Queimadas avançam e colunas de fumaça cobrem a cidade de Campos: eu vejo o futuro repetir o passado

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Os últimos dias tem sido marcados por um tempo muito seco, o que tem propiciado a plantadores de cana de açúcar no entorno de Campos dos Goytacazes a colocarem fogo nos seus plantios (como se faz desde o período colonial), causando o aparecimento de imensas colunas de fumaça que ficaram bastante visíveis no céus da cidade (ver imagens abaixo).

O que ficou menos discreto, o particulado fino que é lançado junto com a fumaça, está hoje sendo depositado sobre a área urbana de Campos, como mostra o pará-brisa do meu veículo que ontem não estava nem próximo da situação calamitosa em que o encontrei nesta manhã de sábado (ver imagem abaixo).

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Enquanto isso, apesar de existir uma lei estadual (a Lei Nº 5990 de 20 de junho de 2011) banindo essa prática ultrapassada, não vejo notícia de que órgãos ambientais ou a justiça estejam se mobilizando para fazer cessar as queimadas nos campos de cana. Com isso, o que deve estar certamente acontecendo é uma corrida à farmácias e postos de saúde por crianças e idosos que estão tendo um agravamento em doenças respiratórias.  

O agravamento de doenças respiratórias é apenas a faceta mais óbvia dos acometimentos que recaem sobre a população com essas queimadas ilegais. É preciso que se lembre das evidências científicas acumuladas sobre a remobilização de compostos contendo mercúrio que estão presos nos solos da região após décadas da proibição do agrotóxico DDT que era o veneno por muitas décadas. 

De tempos em tempos, ouve-se e ou se lê os clamores por uma espécie de volta ao passado de glórias das usinas de açúcar e álcool em Campos dos Goytacazes. Ao meu ver, o bom é que esses clamores nunca serão materializados, visto que a fronteira dinâmica da indústria sucro-alcooleira nacional se moveu defintivamente para outros estado como São Paulo, Goiás e Mato Grosso. Quem fala por aqui em voltar ao tempo das dezenas de usinas ou quer ser iludido ou quer iludir, com fins não necessariamente claros.

Eu digo que ainda bem que o setor sucro-alcooleiro fluminense é coisa do passado. Afinal, se com poucas usinas operando com capacidade ociosa nós já temos o grau de poluição atmosférica que estamos vendo nos últimos dias, imaginem o que aconteceria se tivessem de volta os tempos de ouro em que o cheiro vinhoto já era sentido em Casimiro de Abreu?

Aliás, falando em São Paulo e seu poderoso setor sucro-alcooleiro, ao menos 30 cidades decretaram situação de emergência por causa da queima descontrolada de campos de cana-de-açúcar que está impedindo a circulação de veículos em um número inédito de estradas paulistas (ver vídeo aqui).

A verdade é que temos que nos mover para longe das monoculturas de exportação que hoje estão literalmente colocando fogo no Brasil. Não temos literalmente que ver o futuro repetir o passado, pois está evidente que o passado nunca assim tão dourado como alguns insistem em pintar, sempre às custas dos cofres públicos e da saúde da maioria.

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