Da esq. para a dir.: os empresários brasileiros Carlos Alberto Sicupira, Jorge Paulo Lemann e Marcel Herrmann Telles (Foto: Divulgação/Forbes)
Os atos de vandalismo ocorridos em Brasília no dia 08 de janeiro vieram em boa hora para o trio de bilionários formado por Jorge Paulo Lemann, Carlos Alberto Sicupira e Marcel Telles (detentores de um patrimônio conjunto de pelo menos R$ 180 bilhões), na medida em que consciente ou inconscientemente a mídia corporativa brasileira não deu a devida atenção à descoberta de que a tradicional empresa Lojas Americanas está afundada em uma dívida que gira em torno de R$ 40 bilhões.
A profunda encrenca financeira em que as Americanas estão metidas só veio à tona porque o seu então presidente, Sérgio Rial, renunciou após descobrir “inconsistências em lançamentos contábeis” da ordem de R$ 20 bilhões. Em palavras mais simples, Sérgio Rial pulou do barco após descobrir que o balanço das Americanas havia sido manipulado para ocultar uma situação que beira à insolvência financeira. E isso tudo após a famosa consultora PricewaterhouseCoopers (PWC) ter atestado a boa saúde da empresa (lembrando que a PWC foi quem tocou as avaliações utilizadas para a privatização da Eletrobras!).
O detalhe aqui é que Rial é ligado ao Banco Santander, onde foi presidente e ainda atua como presidente do conselho diretor da instituição. Mas a crise causada pelas revelações de Sérgio Rial atingem mais diretamente outros bancos, incluindo o Bradesco, o BTG Pactual e até o Nubank que mantinham relações de alto calibre com as Lojas Americanas. No meio disso tudo estão 44 mil funcionários da empresa, agora em condição de recuperação judicial, que estão imersos em perspectivas sombrias, já que quando empresas entram nessa situação, quem acaba perdendo o sustento são seus trabalhadores, e não os capitalistas que especularam e as endividaram.
A reação mais dura ao trio de bilionários não está vindo da justiça brasileira, mas do BTG Pactual que está acusando Lemann, Sicupira e Telles de terem cometido fraude e agora de estarem “pagando de malucos” para fugirem de suas responsabilidades e, ainda por cima, de estarem sendo protegidos por causa da fama de “super deuses do capitalismo brasileiro” (ver abaixo vídeo do economista Eduardo Moreira falando sobre alguns dos aspectos mais esquisitos que cercam a gestão feita pelo “trio de ouro” das Lojas Americanas).
E se Americanas fosse uma empresa pública, a leniência seria a mesma?
Algo que me parece inescapável de ser perguntado é sobre o que estaria acontecendo se as Lojas Americanas fossem uma estatal pega nesse mesmo tipo de situação embaraçosa? Por muito menos empresas públicas já foram jogadas na lama para serem posteriormente entregues ao setor privado na bacia das almas.
A verdade é que empresas privadas, mesmo aquelas que possuem em aparência boa condição financeira, são tratadas como meros instrumentos de acumulação por seus proprietários. E a aparente boa reputação e suposta melhor eficiência não passam de instrumentos ideológicos que servem muito bem para continuar garantindo a existência de um modelo social que beneficia apenas um pequeno grupo de pessoas em detrimento dos interesses da maioria da população humana.
Por outro lado, o que espero é que a mídia corporativa pare de passar pano para Lemann, Sicupira e Telles e apure todas as responsabilidades nessa situação escabrosa. De quebra, que as tentativas da Fundação Lemann de influenciar os rumos da educação brasileira sejam rejeitadas pelo ministro da Educação Camilo Santana a bem dos interesses da população brasileira, visto que Jorge Paulo Lemann não deve ter o mesmo tipo de influência que teve em governos passados.
Finalmente, restar saber o que os políticos que se elegeram com financiamentos da Fundação Lemann (Tábata Amaral, por exemplo) têm a nos dizer sobre os modos de agir de seu patrono.