Mais de 60 entidades assinam nota da ABC e SBPC que alerta: corte orçamentário ameaça a sobrevivência das Universidades Federais

Em nota pública, divulgada no dia 19 de maio, as entidades científicas denunciam impacto das restrições divulgadas recentemente sobre a pesquisa, a formação profissional e a inclusão social no Brasil

A Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC) e a Academia Brasileira de Ciências (ABC) divulgaram uma nota pública conjunta na última segunda-feira (19) manifestando “profunda preocupação” com a decisão do Governo Federal de liberar apenas no final do ano um terço dos recursos previstos para as Universidades Federais. Para as entidades, a medida compromete o funcionamento básico dessas instituições, impacta a produção científica nacional e ameaça diretamente a formação de profissionais qualificados.

O documento, que já conta com a adesão de mais de 60 entidades científicas e acadêmicas de todo o país, alerta para o risco de paralisação de atividades acadêmicas e administrativas, com consequências graves para o desenvolvimento nacional. As instituições signatárias também enfatizam o papel estratégico das universidades públicas na redução das desigualdades sociais e no acesso de jovens pobres, negros e periféricos ao ensino superior gratuito e de qualidade. “Essa política não atinge apenas a ciência – destrói um dos principais mecanismos de ascensão social no Brasil”, afirmam os presidentes Helena Bonciani Nader (ABC) e Renato Janine Ribeiro (SBPC).

Leia a nota na íntegra:

Nota Pública

Corte Orçamentário Ameaça a Sobrevivência das Universidades Federais e o Futuro do País

A Academia Brasileira de Ciências (ABC) e a Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC) vêm a público manifestar sua profunda preocupação com as recentes medidas adotadas pelo Governo Federal em relação ao financiamento das universidades federais.

A decisão de liberar apenas no final do ano um terço dos recursos previstos inviabiliza o funcionamento básico dessas instituições, comprometendo de forma severa o funcionamento das universidades federais brasileiras, bem como afetando diretamente a manutenção de suas atividades administrativas, acadêmicas e científicas ao longo do ano.

Mais de 90% da pesquisa científica brasileira é resultado das pesquisas realizadas nas universidades públicas do país. A limitação orçamentária imposta não apenas ameaça a continuidade das pesquisas, como também compromete a formação de profissionais altamente qualificados, essenciais para o desenvolvimento econômico, social e tecnológico do país. Ao adiar e diminuir significativamente a liberação de recursos, o governo dificulta o funcionamento dessas instituições, comprometendo sua capacidade operacional.

Essa política não atinge apenas a ciência – destrói um dos principais mecanismos de ascensão social no Brasil. As universidades públicas são a porta de entrada para milhares de estudantes pobres, negros e periféricos que dependem delas para romper o ciclo da desigualdade, empurrando os mais vulneráveis para o ensino privado e o endividamento.

Países desenvolvidos investem massivamente em educação e ciência. O Brasil, ao contrário, desmonta suas universidades, exporta cérebros e aumenta sua dependência tecnológica estrangeira. Sem pesquisa pública, não haverá inovação, nem soluções para crises sanitárias, ambientais ou econômicas.

Diante desse cenário, a ABC e a SBPC reiteram a importância de garantir o pleno funcionamento das universidades federais, condição indispensável para o avanço da ciência, da educação e da soberania nacional.

Helena Bonciani Nader
Presidente
Academia Brasileira de Ciências

Renato Janine Ribeiro
Presidente
Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência

Rio de Janeiro e São Paulo, 19 de maio de 2025

O documento também pode ser acessado em PDF neste link.

O documento é endossado pelas seguintes entidades:

“Nota Pública – Corte Orçamentário Ameaça a Sobrevivência das Universidades Federais e o Futuro do País”

Academia Brasileira de Neurologia (ABN)

Associação Brasileira de Antropologia (ABA)

Associação Brasileira de Cristalografia (ABCr)

Associação Brasileira de Enfermagem (ABEN-Nacional)

Associação Brasileira de Ensino de Ciências Sociais (ABECS)

Associação Brasileira de Limnologia (ABLimno)

Associação Brasileira de Linguística (ABRALIN)

Associação Brasileira de Mutagênese e Genômica Ambiental (Mutagen-Brasil)

Associação Brasileira de Pesquisa em Educação em Ciências (ABRAPEC)

Associação Brasileira de Pesquisadores em Educação Especial (ABPEE)

Associação Brasileira de Pesquisadores em Jornalismo (SBPJor)

Associação Brasileira de Psicologia Social (ABRAPSO)

Associação Brasileira de Relações Internacionais (ABRI)

Associação Brasileira de Saúde Coletiva (ABRASCO)

Associação de Linguística Aplicada do Brasil (ALAB)

Associação dos Geógrafos Brasileiros (AGB)

Associação Nacional de Pesquisa e Pós-Graduação em Arquitetura e Urbanismo (ANPARQ)

Associação Nacional de Pesquisa e Pós-Graduação em Música (ANPPOM)

Associação Nacional de Pesquisa e Pós-Graduação em Psicologia (ANPEPP)

Associação Nacional de Pesquisa e Pós-Graduação em Turismo-ANPTUR

Associação Nacional de Política e Administração da Educação (ANPAE)

Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Educação (ANPEd)

Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Geografia (ANPEGE)

Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Letras e Linguística (ANPOLL)

Colégio Brasileiro de Ciências do Esporte (CBCE)

Federação Brasileira das Associações Científicas e Acadêmicas de Comunicação (SOCICOM)

Federação de Sociedades de Biologia Experimental (Fesbe)

Federação Internacional das Associações de Estudantes de Medicina do Brasil (IFMSA Brazil)

Sociedade Astronômica Brasileira (SAB)

Sociedade Brasileira de Biofísica (SBBf)

Sociedade Brasileira de Biologia Celular (SBBC)

Sociedade Brasileira de Bioquímica e Biologia Molecular (SBBq)

Sociedade Brasileira de Ciência em Animais de Laboratório (SBCAL)

Sociedade Brasileira de Computação (SBC)

Sociedade Brasileira de Ecotoxicologia

Sociedade Brasileira de Eletromagnetismo (SBMAG)

Sociedade Brasileira de Entomologia (SBE)

Sociedade Brasileira de Estudos Clássicos (SBEC)

Sociedade Brasileira de Estudos de Cinema e Audiovisual (SOCINE)

Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação (INTERCOM)

Sociedade Brasileira de Farmacologia e Terapêutica Experimental (SBFTE)

Sociedade Brasileira de Física (SBF)

Sociedade Brasileira de Herpetologia (SBH)

Sociedade Brasileira de História da Educação (SBHE)

Sociedade Brasileira de Imunologia (SBI)

Sociedade Brasileira de Lógica (SBL)

Sociedade Brasileira de Matemática (SBM)

Sociedade Brasileira de Matemática Aplicada e Computacional (SBMAC)

Sociedade Brasileira de Micologia (SBM)

Sociedade Brasileira de Microeletrônica (SBMicro)

Sociedade Brasileira de Micro-ondas e Optoeletrônica (SBMO)

Sociedade Brasileira de Neurociências e Comportamento (SBNeC)

Sociedade Brasileira de Ornitologia (SOB)

Sociedade Brasileira de Ótica e Fotônica

Sociedade Brasileira de Paleontologia (SBP)

Sociedade Brasileira de Primatologia (SBP)

Sociedade Brasileira de Protozoologia (SBPz)

Sociedade Brasileira de Psicologia (SBP)

Sociedade Brasileira de Química (SBQ)

Sociedade Brasileira de Zoologia (SBZ)


Fonte: JC Notícias 

Choque neoliberal repetido: pelo segundo ano seguido, governo Lula passa motosserra no orçamento das universidades federais

Em meio às viagens do presidente Lula, o segundo governo editou o Decreto  No.12.448/2025 que na tirou R$ 2,5 bilhões do Ministério da Educação (MEC) e reduziu o orçamento anual das universidades federais em pelo menos 61%. Esse é o segundo ano seguido que a medida adotada, impondo um contigenciamento de verbas que impede a realização de reformas e afeta serviços terceirizados como é o caso da limpeza.

O impacto desse corte, no entanto, vai muito além. É que em muitas universidades, essa medida impedirá o pagamento de serviços básicos como os de eletricidade e água, coisas que são fundamentais para viabilizar o funcionamento mínimo das instituições. Mas a coisa não para aí, pois unidades de pesquisa que utilizam equipamentos que dependem do oferecimento sustentado desses serviços poderão se tornar inviáveis.

O interessante é que de tempos em tempos, o presidente Lula ensaia o discurso surrado de que seu mandato é comprometido com o ensino público e com as universidades. No entanto, quando se trata de fazer cortes orçamentários para assegurar o fluxo de dinheiro para abastecer o sistema financeiro via o pagamento de juros,  as universidades são atacadas sem dó nem piedade.

O problema é que estamos diante de um governo que estimula a condição dependente da nossa economia, ancorando o pesado dos investimentos públicos em projetos que favorecem o aprofundamento da reprimarização. Isso fica explícito em todos os recursos alocados para a produção de commodities agrícolas e para a produção de óleo e gás. 

Nesse contexto,  cortar o orçamento das universidades e institutos federais faz completo sentido, pois não há interesse de fato na produção de conhecimento científico que diminua a dependência no setor primário. 

A verdade é que inexiste no governo Lula um compromisso real com a diminuição do caráter dependente da economia brasileira. Com isso, não se pode levar os discursos pró-universidades do presidente Lula como sendo sérios. No máximo, eles representam aquela máxima de se levantar bandeiras corretas em dias de festa para esquecê-las no momento em que se sai do palanque.

Por essas e outras é que precisamos as universidades precisam se mobilizar urgentemente para pressionar e impedir que esse corte de quase 40% seja executado.  O risco de se ficar inerte em face dessa ataque é grave demais.

A postura agressiva de Lula contra a greve nas universidades federais mostra a sua real opção de futuro para o Brasil

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Lula fez diversas manifestações contra a greve realizada por professores e servidores de universidades e institutos federais

Em mais uma manifestação irritada contra a greve realizada por professores e técnicos de universidades e institutos federais, o presidente Lula declarou que não teria medo de reitores porque não que teriam sido eles que teriam “mordido” o seu dedo mindinho (aquele que ele perdeu em uma prensa mecânica nos tempos em que era metalúrgico).

Governo Lula nega reajuste a servidores e convoca mesa para acabar com a  greve

Essa é mais uma manifestação reveladora da postura do governo Lula curiosamente contra um segmento que o apoiou de forma majoritária durante o período em que ficou preso em Curitiba e também no duro embate eleitoral travado em 2022 contra Jair Bolsonaro.  É que ao negar algo minimamente próximo ao mesmo tipo de reposição salarial concedida à policiais federais e a policiais rodoviários federais (categorias que claramente formaram a linha de frente de apoio a Bolsonaro),  Lula mostra algo mais profundo que é o descompromisso com o fortalecimento das universidades e institutos federais cujos orçamentos estão muito aquém do que seria preciso para recuperar as perdas ocorridas sob Bolsonaro.

Ao negar o fortalecimento não apenas dos salários de professores e técnicos, mas principalmente a recomposição da condição orçamentária das universidades federais, Lula apenas confirma seu descompromisso com o desenvolvimento científico e tecnológico do Brasil.  É que até as emas do Palácio do Planalto sabem que é nas universidades federais que se produz mais de 90% da ciência nacional. Assim, ao se negar a recompor as perdas salariais acumuladas ao longo dos últimos anos e manter as universidades em condição de penúria,  Lula literalmente mantém as linhas gerais adotadas por Bolsonaro.

Biden Cracks Down on Chinese Tech Investment

Enquanto o Brasil investe em uma agricultura altamente predatória, a China faz investimentos massivos em desenvolvimento científico e tecnológico

Apenas por comparação, a China que está se tornando a principal potência científica do mundo vem aumentando de forma consistente o orçamento investido em desenvolvimento científico e tecnológico.  Enquanto isso, a opção brasileira é por investir em torno de R$ 360 bilhões para apoiar principalmente o latifúndio agro-exportador que não precisa de muita tecnologia para produzir commodities que serão compradas majoritariamente pelos chineses que cada vez mais nos vendem produtos com alto valor agregado (curiosamente quase o mesmo valor investido pela China em desenvolvimento científico e tecnológico).  O resultado deste tipo de troca altamente desigual nós já sabemos: alto nível de desenvolvimento para os chineses, enquanto que para o Brasil sobra poluição de águas e solos pelo uso excessivo de fertilizantes e agrotóxicos, desmatamento e diminuição de recursos hídricos.

A questão que me parece clara é que os seguidos ataques de Lula ao movimento grevista nas universidades federais reflete mais a sua opção de país que ele quer que o Brasil seja do que qualquer preocupação com a falta de aulas para os estudantes. E no caso, o país que se desenha a partir dessas declarações que continuará atrasado tecnologicamente e cada vez mais dependente e controlado pelas oliquarquias agrárias que sempre controlaram os rumos da sociedade brasileira.

O cálculo de Lula, o espantalho

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Por Douglas Barreto da Mata

Não há surpresa na ação de Lula em relação aos movimentos paredistas dos servidores federais da educação.  Sinto muitíssimo em dizer isso.  Não é um lapso ou um simples erro.  Não é um resultado de derrota frente às forças que o antagonizam, porque Lula e seu governo sequer disputaram alguma coisa. Não é uma concessão, é rendição mesmo. É deliberado.

Quem lê, vê ou ouve as justificativas do presidente, as chamadas restrições fiscais ou pior, a “troca” de direitos por obras, não pode afastar a conclusão, sob pena de parecer um néscio, de que o governo do PT busca se aproximar daquilo que imagina ser o “centro” da política brasileira, mas que para o PT e para Lula será o precipício.

As frustradas tentativas de agradar o Pantagruel pós capitalista (neoliberal, dizem uns) são a prova acabada do que digo.  Ora cedendo aos nazipentecostais, ora cedendo aos empresários que preferem sangrar um filho a pagar impostos, ora, enfim, dando tudo para o RS (incluindo corpo e alma para evitar metáforas mais pesadas), sem cobrar nenhuma reparação, política que seja, dos agrokillers do meio ambiente, ou do desgovernador ultraneoliberal que os serve.

Lula e seu núcleo duro acham que se endireitando serão aceitos pela direita. Não entenderam nada, não é? Por isso, vos digo, que venha logo Jair Bolsonaro de novo, porque pelo menos teremos a esperança de coesão e reação da esquerda (ou o que sobrou dela) para disputar algum espaço no cenário político. Aliás, o que o próprio movimento dos servidores das universidades e institutos federais já mostra muito bem.

Manifestação em defesa da educação obriga Lula a se pronunciar sobre a greve  em visita a Alagoas - Sintietfal

Do jeito que está, não dá.  Não dá para tratar como aliado, ou até como mal necessário esse cadáver insepulto que é o governo Lula. Lula hoje é um mal desnecessário, que só serve para engrossar as fileiras da direita pelo arquétipo que representa.  Um espantalho.

A greve nas universidades e institutos federais e o papel de quinta coluna dos “intelectuais consentidos”

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As universidades e institutos federais estão neste momento em meio a um processo de greve que deve paralisar a maioria dessas instituições. As demandas são muitas e incluem não apenas a necessária recomposição de salários corroídos por anos sem recomposição sequer das perdas inflacionárias, mas também de orçamentos que hoje ameaçam inviabilizar essas instituições estratégicas para o desenvolvimento nacional.

O governo Lula, ao contrário do que prometeu na campanha eleitoral, vem impondo também na educação federal a sua agenda neoliberal e, com isso, não apenas se recusa a negociar com os sindicatos, mas continua asfixiando financeiramente as instituições.  Desta forma, restou aos servidores de universidades e institutos federais o caminho da mobilização.  Assim, o Brasil assiste neste momento o nascimento de um movimento grevista que busca o cumprimento das promessas desprezadas em nome da obediência ao “novo teto de gastos” que apenas serve aos interesses dos agentes do rentismo, a começar pelas grandes instituições financeiras que hoje controlam a economia brasileira.

Curiosamente tenho lido uma série de manifestações nas redes sociais vindas daquilo que pode se chamar de “intelectuais consentidos” que não apenas condenam o movimento de greve, mas que imputam a ele a chance de que a dita reforma administrativa seja mais facilmente aprovada pelo congresso nacional.  É preciso que se esclareça que essa reforma administrativa que visa solapar o caráter público do funcionalismo estatal vem avançando sob os olhares plácidos do governo Lula em um misto de tolerância e cumplicidade.

Um dos argumentos que são usados pelo que eu estou chamando de “intelectuais consentidos”  é de que este não é o momento de fazer greve, pois o governo Lula estaria, digamos, encurralado pela extrema-direita no congresso nacional.  Além disso, se diz que se não houve greve no governo Bolsonaro, por que se fazer no de Lula? Ora, essa me parece uma questão óbvia, pois nem sempre as condições materiais são suficientes para que haja uma greve, há que existir as condições políticas.  Curiosamente, o abandono do governo Lula de seus compromissos de campanha foi quem criou as condições políticas para que um movimento grevista pudesse ocorrer.

Como alguém que já está em uma universidade pública desde 1998, já muita coisa, inclusive a ação de docentes que negavam a necessidade do confronto para se obter melhorias orçamentárias e salariais. No caso da Universidade Estadual do Norte Fluminense, os grandes avanços que tivemos sempre resultaram de greves, nunca se dando chance a uma súbita disposição dos governantes para conceder o óbvio. Mas o que assisto hoje me parece estar diretamente alinhado com a hegemonia neoliberal na sociedade brasileira, inclusive dentro dos segmentos que se dizem de esquerda dentro das universidades públicas. É a supremacia das ideias de empreendedorismo e do mérito pessoal sobre as demandas coletivas e de natureza universalista. 

E antes que eu me esqueça, uma definição sobre o que seriam intelectuais consentidos. Eles seguem o figurino daquilo que eu identifiquei como “menudos neoliberais” no governo desastroso de Rafael Diniz em Campos dos Goytacazes. A maioria deles aparece sempre usando os melhores figurinos da moda, seguem um perfil estético engomadinho, e são aqueles que sempre aparecem como figurinhas carimbadas em programas de TV e rádio da mídia corporativa.  Por isso tudo, eles são consentidos.

Finalmente, de minha parte deixo clara a minha posição de apoio à greve nas universidades e institutos federais. Essa mobilização mostra o caminho que precisamos seguir para defender o ensino público superior. Na Uenf já tarda a hora de começarmos um movimento que faça o governo de Cláudio Castro a cumprir seus compromissos, a começar pelo pagamento da recomposição das perdas inflacionárias.

No seu crepúsculo, governo Bolsonaro aprofunda ataque à educação brasileira e às universidades e institutos federais

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Ao longo dos seus 47 meses de existência, o governo Bolsonaro promoveu um ataque em regra à educação pública brasileira, não apenas por meio de uma profunda asfixia financeira, mas também com a desestruturação e desrespeito ao funcionamento dos órgãos que regem as diversas áreas que regem essa esfera estratégica do estado brasileiro.

Agora, no crespúsculo de sua existência, o presidente Jair Bolsonaro autorizou mais um corte gigantesco (algo em torno de R$ 3 bilhões, o que chega a próximo de R$ 5 bilhões em 2022) no orçamento da educação e das universidades e institutos federais, muito provavelmente para cumprir compromissos com seus aliados políticos, dentro e fora do congresso nacional.

A consequência imediata desse corte é deixar as universidades e institutos com o cofre zerado, impedindo o cumprimento de compromissos financeiros básicos, como o pagamento de servidores terceirizados que agora poderão passar o Natal sem comida em suas mesas.

Mas esse último ataque também milhões de crianças brasileiras que ficarão sem serviços essenciais em suas escolas, as quais dependem da descentralização das mesmas verbas federais que irão fazer na falta nas universidades e institutos.

Assim, não bastou colocar uma série de ministros completamente anti-educação pública ou ainda tornar um MEC em uma espécie de entreposto da corrupção, agora se paralisa e asfixia atividades essencias em um momento em que a crise econômica torna as escolas um dos poucos locais onde milhões de crianças brasileiras ainda podem ser alimentadas, ainda que precariamente.

O fato é que não será simples reverter esse cenário de destruição que favoreceu tremendamente as escolas e universidades privadas que foram sempre beneficiadas, seja financeiramente ou por meio do avanço da desregulação que ampliou o chamado ensino à distância. 

O próximo governo terá em suas mãos uma tarefa desafiadora, especialmente porque a pressão dos especuladores financeiros será para que a asfixia financeira da educação pública seja mantida em todos os níveis. Resistir às pressões contra a educação pública será uma dos grandes desafios do próximo governo. A ver!

Corte de verbas para pesquisa e ciências ameaça a continuidade de projetos no Brasil

Especialista aponta que pandemia mostrou que investimento retorna para a sociedade

Corte na ciência, tecnologia e inovação prejudica o país | CEISE Br
Universidades federais à beira do colapso, podendo inclusive fechar as portas por falta de verba. O anúncio da UFRJ e da Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP) estampou capas de jornais e deixou a comunidade científica em alerta. As duas instituições não são as únicas a sofrerem com a possibilidade de não retomarem as atividades no segundo semestre de 2021. Segundo especialistas, o corte de investimentos em pesquisa, educação e inovação é realidade pelo menos desde 2015, mas este ano a situação piorou exponencialmente: 30% dos recursos foram bloqueados pelo Governo Federal e o montante ficou em cerca de 52 bilhões, a menor cifra em valores corrigidos pela inflação desde 2008.

As consequências para o país, apontam especialistas, serão nefastas. Por aqui, quase que a totalidade de pesquisas científicas e em inovação são feitas pelas universidades públicas, financiadas pelo Ministério da Educação e outras instituições, como a Finep. Élcio Abdalla, coordenador e professor do Instituto de Física da Universidade de São Paulo (IF-USP) aponta ainda: a pandemia da Covid-19 e a consequente busca por vacinas deixou claro que os países com maior investimento saíram na frente – e devem continuar liderando o mundo:

“A produção científica, o investimento em pesquisa retorna para a sociedade em quase todas as áreas. Desde inovações e descobertas que tornam bens de consumo melhores e mais acessíveis até a produção de medicamentos e vacinas, procedimentos médicos, obras de engenharia que melhoram a mobilidade urbana e desenvolvimento agropecuário que torna a produção de alimentos mais barata e de melhor qualidade. Investir em inovação e ciência é criar autonomia para o país. Percebemos isso agora, nas vacinas. Aqueles com capacidade de desenvolver e produzir saíram na frente. Isso não é uma simples coincidência, são as nações que mais valorizam a ciência”, explica ele.

Os dados confirmam: os quatros países que mais investem em pesquisa estão na frente em inovação. Eles são Coreia do Sul e Alemanha, que investem quase 4% em pesquisa; e Japão e Estados Unidos, que repassam cerca de 3%. No Brasil, esse montante é um pouco maior que 1%. E vale lembrar: essas quatro nações têm PIB maior que o nosso. Ou seja, elas direcionam mais dinheiro não só percentualmente, mas também em números absolutos. Nos EUA, só para pesquisas envolvendo a COVID-19 foram destinados mais de 6 bilhões de dólares. No Brasil, apenas US $100 milhões.

As principais fontes desses recursos estão no Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e do Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (FNDCT), ligados ao Ministério da Ciência e Tecnologia. Igualmente importante é a Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), ligada ao Ministério da Educação. Todos eles sofreram cortes no Orçamento de 2021.

Projeto inédito e revolucionário pode sofrer

PROJETO BINGO

Um dos projetos que podem sofrer com o corte de verbas e investimento é o coordenado por Abdalla, o Bingo. Trata-se de um radiotelescópio, financiado pela Fapesp e pela Finep, inédito no país e que conta com pesquisadores do Brasil, da China, África do Sul, Reino Unido, Coréia do Sul, Portugal e França. O objetivo é explorar novas possibilidades na observação do universo a partir do céu brasileiro. O sertão da Paraíba, pela alta visibilidade e baixa poluição, foi o local escolhido.

“A proposta é estudar a energia escura e também o fenômeno Fast Radio Bursts [“Rajadas Rápidas de Rádio”, em tradução livre], ainda pouco conhecido. Além disso, entender e conhecer o nosso céu pode trazer conhecimentos importantes e estratégicos sobre o que acontece em cima de nós, quais fenômenos, que tipo, por exemplo, de satélites, estão passando por aqui. É informação importante para toda a sociedade”, conta Elcio.

O Bingo contribuirá com a visão do Hemisfério Sul para um trabalho sobre o fenômeno que já vem sendo realizado por meio do Chime (Canadian Hydrogen Intensity Mapping Experiment) no Hemisfério Norte. O chamado “setor escuro do Universo” estará no foco das descobertas. No sertão, longe da poluição eletromagnética, será possível saber mais sobre estruturas desconhecidas da galáxia, pulsares que ainda precisam de observação e perceber novos sinais do espaço.

Abdalla observa que “cerca de 95% do conteúdo energético do universo é completamente desconhecido, e o BINGO olhará para a distribuição detalhada da matéria conhecida para verificar os vínculos do setor escuro”. E mostrar para o cidadão comum como seus impostos beneficiam o país é um dos objetivo que Abdalla tem com esse projeto:

“O assunto não é necessário apenas para a comunidade científica, mas para a população em geral. Não podemos simplesmente falar para doutores, temos que colocar as pessoas a par, já que são elas que pagam pela nossa pesquisa. O ICMS [Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços] do pãozinho vai para esse trabalho também. Então nós temos, até como obrigação, contribuir para um desenvolvimento real e mostrar ao cidadão que a ciência é importante, que a ciência muda o mundo”.

*Elcio Abdalla é físico teórico brasileiro com reconhecimento internacional e importante liderança na pesquisa de física teórica no Brasil. Com doutorado e pós-doutorado pela Universidade de São Paulo, é atualmente professor titular do Instituto de Física dessa universidade, além de coordenador do Projeto Bingo, radiotelescópio brasileiro que está sendo construído no interior da Paraíba que fará o mapeamento da parte escura do universo.

A lição dada pelo Ministro da Educação: cobrar excelência só se for a dos outros

Image result for weintraub foi aprovado com a nota mínima em seu concurso na unifesp

Pego pelo pé com a divulgação de suas notas raquíticas no curso de graduação de Economia da Universidade de São Paulo (USP), o sempre tão loquaz ministro da Educação, Abraham Weintraub, propiciou ao Brasil via redes sociais mais um daquelas imagens que vem se difundindo no governo Bolsonaro sempre que a coisa fica difícil de ser explicado: um close de uma cicatriz que pouco ou nada corrobora a explicação dada (ver imagem abaixo).

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Para começo de conversa, quem sou eu para atirar pedras em notas baixas na graduação, já que eu também tive momentos de baixíssima performance em termos de notas nos meus primeiros anos de UFRJ, ainda que por motivos distintos de Weintraub.  Na verdade, achei até peculiar que o histórico escolar do ministro da Educação tenha ido parar nas redes, tendo sido obtido sabe-se lá como.

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Histórico escolar de Abraham Weintraub mostrando notas e coeficiente de rendimentos no curso de Ciências Econômicas da USP.

A questão é que Weintraub tem coisas muito mais importantes para se explicar ao povo brasileiro, a começar pelo corte drástico no orçamento das principais instituições de ensino do Brasil, o que coloca em risco a capacidade do país de continuar pesquisas estratégicas nas mais variadas áreas do conhecimento.  Ir às redes se fazer de vítima deveria ser a última coisa que deveria ser permitido a Abraham Weintraub neste exato momento.  Aliás, em vez de ir às redes postar vídeos com o ombro de fora para explicar notas baixas em seu curso de graduação, o ministro da Educação já deveria ter sido convocado para estar no congresso nacional dando explicações sobre sua decisão tresloucada de cortar em torno de 40% do orçamento de universidades e institutos federais, fato que ameaça fechar as melhores instituições de ensino brasileiras a partir de agosto.

Aliás, quem deveria ter que oferecer algum tipo de explicação ao Brasil são os membros da banca do concurso que aprovou Abraham Weintraub para ser professor da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), ainda que com a nota mínima. É que diante de um currículo acadêmico tão raquítico como o depositado por Weintraub na Base Lattes do CNPq, fica sempre a pergunta como ele pode ser aprovado com meros 4 artigos científicos publicados (um deles fruto de suposto autoplágio), já que nas instituições federais de ensino,  o desempenho em termos de publicações acadêmicas é rotineiramente o quesito de maior peso nos certames seletivos.

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Extrato do Diário Oficial da União apresentando o resultado do concurso de professor da Unifesp de Abraham Weintraub, com aprovação com a mínima (7,0).

Mas uma coisa que sobressai no atual governo federal é que quando se olha de perto a trajetória de personagens como Weintraub, fica explícito que todos os ataques feitos contra as melhores instituições de ensino brasileiras não passam de meras querelas daqueles que não estão à altura da crítica que fazem. E em relação a isso, Abraham Weintraub não tem como dar explicações que sobrevivem ao exame da sua coerência interna.

Finalmente, aprendi uma coisa útil com o ministro Abraham Weintraub e suas explicações sobre suas notas baixas na graduação: quando pego em contradição com seu discurso de excelência, alegue depressão.   Assim, na próxima vez que minhas insuficiências e limitações forem expostas publicamente, irei prontamente alegar  que eu estava deprimido quando os fatos ocorreram. Vai que cola e eu viro ministro de alguma coisa.

O ataque às universidades e institutos federais faz parte de um projeto de desmanche nacional

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A recente decisão do governo Bolsonaro de cortar em torno de 40% do orçamento de 2019, sob a batuta do ministro Abraham Weintraub, está sendo recoberto pelo discurso manjado de que está se atacando gastos desnecessários e acabando com a “balbúrdia” que estaria imperando nas melhores instituições de ensino do Brasil. Além disso, como declarou o ministro da Casa Civil na GloboNews, Onyx Lorenzoni, além dos problemas de desvios éticos e morais, as instituições federais de ensino seriam perdulárias e ineficientes.

Esse discurso, entretanto, não sobrevive a um exame mínimo da realidade. As universidades e institutos federais concentram algumas das mais ranqueadas instituições de ensino da América Latina e ali é de onde sai a maior parte da pesquisa científica que ocorre no Brasil. 

Além disso, ao contrário do que apregoam o presidente da república e seus ministros, as instituições federais de ensino não são ninhos de esquerdistas tresloucados, o que é demonstrado pelo relativo silêncio que ali imperou durante toda a crise política que levou ao golpe parlamentar que derrubou Dilma Rousseff e lançou o Brasil em uma interminável crise política e econômica.

Então por que tamanho ataque a centros de excelência acadêmica e principais garantidores da produção científica nacional, bem como de formação de quadros profissionais qualificados?  A resposta em minha opinião não tem nada a ver com os discursos de ocasião e os falsos moralismos que são apresentados como justificativa para o que está sendo feito e que poderá levar ao desmantelamento do sistema nacional de pesquisa. 

O que está em jogo é primeiramente de cunho econômico.  A crescente dívida pública está impondo uma necessidade do deslocamento de fatias cada vez maiores do orçamento da União para saciar a fome incontrolável dos bancos e dos grandes especuladores do mercado financeiro. E esta fome não foi saciada sequer com a imposição da PEC do Teto (ou da Morte como preferem outros) que congelou investimentos públicos por 20 anos. 

É essa a real razão dos cortes orçamentários que estão sendo feitos não apenas na educação federal, mas em outros setores estratégicos como os da saúde pública e o da habitação popular. Aliás, esse é outra característica do governo Bolsonaro: cria-se o cenário de confusão em torno de um aspecto pontual, enquanto se aprofundam ataques ainda mais amplos a setores para os quais não se chama a atenção.

Mas algo ainda mais importante é que desmanchar o sistema federal de ensino tem perfeita consonância com a imposição de um projeto de vida subordinada e dependente do consumo que estão sendo descartados nos países do núcleo duro do Capitalismo, a começar pelos EUA.  Em outras palavras, o desmanche das universidades e institutos federais é apenas outra peça na destruição de um projeto de nação independente no qual ciência e tecnologia são ferramentas de alavancagem para modelos mais autônomos de desenvolvimento.

No caso das universidades e institutos federais esse ataque pode se provar um verdadeiro tiro pela culatra. É que nos últimos anos, em que pese os enxugamentos orçamentários feitos tanto sob a batuta de Dilma Rousseff como a de Michel Temer, o problema não tinha chegado aos níveis alarmantes de agora. Ao provocar a ameaça do colapso, o que o mestre (e não doutor como foi anunciado por Jair Bolsonaro) Abraham Weintraub está fazendo é um verdadeiro desserviço ao Brasil.  É que nessas instituições não estão apenas os principais quadros intelectuais que o Brasil possui, mas também segmentos das classes médias que deram ampla sustentação à eleição de Jair Bolsonaro. 

Uma  coisa que posso afiançar, como docente de uma universidade estadual que está há mais de 4 anos sob o que pode ser visto como um torniquete orçamentário, é que a capacidade de resiliência das nossas instituições públicas de ensino é maior do que dão créditos até muitos que estão dentro delas.  Assim, ainda que a situação que se apronta no horizonte seja muito negativa, o que poderá ocorrer é um processo de aglutinação que se perdeu no tempo, mas que marcou a resistência ao regime militar de 1964.

Como os quadros do governo Bolsonaro, a começar por Abraham Weintraub, são, convenhamos, intelectualmente raquíticos, o que está sendo provocado com esses cortes orçamentários poderá ser equivalente a cutucar a onça com a cara curta. É que já se sabe a partir do minguado currículo vitae de Abraham Weintraub que ele não terá como formular uma ação estratégica que seria necessária para alcançar o objetivo maior de destruir o sistema federal de ensino. Com isso, o que deverá vir pela frente nos próximos meses é um processo crescente de embates onde, muito provavelmente, o ministro que ostenta uma produção acadêmica menor do que a de muitos alunos de graduação será cada vez exposto pelo que ele realmente é, uma fraude.  A ver!

 

 

A “Pátria Educadora” e a greve nas universidades

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Por Guilherme Boulos

No dia 1º de janeiro, Dilma Rousseff anunciou o novo lema de seu governo: “Pátria Educadora”. Uma semana depois, tornou público o primeiro corte orçamentário do ano, mais de R$20 bilhões. A área mais afetada: Educação.

Enredo curioso este. E não parou por aí. Em fevereiro, o MEC bloqueou um terço das verbas das universidades federais, afetando o funcionamento de serviços básicos como limpeza, água, luz, materiais de secretaria, além de bolsas de estudo, e fez corte nos salários de funcionários terceirizados. No caso da pós-graduação, o contingenciamento chegou a 75% das verbas previstas.

A situação só tem se agravado ao longo do ano. Em junho, a reitora da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo), Soraya Smaili, afirmou em nota ter sido surpreendida “com um corte violento em nosso orçamento, que poderá comprometer e adiar diversas ações”.

Em julho, o reitor da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro) foi claro em dizer que a maior federal do país não terá condições de funcionamento, a partir de setembro. Semana passada, a UFF (Universidade Federal Fluminense) teve que interromper as atividades pelo corte de energia elétrica. Não havia dinheiro para pagar as contas.

Neste cenário, era de se esperar mobilização e resistência. E foi o que ocorreu quando docentes das universidades (representados pelo Andes -Sindicato Nacional), servidores técnicos das federais (representados pela Fasubra) e professores e técnicos dos Institutos Federais (representados pelo Sinasefe) entraram em greve nacional, desde o dia 28 de maio.

A legitimidade dessa greve é inquestionável. Além das demandas salariais, de condições de trabalho e reestruturação da carreira, o que está em jogo é o futuro da universidade pública brasileira. Este caráter não corporativo da greve expressou-se no envolvimento de estudantes em todo o país. Os cortes do ajuste fiscal estão sufocando o ensino superior. A tesoura de Levy picotou a “Pátria Educadora”.

A greve também busca pautar questões de fundo como o avanço das “organizações sociais” (OS) na universidade pública – impulsionado pela decisão do STF que permite contratação de professores sem concurso -e a “financeirização” do ensino superior, expressa na formação de conglomerados educacionais com capital aberto, que tratam a educação como mercadoria nua e crua.

Esses grupos privados têm recebido fatia expressiva do investimento federal em educação, através de programas como o Prouni e o Fies. É verdade que houve uma importante expansão de vagas nas universidades federais, mas que não veio acompanhada dos investimentos necessários em infraestrutura e da contratação de professores e técnicos. O ajuste fiscal agrava ainda mais esta situação, comprometendo o funcionamento básico das instituições.

Vemos os mesmos cortes ocorrerem nas universidades estaduais. Em São Paulo, USP, Unesp e Unicamp tiveram redução do repasse orçamentário em 2015. Quando se trata de responder à crise econômica com corte de verbas na educação, os governos parecem falar a mesma língua.

Fazem três meses desde o início da greve nas federais. Apesar da paralisação continuar firme em 47 universidades e do conjunto de mobilizações, Dilma não deu qualquer sinalização aos docentes e servidores técnicos.

O mínimo a se esperar seria a suspensão imediata dos cortes que estão impedindo o funcionamento das instituições de ensino e o diálogo efetivo com as pautas do movimento grevista. #NegociaDilma!

Guilherme Boulos é formado em filosofia pela USP, é membro da coordenação nacional do MTST e da Frente de Resistência Urbana.

FONTE: http://www1.folha.uol.com.br/colunas/guilhermeboulos/2015/08/1674069-a-patria-educadora-e-a-greve-nas-universidades.shtml