Xico Graziano e sua insustentável defesa dos agrotóxicos

agrotoxicos

O ex-tucano Xico Graziano vem atuando há algum tempo como um defensor das causas impossíveis, o que ficou claro com sua adesão ao ex-presidente Jair Bolsonaro.  Agora, enquanto articulista do site Poder360, Graziano saiu-se com um texto bastante confuso para tentar desmentir algo que já está bem estabelecido na literatura científica, qual seja, a ligação entre agrotóxicos e o desenvolvimento de diferentes tipos de câncer.

Para tentar levar essa empreitada adiante, Graziano usou de um estratagema aparentemente inteligente. Ele acessou a lista de analisou todas as substâncias químicas, processos e fatores supostamente perigosos à saúde humana e propositalmente concentrou sua atenção no chamado grupo 1 que são os agentes considerados como carcinogênicos, com evidências comprovadas. Espertamente Graziano desprezou os grupos 2a e 2b que incluem 822 agentes que ainda não tiveram uma conclusão definitiva, mas que onde estão listados 25 agrotóxicos como potencialmente carcinogênicos em humanos apenas no período compreendido entre 1971 e 2014 (seja provável ou possivelmente).

Se isso não fosse o suficiente, Graziano deixou de acessar o sítio oficial da própria International Agency for Research on Cancer (IARC) onde existem múltiplos estudos associando diferentes agrotóxicos ao desenvolvimento de câncer.  Bastaria ter ido ao site do IARC que Graziano teria encontrado a negação da sua afirmação sobre a inexistência de agrotóxicos no mercado brasileiro com potencial para o desenvolvimento de câncer.  Mas como a intenção dele nunca foi informar, mas confundir, Graziano resolveu brindar os leitores do Poder360 com sua variante de negacionismo científico.

Os agrotóxicos na Europa que abundam no Brasil

Um das principais marcas da onda gigantesca de aprovações de agrotóxicos que começou no governo Bolsonaro e continua mais leve no governo Lula é de que em torno de 30% das substâncias liberadas estão proibidas na Europa por serem danosas ao meio ambiente e à saúde humana.  Entre as razões para tal banimento são justamente as evidências de que parte destas substâncias são potencialmente causadoras de diferentes formas de câncer.

Mas se é assim, por que a IARC não a lista no chamado grupo 1? A razão para isso é que boa parte das evidências clínicas está baseada em experimentos de laboratório que usam ratos como cobaias.  Esses experimentos apesarem de serem aceitos como geradores de evidência para o potencial carcinogênico das substâncias não tem evidentemente o mesmo impacto de terem sido testados em seres humanos, o que sabemos é praticamente impedido pelas normas éticas de realização de pesquisas.

Por outro lado, aqui mesmo no Brasil já temos estudos relacionando a alta exposição a agrotóxicos com o surgimento de taxas mais altas de câncer em determinadas regiões. Um estudo que foi citado por mim foi desenvolvido por um grupo binacional de pesquisadores que estabeleceram uma relação direta entre o alto nível de uso de agrotóxicos, a contaminação de água usada para consumo humano com a incidência de câncer em municípios produtores de grãos na região Oeste do Paraná.

Mas como evidência científica não é o que importa para Xico Graziano, ele tem que lançar mão de seu pequeno estratagema negacionista. Mas que fique claro: agrotóxicos causam câncer.

Ex-tucano Xico Graziano tem momento de sinceridade ao retrucar postagem do jornalista André Trigueiro no Twitter

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O autointitulado agroambientalista Xico Graziano, ex secretário do Meio Ambiente de São Paulo e ex-presidente do Institituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (INCRA), e recentemente saído das fileiras do PSDB, teve um momento de sinceridade (ou seria ato falho) ao retrucar uma postagem feita pelo jornalista da Rede Globo, André Trigueiro, que criticava a volúpia do governo Bolsonaro em aprovar agrotóxicos extremamente perigosos numa velocidade inédita (ver imagem abaixo).

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É que Xico Graziano, numa tentativa de ironizar a preocupação de André Trigueiro com a liberação recorde de novos agrotóxicos, disse que o plano do agronegócio é envenenar a população. 

Ao contrário do que tentou dar a entender Xico Graziano, a estas alturas do campeonato, não tenho dúvida de que, em nome da busca por taxas maiores de lucro por parte do latifúndio agro-exportador, o governo Bolsonaro está abrindo uma Caixa de Pandora química que ainda trará consequências drásticas para a saúde da população brasileira e para os nossos ecosssistemas naturais.

Além disso, se existisse a tal da “inteligência agronômica” postulada por Xico Graziano, os latifundiários que estão por detrás desse Tsunami de veneno que está sendo aprovado a toque de caixa pelo governo Bolsonaro estariam prestando atenção nos sinais que estão sendo dados pelos principais comerciais do Brasil que estão dando toda a pinta de que irão impor um cerco sanitário aos produtos agrícolas brasileiros por causa do alto nível de resíduos de agrotóxicos. O primeiro sinal dado e ignorado pelos latifundiários foi a exigência da Rússia para que seja diminuído o nivel do herbicida Glifosato na soja brasileira que foi considerado excessivo pelo Serviço Federal de Vigilância Veterinária e Fitossanitária da Rússia (Rosselkhoznadzor) 

Mas sobre isso Xico Graziano parece ter escolhido o silêncio. E depois quem está “over” é André Trigueiro.

O perfil dos potenciais ministros do meio ambiente de Bolsonaro e porque todos eles geram desconfiança no exterior

No sentido horário das imagens aparecem os candidatos nominados a ministro do Meio Ambiente de Bolsonaro: Ricardo Salles, Xico Graziano, Evaristo Miranda e Ricardo Felicio.

Se a impressão geral fora do Brasil  em relação ao futuro governo Bolsonaro não é lá muito positiva. Um bom exemplo é a forma pela qual o site “Climate Home News” que descreveu os candidatos nominados a ocupar o cargo de ministro do Meio Ambiente.

Vejamos o que disse o “Climate Home News” [1]:

Um lobista do agronegócio, um cientista controverso ou um negador do clima com experiência em câmeras de TV?

Faça a sua escolha entre os favoritos de (Jair) Bolsonaro para ser o próximo ministro do Meio Ambiente. Ricardo Salles é o favorito, de acordo com O Globo, segundo maior jornal do Brasil. O ex-secretário de meio ambiente do estado de São Paulo no ano passado tentou vender 34 áreas de florestas públicas para empreendedores.

Os rivais em potencial incluem Xico Graziano, agrônomo amigo dos fazendeiros; Evaristo Miranda, um cientista da estatal Embrapa que é conhecido por divulgar dados positivos sobre o impacto do agronegócio no meio ambiente para se adequar à indústria, e Ricardo Felício, o querido negacionista climático da TV brasileira.”

Como se vê, e quem pode culpar os céticos?, as expectativas em torno do governo Bolsonaro não são lá muito animadoras.  O problema é que essas expectativas negativas poderão ter impactos sérios sobre a balança comercial brasileira que hoje é fortemente dependente das exportações de commodities agrícolas e minerais como mostra a figura abaixo. 

produto 2

É que pode não parecer, as decisões de consumo até em países inesperados como  a China estão sendo feitas na quantidade de dano ambiental que determinados produtos geram para serem produzidos e comercializados. Daí que a noção de que abrir as porteiras para o desmatamento na Amazônia deverá ter efeito desastrosos do ponto de vista comercial.


[1] http://www.climatechangenews.com