Observatório dos Agrotóxicos: uso e custos estão aumentando em velocidade maior do que a produção agrícola brasileira

Charge do Junião_agrotóxicos no Brasil

Dados disponibilizados pelo  Sindicato Nacional da Indústria de Produtos para Defesa Vegetal (Sindiveg) na última 5a. feira (12/05) mostram que entre 2017 e 2021 a área que recebeu a aplicação de agrotóxicos aumentou 36,6% (o equivalente a adicionais 505 milhões de hectares) em função do aumento da presença de pragas, doenças e ervas daninhas de difícil controle (ver figura abaixo)

.O resultado financeiro desse aumento foi que o valor de mercado dos agrotóxicos utilizados pelos agricultores aumentou 17,4%, em 2021, passando de US$ 12,485 bilhões (2020) para US$ 14,655 bilhões (2021).  Dentre as culturas que precisaram do uso de agrotóxicos, o Sindiveg afirmou que a soja representou 53% do valor total, com US$ 7,779 bilhões, enquanto o milho participou com 13% e a cana, com 9%. Em outras palavras, estas três culturas de exportação representaram juntas 75% de todos os agrotóxicos utilizados no Brasil no ano passado, confirmando uma tendência de que esse tipo de monocultura está fortemente apegada ao uso intensivo de venenos agrícolas.

Além disso, há que se notar que no tocante ao volume de agrotóxicos utilizados, houve um crescimento anual de 9,4%, passando de 1,081 milhão de toneladas para 1,183 milhão t. Se levarmos em conta que pelo menos 30% dos agrotóxicos usados no Brasil estão banidos pela União Europeia em função dos seus danos à saúde humana e ao meio ambiente, é possível afirmar que as razões para preocupação com os efeitos devastadores desses venenos agrícolas também aumentaram consideravelmente.

Perda de safra considerável, apesar do uso intenso de venenos agrícolas

Um dado apresentado de forma mais ligeira pelo Sindiveg se refere ao fato de que apesar de todo o crescimento na área aspergida com agrotóxicos, “os problemas fitossanitários podem representar quebra de até 40% na produção agrícola brasileira, que equivale a cerca de 100 milhões de toneladas por ano“. Em outras palavras, apesar dos seus altos custos e dos fortes que causam sobre seres humanos e ecossistemas naturais, os agrotóxicos não evitam fortes perdas em termos de produção, as quais se somam em forma de custos aos elevados desembolsos associados à aquisição destes venenos agrícolas.

Como o Sindiveg também informou que os fabricantes de agrotóxicos também enfrentaram “sérios problemas relacionados a aumento do câmbio, desabastecimento de algumas matérias-primas vindas da China, atraso nas entregas, elevação dos custos dos fretes marítimos”, fatores estes que estão se agravando em 2022, algo que deve ser esperado é um aumento ainda maior nos custos relacionados à compra de agroquímicos. Tal fato reforça as evidências de que os custos com a manutenção de monocultivos de larga extensão vão muito além do que os eventuais ganhos com a produção obtida.  A verdade é que estamos todos pagando de forma subliminar o direta para que os operadores do latifúndio agro-exportador possam manter suas margens de lucros.

Recorde tóxico: venda de agrotóxicos alcançou R$ 75,81 bilhões em 2021 no Brasil

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Por Leonardo Gottems, repórter da AgroPages, para a Agnews

 A receita líquida do mercado de defensivos agrícolas (i.e., venenos agrícolas, grifo meu) no Brasil deve chegar a US $ 13,3 bilhões (R$ 75,81 bilhões) em 2021, segundo o Sindiveg (Sindicato Nacional da Indústria de Produtos de Defesa Vegetal).

A projeção foi apresentada em relatório da Abiquim (Associação Brasileira da Indústria Química), ao qual a AgroPages teve acesso em primeira mão.

Se confirmada, essa receita líquida das empresas de agrotóxicos aumentaria 7,3% em relação a 2020. No total, US $ 6,2 bilhões (R$ 35,34 bilhões) em produtos foram importados neste ano, uma queda de 10,1% em relação às compras do ano anterior.

Segundo o Sindiveg, que reúne as principais empresas agroquímicas formuladas com patentes no Brasil, estima-se o consumo de 536 mil toneladas de agrotóxicos “efetivamente aplicados” nas lavouras (conceito PAT = “produto por área tratada”). Se a projeção se confirmasse, também haveria uma queda de 10,1% em relação a 2020.

Segundo Ciro Marino, presidente-executivo da Abiquim, “o faturamento cresceu, mas os custos também. Com um bom equilíbrio, a única preocupação com a falta de competitividade é claramente expressa pela crescente participação das importações na carteira de atendimento às necessidades brasileiras. As estimativas já apontam para um déficit recorde do setor – em torno de US $ 45 bilhões ”, alertou.

Terceiro Trimestre

A área tratada com agrotóxicos cresceu 8,7% no terceiro trimestre de 2021 em relação ao mesmo período do ano anterior, afirmou o Sindiveg. No total, foram tratados 209,3 milhões de hectares, um acréscimo de 16,8 milhões de hectares. A soja foi o produto com maior área tratada (32% do total), seguida por pastagem (20%), trigo (12%), milho (10%), cana-de-açúcar (7%) e outras culturas.

“Esse resultado se deve a uma série de fatores, com destaque para o início do plantio de verão e a expectativa de alta na safra 2021-2022, além da expectativa de preços firmes para as principais commodities”, explicou Julio Borges, presidente do Sindiveg. Em volume, os defensivos agrícolas aplicados no 3º trimestre alcançaram 154,6 mil toneladas, aumento de 6,6% em relação ao mesmo período de 2020.

Entre os principais segmentos de produtos, houve crescimento de 14% no uso de fungicidas (de 12.800 t para 14.500 t), e de 12% no uso de inseticidas (de 14.800 t para 16.500 t). 7% no uso de tratamento de sementes (1.700 t a 1.800 t) e 4% no uso de herbicidas (de 104.800 t a 109.300 t). O Sindiveg encomendou esses dados à Spark Consultoria Estratégica.

O valor de mercado dos defensivos agrícolas (i.e., venenos agrícolas, grifo meu) aplicados atingiu US $ 1,7 bilhão no terceiro trimestre, aumentando 21,7% em comparação com julho-setembro de 2020 (US $ 1,4 bilhão). “A expectativa de crescimento da próxima safra é uma ótima notícia para todos os elos da cadeia produtiva. Porém, é importante destacar que o crescimento da área exige mais atenção dos produtores aos desafios fitossanitários, que não são poucos e estão sempre se renovando”, afirmou. Borges acrescentou.

O presidente do Sindiveg avaliou o crescimento da área tratada no terceiro trimestre, mas expressou preocupação com o cenário global, “que é instável e preocupa muito, devido à escassez de matérias-primas importadas, aumento de custos e, principalmente, falta de garantia de entrega de insumos pela China, nosso principal fornecedor. ”

“O Sindiveg está atento aos crescentes custos das matérias-primas importadas e aos problemas logísticos. Principalmente nas últimas semanas, temos enfrentado dificuldades no recebimento de insumos importantes. A organização e todas as indústrias associadas estão trabalhando incansavelmente para resolver a situação o mais rápido possível, para evitar uma possível falta de insumos (i.e., agrotóxicos e fertilizantes sintéticos, grifo meu), mas o cenário é extremamente preocupante ”, concluiu Borges.

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Este texto foi inicialmente escrito em inglês e publicado pelo AgNews [Aqui!].

Preços salgados dos agrotóxicos vão pressionar agronegócio brasileiro

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Desde que o governo Bolsonaro se iniciou,  os controladores do mercado brasileiro de agrotóxicos entrou em euforia em função da verdadeira tsunami de novos produtos sendo aprovados em ritmo para lá de acelerado.  Dentre as promessas feitas pelo presidente Jair Bolsonaro e sua musa do veneno, a ministra Tereza Cristina, essa aprovação massiva de produtos visava introduzir novos substâncias que fossem mais eficientes no combate às ditas pragas agrícolas, e tinham como como outro produto um barateamento dos custos para os produtores que usam venenos agrícolas em suas propriedades.

Ao longo dos últimos dois anos, o Blog do Pedlowski demonstrou a partir da análise dos produtos liberados que a imensa maioria deles é de produtos pós-patente, ou seja, produtos que já estão no mercado há bastante tempo a ponto de terem suas patentes expiradas, liberando-os assim para serem produzidos em países como China e Índia.  

Eis que agora um informe do Sindicato Nacional da Indústria de Produtos para Defesa Vegetal (Sindiveg) vem jogar um pá de cal dolorosa na promessa de que a política de facilitação de aprovação de agrotóxicos (muitos deles proibidos na União Europeia e na China) iria baixar os custos. Segundo nota divulgada pelo Sindiveg,  o custo dos agrotóxicos para os agricultores brasileiros “sofrerão reajustes imediatos e poderão aumentar ainda mais”.  A razão para esse cenário de encarecimento dos venenos agrícolas seriam “as altas nos preços de matérias-primas, embalagens e transporte internacional, o que provocará reajustes “para absorver os custos, bem como o impacto do câmbio que continua acima do projetado no ano anterior”

Em sua nota, o Sindiveg ainda anuncia que os agrotóxiocos “sofrerão reajustes imediatos e poderão aumentar ainda mais para absorver os custos bem como o impacto do câmbio“.

Trocando em miúdos essa nota dos fabricantes de venenos agrícolas, o aumento no custo dos agrotóxicos será inevitável e os agricultores que dependem deles para viabilizar sua versão envenenada de agricultura terão de internalizar essa alta. Como o preço das commodities não deverá seguir o perfil de alta dos custos, o que deverá acontecer é um encolhimento de margens de lucros que já não são tão grandes para começo de conversa.

A consequência disso deverá ser um esforço pela expansão da área plantada que, por sua vez, deverá pressionar ainda mais as taxas de desmatamento e de uso de venenos agrícolas.  Este círculo vicioso deverá causar ainda a ampliação dos problemas de contaminação ambiental e de problemas para a saúde humana. Em suma, um grande desastre para o Brasil, mas garantia de lucros ainda mais fabulosos para os fabricantes de agrotóxicos.