O Professor Jefferson, a raposa, e as uvas

raposa

Por Douglas Barreto da Mata

Quase todo mundo conhece ou já ouviu falar dessa fábula. A raposa desejosa das uvas que não conseguia alcançar, desdenhava dizendo-as verdes.  É a fábula do recalque.

A primeira vez que ouvi falar de Jefferson Azevedo foi através da minha filha, aluna do segundo grau do IFF, onde o professor concorria ao cargo de reitor.  Ela veio me cobrar, porque conhecia minha militância, e imaginava no candidato ao reitor uma coerência à esquerda, sobre a qual pairava a dúvida dela: “Pai, o candidato Jefferson foi na sala, e prometeu, caso ganhasse, pizza no bandeijão”.

Eu sou amante da comida italiana, brinquei, opa, vou me matricular.  Brincadeiras à parte, ali se revelava, pela surpresa de minha filha, e minha também, um certo trejeito do então candidato, que ali se expressava como fisiologismo.

Hoje, continuo a me assustar com o moço.  Não que ele não possa utilizar armas de outros para alavancar seus projetos eleitorais. O que me assombra é a falta de sofisticação.

Prometer pizza? Certo! Mas e os laboratórios, condições da escola, garantia de professores em sala (o que na época foi difícil).

De certa forma, toda eleição é um pacto fisiológico mesmo, com um candidato prometendo atender demandas dos eleitores. Se elas são de curto, médio ou longo prazo, aí é outra coisa, e não me cabe aqui entrar nesse jogo de valoração.

O fato é que o professor Jefferson acabou seu ciclo, melancolicamente, no IFF, sem fazer sucessor, e logo no reinício do governo Lula.

Como me disse um interlocutor muito mais sábio que eu, com quem tive o prazer de conversar na última segunda: “o problema foi o candidato”. Discordo, mas, polidamente, retruquei, pois acho que, nesse caso, tanto o padrinho como o afilhado eram os problemas.

Pois bem, hoje, me deparei com a fala do Jefferson em sua rede social, descendo a mamona na nota do IDEB da PMCG.

Eu já me posicionei sobre o que eu achava factível para o PT nessas eleições, como você pode ler  [Aqui! ].

É complicado, e até vergonhoso, assistir ao papel assumido pelo professor, de linha auxiliar da extrema-direita na cidade.  Não, o governo Wladimir não é um sonho, óbvio. Mas eu não consigo entender a resistência em entender em que ajuda ao PT agudizar as críticas a um governo, que se esforça para ir para o centro, justamente onde todos que lutam contra o fascismo recente gostariam que ele se deslocasse.

Sobre a nota do IDEB? O professor usou o mesmo argumento chulo das redes sociais da extrema-direita local, a tal aprovação “automática”. Esconderam, claro, que a aprovação não é o único vetor que direciona o índice (IDEB), e que dentre eles está o SAEB, a avaliação bienal dos alunos.

Há outros quesitos.  Pois bem, o professor fez revirar no túmulo o cadáver de Paulo Freire ao colocar toda a pedagogia, e os métodos de avaliação de sucesso dos ciclos pedagógicos, resumidos na questão de ser ou não aprovado “automaticamente” (os especialistas não usam mais essa expressão).

Sabe o professor que não é esse o problema, e mais, não mencionou que foi o governo federal que recomendou esse método para esse ciclo do IDEB (2021/2023), para aplacar os efeitos da pandemia.

Ou seja, sim, a aprovação “automática” é uma ferramenta sim, e como todas ferramentas não são um fim em si, nem para o bem, nem para o mal, como quis reduzir o professor. Assim como pizzas.

Outra questão surrupiada pelo professor foi o fato de que Campos dos Goytacazes foi na contramão do Estado do Rio, esse sim, um desastre que arrastou para baixo os índices do Sudeste.

Talvez para não desagradar a deputada estadual, e “embaixatriz” do governo estadual dentro do PT Campos. Ah, e falando nela, São João da Barra, feudo onde ela é monarca soberana, ficou abaixo de Campos dos Goytacazes, mesmo tendo três vezes mais orçamento per capita para investimentos.

E antes que eu me esqueça: o governo federal deu zero de aumento para os professores universitários esse ano.

Dizem que os aumentos estão presos para sempre no calabouço fiscal do Paulo Guedes de boas maneiras, o ministro Fernando Haddad.

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