
A delegada da Polícia Civil e pré-candidata a prefeita de Campos dos Goytacazes Madeleine Dykeman ao lado do presidente da Alerj, Rodrigo Bacellar, e pelo governador do Rio de Janeiro, Cláudio Castro
Por Douglas Barreto da Mata
Há um tempo atrás, escrevi no Blog do Pedlowski um texto sobre a ampla vantagem construída pelo atual prefeito Wladimir Garotinho, que pode ser lido[Aqui!]. Pois bem, hoje cedo, ouvi a entrevista da candidata, melhor dizendo, pré-candidata Madeleine Dykeman.
É difícil falar sobre ela, porque por questões relacionadas à profissão, construí com ela, e com o marido dela, uma relação afetuosa, de carinho mesmo. Preciso dizer que respeito muito a coragem dela. Não é fácil despir-se do senso de autopreservação para se expor dessa maneira, ainda mais sendo o début dela nas disputas políticas.
Sem dúvida, Madeleine é uma mulher de coragem, e essa qualidade não pode lhe ser subtraída. Porém, nesta seara, coragem não é tudo. É nítido que falta à pré-candidata a embocadura, para dominar temas que escapam ao seu conhecimento. Não é vergonha não saber, diga-se.
No entanto, uma das características principais de raposas felpudas desse negócio é saber como driblar essa deficiência, e trazer a conversa para sua zona de conforto. Brizola era um craque nisso. Garotinho também não ficava atrás.Neste quesito, para a delegada, a porca torce o rabo.
Explico. Há um notório desconhecimento da delegada sobre temas que ela repisou em sua entrevista. Primeiro, ela mencionou a questão dos empregos. Pareceu estranho uma conservadora (e por isso mesmo, uma adepta do capitalismo de direita) reivindicar para o Poder Público o papel de indução de empregos, ou de gerador de empregos.
Qualquer um que se aventure na questão saberia dizer que gerar riqueza e emprego é papel da iniciativa privada. Pois bem, mesmo aceitando esse falsete de esquerda no discurso conservador da Madeleine, fica a questão: Ela sabe do que está falando, além do lugar comum que é veiculado em boatos (para os mais novos, “fakes”)? Não me parece.
A insistência em palavras-chave, como “autoridade, gestão, inovação”, e a preferida dela, “humanização”, não consegue preencher a falta de conhecimento. A cidade de Campos dos Goytacazes tem, reiteradamente, aparecido entre as três primeiras cidades geradoras de emprego dentre as 92 cidades do Estado, de acordo com o CAGED/IBGE.
Outro dado que a delegada parece não dominar é sobre a origem do investimento público na cidade, quando repete o jargão de que o Prefeito tomou para si a paternidade de recursos que seria da esfera estadual.
Eis os dados:
2021: R$ 11.127.373,38
2022: R$ 202.331.966,45
2023: R$ 187.402.672,46
2024: R$ 115.049.186,33
Total da PMCG: R$ 515.911.198,62
Total de investimento na cidade :
R$ 828.011.434,99
Logo, teremos que o valor empenhado pelo Estado é de R$312.100.236,37, ou seja, 37.7% menor que o valor empenhado pelos cofres da cidade.
Há outros desconhecimentos, como a reivindicação comum na cidade, de que há uma desindustrialização, e que isso seria reflexo da má gestão.Aliás, esse indicador é usado também por uma certa parte da Academia dedicada aos estudos de Economia. Fica evidente que está mais para econometria do que para o entendimento de Economia como ciência social que é.
Mesmo assim, mesmo que resumida à pobreza e frieza dos parâmetros econométricos, esses econometristas pecam pelo desconhecimento dos demais fenômenos e circunstâncias que levam à desidratação da atividade industrial.
O PIB da indústria decresce no país todo desde 1990 (e no mundo desde 1980), e só no ano passado recuou no país em 12%, aproximados, enquanto só o setor de serviços e comércio, e também da construção civil, conseguiram crescer, todos induzidos pelos massivos investimentos públicos em obras, e reconstrução da estrutura de bens e serviços.
Aqui na cidade de Campos dos Goytacazes, como mostraram os números recentes, e como já mencionamos, avançou muito em geração de empregos, e foi bem melhor nesse governo que outros com muito mais recursos per capita, como informou o economista José Alves de Azevedo Neto, em seu blog.
Olhar para o cenário de TODAS as cidades petro rentistas é reconhecer um fato: Nenhuma cidade, nem Maricá, que hoje é a maior em arrecadação per capita, conseguiu criar um ciclo de industrialização sustentável.
O dado importante talvez tenha escapado, propositalmente ou não, à maioria, e também à Delegada: Como estão a desigualdade e os níveis de pobreza? Olhemos ao redor próximo.
A cidade governada por outra pré-candidata do mesmo grupo que apadrinha Madeleine ostenta números de pobreza dramáticos, quando observamos que o valor per capita disponível para aquela cidade é muito maior que Campos dos Goytacazes, Macaé, e Rio das Ostras, por exemplo, que estão em situação muito melhor que São João da Barra (ver blog do José Alves Azevedo Neto).
A cidade está menos desigual, com menos pobres, longe do ideal, diga-se, mas ao menos recuperou a rede de atendimento social que foi destruída pelo seu antecessor, Rafael Diniz, que por coincidência foi apoiado também pelo mesmo grupo que hoje lançou a pré-candidata, embora na entrevista ela tenha procurado se desvincular desta condição.
Voltando aos empregos “industriais”, é preciso dizer que quem entende um pouco de economia, e nem precisa ser economista, sabe que os montantes de acumulação primitiva de capital necessários à criação de um arranjo industrial não se resumem às rendas não-tributárias (royalties).
Ao longo da História, estas acumulações necessárias à industrialização nunca foram resultantes de acumulações orçamentárias públicas, como é o caso da Inglaterra, o clássico motor da Revolução Industrial.
Portugal, Espanha, e etc, todos países que foram pioneiros na acumulação colonial não conseguiram dotar seus países das condições de industrialização, que só aconteceu onde os primitivos excedentes das cidades comerciais (burgos) possibilitou uma dinâmica própria e independente dos humores dos reis e do clero.
Atualmente, quando o mundo está abandonando a indústria, ou pelo menos, implantando esses arranjos industriais em locais de altíssima rentabilidade e ultra exploração de mão-de-obra, como Sudeste Asiático, e outras áreas, como Índia, China, etc, as chances de atração de indústrias vão requerer ações muito mais complexas.
Em Campos dos Goytacazes, se não fossem os investimentos públicos, a economia estaria em situação ainda pior, muito pior.
A cidade é presa secular do capitalismo de monocultura, e agora, há, pela primeira vez, a inversão dessa lógica, com o crescimento de receitas próprias do município, talvez como retorno de arrecadação, por certo, dos investimentos públicos em obras, que geram empregos, e empregos geram impostos locais.
Pode-se discutir as escolhas do prefeito Wladimir Garotinho sobre os setores atendidos, e/ou as prioridades a serem adotadas.
Porém, hoje, não só os dados de aceitação eleitoral lhe favorecem, mas os resultados da gestão também, por mais que eu hesite em admitir.
Em resumo, falta à Madeleine Dykeman talvez o que lhe sobra coragem: entender os limites que a História impõe.