Praia do Açu, a Atafona criada pelo porto, corre o risco de sumir

Pode ser uma imagem de horizonte, oceano e praia

Mantido o ritmo de avanço do mar, a localidade de Barra do Açu deverá desaparecer, deixando centenas de famílias ao Deus dará

Há mais de 10 anos, venho usando o espaço do Blog do Pedlowski para noticiar sobre o processo de erosão costeira que está consumindo a faixa de praia que circunda a localidade da Barra do Açu no V Distrito de São João da Barra. Este processo erosivo foi previsto nos estudos de impacto ambiental utilizados pela OSX para obter as licenças ambientais necessárias para a instalação da hoje defunta unidade de construção naval do Porto do Açu.

Este processo tem sido documentado por múltiplas reportagens e documentos científicos, mas nada tem servido para sensibilizar o poder público e os atuais gestores do Porto do Açu, a Prumo Logística Global. Amparados em laudos questionáveis e contando com a inércia do Instituto Estadual do Ambiente (Inea), o Porto do Açu finge que não vê o que suas estruturas perpendiculares à linha da costa estão causando naquela faixa do litoral sanjoanense.

Esta manhã, por exemplo, está sendo de grande aflição para os moradores da Barra do Açu já que a ação das ondas resultou em uma grande perda do que resta da praia, aproximando o mar de dezenas de residências que agora parecem estar com os dias contados (ver vídeo abaixo).

A inércia tanto dos gestores do porto como das autoridades governamentais deixa os moradores ao Deus dará, na medida em que a perda das residências e estabelecimentos comerciais ocorrerá sem que haja qualquer discussão sobre medidas compensatórias ou, muito menos, de ações estruturantes que contenham o processo erosivo. As soluções de engenharia existem, mas falta pressão política para que os donos do Porto do Açu cumpram com as obrigações que foram criadas pelo processo de licenciamento ambiental.

Aliás, com o PL da Devastação se transformando em lei, o que fica claro é que casos como o da Praia do Açu tenderão a se multiplicar, já que vários regras anteriores foram simplesmente removidas, diminuindo ainda mais as responsabilidades das corporações que instalam esse tipo de empreendimento nas regiões costeiras brasileiras.

Audiência em praça pública debate avanço descomunal da erosão na Praia do Açu

Audiência em praça pública coloca em debate a erosão que consome a  Praia do Açu

Desde o início de 2014, venho usando espaço para abordar o avanço do processo erosivo que está consumindo a passos acelerados a outrora aprazível Praia do Açu, levando mar adentro dezenas de moradias e arrastando histórias e as casas dos moradores da pacata localidade da Barra do Açu. 

Curiosamente, e em acordo com a memória dos moradores mais antigos da Barra do Açu, um documento produzido por uma empresa do Grupo MMX, a Mineração, Pesquisa e Comércio Ltda   , publicou um relatório atestando que aquela parte da costa era bastante estável e não estaria, por isso, sujeita a processos erosivos como o que se assiste nos dias atuais (ver imagem abaixo).

Uma alma mais ingênua poderia então se perguntar sobre como uma área que era relativamente estável e não candidata a sofrer processos erosivos graves chegou ao estado atual.  Como já registrei neste blog em diversas ocasiões, o início do processo erosivo está diretamente ligado à construção do “molhe” que protege a entrada do Canal de Navegação do Porto do Açu e cuja existência alterou a dinâmica de movimentação de sedimentos naquela área (ver imagem abaixo).

É importante ainda lembrar que  no dia 2 de outubro de 2014 participei de uma audiência pública onde apresentei um relatório técnico onde mediu-se a quantidade de área erodida pelo avanço do mar na Praia do Açu (ver imagem abaixo).

Em que pese a presença de um especialista contratado pelo Porto do Açu que eximia a empresa de responsabilidades pelo processo erosivo ocorrendo na Praia do Açu, o então o Gerente Geral de Sustentabilidade na Prumo Logística S/A, Vicente Habib, garantiu que a empresa iria ser solidária e pariticiparia dos esforços em prol da cessação do processo.

Agora, mais de 11 depois daquela animada audiência, vê-se que o Porto do Açu não só não foi solidário, mas como está ganhando dinheiro com os sedimentos que são dragados e não retornados para a dinâmica costeira, contribuindo diretamente para a aceleração do processo erosivo (ver imagem abaixo).

É a famosa situação de ganha-perde (onde o Porto do Açu e a população perde), o que torna a situação ainda mais esdrúxula, demandando medidas urgentes para mitigar (a palavra sempre presente nos Estudos de Impactos Ambientais) os efeitos da alteração de dinâmica de sedimentos na Praia do Açu.

Assim, vejo como positiva a reunião pública que ocorreu ontem na Praça da Barra do Açu (a qual já dá sinais que não durar muito se nada for feito) e que reuniu moradores da Barra do Açu e um grupo composto por 4 vereadores sanjoanenses (Analiel, Junior Monteiro, Julinho Peixoto e Elísio Motos). Como fui informado que em São João da Barra não existe oposição à prefeita na Cãmara de Vereadores, é bom saber que 4 vereadores governistas foram até a Barra do Açu e se reuniram com a população aflita por respostas (ver vídeo abaixo).

O único problema é que as soluções urgentes não podem esperar muito mais tempo, já que as imagens mostram que a erosão está avançando de forma avassaladora e não há como esperar pela contratação de uma empresa que faça um projeto de engenharia para salvar a Barra do Açu. A ação teria que ser agora e precisaria envolver os responsáveis pela erosão, qual seja, o Porto do Açu.  Capacidade técnica e equipamentos o Porto do Açu tem. e basta querer usar que os efeitos serão imediatos. Resta saber quem vai apresentar essa fatura aos gestores do Porto do Açu.

Uma boa data para essa entrega será durante a audiência pública do hub ferro metálico que ocorrerá na próxima 4a. feira no Grussai Praia Clube.

Barra do Açu, a outra Atafona

Uma paisagem de conflito: a erosão consome a Praia do Açu, enquanto navios chegam no Porto do Açu

O litoral do município de São João da Barra está sendo palco de dois grandes processos erosivos. O mais conhecido mundialmente é o que está consumindo parte do distrito de Atafona, em um processo que é fruto principalmente da perda da capacidade hídrica do Rio Paraíba do Sul. Enquanto isso, outro acontece de forma mais silenciosa e silenciada, mas por causas que foram antecipadas no Estudo de Impacto Ambiental (EIA) que deu base para a emissão da licença ambiental do estaleiro naval da empresa OSX. Falo aqui da Praia do Açu, a qual serviu de balneário para gerações de sanjoanenses (ver imagem abaixo).

A Praia do Açu antes da chegada do porto de Eike Batista

Curiosamente, a futura destruição da Praia do Açu foi meticulosamente prevista pelo EIA do estaleiro da OSX que previu um processo de engorda ao norte do molhe e próximo do molhe que protege o terminal 2 do Porto do Açu, enquanto a porção mais ao sul seria o lócus de um processo erosivo (ver imagem abaixo).

Página do EIA que foi utilizado para obter a licença ambiental do estaleiro naval da OSX onde se previa a ocorrência de um processo erosivo futuro por causa da construção do Porto do Açu

É preciso que se diga que apesar da previsão de que a relevância do impacto erosivo seria muito alto, as medidas corretivas prometidas (i.e., o Programa de Gerenciamento de Dragagem” e o “Programa de Monitoramento da Dinâmica Sedimentológica Marinha e de Erosões Costeiras”) nunca saíram do papel.   E não custar lembrar que em 2019, a Comissão Estadual de Controle Ambiental (Ceca) eliminou boa parte das condicionantes colocadas nas licenças ambientais do Porto do Açu, o que, na prática, desobrigou os controladores do empreendimento de conduzirem as medidas de correção que haviam sido estabelecidas durante o processo de licenciamento.

Assim, não é de se surpreender que atualmente os moradores mais próximos da orla costeira estejam assistindo com grande nervosismo o avanço da língua erosiva que está paulatinamente destruindo a Praia do Açu (ver vídeo abaixo).

Conversando com um antigo morador da localidade, o mesmo me disse com um misto de desânimo e revolta que o pior de tudo é testemunhar o descaso e a omissão frente à erosão costeira que ameaça destruir uma localidade em que se podia viver e conviver com o mar sem grandes atropelos, e que teve seu cotidiano dilacerado após a chegada do Porto do Açu.

A minha reação a essa situação é que há que se disseminar o mais amplamente o que está em curso na Barra do Açu, pois não é possível que ela seja destruída e ninguém seja responsabilizado por um processo que foi previsto quando se falou na construção do empreendimento.

Canto das Pedras é um verdadeiro canto da sereia corporativa do Porto do Açu

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Processo de erosão na Barra do Açu foi iniciado pela implantação das estruturas de proteção do Porto do Açu: a tristeza de muitos para a alegria de poucos

Uma das características marcantes do chamado “Capitalismo do Choque”  é que não existe destruição que não abra caminho para situações voltadas para gerar lucro. Pois bem, uma das consequências diretas da implantação dos quebra-mares e molhes no Porto do Açu foi a erupção de um desequilíbrio no trânsito de sedimentos no sentido Sul-Norte, pois a implantação dessas estruturas geraram um impedimento no fluxo de ida e vinda dos sedimentos.  Com isso, a localidade de Barra do Açu está sendo ameaçada pela destruição causada pela intrusão das águas marinhas.

Mas a história nao para aí.  É que nas imediações do molhe que foi construído para proteger o Terminal 2 do Porto do Açu está ocorrendo um processo de deposição de areias que alargou a faixa de praia. E aí foi que entrou dinheiro público e a imaginação de algum marqueteiro para estabelecer um novo “point” que recebeu o simpático nome de “Canto das Pedras“, com direito a página oficial na rede Instagram. 

Eu não vou nem elaborar sobre a origem dessa jogada de marketing, mas é preciso dizer que para a sua materialização foi feito uso de dinheiro público como apontou em recente entrevista a um veículo da mídia corporativa local, o secretário municipal de Obras e Serviços de São João da Barra, Alexandre Rosa.

O que Rosa não disse é que enquanto o “Canto das Pedras” faz a alegria de alguns, inclusive de funcionários do próprio Porto do Açu, o processo erosivo segue firme e forte na região da Praia do Açu onde vivem os deserdados das benesses criadas pela implantação do enclave geográfico que opera sem ter que se responsabilizar pelos prejuízos socioambientais que estão sendo criados pela sua existência e funcionamento.

Assim, ainda que se entenda que parte da população use a faixa de areia próxima do molhe do Terminal 2 do Porto do Açu, não é aceitável que se esqueça a outra face desta moeda que é a destruição que está ocorrendo na Barra do Açu. Afinal, é o canto da praia nada mais é uma forma mal disfarçada de canto de sereia das corporações que está instaladas no Porto do Açu sob a batuta da Prumo Logística.

 

Tanto em Ilhéus como na Praia do Açu, um porto está na raiz da erosão costeira

açu erosão

Praia do Açu: o que estava caindo em 2014, em 2023 sumiu totalmente da paisagem

O município de Ilhéus localizado no sul da Bahia está experimentando um processo acelerado de erosão costeira que, segundo pesquisadores, tem com um das causas a construção do Porto do Malhado que foi inaugurado em 1971.  Segundo matéria publicada pelo Portal G1, o processo de erosão está ameaçando a estabilidade da região litorânea de Ilhéus e coloca em risco o futuro de milhares de pessoas que ali se estabeleceram a partir da década de 1970.

Segundo o professor  José Maria Landim Dominguez, professor do Instituto de Geociências da UFBA e responsável pelo mapeamento da Bahia no estudo “Panorama da Erosão Costeira no Brasil”, do Ministério do Meio Ambiente, a estrutura portuária  impede a passagem da areia do lado sul para o lado norte da cidade, e causa o processo erosivo (ver imagem abaixo).

bahia erosão costeira

Comparação da faixa de areia em 1960 e em 2012 — Foto: José Maria Landim Dominguez, professor do Instituto de Geociências da UFBA

Ao olhar a imagem acima, me veio imediatamente à mente uma análise que foi realizada no meu laboratório em 2014 sobre um processo semelhante, e que continua ocorrendo até hoje, na localidade de Barra do Açu. Em função disso, resolvi tentar uma comparação entre 2014 e 2023 na Praia do Açu para ver se houve alguma mudança visual na paisagem costeira (ver imagem abaixo).

açu 2014 2023

O que transparece dessas imagens é que, apesar de não estarmos experimentando a mesma redução observada na Bahia (provavelmente ao período comparado nos dois casos), é que a Praia do Açu está realmente “encolhendo” por causa do processo erosivo associado à implantação dos terminais do porto de Eike Batista. Para identificar isso, bastaria olhar para a linha de praia em 2014 quando existiam pequenos quiosques na extensão comparada, os quais hoje sumiram da paisagem. Além disso, como seria de se esperar, a área da “Avenida Atlântica” está praticamente toda coberta por areia em 2023, diferente do que estava em 2014.

Outra diferença notável está no tratamento que a Prefeitura Municipal de Ilhéus está dando ao problema em comparação ao que se pratica na sua congênere de São João da Barra. O fato é que neste momento a questão da erosão causada pelo Porto do Açu simplesmente sumiu da pauta não apenas da Prefeitura, mas também da Câmara de Vereadores de São João da Barra. Parece até que nada de diferente está ocorrendo na Barra do Açu e na praia que um dia foi o principal ponto de veraneio de muitas famílias campistas e sanjoanenses.

 

 

 

Barra do Açu é novamente invadida por água do mar

Imagem de satélite mostrando o processo de alteração da linha costeira no entorno do Terminal 2 da Praia do Açu em 2015.

Nos anos de 2014 e 2015 a água do mar invadiu por diversas vezes a localidade da Barra do Açu, e levou a muitos moradores a estabelecer uma conexão direta com o processo de construção do Terminal 2 do Porto do Açu que teria causado um processo de erosão na Praia do Açu.

Essa situação obrigou a realização de uma audiência pública na Câmara Municipal de São João no dia 01 de Outubro de 2014, onde a Prumo Logística Global apresentou os resultados de uma pesquisa que teria sido feita pelo pela professor Paulo César Rosman da COPPE/UFRJ que isentaria o Porto do Açu do processo erosivo em curso na Praia do Açu.

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O professor Paulo César Rosman, COPPE/UFRJ, durante a audiência pública realizada na Câmara Municipal de São João da Barra para tratar dos problemas ocorrendo na Praia do Açu no dia 01 de Outubro de 2014.

Após essa audiência pública, e após algumas promessas de intervenção por parte da Prefeitura Municipal de São João da Barra, o assunto acabou caindo no completo esquecimento. Colaborou para isso uma mudança na dinâmica de sedimentos que contribuiu para que não se repetisse a intrusão das águas oceânicas para interior da localidade de Barra do Açu.

Pois bem, a tranquilidade tensa em que os moradores da Barra do Açu viveram nos últimos anos foi quebrada hoje com uma nova invasão de água do mar para o interior de partes da localidade, inundando várias ruas (ver imagens abaixo).

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Agora com a retomada desse processo de intrusão da água do mar, é bem provável que os moradores da Barra do Açu voltem a cobrar pelas soluções nunca adotadas para um processo que outros especialistas já apontaram para posições distintas daquele que foi contratado pela Prumo Logística para isentá-la de responsabilidades para um processo que estava previsto nos estudos de impacto ambiental realizados para obter as licenças ambientais necessárias para a construção do Porto do Açu.

Porto do Açu como síntese do Brasil

Estive ontem visitando o casal de agricultores Reinaldo e Luzia Toledo para entregar uma simples lembrança de Natal e ganhei deles um saco cheio de abacaxis tirados da pequena propriedade que não lhes foi tomada durante o escabroso processo de desapropriações que foram conduzidas pelo (des) governo de Sérgio Cabral que, por sua vez, as entregou ao ex-bilionário Eike Batista para a implantação de um natimorto distrito industrial municipal (vejam só!) na retroárea do megaempreendimento conhecido como Porto do Açu.

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Esse primeiro momento da minha visita ao V Distrito de São João é um exemplo da bondade e do cuidado com que a maioria do povo brasileiro se relaciona com a vida, onde os que pouco possuem são sempre aqueles que dividem o pouco que possuem de forma generosa a despeito das dificuldades que eventualmente apareçam pela frente.

Mas não muito longe da casa acolhedora do casal  Reinaldo e Luzia podemos encontrar a outra face do Brasil, aquela onde os poucos que controlam esse país pisoteiam sobre os direitos e os sonhos da maioria do nosso povo.  

Falo aqui das terras desapropriadas do Sítio Camará, desapropriação que foi realizada pela Companhia de Desenvolvimento Industrial (Codin) no longínquo dia 01 de Agosto de 2013, justamente na data em que faleceu o seu proprietário, José Irineu Toledo, sob a desculpa de que na área seriam instaladas torres de transmissão de energia que iriam abastecer o Porto do Açu [1]. Após mais de cinco anos, as torres realmente estão lá, mas sem as linhas de transmissão que justificaram a urgência da tomada das terras.

E bem ao lado do Sítio Camará, outra situação inusitada que abordei já no dia 09 de Fevereiro de 2015 [2] continua. Falo aqui da obstrução da Estrada Municipal do Saco Dantas que foi inicialmente construída pela LL(X) de Eike Batista e que continua até hoje exemplificando o controle irrestrito do território de São João da Barra pelos controladores do Porto do Açu.

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Um pouco mais distante da porteira jaz outro símbolo da distribução desigual dos custos sociais e ambientais que cercam a implantação do Porto do Açu, o processo de erosão que já engoliu  mais de 100 de metros da Praia do Açu [3]. Esse processo que se iniciou com a construção do Terminal 2 do Porto do Açu permanece hoje sem qualquer medida de mitigação que impeça o seu avanço, ainda que o mesmo estivesse previsto no processo de licenciamento ambiental realizado pela LL(X) para a construção do Canal de Navegação e da Unidade de Construção Naval do Porto do Açu!

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Mas nada espelha melhor a assimetrias que tornam o Brasil um dos países desiguais do mundo do que atravessar o latifúndio formado pela combinação das desapropriações promovidas por Sérgio Cabral via Codin com a compra de terras particulares por Eike Batista. Ali nada foi construído e os animais que pastam pertencem aos agricultores que tiveram suas terras tomadas pela Codin, e que hoje vivem em permanente conflito (ainda que camuflado) com a Prumo Logística Global, atual controladora do Porto do Açu.

E não adianta nem perguntar por onde andam o Ministério Público Estadual ou Federal, o Instituto Estadual do Ambiente (INEA) e a Prefeitura Municipal de São João da Barra que não aparecem para demandar ações que possam resolver os problemas aqui apontados.  É que em se tratando do Porto do Açu, a opção claramente já foi feita em prol do capital e em detrimento dos habitantes tradicionais daquele território.  

Por isso mesmo é que o Porto do Açu é a síntese perfeita do Brasil: aos ricos tudo, aos pobres nada. Aliás, nada não. Aos pobres restam o desrespeito, a humilhação, a desterritorialização e a degradação ambiental. E tudo isso em nome de um crescimento econômico dos quais os pobres são apenas vítimas. Para delírio das corporações e seus acólitos que as servem dentro das estruturas do Estado brasileiro.


[1] http://pedlowski.blogspot.com.br/2013/08/codin-desapropria-terra-de-jose-irineu.html

[2] https://blogdopedlowski.com/2015/02/09/cada-visita-uma-novidade-porteira-lacra-estrada-municipal-no-v-distrito-de-sao-joao-da-barra/

[3] https://blogdopedlowski.com/2015/09/02/erosao-avanca-rapido-na-praia-do-acu/

Carla Machado e a síndrome do enclave

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A prefeita eleita de São João da Barra, Carla Machado (PP), foi citada numa matéria no jornal Folha da Manhã como estivesse preparando a criação de novas secretarias para orientar o processo de desenvolvimento econômico e a melhoria da segurança pública e, seu município (Aqui!).

Até aí tudo bem, pois realmente São João da Barra precisa de avanços nessas duas áreas de forma urgente. O problema é que a prefeita eleita parece estar depositando boa parte de suas esperanças na disposição da Prumo Logística de, digamos, chegar junto e dar algum retorno, por mínimo que seja, para o município que até agora só ficou os ônus da hospedar o Porto do Açu.

Eis o que disse a prefeita eleita em termos de suas expectativas da participação da Prumo Logística no processo de desenvolvimento econômico e segurança pública em São João da Barra: “Quero arrumar a casa para implantar a secretaria Desenvolvimento Econômico, visando o Porto do Açu. Outra questão que estaremos trabalhando muito é a segurança pública, temos que trabalhar paralelamente junto a este empreendimento para manter a cidade tranquila, para evitar coisas como ontem (caixa eletrônico explodido em Grussaí)..”

Ora, se até agora a Prumo Logística não deu o retorno esperado e, aliás, prometido, não vai ser com a criação de duas secretarias municipais que isto vai ocorrer. Um elemento estrutural que explica essa indisposição da Prumo Logística em dar um mísero retorno que seja para São João da Barra é que o Porto do Açu é, sempre foi, e sempre será um enclave econômico que opera como um território dentro do território sanjoanense.

Como isto é uma condição inescapável de qualquer enclave, depositar quaisquer expectativas de colaboração voluntária da Prumo Logística seria um ato de completade ingenuidade. Como a prefeita eleita de São João da Barra não me parece ser uma pessoa ingênua, deve haver algo a mais nesse anúncio.

Agora, para efeitos de demonstração prática do que eu considero a completa desconsideração da Prumo Logística com os efeitos colaterais da implantação do Porto do Açu sobre o território sanjoanense e a população que nele vive, posto uma sequência de imagens da Praia do Açu em Maio e Setembro de 2015, e uma tirada no mesmo ponto na última 5a. feira (20/10).  Os leitores hão de convir que a cena é bastante didática, pois pouco sobrou da faixa de areia do que já um dos principais balneários de São João da Barra.

E o que fez a Prumo Logística em relação a um problema que já estava previsto nos estudos de impacto ambiental que foram realizados para obter as licenças ambientais do Porto do Açu? Trouxe uma especialista da Universidade Federal do Rio de Janeiro, o Prof. Paulo César Rosman, que apresentou uma tese estapafúrdia de que o previsto no EIA/RIMA não era correto, e que causas alternativas (não conseguir definir bem quais) eram responsáveis pela erosão na Praia do Açu. Depois de se eximir dessa responsabilidade, o que fez a Prumo Logística? Investiu bastante dinheiro nas estruturas de proteção dos terminais do Porto do Açu (os famosos molhes) e na dragagem do Canal de Navegação. Já o prometido projeto de engenharia para recuperar e proteger a Praia do Açu, tomou chá de sumiço.

Qual é o moral da história afinal? É que se a prefeita eleita de São João da Barra deposita alguma esperança no envolvimento da Prumo Logística Global na solução dos problemas causados pela implantação do Porto do Açu em São João da Barra, ela precisa é de um professor de Geografia que lhe explica bem a natureza e as idiossincrasias que acompanham a existência de enclaves do tipo tão bem representado por esse mega empreendimento.

Enquanto isso, a vida segue, o mar mareia, e as ondas continuando destruindo a Praia do Açu….

Marketing acadêmico: defesa de dissertação sobre o processo de licenciamento ambiental do Porto do Açu

Em meio às graves dificuldades impostas sobre a Universidade Estadual do Norte Fluminense (Uenf) pelo (des) governo do Rio de Janeiro, continuamos tentando remar contra essa corrente de destruição. 

E o que fazemos melhor na Uenf é produzir conhecimento qualificado para contribuir não apenas com o avanço da ciência básica, mas também de um modelo de desenvolvimento científico que sirva ao conjunto da sociedade.

Por isso é que hoje terei a satisfação de participar da banca examinadora da dissertação que orientei no âmbito do Programa de Ecologia e Recursos Naturais da Uenf cujo cartaz é mostrado abaixo.

dissertação juliana

A minha expectativa é que essa banca examinadora sirva para auxiliar a candidata a trabalhar nas possíveis falhas que tenham passado por mim, de modo a oferecer uma contribuição inequívoca ao entendimento dos potenciais e limitações do uso da Avaliação de Impacto Ambiental no Brasil. De quebra, que os atingidos pela implantação do Porto do Açu em suas várias facetas negativas tenham um documento acadêmico que lhes seja útil na defesa de seus direitos que tem sido pisoteados desde o início da construção desta mega obra.

Porto do Açu: licenciamento “Fast Food” sob a lupa de quem foi na audiência da dragagem

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A audiência para licenciamento da dragagem do Porto do Açu continua rendendo uma série de contribuições de moradores/leitores que compareceram ao evento, e estou postando abaixo o que me parece ser uma ajuda “ajuda memória” dos principais acontecimentos da noite do dia 27 de janeiro, e que me chegou via o endereço eletrônico próprio do blog.

E o conteúdo da narrativa, apesar de duro, me parece apontar para as várias incongruências que cercam não apenas o processo de licenciamento, mas principalmente à omissão efetiva do poder público municipal (executivo e legislativo) acerca dos problemas sociais e ambientais que cercam a implantação e ampliação do Complexo Industrial Portuário do Açu.

Aviso que, como a narrativa continha alguns adjetivos pejorativos e lacunas de na construção do texto, fiz algumas edições, mas que não considero tenham comprometido a rica narrativa que se segue, e que certamente poderá ser usada no futuro pelos estudiosos deste processo de licenciamento tipo “Fast Food” e da relação do poder público com as corporações  no âmbito do que tem sido classificado como Neodesenvolvimentismo.

Finalmente, quando se diz que as pessoas não estão atentas ao que está ocorrendo, a narrativa abaixo mostra que este não é bem o caso.  Enfim, boa leitura!

PORTO DO AÇU – AUDIÊNCIA PÚBLICA 27/01/2016 – A OMISSÃO DO GOVERNO MUNICIPAL

1ª  – PARTE  

Realmente, amigos nossa Cidade está entregue nas mãos das grandes empresas!  Ontem, na Audiência Pública que discutia o “Aprofundamento da Dragagem do Terminal 1”, realizada na Sede do Município, NÃO HAVIA NENHUM REPRESENTANTE DO EXECUTIVO NEM LEGISLATIVO (salvo o Vereador Franquis Arêas que estava presente e se manifestou sobre o processo da erosão na Praia do Açu) !

PREFEITO, SECRETÁRIOS MUNICIPAIS; PRESIDENTE DA CÂMARA DOS VEREADORES E O RESTO DA VEREANÇA  (ELÍSIO; EZIEL; JONAS; KAKÁ; RONALDO; SONINHA; ALEX) NÃO COMPARECERAM! A população, que votou e que paga altíssimos salários, ficou estarrecida com este abandono! O que mais se ouvia era “cadê estes XXXX que não botam a cara na reta?” Com a ausência do governo municipal, a população teve que engolir todas as explicações que foram de interesse da Prumo Logística mostrar! Foi feia a coisa!

2ª  – PARTE  

Entre muitas afirmações, “questionáveis”, o Gerente da Área Social e Meio Ambiente da Prumo Logística, João Teixeira, ao ser indagado se o Porto do Açu não pagaria impostos em dia a São João da Barra, afirmou: que tal colocação não era verdadeira, que a Prumo Logísticas e todas as empresas  dentro do Complexo estão com seus impostos municipais rigorosamente em dia e que, estes representam cerca de 83% do ORÇAMENTO MUNICIPAL! Se isso for verdade, em que percentuais ficam então as entradas dos royalties e demais impostos dentro do Orçamento? Quase engasguei com o sanduíche ao ouvir a reclamação de um membro do Sindicato dos Trabalhadores quando falou que muitas empresas estavam se instalando em São João da Barra, vindos com CNPJ de outros estados, e que isto gerava uma perda de receita aos cofres públicos Estaduais e municipais!  Mas como não havia representante da Secretaria Municipal de Fazenda para explicar  se isso era verdade aos cidadãos sanjoanenses presentes na audiência- uma senhora me falou que ele  estava rezando em alguma igreja –  tivemos que engolir tudo calados com o suquinho do lanchinho oferecido pela Prumo Logística! O meu era de maçã… DELÍCIA!

3ª  – PARTE  

Mais uma vez a Prumo Logística se isentou da responsabilidade da erosão acelerada na Praia do Açu, mesmo com os estudos que já apontavam para isso no Eia/Rima da OSX que o INEA, agora, FINGE  que não existiu! Mas João Teixeira, pelo menos, reconheceu que a erosão existe, está em processo acelerado e que a Prumo “estuda” (NÃO É GARANTIDO, AINDA!) a doação de material para, junto com a Prefeitura, tentar minimizar os efeitos com um possível quebra-mar na localidade (de Barra do Açu). SÓ NÃO DISSE QUE DIA E ANO QUE ISSO ACONTECERÁ! O Sr. João Teixeira também afirmou que a “CORTINA VERDE” ou “CINTURÃO VERDE” (condicionante do INEA que seria para conter as partículas em suspensão do mineroduto) por demorar a crescer, pode ser substituída por uma cobertura,  que seria mais barata. Mas como não tínhamos a presença do representante da Secretaria de Meio Ambiente Municipal para nos explicar melhor – talvez estivesse orando junto com o da Fazenda, me lembrou a tal senhora – como uma CONDICIONANTE pode ser substituída assim, sem maiores explicações , que tranquilize os pulmões dos Moradores do entorno do Complexo! ?

4ª  – PARTE  

A Prumo Logística e o INEA tentaram,  mas não puderam,  deixar de ouvir, as reclamações dos moradores! Mais uma vez a salinização das águas foi lembrada; a covarde desapropriação dos produtores e agricultores do V Distrito, também! Os pescadores também falaram e se colocaram contra a maneira perversa como são tratados; da inoperância dos cursos de qualificação, o fato de que são poucas pessoas  aproveitados pela Empresa que moram em São João da Barra!  Nenhum de nós engoliu as explicações do professor João Thadeu de Menezes  (outro contratado de Santa Catarina  para explicar o inexplicável) que defendeu a Prumo Logística classificando a “erosão acelerada no Açu “ de MÚLTIPLAS CAUSAS INDEFINIDAS!! A  Prumo como sempre deu um show com seus slides e vários funcionários tentando explicar cada ponto questionado E O NOSSO GOVERNO, AONDE ESTAVA? É para a nossa população refletir bem na hora do voto e mandar esta cambada toda omissa  tomar refresco de caju!