Observatório dos Agrotóxicos: governo Lula libera mais agrotóxicos proibidos na Europa para abastecer o latifúndio agro-exportador

Warning Signs: How Pesticides Harm the Young Brain - Cornucopia Institute

Enquanto a região do sul do Brasil se prepara para mais uma situação de evento meterológico extremo e tem-se a confirmação de que estamos vivendo um período de aquecimento agravado da atmosfera da Terra, o governo Lula continua tocando o barco e liberando mais agrotóxicos para venda e consumo em território nacional. É que hoje o Diário Oficial da União trouxe a publicação do Ato Nº 58, de 3 de dezembro de 2025, liberando mais 22 agrotóxicos do tipo “produto técnico” que são a versão concentrada que antecede a formulação dos produtos que serão vendidos. 

Uma primeira análise da lista de 22 agrotóxicos, um padrão comum em todo o ciclo de autorizações que o Blog do Pedlowski acompanha desde 2019 se confirma: 19 desses produtos são fabricado na China, o que mantém o principal comprador das commodities brasileiras na posição de maior fornecedor de venenos agrícolas.

Outro elemento comum que já mostrado em outras publicações neste blog é que a maioria dos produtos liberados (pelo menos 14) são de produtos que foram proibidos ou sequer autorizados para uso pela União Europeia (UE).  No caso do herbicida Clorfenapir a proibição na UE se deu em 2001 em função dos problemas ambientais e para a saúde humana, sendo que para outro herbicida, o Ciproconazol, a proibição é de 2004.  E não podemos esquecer do Imazetapir, herbicida que foi proibido na UE em 2002 por causa da sua toxicidade para o desenvolvimento ou reprodutiva, carcinogenicidade, etc.), e por sua alta persistência ambiental e periculosidade. Outros dois herbicidas, Diclosulam e Fomesafen, sequer chegaram a ser autorizados para uso na UE, mas estão sendo liberados para venda e consumo no Brasil.

O moral da história é o seguinte: por detrás dos discursos de responsabilidade e de compromisso com a agroecologia, o que temos na prática é uma enxurrada de aprovações que aumentam a exposição dos brasileiros a poderosos venenos agrícolas que adoecem os brasileiros via contato direto, consumo de alimentos e ingestão de água contaminados por um complexo coquetel de substâncias químicas banidas em outras partes do planeta.

Observatório dos Agrotóxicos: em plena COP30, governo Lula libera mais 30 agrotóxicos

As contradições entre discurso e prática do presidente Lula e seu governo são evidentes a cada dia e cada ato prático, por mais corriqueiro que seja. Como alguém que acompanha com interesse a situação da aprovação de agrotóxicos no Brasil desde 2019, pensei que pelo menos para disfarçar, o governo federal não publicaria nenhum daqueles infames atos de liberação de agrotóxicos para comercialização no território nacional.

Pois bem, pensei errado.  É que hoje o Diário Oficial da União traz a publicação do ATO Nº 54, de 11de  Novembeo de 2025 que libera a comercialização de mais 30 agrotóxicos do tipo Produto Técnico, que é aquela classificação que se refere a produtos concentrados que serão usados para a fabricação dos produtos formulados que serão consumidos no final das contas.

Já olhei a lista dos agrotóxicos inclusos nesse ato é vejo ali velhos conhecidos e aquela costumeira característica de serem produzidos, explicitando uma espécie de colonialismo químico sul-sul, e não norte-sul.

De qualquer forma, como os agrotóxicos são emissores de gases estufa,  o que fica claro é que o governo Lula, quando seu líder não está no palco da COP30 vendendo a sua imagem de exportação, não hesita em rasgar a fantasia da sustentabilidade para introduzir mais venenos perigosos no já sobrecarregado mercado brasileiro de agrotóxicos.

Essa história de COP é semelhante àquela festa em que vamos todos bem vestidos para tomar um porre com whisky barato para acordar no dia seguinte com uma tremenda ressaca.  E, pior, quem dá a festa já sabendo que a ressaca será devastadora.

E depois ainda vai ter gente em 2026 dizendo que é melhor votar em Lula do que arriscar a ter a extrema-direita bolsonarista de volta no poder por causa da devastação ambiental que vai acontecer. Pura hipocrisia. Afinal, na hora de acalentar os lucros do agronegócio, essas duas vertentes estão juntas e misturados. E tome agrotóxicos na água e na comida dos brasileiros!

Observatório dos Agrotóxicos: governo Lula mantém inalterada a marcha do veneno e libera mais 115 agrotóxicos

Mostrando um compromisso inalterado com o modelo agrícola agro-exportador, fortemente dependente de venenos agrícolas para produzir, o governo Lula autorizou hoje, via dois, o Ato No. 26 de 24 de junho de 2025 e o Ato No. 28 de 27 de junho de 2025, a comercialização de mais 56 agrotóxicos em território brasileiro. 

Em mais esse ato contra a saúde ambiental e dos brasileiros em geral foram liberados velhos conhecidos, incluindo os herbicidas Dicamba, Glifosato e Glufosinato que são todas substâncias que são reconhecidamente tóxicas para o meio ambiente e a saúde humana.

Outras característica persistente que está presente em mais esse “ato” é a forte predominãncia de empresas chinesas como as principais fornecedoras desses venenos agrícolas, mostrando um processo de trocas altamente desiguais, seja econômica como ambientalmente.

O fato inescapável é que o governo Lula está mantendo inalterada a marcha do veneno estabelecida pelo governo de Jair Bolsonaro, o que não chega a ser uma surpresa visto que há no atual governo a mesma espécie de compromisso com a pauta agro-exportadora que está na base desse enxurrada de agrotóxicos.

Observatório dos Agrotóxicos: Folha de São Paulo publica matéria confirmando que governo Lula segue ritmo de aprovações de Bolsonaro

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Com algum atraso e uma leve discrepância com o que foi apurado pelo Observatório dos Agrotóxicos do Blog do Pedlowski, o jornal Folha de São Paulo publicou hoje uma matéria assinada pela jornalista  Alexa Salomão que aponta para o ritmo relativamente alto de aprovações de agrotóxicos do governo Lula que se equivale ao que ocorreu durante o período de Jair Bolsonaro.

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Mas segundo a matéria da Folha de São Paulo, mais do que o número de agrotóxicos liberados (ver figura abaixo), o que marca até aqui o processo de aprovação de agrotóxicos pelo ministério da Agricultura comandado pelo ruralista Carlos Fávaro é a manutenção dos ditames do Decreto 10.833/2021 pelo meio do qual o governo Bolsonaro rebaixou gravamente os critérios de liberação destes venenos agrícolas.

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Alexão Salomão notou ainda em sua matéria algo que já vem sendo observado por mim que é a predominância de produtos genéricos ou formulações adaptadas com genéricos, muitos deles já banidos em outras partes do mundo por causa da sua alta toxicidade ambiental e para a saúde humana.

Nesse sentido, Salomão explicitou ainda a flagrante contradição resultante das novas definições de risco adotadas pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) durante o governo Bolsonaro. É que dos 232 agrotóxicos liberados em 2023 pelo governo Lula,  apenas cinco produtos  foram destacados com gradações diferentes dentro de “altamente tóxico” para saúde humana, enquanto que em relação ao meio ambiente apenas dois foram catalogados como”altamente perigoso”, e 47, “muito perigoso”. É preciso lembrar que se os mesmos princípios ativos fossem classificados de acordo com a legislação anterior,  tais números seriam muito mais altos.

O fato explicitado de forma objetiva por esta matéria é que o governo Lula, ao contrário do que havia sido prometido, está mantendo o nível de aprovações de agrotóxicos semelhante ao que foi praticado por Jair Bolsonaro e, pior, muito acima do que foi praticado nas gestões anteriores de Lula e e Dilma Rousseff. O pior é que estando o Pacote do Veneno em análise no Senado Federal, mantida a posição atual do governo Lula de tacitamente apoiar a entrada de mais agrotóxicos no já inflacionado mercado brasileiro, a chance é de que padrões ainda mais flexíveis sejam transformados em lei.

E tudo isso para quê? À primeira vista para favorecer o despejo de produtos indesejados na Europa e favorecer as demandas cada vez mais intensas pelo uso de agrotóxicos nas monoculturas de exportação como desejam os grandes latifundiários que controlam a produção de grãos no Brasil. Para o resto de nós, o que fica é o aumento exponencial dos riscos decorrentes da exposição direta ou indireta a estes potentes venenos agrícolas.

Urgente! Observatório dos Agrotóxicos divulga base com os 232 agrotóxicos liberados pelo governo Lula

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Desde o início do governo Lula, o Observatório dos Agrotóxicos do Blog do Pedlowski vem monitorando os atos publicados pelo Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa), tendo contabilizado a publicação de oito atos (5,6,15,16,22,26,30 e 32) que resultaram na liberação de mais 232 agrotóxicos no já gigantesco mercado brasileiro.

Após realizar o trabalho de compilar todos os agrotóxicos liberados, o Observatório dos Agrotóxicos agora divulga uma base com mais informações sobre cada um desses produtos, adicionando, por exemplo, as cidades e estados onde localizados os detentores dos registros. Isso pareceu importante, na medida em que não há muita informação sobre como esta distribuída essa rede de empresas que detém os registros.

Por outro lado, uma observação inicial leva à observação de que o processo de liberação de agrotóxicos no governo Lula está seguindo os mesmos procedimentos que foram criados pelo governo Bolsonaro, o que implica na aceitação de critérios rebaixados para a definição de toxicidade humana. Isto não apenas gera a falsa sensação de que os agrotóxicos aprovados não são perigosos, pois nenhum dos 232 agrotóxicos foi incluído na categoria de maior risco para a saúde humana, em que pese a presença de agrotóxicos conhecidos por serem causadores de câncer como é o caso do inseticida organofosforado Acefato.  Mas o acefato não é um caso isolado, pois vários outros agrotóxicos presentes na lista de aprovados do governo Lula já possuem farta documentação científica acerca de suas implicações sobre a saúde humana.

Agência Pública on Twitter: "Há alta incidência de casos de câncer e  malformação nas regiões de maior produção agrícola do Mato Grosso, campeão  no consumo de agrotóxicos do país. Saiba mais: https://t.co/l3LSyKKHb3

Por outro lado, a lista traz vários exterminadores de polinizadores como  é o caso dos inseticidas Imidacloprido e Fipronil, mas eles não são os únicos, o que gera uma enorme preocupação com o uso do aumento dessas substâncias no território nacional, especialmente em regiões que concentram a criação de abelhas.

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É importante notar que pelo menos 33% dos agrotóxicos liberados no governo Lula já se encontram proibidos na União Europeia, o que não impede que empresas europeias como a Basf e a Bayer, mas também a sino-suiça Syngenta, continuem enviando para cá produtos altamente perigosos, tanto para o meio ambiente como para a saúde dos brasileiros.

Por outro lado, a China continua sendo a principal fornecedora de agrotóxicos para o Brasil, com 65% dos produtos liberados em 2023 sendo produzidos diretamente na China, o que indica uma influência ainda maior do principal comprador da soja brasileira, visto que a Syngenta e a Adama que são agora controladas por empresas chinesas, também estão enviando seus produtos para o Brasil a partir de outros países, principalmente da Europa (ver figura abaixo).

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Há ainda que se notar que a grande maioria dos produtos aprovados estão destinados para uso nas grandes monoculturas, principalmente da soja. Com isso, fica clara um modelo de trocas imperfeitas, na medida em que o maior fornecedor de agrotóxicos é também o principal comprador deste grão, sendo que os produtos industrializados possuem maior valor agregado.

Há que se lembrar ainda que o que está ruim, ainda pode piorar mais se a bancada ruralista no Senado Federal conseguir aprovar o “Pacote do Veneno” na forma que foi enviado pela Câmara de Deputados.

Para os interessados em ter acesso ao banco de dados contendo as informações sobre os 232 agrotóxicos liberados desde janeiro pelo governo Lula, basta clicar [Aqui!].

Informação exclusiva: Observatório dos Agrotóxicos divulga lista completa dos 2.030 agrotóxicos liberados pelo governo Bolsonaro

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Soba batuta firme da ministra Tereza Cristina e do presidente Jair Bolsonaro, o Brasil realizou uma das maiores ondas de aprovações de agrotóxicos da sua história, com resultados imprevisíveis sobre a saúde humana e o meio ambiente

Após um longo e exaustivo trabalho de compilação, o Observatório dos Agrotóxicos do Blog do Pedlowski divulga com exclusividade a base completa contendo os 2.030 agrotóxicos liberados pelo governo Bolsonaro entre janeiro de 2019 e dezembro de 2022.  Além disso, divulgo outras seis planilhas relativas aos atos promulgados pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA) entre os meses de setembro e dezembro de 2022 (46, 50, 53, 63 e 64). A divulgação desses dados é voltada para informar a população e pesquisadores que estejam neste momento com sua atenção voltada ao estudo da economia política dos agrotóxicos em nível global e no Brasil, bem como seus efeitos sobre a saúde humana e o meio ambiente.

Uma nota de precaução é que apesar de todos os esforços, algumas informações mudaram e mudarão ao longo do tempo, especialmente no que se refere à condição de permissão dos agrotóxicos na União Europeia, pois os órgãos reguladores europeus estão constantemente ajustando padrões de segurança e observando datas limites de permissão de determinados agrotóxicos, o que implica em que alguns produtos que estejam habilitados a uso possam passar à condição de proibidos. Além disso, o fato de que apenas em dezembro de 2022 foram publicados 2 atos (aparentemente em correria pelos avaliadores) que apresentaram uma série de lacunas técnicas que deixam claro que há que se usar a base levando a presença de inconsistências. Entretanto, esse fato não diminui a riqueza de informações que foram compiladas a partir dos atos publicados pelo MAPA.

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O Brasil se tornou o destino de agrotóxicos altamente perigosos que já estão proibidos em outras partes do mundo

Como já observei em postagens anteriores, o estudo inicial da base geral e das planilhas individuais mostra que o Brasil se tornou o destino de agrotóxicos altamente perigosos que já se encontram proibidos em outras partes do mundo, a começar pela União Europeia. Dentre estes produtos proibidos e que estão sendo amplamente utilizados no Brasil, ainda mais após o governo Bolsonaro, e que já estão tendo repercussões sobre a saúde humana e os ecossistemas naturais. A questão é que estas substâncias, apesar de estarem sendo usadas de forma ampla, geral e irrestrita, as conexões entre a sua presença e os impactos sobre a saúde humana não ainda estão claramente identificadas, o que gera um ambiente social de menosprezo das consequências com o contato, seja ele agudo ou crônico.

Um fato claro que emerge dos dados sobre os agrotóxicos liberados pelo governo Bolsonaro é que a maioria se destina a aumentar o uso já dominante em agriculturas de exportação, principalmente a soja, o milho, a cana de açúcar e o algodão. Isto não apenas reforça o caráter de economia dependente do Brasil, pois o principal fornecedor de agrotóxicos é também o principal comprador de diversas commodities agrícolas brasileiras, mas também o fato de que para sustentar o modelo agrícola exportador, o Brasil e sua população são transformados em uma latrina química para onde são enviados produtos que já estão rejeitados em países que recusam determinados agrotóxicos que são considerados altamente perigosos.

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Representantes de empresas brasileiras fabricantes de agrotóxicos participam de conferência na China

Outro aspecto que fica claro é a dependência crescente do Brasil em relação à indústria chinesa de agrotóxicos, principalmente no fornecimento de agrotóxicos pós-patente ou genéricos onde estão concentradas as substâncias mais perigosas. Entretanto, empresas alemãs como a Basf e a Bayer foram beneficiadas com a aprovação de centenas de produtos, muitos deles proibidos na Europa onde as empresas estão sediadas. 

Por outro lado, há que se frisar que houve a aprovação de um grande número de agrotóxicos biológicos, a maioria deles produzidos por empresas brasileiras ou de subsidiárias de multinacionais sediadas no Brasil. Esse é um elemento que deverá merecer uma análise mais profunda, na medida em que parece estar em curso um giro na indústria dos venenos agrícolas para fazer frente ao processo de crescimento de resistência aos agrotóxicos químicos. 

Findo o governo Bolsonaro, o Observatório dos Agrotóxicos continuará seu trabalho

Apesar do governo Bolsonaro ter terminado, o Blog do Pedlowski continuará acompanhando a aprovação de agrotóxicos, pois a previsão é de que a pressão do latifúndio agro-exportador e das multinacionais produtores de veneno continuará sendo grande para que se aprovem ainda mais agrotóxicos.  

Ainda que o presidente Luís Inácio Lula da Silva tenha apontado para um compromisso com o fortalecimento de um modelo agrícola de base ecológica e menos dependente de agrotóxicos, o fato é que o latifúndio agro-exportador es seus representantes no Congresso Nacional continuarão comprometido com um modelo agrícola dependente e altamente viciado em agrotóxicos. Assim, a avaliação é de que na questão do modelo agrícola repousa um dos maiores desafios do governo que assumiu em janeiro de 2023.

Acesse e baixe a base do Observatório dos Agrotóxicos

Para quem estiver interessado em acessar a base completa dos agrotóxicos liberados pelo governo Bolsonaro, basta clicar [Aqui!]. Já quem estiver interessado em baixar as planilhas individuais dos atos atos publicados entre setembro e dezembro de 2022, pode clicar [Ato No. 46 de 13 de setembro 22, Ato No. 50 de 21 de outubro de 2022, Ato No. 53 de 23 de Novembro 22Ato No. 63 de 27 de dezembro 22,  Ato No. 64 de 28 dez 22]

Nos seus estertores e com presidente fora do Brasil, governo Bolsonaro libera mais 98 agrotóxicos, totalizando 2.030 em 4 anos

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Enquanto o presidente cessante Jair Bolsonaro fugia para os EUA, o Ministério da Agricultura mostrava o seu potencial tóxico ao liberar em dois atos (Números 63 e 64) mais 98 agrotóxicos, com os quais se chegou ao impressionante “grande total” de 2.030 liberações desde 01 de janeiro de 2019.  Não há sombra de dúvidas que na área da liberação de venenos agrícolas, o MAPA mostrou-se um dos mais ativos e eficientes braços do governo Bolsonaro.

Uma olhada rápida nos dois atos reforça as mesmas características marcantes de toda a coleção de agrotóxicos liberados por Jair Bolsonaro, na medida em que se manteve a preponderância da origem chinesa da maioria dos produtos técnicos que entrarão em um mercado controlado por versões genéricas de agrotóxicos pós patentes. 

Essa situação de preponderância de produtos chineses que estão em parte proibidos em mercados com regras de uso e comercialização mais exigentes (como é o caso da União Europeia) acaba de ser analisada no artigo que co-autorei com meus colegas Ossi Ollinaho e Markus Kröger, o qual acaba de ser publicado pela revista Third World Quarterly.

Uma das consequências dessa quantidade de agrotóxicos altamente perigosos e que estão destinados para uso majoritário nas monoculturas de exportação (i.e., soja, cana de açúcar, algodão e milho) é a exposição cada vez maior dos brasileiros a resíduos de produtos conhecidos por causarem incontáveis tipos de doenças, a começar por vários tipos de câncer.

Essa herança trágica será, contudo, de difícil remoção, na medida em que o latifúndio agro-exportador continuará efetivamente controlando o MAPA, e certamente com isso as pressões por mais liberações de venenosa agrícolas altamente tóxicos continuarão ocorrendo.

Resta saber como reagirão as outras forças e movimentos sociais do campo que terão, de alguma forma, avançar com as propostas no sentido de uma mudança ecológica em uma agricultura que hoje se encontra com um vício muito forte no uso de agrotóxicos. Da ação dessas forças é que dependerá a diminuição do ritmo avassalador de entrada de venenos agrícolas no mercado brasileiro de agrotóxicos.

O “Observatório dos Agrotóxicos” do Blog do Pedlowski irá ao longo do mês de janeiro publicar arquivos contendo a descrição de todos os atos liberados desde setembro de 2022.

Com novo ato, governo Bolsonaro libera mais 46 agrotóxicos, totalizando 1.894 em 48 meses, e põe mais veneno na mesa dos brasileiros

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Como sempre ocorre quando o Ministério da Agricultura libera mais venenos agrícolas, o Observatório dos Agrotóxicos do Blog do Pedlowski informa que nesta 4a. feira (26/10) foi publicado no Diário Oficial da União o Ato No. 50 de 21 de Outubro por meio do qual o governo Bolsonaro liberou mais 46 agrotóxicos para serem comercializados no Brasil.

Com isso, o governo federal acaba de alcançar a incrível marca de 1.894 liberados em 46 meses do mandato do presidente Jair Bolsonaro, com um valor médio de 41,17 venenos agrícolas liberados. 

Um dos aspectos persistentes de todas as rodadas de liberações realizadas desde janeiro de 2019 é o fato de que em torno de 30% sendo liberados pelo governo Bolsonaro estão proibidos (alguns há mais de duas décadas) pela União Europeia em função dos riscos que esses agrotóxicos trazem para o meio ambiente e a saúde humana.

A minha avaliação é de que todos essas liberações de agrotóxicos altamente perigosos já estão causando uma epidemia química no Brasil, em especial nos estados com maior participação das monoculturas de exportação que ficam localizados justamente no cinturão de votos em Jair Bolsonaro e seus aliados, a maioria deles ligados umbilicalmente ao latifúndio agro-exportador.

Como em vários ramos da vida, o legado do governo Bolsonaro será terrível para os brasileiros que hoje estão ingerindo altas doses de resíduos de agrotóxicos e expostos a um processo de adoecimento crônico via água de torneira e alimentos contaminados.

Observatório dos Agrotóxicos: lançamento de base atualizada e breve análise sobre o conteúdo do Ato No. 38

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Como informado desde a publicação no dia de ontem (30/08) do Ato No 38 de 22 de agosto de 2022, o “Observatório dos Agrotóxicos” do Blog do Pedlowski está disponibilizando hoje a base atualizada com todos os dados dos agrotóxicos liberados pelo governo federal desde 01 de janeiro de 2019.  A partir de uma reavaliação da base foi feita uma pequena correção, chegando-se a um total de 1.783 agrotóxicos liberados pelo governo Bolsonaro, e não os 1.784 divulgados anteriormente.

A pequena correção de números se deveu à identificação à uma linha em branca na planilha geral que agora foi deletada para termos o número correto.

Por outro lado, estou divulgando a base com os 50 agrotóxicos liberados pelo Ato No. 38, sendo que 22 deles são agrotóxicos biológicos, o que é a maior liberação proporcional deste tipo de produto em um só ato n ogoverno Bolsonaro.  É interessante notar que dos 1.783 agrotóxicos liberados pelo governo Bolsonaro, apenas 256 são de tipo biológico. Entretanto, uma característica singular desses produtos é que quase a totalidade deles é de fabricação nacional, o que indica uma liderança do setor brasileiro de agroquímicos na produção de agrotóxicos biológicos. Se isto é positivo ou não, há que se observar as consequências ambientais desse tipo de agrotóxico, na medida em que os impactos dos agrotóxicos de base química já são razoavelmente conhecidos.

Um museu de velhas novidades com algumas peculiaridades

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Além da forte presença de agrotóxicos biológicos, o Ato No. 38 se caracteriza pela presença de agrotóxicos químicos que já são velhos conhecidos, principalmente pelas suas consequências nefastas contra os ecossistemas naturais, polinizadores e a saúde humana. Destaco aqui os agrotóxicos Atrazina, Dicamba, Fipronil e Imadacloprido que são todos conhecidos e que já tiveram dezenas de outros produtos liberados desde janeiro de 2019.

Por outro lado, uma das novidades é o inseticida Espiropidion, fabricado pela empresa sino-suiça Syngenta, para o qual não foi encontrado pedido de registro na União Europeia. Além disso, este agrotóxico, que é apresentado pela propaganda da Syngenta como uma grande novidade, não teve seu pedido de registro encontrado na base de dados da União Europeia.  Uma curiosidade a mais sobre o Espiropidion é que ele foi lançado inicialmente na Guatemala antes de ter seu registro solicitado no Brasil.

Por outro lado, o Ato No. 38 traz vários agrotóxicos que são compostos por mais de um princípio ativo. E aqui ocorre mais uma peculiaridade, já que esses agrotóxicos contém princípios ativos que ou já foram banidos pela União Europeia ou ainda se encontram com avaliação pendente pelo órgão responsável pela liberação dos mesmos. O curioso é que mesmo tendo essa situação, no mínimo problemática, com os órgãos reguladores da União Europeia, estes agrotóxicos foram liberados no Brasil.  Se lembrarmos do processo de avaliação das vacinas contra a COVID-19, vamos lembrar que o comportamento foi muito mais rígido, como foi no caso na vacina russa Sputnik V.

Mas até nenhuma surpresa, pois o poder de convencimento da bancada ruralista, que teve sua ex-presidente como ministra da Agricultura entre janeiro de 2019 e março de 2022, é bem conhecido nas hostes do governo Bolsonaro.

Para os que desejarem baixar a base de dados com os agrotóxicos liberados pelo Ato No. 38, basta clicar [Aqui!]. Já os interessados em baixar a base contendo todos os agrotóxicos liberados entre janeiro de 2019 e agosto de 2022, basta clicar [Aqui!].

Observatório dos Agrotóxicos: com 1.734 liberações, governo Bolsonaro transforma Brasil em celeiro de venenos agrícolas banidos no resto do mundo

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Com alguma demora, o “Observatório dos Agrotóxicos” do Blog do Pedlowski divulga hoje a lista completa dos produtos liberados por meio do Ato No. 31 de 28 de junho (n=46) completa o estratosférico número de 1.734 agrotóxicos liberados pelo governo Bolsonaro desde 01 de janeir de 2019.

Os agrotóxicos liberados pelo Ato No. 31 confirmam vários aspectos das rodadas anteriores, na medida em que empresas chinesas (localizadas na China ou fora dela) se tornaram as principais fornecedoras para alimentar a produção de monoculturas de exportação, incluindo algodão, cana de açúcar, milho e soja. Com isso, o que se vê é que toda a conversa de que agrotóxicos são essenciais para alimentar o mundo não passa de um falácia, na medida em que alimentar o mundo não é o caso dessas monoculturas que, no plano interno, são responsáveis pelo avanço do desmatamento dos biomas amazônicos e do Cerrado, bem como por graves violações dos direitos trabalhistas, incluindo a prática de trabalho escravo.

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Além disso, há ainda o Ato No. 31 confirma persistente liberação de produtos banidos em outras partes do mundo, o que vai de encontro às teses propaladas pela ex-ministra (e atual candidata ao senado federal) Tereza Cristina de que toda essa enxurrada de venenos traria modernização do portfólio de agrotóxicos usados na agricultura brasileira. Na prática, o que se vê é a liberação de produtos banidos na União Europeia há algum tempo, como no caso dos herbicidas Ametrina e Atrazina, mas também de vários compostos de grupos químicos conhecidos por causarem a extinção de polinizadores (por exemplo as abelhas) como no caso dos piretróides e neonicotinóides.

O Brasil como celeiro das corporações dos venenos agrícolas

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Um aspecto que já foi revelado por estudos realizados por organizações internacionais, como é o caso da ONG suíça “Public Eye”, e que se confirma nessa nova rodada de liberações é que para o Brasil e outros países do chamado Sul Global (que congregam a periferia capitalista formada por ex-colônias das potências europeias)  estão sendo enviados aqueles produtos que foram banidos nos países centrais por serem altamente perigosos e, consequentemente, causarem várias doenças graves (incluindo câncer, má formação fetal, alterações no sistema neurológico).

É esse aspecto que precisa ser sempre lembrado, pois em troca do fornecimento de commodities relativamente baratas, os governos dos países centrais estão contribuindo para danos irreparáveis em ecossistemas estratégicos para o equilíbrio ecológico da Terra.  E isso tudo apenas para manter um padrão de acumulação que perpetua as graves desigualdades que existem no sistema econômico global.

Como já escrevi anteriormente, uma das discussões centrais que deveriam estar ocorrendo na atual campanha eleitoral, e que não está ocorrendo, é sobre este modelo agrícola tão dependente de venenos agrícolas para manter níveis de produção medíocres e que só gera safras expressivas em função do aumento da área plantada. Rediscutir esse modelo anti-ecológico e de baixa eficiência deveria ser um dos pontos chaves dos debates, pois os efeitos cumulativos do uso de quantidades gigantescas de venenos altamente tóxicos terá consequências gravíssimas no médio e longo prazo.

Para quem desejar baixar a base com os 46 agrotóxicos liberados pelo Ato No. 31 de 28 de junho de 2022, basta clicar [Aqui!]. Para quem desejar baixar a base completa dos 1.734 agrotóxicos liberados pelo governo Bolsonaro, basta clicar [Aqui].