Cúpula da Amazônia como um tigre banguela

Principais causas do desmatamento são omitidas da declaração final

184097O desmatamento da Amazônia continua

Por Philip Fearnside para o “JungeWelt”

O fato de os oito países amazônicos se reunirem e discutirem o desmatamento é positivo, ainda que os resultados da própria reunião e da “Declaração de Belém” sejam decepcionantes. Os estados amazônicos se recusaram a concordar com uma meta para acabar com o desmatamento ilegal, nem permitiriam que projetos de petróleo e gás na Amazônia fossem banidos. As únicas coisas em que eles concordaram são questões politicamente fáceis, como “admoestar os países desenvolvidos a cumprir suas promessas e contribuir com mais dinheiro para os esforços de redução do desmatamento”. Além disso, os países amazônicos são unânimes em condenar medidas unilaterais como restrições ambientais, por exemplo da União Européia, à importação de produtos como soja, carne bovina e madeira,

De fato, mais contribuições monetárias são necessárias para a conservação da floresta e podem ter um impacto positivo na redução do desmatamento. No entanto, se for bem-sucedida, a resistência dos países amazônicos às restrições de importação teria o efeito oposto e removeria uma via importante para influenciar as políticas que impulsionam o desmatamento. Reduzir efetivamente o desmatamento requer muito mais do que apenas dinheiro. Requer também coragem política. E a introdução de critérios ambientais nas importações pode ajudar a gerar essa coragem.

As ações mais importantes e politicamente difíceis de implementar também não foram consideradas na Cúpula da Amazônia e ficaram como elefantes na sala. Por exemplo, um acordo necessário para parar de construir estradas na Amazônia que dão acesso aos madeireiros a áreas de floresta tropical que ainda estão intactas. O primeiro e mais importante aqui é a renovação e asfaltamento da rodovia federal BR-319 de Manaus a Porto Velho planejada pelo Brasil com todas as estradas vicinais associadas. Também não foi abordada a necessidade de impedir reivindicações de terras públicas pelos governos federal e estaduais na Amazônia – eufemisticamente referido como “regularização” no discurso brasileiro. O reconhecimento estatal dessas reivindicações de terra, ou seja, a “regularização”, levaria a uma cadeia interminável de grilagem, desencadeiam invasões de terras e desmatamento. Tanto o desmatamento passado quanto o futuro seriam legalizados. E essa seria a maneira mais fácil de cumprir a promessa do presidente brasileiro Lula da Silva de acabar com o desmatamento “ilegal” até 2030, sem ter que realmente parar o desmatamento.

E os estados amazônicos em Belém não conseguiram sequer concordar com o fim do desmatamento “ilegal” da floresta tropical proposto pelo Brasil. No entanto, os efeitos do desmatamento legal de um hectare de floresta tropical são os mesmos para o clima e a biodiversidade que o desmatamento ilegal. Conclusão: Infelizmente, as principais causas do desmatamento não foram abordadas na cúpula de Belém. Mas são justamente essas que devem ser combatidas e eliminadas rapidamente se ainda quisermos evitar a derrubada da maior região de floresta tropical do planeta.


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Este texto foi originalmente em alemão pelo jornal “JungeWelt” [Aqui!].

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