Porto do Açu, um verdadeiro “jack-of-all-trades” ou simplesmente um projeto com futuro incerto?

Ao longo dos anos tenho me costumado a ler matérias jornalísticas com cara de press release cujo destino era promover a commodity conhecida como “Porto do Açu”.  Mas uma matéria do site especializado InfoMoney com o CEO do Porto do Açu, Eugenio Figueiredo, merce ser saudada por sua fidedignidade com a característica de “jack-of-all trades” que o empreendimento iniciado por Eike Batista assumiu ao longo dos últimos 16 anos.  

A coisa começa bem no título “Porto do Açu nasceu para escoar minério – agora, quer ser lar até de data centers”. Ai está sintetizado toda as nuances e becos estreitos que o  empreendimento vem assumindo para tentar algum nível de viabilidade.  Mas a matéria mostra mais sobre as múltiplas reinvenções que o “porto” tem assumido para não ficar inviável de vez.  

Quem tiver o trabalho de ler o material assinado pela jornalista Mariana Segala vai notar que os gestores do Porto do Açu já tentaram e tentam de tudo um pouco, começando pelo minério, passando pela exportação de bauxita e grãos, produção de hidrogênio, e desembocando até na condição de hosts de data centers (não os das big techs, mas os de meio de cadeia).

A matéria ainda traz o reconhecimento raro de que o Porto do Açu sofre com a falta de conexão ferroviária, e convenhamos, rodoviária. O problema aqui é que como já notei aqui mesmo neste blog, o problema da conexão ferroviária é um verdadeiro calcanhar de Aquiles que deverá continuar sendo um espinho no tornozelo do Porto do Açu. É que sem conexões, qualquer uma das tentativas de saída para a falta de densidade das diferentes “venues” que o empreendimento possa procurar acabarão dando com os burros em algum dos muitos alagados que existem no V Distrito de São João da Barra. E dada as últimas movimentações, a conexão ferroviária tão cedo não virar realidade. Deste fato é que parecem resultar todas as improvisações que se nota no projetamento do Porto do Açu.

Mas a matéria ainda ressalta algo muito mais drástico para o futuro do empreendimento idealizado por Eike Batista.  É que um dos problemas de quem é um “jack-of-all-trades é que “Jack of all trades”  que essa expressão em inglês norlamentese refere a uma pessoa com habilidades em diversas áreas, mas que não se destaca em nenhuma específica. Em português, pode ser traduzido como “faz-tudo”, “pau para toda obra” ou “mestre em nada”. Se isso pode dar certo para pessoas, para um empreendimento que se propõe a ser o maior empreendimento privado do Brasil (quiça da América Latina), o que pode ser qualidade, também pode ser lido como falta de futuro certo, o que, convenhamos, não cai bem com potenciais investidores, especialmente se eles forem chineses.

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