Conheci Marcelo Freixo em sua surpreendente e vitoriosa campanha para deputado estadual em 2006 quando me associei a outros companheiros para pedir votos para ele em nome do seu trabalho em prol dos direitos humanos, na época como assessor do deputado Chico Alencar.
A eleição de Freixo foi uma grata surpresa já que nós não nos esperávamos que ele conseguisse se eleger em meio a uma campanha com parcos recursos financeiros. A boa surpresa da eleição se transformou em certeza de uma aposta bem feita após o excelente trabalho que ele realizou no interior da Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro, onde presidiu a famosa CPI das Milícias, mas não foi só isso. Freixo foi com certeza um grande aliado não apenas do serviço público em geral, mas principalmente das universidades estaduais. Foi graças a ele que, entre tantas coisas, conseguimos que finalmente o Restaurante Universitário fosse construído.
Entretanto, em algum momento, provavelmente em seu segundo mandato, eu comecei a notar que o Freixo que eu havia conhecido em 2006 estava dando lugar a um outro, menos carismático e mais pragmático. Com isso, o parlamentar que sempre estava disponível para me receber em seu gabinete parlamentar passou a pedir que os horários fossem marcados, e os tempos de conversa passaram a se encurtar. Ainda que eu considerasse isso normal, já que ele era um parlamentar com uma agenda sempre cheia, uma pulga que se pôs atrás da minha orelha.
Com sua eleição para deputado federal, perdi totalmente o contato com Marcelo Freixo, mas não pude deixar de acompanhar atos que me pareciam afastá-lo cada vez mais do ponto em que eu conheci em 2006. Isso acabou sendo confirmado pela sua negativa a se lançar candidato a prefeito do Rio de Janeiro em 2020 em nome de uma suposta unidade da esquerda. Aquele gesto que eu considerei de puro individualismo acabou sendo sucedido por outro ainda pior que foi o da sua desfiliação do PSOL para ir ao PSB com um objetivo manifesto que era o de se candidatar ao cargo de governador do Rio de Janeiro. Esse gesto me fez ter certeza que o Freixo que eu conheci havia sido substituído por outro, e ainda que o corpo fosse o mesmo, a ideologia certamente já era outra.
A transformação final no corpo de candidato a governador: punitivismo e privatismo como motes de campanha
A certeza de que Marcelo Freixo, digamos, atravessou de vez o “rubicão” se deu agora na campanha para governador do Rio de Janeiro onde para enfrentar o governador acidental Cláudio Castro, se deu uma ampla repaginação (à direita, é preciso que se frise) de um político que já cativou a juventude e os trabalhadores do Rio de Janeiro com a expectativa de uma forma diferente de fazer política. Para marcar isso, Freixo colocou um economista “liberal” para coordenar seu programa econômico.
A primeira derrapada séria foi colocar César Maia como seu candidato a vice-governador em nome sabe-se lá de quê. Não que Maia não seja um político experiente e tarimbado. Mas o problema é toda a experiência e tarimba que César Maia possui tem sido forjada na negação das necessidades mais básicas da maioria do povo fluminense. Isto sem falar naqueles projetos nababescos que Maia desenvolveu enquanto era prefeito, apenas tornar a vida dos ricos mais fácil e a dos pobres mais difícil.
Mas se César Maia já estava difícil de ser engolido, a passagem de Freixo para o campo do punitivismo na repressão às drogas foi a gota que ainda faltava para a minha decisão de não votar nele em 2022. É que mais do que ninguém, Freixo sabe que a atual política de guerra às drogas só resulta em violência estatal e fortalecimento de grupos paramilitares que assediam diariamente as comunidades pobres em todo o Brasil.
Finalmente, a recentemente manifestação em prol da aceitação tácita da escandalosa privatização da CEDAE, que inclusive gerou recursos que agora estão sendo usadas por Cláudio Castro para derrotá-lo, mostra que está consumada uma trágica virada no perfil ideológica de Marcelo Freixo. Se antes ele poderia ser criticado por não ser um politico que pregava abertamente a necessidade de romper a ordem social vigente, ele agora passou a ser um que age conscientemente para ajudar a mantê-la.
Pessoalmente lamento esse desfecho, mas sei que o campo da esquerda está repleto de personagens como ele. A alternativa sempre será a opção pela criação de novos quadros, preferencialmente os que tenham claro a impossibilidade de se ocupar os espaços do parlamento apenas para instalar bandagens em uma sistema que se encontra em estado de putrefação.
Finalmente, o mais lamentável é saber que com essa guinada à direita, Marcelo Freixo está dando uma boa ajuda para que Cláudio Castro seja eleito. É que o eleitorado, especialmente o mais pobre, sempre decide de forma racional em prol do original e não do genérico.
Uma observação sobre seu artigo: não houve privatização da Cedae. A CONCESSÃO REGIONALIZADA DOS SERVIÇOS MUNICIPAIS DE ABASTECIMENTO DE ÁGUA E ESGOTAMENTO SANITÁRIO não envolveu a venda de nenhuma ação da companhia. Houve, a partir de imposição das regras do marco do saneamento a antecipação do encerramento dos contratos de programa. É, de fato, escandaloso continuar divulgando noticias sabidamente falsas apenas para sustentar a narrativa.
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Prezado Riley, o seu comentário carece de qualquer fundamento real. Veja essa matéria aqui e me diga se a CEDAE foi privatizada ou não. https://economia.uol.com.br/noticias/redacao/2021/04/30/em-vitoria-politica-do-governo-federal-e-estadual-cedae-e-leiloada-em-sp.htm
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Caro, eu fiz a afirmação acima com base em um ponto irrefutável: fui eu o responsável pela condução técnica do processo no governo do estado e não preciso me desinformar através de noticias tão falsas quanto a sua afirmação.
Meu fundamento real é: eu fui o gestor técnico da CONCESSÃO REGIONALIZADA DOS SERVIÇOS MUNICIPAIS DE SANEAMENTO BÁSICO e não houve qualquer desestatização da Cedae, afirmado por quem fez o processo. Quem carece mesmo de fundamento real?
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Prezado Riley, dê o nome que quiser à sua “obra”, mas que a CEDAE foi privatizada, isso foi. Aliás, espero que a história, inclusiva, seja correta e registre o seu papel nesse processo.
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Não se trata de dar nome, meu caro, mas do que a LEI DIZ QUE É. Inclusive o argumento de que se tratava de privatização ou concessão da companhia foi derrubado por uma decisão do presidente do STF Luiz Fux (agora vai dizer que a aplicação da Constituição sobre a titularidade, do Marco do Saneamento e a decisão foi ilegal, só falta).
Desenhando:
Cedae é uma empresa mista, controlada pelo estado, listada na Bolsa de Valores (não é negociada). A única forma de desestatizar a Cedae é através da venda de ações, o que não se faz por leilão, mas em pregão. para isso a ALERJ precisaria aprovar o processo de venda das ações, estabelecer o valor mínimo (o governo precisaria aprovar o processo e o valor no TCE) e as regras de proteção aos acionistas minoritários (sim, existem). O Conselho de Administração da companhia precisaria aprovar em assembleia geral, publicar fato relevante e ata. Seria necessário, como a Cedae não ainda é negociada na bolsa, fazer todo o processo de IPO.
detesto ter de brincar deligar pontos. Nunca gostei, nem no pré-escolar.
E tomara mesmo que a história registre qual foi minha participação. quando, em 10 anos, comparado com 2020, mais 6,3 milhões de pessoas tiverem acesso a água e esgoto tratados, Estarei muito orgulhoso.
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Não esqueça de adicionar na sua biografia o custo que foi passado para os consumidores, os que não foram convidados para se regarem na festa da privatização da CEDAE. Como vivo em Campos dos Goytacazes, sei perfeitamente o custo dessa farra para quem paga a conta.
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São sim, eu apenas não tive tempo de ler e responder. Aguarde que virá!
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