
Enquanto as viúvas da ditadura militar ficam ameaçando ir embora para Miami, ocorre nos EUA um forte movimento de repulsa a diversos casos de assassinatos de homens negros nas mãos de policiais. A repulsa é maior porque a justiça norte-americana vem repetidamente isentando os policiais envolvidos nas mortes de passarem por processos judicais, em que pesem as evidências de violência excessiva contra os mortos que, em comum, eram homens negros e pobres.
A dimensão e a duração desses protestos ainda está sendo avaliadas, mas o certo é que ontem de noite (04/12), Nova York foi tomada por uma gigantesca manifestação que paralisou as principais pontes que ligam a cidade ao continente, numa manifestação que juntou pessoas de origens étnicas distintas e que protestavam contra a persistência de casos de mortes de negros. O principal lema dessas manifestações tem sido “Black lives matter!”, o que significa dizer “Vidas de negros importam”.
Vivendo num país como o Brasil onde a polícia mata muito mais negros pobres do que nos EUA, eu fico imaginando quando é sairemos da posição de autorização tácita que as classes médias brancas dão para o extermínio de jovens negros e pobres nas grandes cidades brasileiras para algo parecido com o que está em ebulição na terra da Disnelândia para onde tantas dessas famílias abastadas gostam de levar seus filhos. Mas confesso que não espero nenhuma mudança significativa durante a minha própria vida. Acho que dadas as estruturas econômicas e sociais que persistem no Brasil, a maioria negra da nossa população continuará sendo tratada e contida por meio da violência e do extermínio.
Por outro lado, há que se notar que as tais ações afirmativas implantadas nos EUA serviram quando muito para criar uma pequena classe média negra, enquanto a maioria dos negros continua vivendo na pobreza extrema e submetida ao extermínio nas mãos do Estado. Aliás, números recentes mostram que a disparidade de renda entre brancos e negros nos EUA é hoje maior do que aquela que existia na África do Sul durante o regime racista do Apartheid. Em suma, políticas afirmativas, das quais as cotas raciais são o carro chefe, não deram certo no país que as criou. Vão dar certo no Brasil? Dificilmente!