O ministro da Educação, Camilo Santana, falando sobre Educação para empresários em encontro promovido pela Lide Ceará
Em um evento promovido pelo chamado Grupo de Líderes Empresariais do Ceará (Lide Ceará), que se denominou curiosamente de “Um Novo Horizonte para a Educação no Brasil e o Impacto na Economia e na Sociedade”, o ministro da Educação, Camilo Santana, afirmou que afirmou que “o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva não deve cancelar o Novo Ensino Médio (NEM) – a Lei nº 13.415/2017 foi aprovada no governo Michel Temer.” A razão que teria sido apontada por Santana é de que “simplesmente revogar e voltar ao passado eu não vejo que é o caminho. Precisamos construir, fazer mudanças adaptadas às realidades e vendo as condições reais dos Estados e implementá-las como foi realizada nos últimos anos“.
Dentre os muitos percalços e quebras de compromissos eleitorais já ocorridos no terceiro mandato de Luís Inácio Lula da Silva, a decisão de não acabar com o NEM é talvez o mais didático e esclarecedor, na medida em que já existem estudos realizados por pesquisadores de notória experiência mostrando que a reforma do ensino promovida por Michel Temer terá efeitos devastadores sobre a possibilidade de que estudantes oriundos das escolas públicas tenham um mínimo de chance de acessar os cursos mais concorridos, especialmente nas universidades públicas.
A alegação de que voltar ao passado não seria o melhor caminho é sempre tentadora, mas apenas seria coerente se o presente fosse melhor que o passado, o que está longe de ser o caso do NEM. O triste é que o passado não era nada atraente, mas a reforma imposta pelo presidente de facto, Michel Temer, conseguiu piorar o que já era ruim
Além disso, o fato de que Camilo Santana escolheu um se manifestar logo em um evento promovido pelo Grupo Lide, onde fervilha a presença de agentes comprometidos com os segmentos com a educação privada é também revelador de para quem está se governando.
Por outro lado, o avanço das educação privada nos últimos anos, especialmente nos chamados cursos EAD, já se constitui em um outro desastre para o Brasil, na medida em que a formação pasteurizada de profissionais de todas as áreas está gerando uma geração de profissionais com baixo nível de formação. Além da consequência natural de que esses profissionais não irão adentrar o mercado de trabalho corretamente capacitados a auxiliar os esforços em torno de um projeto nacional de desenvolvimento, há ainda o fato de que eles estão contribuindo para uma piora na qualidade de serviços públicos essenciais como saúde e educação.
Por isso, algo que já me parecia esperado, a necessidade de fortalecer a mobilização social para pressionar Camilo Santana a revogar imediatamente o NEM. Essa é uma tarefa fundamental para todos que possuem um real compromisso com o fortalecimento do ensino público de qualidade.