Na foto, o reitor Raúl Palácio, é ladeado pelos aliados Bruno Dauaire e Wladimir Garotinho, principais interessados na liberação dos R$ 20 milhões entregues pela Alerj à Uenf
Venho acompanhando a “polêmica” envolvendo os R$ 20 milhões destinados pela Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj) para reformar o Solar do Colégio onde está abrigado o Arquivo Municipal de Campos dos Goytacazes que, por motivos de baixa transparência, foram enviados para a Universidade Estadual do Norte Fluminense (Uenf) administrar.
A primeira coisa é que sempre achei essa operação do tipo “barriga de aluguel” ruim para a Uenf, na medida em que teríamos que administrar o uso de recursos externos em um local externo ao campus Leonel Brizola, e ainda por cima em um prédio histórico que possui regras muito estritas para a realização de intervenções em sua estrutura física.
A segunda coisa é que se estivéssemos falando de uma cidade sem orçamento, essa “generosidade” seria até compreensível, mas não é o caso. A verdade é que Campos dos Goytacazes possui um dos maiores orçamentos municipais da América Latina que continua sendo usado sem que se veja qualquer melhoria na vida da maioria pobre da sua população. Desta forma, o abandono em que se encontra o Solar do Colégio e diversos prédios históricos de propriedade da Prefeitura Municipal de Campos dos Goytacazes não se dá por falta de dinheiro, mas indisposição política para preservar o patrimônio arquitetônico municipal.
Por essas duas razões básicas é que não entendi e não apoiei a transformação da Uenf em uma espécie de repassador de dinheiro público para uma prefeitura onde sobra dinheiro. Além disso, como o dinheiro foi repassado para ser executado em um ano eleitoral, as dificuldades que surgiram eram mais do que previsíveis.
As razões técnicas para o atraso são desprezadas no ato ataque ao reitor da Uenf
Tenho lido diversos ataques ao reitor da Uenf, Professor Raul Palacio, de quem não tenho procuração para defender. Mas conversando com fontes técnicas que entendem do assunto, fui informado que um dos problemas que causaram o atraso das obras tem mais a ver com a incompetência da própria PMCG do que qualquer má vontade do reitor da Uenf.
O fato é que não apenas todas as etapas precisam ser licitadas, mas os eventuais interessados em participar das obras precisam ter competência comprovada na reforma de prédios históricos. Afora essa “pequena” questão, os órgãos técnicos da PMCG nunca teriam apresentado o projeto técnico para as obras, a começar pelas emergenciais. Como na Uenf inexiste essa capacidade técnica, caberia ao suposto principal interessado, o prefeito Wladimir Garotinho, ter tomado a dianteira e ordenado aos seus secretários que fizessem isso. Mas como o prefeito de Campos dos Goytacazes estava mais ocupado em tentar eleger seus aliados, o presidente Jair Bolsonaro inclusive, aparentemente as obras no Solar do Colégio acabaram ficando para as calendas.
Há que se lembrar que a Uenf cumpre papel semelhante em um prédio histórico em Cabo Frio, mas lá tudo está andando relativamente bem porque o prefeito José Bonifácio (PDT) fez o seu trabalho e apresentou o devido projeto técnico.
Em suma, todo esse chororô contra o reitor da Uenf serve apenas para que o prefeito esconda suas falhas, enquanto o Solar do Colégio e outros prédios históricos apodrecem às vistas de quem quiser ver.
Devolve o dinheiro, reitor!
Diante das constantes de ameaças de processos judiciais, audiências públicas e outros quetais, o reitor da Uenf deveria devolver imediatamente os tais R$ 20 milhões para a Alerj. É que já está claro que no caso do Solar do Colégio, esse dinheiro só representa dor de cabeça que ele não precisa ter. É o tipo de atrapalho que a instituição pode facilmente dispensar e ainda evitar ter o seu filme queimado. Além disso, se houver algum erro técnico ou de execução financeira, o CPF do reitor é que vai, digamos, entrar na roda.
A verdade é que a Uenf não ganha nada em ficar se prestando ao papel de atravessadora de recursos, enquanto na instituição deixam de ser realizadas atividades essenciais porque até o governo do Rio de Janeiro não cumpre o pagamento dos chamados duodécimos. Curiosamente, os mencionados R$ 20 milhões saíram dos duodécimos que são pagos à Alerj, mostrando bem a discrepância que existe nas prioridades do uso de recursos públicos no estado do Rio de Janeiro.
Sobre a relação com a PMCG, os meus quase 25 anos dentro da Uenf já me mostraram que cada lado pode viver sem o outro, e muito faz quem não atrapalha.