Uma crise hídrica floresce nas águas do Paraíba do Sul e ameaça o abastecimento em Campos

rps verdeÁguas do Rio Paraíba do Sul com tom esverdeado dão pista sobre as causas da crise em curso

Mesmo distante de Campos dos Goytacazes, continuo acompanhando o que está se transformando em um episódio modelo da crise hídrica que está sendo construída há décadas na bacia do Rio Paraíba do Sul e muitos de suas afluentes.  Ao contrário das tentativas de minimizar o problema, quero lembrar que esta época do ano é extremamente propício para o crescimento de algas em rios altamente antropizados como é o caso do Paraíba do Sul. E com elas a liberação de toxinas que podem ser altamente prejudiciais à saúde humana.

Um problema adicional é a construção de Pequenas Centrais Hidrelétricas (PCHs) não apenas no Rio Paraíba do Sul, mas também em alguns de seus afluentes.  Nesse sentido, fiz uma inspeção visual rápida na bacia do Rio Pomba a partir do município homônimo até o encontro com o Rio Paraíba do Sul e detectei a presença de 6 PCHs, algumas com reservatórios de tamanho razoável e capazes de se tornarem ambientes altamente propícios para alta reprodução de algas com capacidade de emitirem toxinas (ver imagem abaixo da área do reservatório da PCH Ivan Botelho 3 com suas águas esverdeadas).

pcv ivan botelho 3

A questão é que ao ter suas águas fluindo para o interior do Paraíba do Sul, que atualmente possui características propícias para a proliferação de algas, o Rio Pomba eleva o nível de ameaça que já deveria ter alertado tanto as concessionárias de água e esgoto como a Águas do Paraíba e CEDAE, mas também órgãos ambientais como o INEA e o IBAMA.

Quero ainda lembrar a existência do Comitê de Integração da Bacia Hidrográfica do Rio Paraíba do Sul (Ceivap) e também do  Comitê Baixo Paraíba do Sul e Itabapoana que tem como objetivo promover a gestão descentralizada e participativa dos recursos hídricos da Região Hidrográfica IX que abrange inclusive o citado Rio Pomba. O problema é que até agora, em meio à eminência de uma crise hídrica que ameaça a continuidade do abastecimento de água em Campos dos Goytacazes, não há sinal de vida por parte dos representantes do Comitê Baixo Paraíba do Sul. Esse tipo de inação levanta questões importantes sobre a utilidade real deste tipo de comitê, pois os comitês de bacia possuem recursos financeirosvindos principalmente das cobranças pelo uso da água, que são mais do que suficientes para operarem em prol dos interesses da população,

Mas uma coisa é certa: os problemas que têm sido notados pela população campista em termos de odor e sabor da água que chega nas torneiras são apenas sintomas de uma crise que pode estar apenas começando. Como li que os pesquisadores do Laboratório de Ciências Ambientais da Uenf já estão coletando amostras  para ir ao cerne da questão, é bem provável que tenhamos mais respostas sobre o que de fato está acontecendo.

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