Fernando Rodrigues perdeu o monopólio da Swissleaks e mais dados são revelados
MUTIRÃO DO HSBC
Por Patricia Faermann
Entre os novos nomes descobertos, com a adesão de O Globo nas investigações, estão de ex-diretores denunciados no esquema de cartel do Metrô de São Paulo

Jornal GGN – Depois de divulgar que empreiteiras envolvidas com a Lava Jato estavam na lista das contas secretas do HSBC da Suíça, com um hiato na divulgação de mais notícias e o ingresso de outros jornais nas tentativas independentes de investigação, o jornalista Fernando Rodrigues deixou para agora as informações de talvez maior impacto. Os dados são resultado da parceria de O Globo, que agora integra a equipe do ICIJ, consórcio de jornalistas que têm os arquivos suíços.
Dois ex-diretores do Metrô de São Paulo tinham contas na época em que foi firmado o acordo com a Alstom; assim como Paulo Roberto Grossi, denunciado de participação no mensalão petista e no mensalão tucano; dois advogados e o então procurador-geral do INSS, durante a Máfia do INSS; três condenados no caso SERPROS, de desvio do fundo de previdência complementar, entre 1999 e 2001.
Também foram dectadas contas do casal de diretores do TRE-RJ acusado de desviar recursos do Tribunal, em 1998; cinco condenados na operação Sexta-feira 13, de evasão de divisas e lavagem de dinheiro de grupos suspeitos de fraudar licitações para importar matéria-prima para a fabricação de coquetel anti-HIV; denunciados do caso INTO, de suposta fraude de licitações no Instituto Nacional de Traumato-Ortopedia, ligado ao Ministério da Saúde, entre 1997 e 2001; do lobista condenado Correa Júnior, que atuava em diferentes partidos e casos desde 1987; José Alexandre Guilardi de Freitas, condenado no caso Porto Cred, por crimes contra o sistema financeiro entre 2002 e 2007; e do banqueiro Exequiel Nasser, que ficou conhecido por adquirir o Banco Econômico por 1 real, em 1996.

No total divulgado por Fernando Rodrigues, graças ao trabalho de apuração do jornal O Globo, são 23 personagens de dez casos de suspeita de desvio de dinheiro público ou fraudes em instituições financeiras.
No caso da Alstom, os então diretores Paulo Celso Mano Moreira da Silva e Ademir Venâncio de Araújo abriram contas na filial suíça do HSBC ,no período em que o Metro, empresa estatal do governo paulista comandado pelo PSDB, teria fechado contratos ilegais com a francesa Alstom, em um esquema de cartel de trens e metrôs do estado de São Paulo. Venâncio também é ex-diretor da CPTM (Companhia Paulista de Trens Metropolitanos). Ambos são acusados de improbidade administrativa pelo Ministério Público do Estado.
Só entre 2006 e 2007, Moreira da Silva detinha um saldo de 3,032 milhões de dólares, o equivalente hoje a 9 milhões de reais. Venâncio de Araújo tinha um total de US$ 7,027 milhões, o que ultrapassa R$ 21 milhões hoje.
Em 1997, Moreira da Silva e Venâncio de Araújo assinaram um contrato sem licitação para a Alstom fornecer o sistema de sinalização e controle da linha vermelha do Metrô. Na época, o governador de São Paulo era José Serra (PSDB), e foi naquele ano que Moreira da Silva tornou-se cliente do banco de Genebra, identificando-se como “engenheiro do Metrô de São Paulo”.
A identificação “diretor técnico do Metrô de São Paulo” foi dada por Venâncio de Araújo, no ano seguinte, em 1998, quando abriu sua primeira conta no HSBC suíço.
Ao ser procurado, o promotor de Justiça Nelson Luís Sampaio de Andrade, autor da ação civil pública, não tinha conhecimento dos depósitos citados no banco da Suíça, e não tinha solicitado informações às autoridades financeiras sobre as contas. O procurador cogita abrir novo inquérito para investigar enriquecimento ilícito.

Ainda que o jornal O Globo tenha dado destaque às contas das empresas denunciadas no esquema da Lava Jato, de corrupção da Petrobras, a quebra do monopólio de informação, antes exclusiva de Fernando Rodrigues, ocasionou a divulgação de mais nomes que têm contas secretas na Suíça. Tais revelações não comprovam atos ilícitos, mas pressionam investigações para descobrir se crimes contra o sistema financeiro foram cometidos nesses paraísos fiscais.