado do RJ. Sob o rótulo da “sustentabilidade” e da “economia verde”, observa-se a tentativa de expansão de um modelo produtivo concentrador, com graves implicações socioambientais, que representará, novamente, sérios riscos, para termos a formação de um deserto verde no estado do Rio de Janeiro.

A Rede Alerta contra os Desertos Verdes (RADV) vem a público avisar a sociedade que a rearticulação de grupos ligados à implantação da monocultura do eucalipto em larga escala tem avançado, sobretudo na alteração de legislações, tanto no campo estadual quanto municipal, com claro intuito de facilitar a expansão da área plantada com eucalipto e a chegada de uma grande empresa de papel e celulose. Tudo isso, com apoio político e utilização de recursos públicos, inviabilizando a construção de um projeto de reforma agrária popular e agroecológico, afetando a segurança hídrica nas bacias hidrográficas do estado e a soberania territorial fluminense.

Por todas essas razões, conclamamos a sociedade civil, os movimentos sociais, pesquisadores, universidades e outros setores, a reafirmar a necessidade de um debate público amplo, com diferentes segmentos da sociedade, com a presença das populações do campo que poderão ser afetadas pela monocultura do eucalipto. É necessário reorganizar as forças progressistas no campo estadual, para que sejam capazes de denunciar os impactos dessa política e propor alternativas de uso do território que priorizem a vida, a diversidade e a justiça socioambiental. 

Uma grande oportunidade está em curso, com o Projeto de Lei nº 5516/2025, de autoria da Deputada Estadual Marina do MST, que tem por finalidade alterar a Lei Estadual nº 9.972/2023 e a Lei Estadual nº 5.067/2007, tendo como objetivo, reforçar a proteção de solos, águas e biodiversidade na Política Estadual de Desenvolvimento Florestal, estabelecendo com nitidez a diferença entre floresta e monocultura

Mais do que nunca, é hora de irmos à luta!

Rede Alerta contra Desertos Verdes (RADV)

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Fonte: Rede Alerta contra Desertos Verdes (RADV)

Dependência dos royalties: conversa fiada ou realidade?

Por Douglas Barreto da Mata

Eu passei uma parte de minha vida repetindo que Campos dos Goytacazes era petrodependente, e sempre me referi a tal condição como algo ruim e, ato contínuo, vinculado a classe política de então, personificada na família Garotinho, que em minha narrativa teria sido incapaz de diversificar a matriz econômica. Volta e meia, esse debate vem à tona e, recentemente, eu pude refazer minha opinião. Não é crime mudar de opinião, ainda. 

Na verdade, a cidade de Campos dos Goytacazes desde seu nascimento, até os dias de hoje, nunca teve uma economia de múltiplas atividades.  Começou como um curral na localidade de Campo Limpo, prenúncio do que seria um curto período de pecuária, logo abandonado.  Depois, veio o extenso ciclo escravocrata do açúcar, que evolui para o período da indústria sucroalcooleira, que se exerce como monocultura, até hoje.  Ao lado desse setor cresceu um amplo leque de serviços agregados (máquinas e transporte), e comércio de toda sorte.

Durante quase 500 anos, essa modalidade econômica não deixou de legado nada mais que comércio e serviço.  Os valores acumulados (capital) e concentrados nas mãos da elite local não reverteram em inovação tecnológica, indústria, ciência, nada.  A herança é um povo pobre, que dependia e depende do poder público.

Com a chegada dos royalties, o roteiro se repetiu, e a elite decadente do açúcar se reposicionou para drenar e acumular as verbas de royalties e, novamente, o que se manteve foram o comércio, os serviços e a logística de transporte da mão-de-obra que transita entre as cidades “produtoras”.  Para sermos justos, nenhuma região brasileira que vive de monocultura agrícola ou extrativista consegue ultrapassar essa barreira, transformando o capital primário em capital de transformação.

Campos dos Goytacazes pode ter a oportunidade de manter ganhos com a atração de empresas interessadas na vocação campista de serviços, comércio e logística, como as que necessitam de locais de armazenagem e distribuição de mercadorias, parques de energia fotovoltaica, sem mencionar a possibilidade de se firmar como produtora de alimentos, desde que haja investimentos em tecnologia.

Enfim, o fato é que olhei com mais calma, e percebi que essa cidade sempre foi dependente de uma só fonte econômica, e qualquer economista mediano saberia dizer que não é o dinheiro público que tem que diversificar o capital local. Isso é tarefa do setor produtivo, detentor dessa renda, que deve dar o salto econômico. Infelizmente, esse grupo nestas terras sempre agiu como parasita.

Agricultura familiar perde espaço para monoculturas no Centro-Oeste, mostra pesquisa

Agricultura familiar perde espaço para monoculturas no Centro-Oeste, mostra pesquisa

Estudo analisa dados socioeconômicos e ambientais de 466 cidades de Goiás, Mato Grosso e Mato Grosso do Sul

Se por um lado o Centro-Oeste brasileiro é notoriamente reconhecido como eixo do agronegócio no país, por outro é uma região marcada pela baixa prevalência da agricultura familiar. A maioria das cidades de Mato Grosso e Mato Grosso do Sul têm até 10% da área produtiva dedicada à atividade. Em Goiás, o total de terras destinadas aos pequenos produtores rurais sobe para até 40%. Além da desigualdade de distribuição de terras, a concentração de renda e dificuldade de acesso a recursos dificultam a agricultura familiar na região, revela estudo da Universidade de São Paulo (USP) publicado na revista Food Security na quarta (10).

Os dados vêm de análise de 466 cidades de Goiás, Mato Grosso e Mato Grosso do Sul. A equipe aplicou técnicas de regressão espacial para associar a proporção de terras destinadas à agricultura familiar com fatores socioeconômicos e ambientais. Entre os fatores considerados estavam densidade populacional, PIB per capita, índice de concentração fundiária, valor da produção de milho e de soja, além das emissões de gases de efeito estufa ligadas à agricultura e ao uso da terra.

Como resultado, a pesquisa revela que a agricultura familiar está positivamente associada à maior densidade populacional, por favorecer a fixação de moradores no campo, e à produção de milho, cultura mais voltada à alimentação quando comparada à soja. Por outro lado, a presença da agricultura familiar tende a diminuir à medida que o PIB per capita aumenta nos municípios.

O artigo também mostra que, em regiões de maior expansão da soja, a agricultura familiar foi menos presente. Nessas áreas, dominadas por monoculturas, observou-se maior emissão de gases de efeito estufa.

Para Lucas de Almeida Moura, pesquisador no Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia Combate à Fome (FSP/USP) e autor principal do artigo, a presença dos agricultores familiares nas regiões contribui para a fixação dos moradores no campo e para um menor impacto ambiental, sendo um importante indicativo de garantia da segurança alimentar da região. “A agricultura familiar possui extrema importância para as cadeias locais de abastecimento e para a alimentação da população. Isto a enfatiza como essencial para a garantia do direito humano à alimentação adequada e da segurança alimentar da população, tendo em vista que a emergência climática impacta diretamente os sistemas alimentares, sobretudo em áreas já vulneráveis, o que compromete o acesso à alimentação”, destaca.

O artigo destaca a importância de políticas públicas para fortalecer a agricultura familiar, que no Brasil representa a base da economia local de 90% dos municípios com até 20 mil habitantes e é a principal responsável por alimentos consumidos pela população, como milho, mandioca, laticínios e hortaliças.

Segundo Moura, a escolha do Centro-Oeste como estudo de caso se deve às características marcantes da produção agrícola da região e ao desempenho já observado em análises anteriores. “Isto pode ser tomado como ponto de partida para investigações mais aprofundadas, considerando dados e características ainda mais localizadas, o que contribui para gerar evidências mais robustas para a tomada de decisão sobre a presença da agricultura familiar nestes territórios e o fortalecimento desse modelo de produção”, conclui Moura.

A pesquisa foi realizada em parceria com o Sustentárea e com apoio da World Wildlife Fund Brasil e da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP).


Fonte: Agência Bori 

Observatório dos agrotóxicos: denúncia de descarte ilegal de embalagens em vazias em fazenda já denunciada por prática de trabalho escravo

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Uma das questões que sempre repito quando abordo o processo de uso intensivo de agrotóxicos, muitos deles banidos em outras partes do mundo, é que se olharmos de perto veremos sempre a presença de relações com outras malignidades sociais e ambientais. Pois bem, hoje o blog recebeu uma denúncia de crime ambiental que teria sido praticado em uma propriedade rural que fica localizada em Guandu, bairro do Distrito de Travessão (ver mapa abaixo).

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O crime ambiental em questão estaria caracterizado pelos despejo ilegal de embalagens vazias do herbicida Hexaron WG, fabricado pela Adama Brasil, em um corpo aquático localizado no interior da Fazenda Guandu que é usada primariamente para o monocultivo da cana, e que estaria neste momento arrendada para a Cooperativa Agroindustrial do Estado do Rio de Janeiro Ltda (Coagro) (ver imagens abaixo). 

Um primeiro detalhe sobre o Hexaron WG é que ele é indicado primariamente para a cultura da cana onde supostamente elimina uma série de pragas.  Por outro lado, o Hexaron WG é composto por dois princípios ativos: Diurom e Hexazinona que pertencem, respectivamente aos grupos químicos Uréia e Triazinona. Curiosamente, enquanto o Diurom tem sido uso permitido na União Europeia, a Hexazinona é proibida, o que revela uma dessas curiosidades que cercam os agrotóxicos liberados para comercialização no Brasil.

Apesar de toda a suavização na classificação de risco que foi realizada pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), o Hexaron WG é considerado como sendo um produto muito perigoso para o meio ambiente, especialmente para corpos hídricos, sendo que este agrotóxico pode contaminar o lençol subterrâneo em função de sua mobilidade.  Tal característica torna ainda mais incompreensível o que se vê nas imagens que é o descarte de embalagens vazias dentro de um pequeno hídrico. Além disso, ressalte-se a relativa proximidade da propriedade com o bairro de Guandu, o que demandaria um cuidado que foi negligenciado por quem fez o descarte ilegal das embalagens vazias.  As imagens enviadas permitiram a contagem de pelo menos 10 embalagens vazias de 5 kg cada uma, o que sugere que pelo menos 50 kg de Hexaron WG foram aplicadas no local.

Mas agora vamos para um segundo elemento envolvendo a Fazenda Guandu de onde teriam vindo as imagens mostradas acima. É que em 2009 foi nessa mesma propriedade que o Grupo Especial de Fiscalização Móvel, composto por membros do Ministério Público do Trabalho, do Ministério do Trabalho e Emprego e da Polícia Rodoviária Federal, detectou a prática de trabalho escravo, tendo rendido uma série dor de cabeça à mesma Coagro que até hoje arrendaria a propriedade do Grupo Othon. Em outras palavras, a mesma propriedade hoje estaria de descartando ilegalmente embalagens vazias de um agrotóxico altamente perigoso já foi palco da prática de trabalho escravo.

Como este blog é um espaço democrático, deixo aberto espaço aos dirigentes da Coagro quase queiram oferecer algum tipo de réplica ao que está sendo aqui mostrado.  Por outro lado, dos órgãos ambientais e judiciais fica a expectativa de que haja a devida apuração. É que, apesar de todas as boiadas sendo passadas no Brasil neste momento, descarte ilegal de embalagens vazias de agrotóxicos continua sendo crime.

Finlamente, como alguém que estuda de forma consistente o uso de agrotóxicos e seus impactos ambientais há quase duas décadas, eu ainda consigo me surpreender com o tipo de desleixo com ocorre en relação às regras estabelecidas para o uso dessas substâncias altamente perigosas.  É por isso que eu sempre digo que os agricultores familiares são como canários na mina de carvão, pois o que eles fazem eventualmente de errado em suas propriedades não passa de pequenas gotas em uma mega oceano de venenos agrícolas.

 

 

Monocultura contribui para sumiço de abelhas

 

Tetrapedia_sp-600x447Tetrapedia sp, uma das espécies de abelha solitária identificada no levantamento

Vida de insetos polinizadores depende de quantidade suficiente de floresta e de uso diversificado do solo

Estudo realizado em fazendas do Corredor Ecológico Cantareira-Mantiqueira, região norte da cidade de São Paulo, revelou boa notícia sobre a vida de abelhas e vespas, insetos que andam desaparecendo da natureza. Naquele local, eles ainda são abundantes, apesar da ocupação urbana.

Para os pesquisadores do Laboratório de Ecologia e Evolução de Abelhas e Vespas, do Departamento de Biologia da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto (FFCLRP) da USP, a quantidade de floresta nativa (mais de 50% da área) e a utilização diversificada das terras entre os fragmentos de Mata Atlântica são os principais fatores da preservação das espécies de insetos.

A ecóloga Paula Carolina Montagnana, responsável pela pesquisa, explica que se a região fosse dominada por monocultura (como a observada em diversos outros locais do estado de São Paulo, por exemplo), essas abelhas e vespas não teriam a mesma sorte para encontrar alimentos ou construir seus ninhos. “As abelhas e vespas solitárias têm autonomia de voo de cerca de 600 metros”, conta. O que vale dizer que precisam encontrar fontes de alimentação e condições de procriação dentro de uma área tal que não ultrapasse esse limite.    

Na região estudada, a pesquisadora diz ter encontrado condições que favoreceram o maior número de espécies e quantidades de abelhas e vespas encontrado. Explica que numa escala de 1 km (linha reta de 1 km de comprimento traçada a partir do local de um ninho-armadilha) “haverá maior diversidade desses insetos se ao longo dessa reta houver locais com pastagem, floresta, agricultura, vilas rurais, entre outros tipos de uso da terra”. Mas também afirma ser igualmente importante a porcentagem de floresta que existe dentro de paisagens com 5 km de raio, que deve superar 50% dessa área.

Para as regiões em que grande parte da vegetação nativa já tenha sido retirada e a atividade humana é intensa, a ecóloga afirma que ainda assim é possível preservar algumas espécies. A recomendação é “que haja uma diversificação no uso da terra, principalmente com atividades de menor impacto como agroflorestas, locais de recuperação da vegetação nativa, agricultura orgânica, mas que também sejam preservados os locais de vegetação nativa já existentes”. Paula garante que essa diversidade é muito melhor para a vida de abelhas e vespas que paisagens onde há apenas um uso da terra, “como por exemplo, as áreas dominadas por grandes monoculturas de cana-de-açúcar, se pensarmos na região de Ribeirão Preto, ou nos plantios de soja, algodão e milho presentes no Centro-Oeste”.

paisagemVista da região de monitoramento das abelhas e vespas solitárias

Abelhas e vespas solitárias são “ótimos indicadores ambientais”

suporte-ninhosUm dos suportes com ninhos-armadilha instalados na região da Cantareira em São Paulo-SP

As conclusões sobre como preservar a vida das abelhas e vespas vieram de informações coletadas ao longo de pesquisa de campo, realizada entre 2014 e 2018, e que deram origem à tese de doutorado que Paula apresentou recentemente à FFCLRP, com orientação do professor Carlos Alberto Garófalo. Ela conta que queria verificar a influência das diferentes formas de utilização do solo na vida de abelhas e vespas solitárias. Assim, confeccionou e instalou, em 29 pontos da região da Cantareira, ninhos-armadilha (pequenos tubos de cartolina preta e gomos de bambus) que ficaram disponíveis para essas espécies construírem seus ninhos.

A escolha pelas espécies solitárias, conta a pesquisadora, se deve ao fato da presença delas na natureza ser “ótimo indicador ambiental que pode ser extrapolado para as demais espécies de abelhas e vespas”. As abelhas são insetos polinizadores e as vespas, agentes de controle biológico. São chamadas solitárias pois, ao contrário dos insetos que formam colônias, elas utilizam cavidades preexistentes na natureza para fazer seu ninhos. Assim, entre os meses de setembro e março – os mais chuvosos e quentes do ano no estado de São Paulo e período de maior atividade e diversidades de insetos, Paula coletou todos os ninhos-armadilhas ocupados e os levou para o Laboratório de Ecologia e Evolução de Abelhas e Vespas, na USP em Ribeirão Preto.

Após monitoramento dos ninhos e identificação das espécies, encontrou 24 espécies de abelhas e 21, de vespas, comprovando a condição ecológica favorável do Corredor Cantareira-Mantiqueira. Mas, o destaque do estudo ficou por conta da constatação da importância do uso diversificado da terra e da quantidade suficiente de mata nativa (mais de 50% de preservação) para a sobrevivência desses insetos.

Mais informações: paula-eco@hotmail.com

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Este artigo foi originalmente pela USP de Ribeirão Preto [Aqui].

 

Água de Araraquara (SP) apresenta contaminação por agrotóxicos utilizados na cana-de-açúcar, aponta estudo da Unicamp

Estudo desenvolvido na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) identificou que rios do município de Araraquara apresentam contaminantes agrotóxicos usados na cultura da cana-de-açúcar.

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O estado de São Paulo é o maior produtor de cana-de-açúcar do Brasil e o segundo em consumo de agrotóxicos. O Brasil é o maior consumidor de agrotóxicos do mundo e, apesar disso, pouco se avalia a presença destes contaminantes em água. O cultivo de cana-de-açúcar está entre as culturas brasileiras que mais utiliza agrotóxicos em termos de quantidade de ingrediente ativo.

Por serem substâncias utilizadas com o objetivo de evitar prejuízos às plantações no combate de organismos capazes de diminuir a produtividade, os agrotóxicos possuem características tóxicas específicas para as pragas, mas que podem causar efeitos indesejáveis a outros organismos não alvos mesmo em baixas concentrações.

O estudo realizado por Raphael D’Anna Acayaba, da Universidade de Campinas, teve por objetivo avaliar a presença dos agrotóxicos utilizados no cultivo de cana-de-açúcar mais consumidos no estado em corpos d’água localizados nas grandes regiões de cultivo. Um método analítico utilizando cromatografia líquida acoplada à espectrometria de massas sequencial e extração em fase sólida, como preparo de amostra, foi utilizado na verificação da presença de agrotóxicos permitidos para uso no cultivo da cana, sendo sete herbicidas (simazina, atrazina, ametrina, clomazona, diuron, hexazinona e tebutiuron) e dois inseticidas (carbofurano e imidacloprido). Ao todo, oito rios foram analisados em cinco amostras: Jacaré-Guaçu, do Ouro, Córrego Rico, Mogi-Guaçu, São Domingos, Turvo, Pardo e Sapucaí, entre outubro de 2015 e outubro de 2016, totalizando 38 amostras analisadas.

Dois rios de Araraquara foram selecionados para o estudo: o Rio Jacaré-Guaçu, sendo as amostras coletadas no trecho que liga Boa Esperança do Sul a Araraquara e o Rio do Ouro, cujas amostras foram coletadas no ponto da rodovia SP-255, no trecho próximo à Estação de Tratamento de Esgotos (Ete).

O rio Jacaré-Guaçu mostrou a presença predominante de herbicidas, com destaque para o tebutiuron, encontrado em todas as quatro amostras analisadas em concentrações que chegaram a 123 ng L-1, bem acima dos valores máximos preconizados em normativas internacionais. Na Comunidade Europeia, os valores máximos permitidos visando à prevenção de problemas de saúde pública e na minimização de riscos é de 0,50 µg/L para o parâmetro “Agrotóxico total”. As águas do rio Jacaré-Guaçú também apresentaram a incidência de inseticida (imidacloprido) em maior concentração na amostra colhida em junho de 2016. Outros inseticidas foram verificados no rio: imidacloprido, carbofurano, diuron e tebutiuron. Nas amostras analisadas entre março e outubro de 2016, sete dos nove agrotóxicos foram encontrados.

Situação ainda mais preocupante é a do rio do Ouro, por estar dentro do perímetro urbano. Neste rio, houve a predominância do agrotóxico imidacloprido, presente em todas as amostras analisadas em concentrações entre 18 e 62 ng L-1. Em janeiro, março e outubro de 2016, este inseticida foi detectado em concentrações maiores do que o somatório de todos os outros agrotóxicos. O estudo demonstrou, ainda, que as água do rio do Ouro estão contaminadas pelos herbicidas tebutiuron e hexazinona, com concetração que varia de 22 e 81 ng L-1.

Inseticida que apresentou maior incidência nas águas do rio do Ouro, o imidacloprido é da classe dos neonicotinoides de ação sistêmica, já proibido em toda União Europeia por ser comprovadamente danoso à saúde humana, para a biodiversidade e o meio ambiente.

De acordo com o pesquisador Raphael D’Anna Acayaba, muitos dos compostos registrados para uso no cultivo de cana-de-açúcar são neurotóxicos, possuem efeito negativo para a reprodução e/ou desenvolvimento, e são ou possuem potencial de carcinogenicidade, ou seja, de influenciar no surgimento de diferentes tipos de câncer.

No estudo, supervisionado pelas professoras Dra. Cassiana Montagner Raimundo e Dra. Gisela de Aragão Umbuzeiro, o pesquisador aponta que no Brasil, ao contrário do que se verifica internacionalmente, dos 85 ingredientes ativos que possuem uso permitido no cultivo de cana-de-açúcar, apenas sete possuem Valores Máximos Permitidos (VMP) na Resolução Conama 357/2005, instrumento legal que classifica os corpos de água superficiais e estabelece condições e padrões de lançamento de efluentes, e somente 10 são descritos na Resolução Conama 396/2008, que dispõe sobre a classificação e diretrizes ambientais para o enquadramento das águas subterrâneas. A Portaria do Ministério da Saúde nº 2.914/2011 que dispõe sobre os procedimentos de controle e de vigilância da qualidade da água para consumo humano, apresenta Valores Máximos Permitidos para apenas 12 dos 85 ativos usados no cultivo da cana de açúcar.

Para Acayaba, “a elevada frequência de detecção nos rios, para alguns dos agrotóxicos investigados, indica um cenário preocupante para a biota aquática. Por esse motivo, os dados de ocorrência poderão ser usados para subsidiar futuras decisões no âmbito do gerenciamento da qualidade dos recursos hídricos”.

Alarmado com esses resultados, o vereador Edio Lopes (PT) apresentou projeto de lei com o objetivo de proibir a pulverização aérea de agrotóxicos no município. “Este estudo reforça nossa preocupação e luta pela proibição da prática, pois até a qualidade da nossa água já foi afetada”, entende.

As informações advêm da pesquisa intitulada “Ocorrência de agrotóxicos usados na cana-de-açúcar em corpos d’água do estado de São Paulo”, de autoria do mestre em Tecnologia e Ambiente, Raphael D’Anna Acayaba, concluída em fevereiro de 2017 e disponível em http://repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/322582/1/Acayaba_RaphaelD%27Anna_M.pdf.

Assessoria de imprensa do gabinete do vereador Edio Lopes (PT)

FONTE: http://www.camara-arq.sp.gov.br/site/index.php/agua-de-araraquara-apresenta-contaminacao-por-agrotoxicos-utilizados-na-cana-de-acucar-aponta-estudo-da-unicamp/

Agricultura tóxica: Greenpeace lança relatório sobre modelo agrícola brasileiro

greenpeace

A Organização Não-Governamental Greenpeace acaba de lançar um interessante relatório que analisa o modelo agrícola brasileiro onde são levantadas as diferentes consequências ambientais e sociais que decorrem das suas práticas.

Um elemento que é tratado com especial atenção se refere ao uso intensivo e abusivo de agrotóxicos para a sustentação de um modelo fortemente ancorado em monoculturas voltadas para a exportação.

Pelo que pude analisar do conteúdo do relatório, o mesmo é daqueles que merecem uma cuidadosa leitura e mesmo disseminação ampla. É que bombardeadas pela propaganda enganosa do “Agro é pop”, a maioria dos brasileiros está diariamente consumindo alimentos contaminados por substâncias com alta toxicidade e que podem trazer graves consequências para ecossistemas naturais e para seres humanos.

Quem desejar baixar o arquivo contendo este relatório, basta clicar [Aqui!]

Agrotóxicos deixam rastro de câncer e morte pelo interior de São Paulo

Estado consome 4% da produção mundial e índices de doenças e mortes bem acima das médias estaduais

Redação/Rede Brasil Atual
Agrotóxicos usados na monocultura da cana em SP elevam índices de adoecimento entre os agricultores e toda a população - Créditos: Arquivo Portal Brasil
Agrotóxicos usados na monocultura da cana em SP elevam índices de adoecimento entre os agricultores e toda a população / Arquivo Portal Brasil

Cidades médias e pequenas do interior do estado de São Paulo, localizadas em meio a grandes extensões de terra com monocultura da cana e banana, entre outras, apresentam taxas de incidência de malformações congênitas e diversos tipos de câncer acima da média estadual.

Em Ribeirão Corrente, na região de Franca, o índice de malformações é 26 casos para grupos de 100 mil nascidos vivos – mais de três vezes maior que a do estado, que é de 8.2. Em Sandovalina, na região do Pontal do Paranapanema, onde há ocupação do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), o índice é 21. Na cidade de São Paulo, totalmente urbanizada, a taxa é de 9.5.

“Em Franca, uma mulher que engravida tem 50% a mais de chances de ter um filho com malformação do que uma moradora de Cubatão, por exemplo. E nem precisa ser agricultura. Está comprovado por estudos que em 70% dos casos de malformação congênita as causas são ambientais”, diz o defensor público Marcelo Novaes, da Defensoria Pública do Estado de São Paulo em Santo André, no ABC Paulista.

A incidência de câncer também é alta na zona rural. Em Bento de Abreu, na região de Araçatuba, há 18 óbitos por câncer cerebral para cada 100 mil habitantes. A taxa estadual é 6.6. “Essas cidades pequenas são fronteira entre o urbano e rural. Você sai da igreja matriz e já está numa plantação de cana, onde há pulverização aérea ou por tratores”, diz o defensor.

Ainda segundo ele, as taxa de mortes causadas por câncer de fígado é de 6.94 por 100 mil pessoas no estado, de 7.43 na capital paulista e de 20 em Turmalina, na região de São José do Rio Preto. Quase três vezes mais. “Sãocidades pequenas, com menos de 20 mil habitantes. Temos uma tragédia no interior paulista. As pessoas estão morrendo pelo veneno. Se antes se fazia excursão para o Paraguai, para compra de muamba, ou para Aparecida, para rezar na catedral, hoje se faz aos centros oncológicos”, compara.

Novaes se baseia no Observatório de Saúde Ambiental, uma plataforma de dados completos sobre utilização de agrotóxicos no estado, os tipos, as regiões, as culturas onde são empregados, bem como grupos populacionais afetados por doenças reconhecidamente desencadeadas pela exposição a esses produtos. O site interativo, que permite a criação de mapas em que é possível visualizar a distribuição das informações sobre o território paulista, foi desenvolvido por professores da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo.

“O mapa mostra o rastro de câncer em cidades em torno da via Anhanguera afora. Basta checar”, aponta Novaes, destacando que a Secretaria Estadual de Saúde, porém, nega todas essas evidências.

Conforme ressaltou ainda, o problema das pequenas cidades de São Paulo se repete no Mato Grosso, Goiás, Tocantins, Paraná e outros estados com grandes áreas onde o agronegócio se instalou. Por isso, conforme acredita, agrotóxicos não deve ser tema limitado aos ambientalistas, e sim de conselhos tutelares, de defesa dos direitos da pessoa com deficiência, das mulheres e de toda a sociedade. “Precisamos fazer uma análise conjuntural desse projeto assassino que está em gestão em nosso país”, alerta.

Sistema excludente

Para Marcelo Novaes, a realidade dos agrotóxicos constitui a espinha dorsal de um “sistema excludente e prospectório da vida e da natureza”. E o avanço de projetos nocivos como o PL do Veneno, o PL 3.200/15, ocorre numa perspectiva não de mudanças, mas de retrocessos. “No arcabouço jurídico, há o direito dos códigos que conversa com os poderosos e o direito da prática que oprime os oprimidos, ou seja, a população. A engenharia disso é o ilegal que para os poderoso passa a ser legal”, diz.

“É por isso que são autorizados o corte de árvores centenárias, num prejuízo ambiental irreversível, sem um plano de manejo. É por isso que a mineradora Samarco matou um rio, as praias e continua com todo o vazamento; que há falta água em São Paulo enquanto a Sabesp paga dividendos aos acionistas, que o Código Florestal tão discutido com a sociedade está sendo esculachado aqui em São Paulo, fora a privatização de áreas florestais, que permite a extração de madeira. E a população se vê diante da ameaça crescente dos agrotóxicos”, aponta.

“O ilegal passa a ser legal e há apropriação do bem público pelo privado num processo de mudança das regras do jogo em pleno jogo. É como se, num jogo de xadrez, o cavalo passasse a ser movimentado como se fosse um bispo, uma torre. A gente vai ter de encarar isso.”

Marcelo Novaes participou da audiência pública promovida ontem (12), em São Paulo, pelo mandato do deputado federal Nilto Tatto (PT-SP). O parlamentar integra a comissão especial da Câmara que analisa o PL 3.200/2015.

FONTE: https://www.brasildefato.com.br/2016/08/13/agrotoxicos-deixam-rastro-de-malformacoes-cancer-e-morte-pelo-interior-de-sao-paulo/

El País faz matéria que expõe o papel da monocultura da soja nas inundações na América do Sul

Desmatamento para plantio de soja contribui para inundações na América do Sul

O El Niño não explica por si só as enchentes que deixaram mais de 160.000 desabrigados no Paraguai, Argentina, Brasil e Uruguai

ALEJANDRO REBOSSIO

O fenômeno do El Niño trouxe mais chuvas que o habitual ao sul da América Latina, mas por si só não explica as enchentes que deixaram mais de 160.000 desabrigados no Paraguai, Argentina, Brasil e Uruguai. A mudança climática torna mais extremo o fenômeno que causou o transbordamento nos rios Paraguai, Paraná e Uruguai, entre outros, mas há mais razões por trás.

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O presidente argentino, Mauricio Macri, observa os bairros alagados na cidade de Concórdia. EFE

Diversos especialistas atribuem a gravidade das inundações ao desmatamento ocorrido nos últimos anos no Paraguai, sul do Brasil e norte da Argentina para o cultivo de soja transgênica. O ouro verde geneticamente modificado oferecia alta rentabilidade durante os anos de bonança das matérias-primas, entre 2002 e 2014, além de suportar as elevadas temperaturas da região, antes coberta de matas nativas. “O aumento das precipitações e a significativa perda de cobertura florestal na Argentina, Brasil e Paraguai, que figuram entre os 10 países com maior desmatamento no mundo, não permitiu a absorção natural da água”, alertou o Greenpeace em um documento.

O coordenador da campanha de florestas dessa organização ambientalista na Argentina, Hernán Giardini, explica: “Além de concentrar uma biodiversidade considerável, as matas e selvas desempenham um papel fundamental na regulação climática, na preservação das nascentes e cursos d’água e na conservação dos solos. São nossa esponja natural e nosso guarda-chuva protetor. Quando perdemos matas nos tornamos mais vulneráveis às chuvas intensas e corremos sérios riscos de inundações”. Só restam 7% da superfície original de matas da Mata Paranaense ou Missionária, atravessada pelos rios o Uruguai, Paraná e Iguazú, segundo o Greenpeace. “No Paraguai e no Brasil foi praticamente destruída, a maior parte remanescente se encontra na Argentina”, acrescenta a organização ambientalista.

Efeitos do El Niño

“O El Niño é um fenômeno cíclico, faz parte da natureza, mas seus efeitos podem ser agravados pelo desmatamento”, opina Benjamín Grassi, professor de meteorologia da Universidade Nacional de Assunção. “O desmatamento retira a proteção do solo. O tipo de precipitação que temos é torrencial, e muita água em pouco tempo afeta muito um solo nu, porque permite que a água escorra facilmente e danifique estradas, cultivos”, acrescenta Grassi.

Na Argentina, as inundações atingem a região limítrofe com o Paraguai, Brasil e Uruguai, mas também a província central de Córdoba, onde se reiteram as recriminações à soja. “A problemática não está necessariamente vinculada à precipitação pluvial, mas à ascensão dos lençóis freáticos”, afirma o ministro de Água e Ambiente de Córdoba, Fabián López. “Como consequência de diversas políticas agropecuárias, os cultivos de inverno deixaram de ser desenvolvidos, semeou-se menos milho, trigo e alfafa, e mais soja. Isso gerou um desequilíbrio hídrico, nos últimos anos o lençol freático subiu significativamente e está a poucos centímetros do solo”, descreveu o ministro López. Nesses países que produzem metade da soja de todo o mundo, a oleaginosa não trouxe só bonança.

FONTE: http://brasil.elpais.com/brasil/2015/12/28/internacional/1451335126_237090.html?id_externo_rsoc=Fb_CM

Documentário: “Plantar Pobreza, O negócio florestal no Chile”

[“Plantar Pobreza, O negócio florestal no Chile” é um documentário do Jornal “Resumen” que aborda a origem e as consequências da expansão da indústria florestal na zona centro sul do país.]

 chileAs plantações de pinos e eucaliptos, as plantas de celulose e toda a infraestrutura viária e portuária a seu serviço são elementos que, ao invés de constituir a engrenagem de um substancioso e exclusivo negócio, representa a exploração dos territórios que ocupam e o empobrecimento de suas comunidades.

 Atualmente, os lugares que suportam plantações e possuem plantas de celulose não oferecem condições de habitabilidade para sua gente, obrigando-a a emigrar, deixando a completa disposição do negócio florestal os espaços anteriormente usados na produção ou coleta de alimentos e na conservação do bosque. Mostra desta realidade é que as comunas apresentadas como “de vocação florestal” alcançam índices de migração e pobreza que superam a media nacional.

 No entanto, todo este processo se configurou ante o favorecimento e o servilismo das autoridades de turno. Desde a Ditadura Militar até os governos civis, todos defenderam este empresariado, chamando desenvolvimento a abertura de novos focos de extração e serviços para a indústria florestal, chamando as plantações florestais de bosques e chamando estado de direito à imposição da vontade empresarial através da repressão e do terrorismo de Estado.

 “Plantar Pobreza” tem o propósito de contribuir para entender o processo em que se tem expandido esta indústria e seus efeitos em diferentes escalas. Sem ficar em uma constatação de desastres e misérias, “Plantar Pobreza” mostra a possibilidade de reverter as condições provocadas pelo negócio florestal, através do testemunho de comunidades invisibilizadas que realizam experiências de recuperação do bosque, recuperação da água e da soberania alimentar.

A nós que vivemos neste território tentaram convencer de um falso dilema: “Ou há florestais ou há pobreza”. Na realidade, temos visto que nosso empobrecimento se tem agravado na medida que estas se tem expandido. Hoje, a recuperação de nossos territórios se impõe como condição necessária para nossa subsistência e nisto não cabem ambiguidades, a indústria florestal deve acabar e devem implementar-se políticas de reparação ambiental e social. O documentário “Plantar Pobreza”, tenta contribuir para esta luta.

 Abaixo segue o documentário: