Terminou em uma renúncia não dita e uma fuga explícita o trágico governo de Jair Bolsonaro. A bordo de um avião da Força Aérea Brasileira (FAB), cercado de privilégios de todos os tipos, o presidente cessante mostrou a quem realmente deve lealdade ao escolher o território estadunidense para tentar se proteger das eventuais acusações que o esperam em meio a uma série de evidências de que ele cometeu múltiplos crimes ao longo de suas décadas como parlamentar e depois presidente da república.
A cena do jatinho da FAB levando para os EUA um presidente que usou de todos os meios para se manter no poder me fez lembrar a cena final da novela “Vale Tudo” (levada ao ar entre 1988 e 1989) em que Reginaldo Faria, encarnando o vilão Marco Aurélio, dá uma banana e foge do Brasil na companhia de sua mulher Leila, curiosamente encarnada pela atriz Cássia Kiss, hoje transformada em mais uma das milhares de seguidoras deixadas para trás por Bolsonaro.
Mas o maior problema é que Jair Bolsonaro, com essa renúncia não dita e essa fuga explícita, deixa para trás uma montanha de problemas que agora passarão a ser uma herança maldita para o próximo presidente, Luís Inácio Lula da Silva. E no topo dessa montanha estarão os militantes abandonados por Bolsonaro, os quais dificilmente darão um momento de paz ao ex-metalúrgico.
Além disso, há que se notar que a intrincada engenharia de montagem usada por Lula traz alguns riscos adicionais, incluindo a chegada de apoiadores do programa anti-nacional e anti-pobres de Jair Bolsonaro e seu ministro-banqueiro Paulo Guedes. O problema maior é que para iniciar qualquer processo de retomada econômica, o novo governo não terá sequer o benefício do acesso a dados estratégicos, os quais foram negados pelo governo do presidente fujão.
Mas sou forçado a dizer que a renúncia e fuga de Jair Bolsonaro possibilitam ao Brasil a não ter de tratá-lo com um mínimo de deferência ou respeito. Ao fugir covardemente, Bolsonaro deu mais uma demonstração de que que todas as encenações de valentia que ele ofereceu ao longo de quase quatro décadas só serviam para esconder sua grande covardia.
E que a grande barca brasileira que siga pelos mares agitados que o presidente fujão deixou para trás ao abandonar o posto para curtir a vida nos EUA.
Desnecessário deixar um comentário depois de seu brilhante texto .
Parabéns.
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