
Por Douglas Barreto da Mata
Podemos acusar a empresa concessionária de fornecimento de água e tratamento de esgoto de Campos dos Goytacazes de muitas coisas, menos de falta de engenhosidade para driblar qualquer subordinação às normas e regulamentos do contrato a qual está vinculada, junto com a municipalidade. Aliás, se usassem 5% dessa engenhosidade e energia para melhorarem os seus processos administrativos, para cumprimento de suas obrigações, Campos dos Goytacazes estaria no paraíso.
A estratégia dos grupos concessionários, sem exceção, no Brasil e no resto do mundo, e em qualquer atividade econômica, seja conservação de estradas, gestão de rodoviárias, aeroportos, portos, ou, neste caso, seja de águas esgoto é sempre a mesma.Ignoraram o poder concedente.
Veja o caso da concessão estadual de trens urbanos no Rio. Literalmente derrubam esgoto in natura na cabeça do poder concedente, e estão na iminência de entregar a concessão de volta, sem os investimentos prometidos. Cobram tarifas, e pronto, agora, depois de comida a carne, entregam os ossos para o Governo do Estado.
A concessão da BR 101 também não é lá muito diferente, e vez por outra tenta escapar às suas obrigações contratuais, quando ameaça devolver a concessão.
Estes grupos econômicos agem como se fossem donos dos serviços concedidos, e ao mesmo tempo, subtraem as atribuições dos entes legislativos, e subvertem as regras, subordinando-as aos seus interesses negociais. Vencem pelo cansaço, daí o título desse texto.
Prestação de contas da empresa do grupo Águas? Ninguém sabe, ninguém viu?
Outro caso famoso na cidade campista foi o rompimento do dique na Av XV de Novembro. Com a velocidade da luz, construíram a narrativa de que foi a força do leito do rio que levou a contenção.
Aqui, uma outra face dessa estratégia: O controle da narrativa, facilitado por relações incestuosas com grupos de mídia locais.Como água mole em pedra dura, a mentira repetida também “fura” a pedra da verdade.
O fato é que, depois da apresentação da “certeza” de que foi a cheia do rio a causa do incidente, ninguém mais questionou se poderia ter sido o rompimento da adutora, que passava bem no local.
Nesses últimos dias, a crise hídrica se apresentou, e houve fundada suspeita sobre a qualidade da água fornecida.
A empresa, antes de todos, sem qualquer base científica, correu e desmentiu qualquer possibilidade de contaminação, antes mesmo de que fosse comprovada ou afastada essa circunstância. Depois disse que poderia ser, depois desdisse, e assim, ficou tudo por isso mesmo.
Por último, a “do carvão ativado”. Eu não sou engenheiro, nem especialista no assunto, mas me pareceu que aquela mancha de carvão exaurida dos tanques de filtragem deixa algumas dúvidas:
– Se houve aumento do uso do insumo na filtragem, algo errado havia, ou não?
Eu dei uma rápida olhada no pai digital dos burros, o Google, e olhem o que achei: o carbono é um material extremamente poroso que atrai e retém uma grande variedade de contaminantes prejudiciais à saúde. O carvão ativado consiste em uma esponja porosa sólida e preta. É usado em filtros de água, medicamentos que removem seletivamente toxinas e processos de purificação química.
Uai, se estava tudo certo, sem toxinas, por que colocar carvão ativado até ter que exaurir e jogar o excesso no Rio Paraíba do Sul? E mais, que coincidência fazer isso quando negavam que havia toxinas, não é?
Enfim, como confiar em uma empresa que não tem transparência para apresentar suas contas aos consumidores e aos órgãos fiscalizadores do contrato? Como acreditar em quem esconde os números que integram o cálculo da tarifa, quando eles nos dizem que a água é boa?
Dizem os antigos, quem faz um cesto, faz cem.